Festival da Eurovisão 1969
Tem sido curiosa a repercussão do post sobre os 50 anos do Festival da Eurovisão. É mais uma prova de como, em tempos idos, o Festival era, de facto, um acontecimento. Eu, por exemplo, punha-me com a minha mãe e uma ou duas vizinhas (no prédio, nem toda a gente tinha televisão) a seguir activamente o espectáculo. Tomava nota num papel das minhas votações, das da minha mãe e das visitas. Essa afición deve ter durado entre os meus 8 e 17 anos, ou seja, entre 1965 e o 25 de Abril. Seguia apaixonadamente a disputa canora. Muitas vezes tomava arrebatado partido pelos representates de Espanha e Itália, assim como sofria pela inglórias representações nacionais. Pois, se há festival em que as emoções foram ao rubro foi, precisamente, o que foi realizado em Madrid, em 1969. A nossa Simone apresentava-se garbosa e confiante com a Desfolhada e regressou com uma paupérrima votação. Em Santa Apolónia foi recebida como heroína injustiçada. Portugal inteiro espumou de raiva e no ano seguinte, o amuo pátrio deu em deserção. Portugal não enviou ninguém a Amesterdão, onde se realizou o Eurofestival de 1970. Tamanha frustração deveu-se também ao estranhíssimo desenlace de Madrid: 4 vencedores! Ainda ninguém esqueceu que havia 4 estatuetas (ou lá o que era o galardão...) prontas a ser entregues a cada um dos componentes da tetrarquia vitoriosa. A suspeita de cambalacho ou, se quisermos, visto estarmos a falar de algo ocorrido em Espanha, a suspeita de amaño, ficou como um lastro agarrado à memória do ocorrido. A gentil Laurita Valenzuela, ex-chica yé-yé reconvertida em apresentadora televisiva, disparava um sorriso pepsodent entre gestos desembaraçados, talvez para disfarçar algum embaraço interior... Eis aqui o resultado final de tão insólito certame:
01 - Holanda - Lennie Kuhr - De troubadour - 18 votos;
"" - Espanha - Salomé - Vivo cantando - 18 votos;
"" - Reino Unido - Lulu Boom Bang a Bang - 18 votos;
"" - França - Frida Boccara - Un jour un enfant - 18 votos;
05 - Suíça - Paola del Medico - Bonjour Bonjour - 13 votos;
06 - Mónaco - Jean Jacques - Maman Maman - 11 votos;
07 - Bélgica - Louis Neefs - Jennifer Jennings - 10 votos;
08 - Irlanda - Muriel Day & The Lindsays - The wages of love - 11 votos;
09 - Alemanha - Siw Malmkvist - Primaballerina - 8 votos;
"" - Suécia - Tommy Korberg - Judy min vaen - 8 votos;
11 - Luxemburgo - Romuald - Catherine - 7 votos;
12 - Finlândia - Jarkko and Laura - Kuin Silloin Ennen - 6 votos;
13 - Itália - Iva Zanicchi - Due grosse lacrime bianche - 5 votos;
"" - Jugoslávia - Ivan Pozdrav svijetu - 5 votos;
15 - Portugal - Simone de Oliveira - Desfolhada - 4 votos;
16 - Noruega - Kirsti Sparboe - Oj, oj, oj, sa glad jeg skal bli - 1 voto.
Há pouco tempo revi a transmissão na íntegra desta edição. É curioso como o tempo muda as coisas... Começo pelas três canções que adoptara na altura. Desfolhada parece-me agora descabiamente antiga num contexto já então antigo. O petiz Jaen-Jacques, cantando uma proclamação a favor da sua mamã, parece-me um pouco enjoativo. A cantilena alemã, Prima Ballerina, parece-me demasiado delicodoce, mas, ainda assim, digna de indulgência. Mantenho a mesma fraca opinião sobre Vivo Cantando (um downgrade em relação a La, la, la). Mas, a canção holandesa, reconheço agora (uma ninharia, 36 anos depois...) era a melhor. É uma balada bonitinha, servida por uma voz original. Odiara esta canção naquele tempo. Noto também que estiveram presentes nomes importantes da canção francesa (Romuald; Frida Boccara) e da canção italiana (Iva Zanicchi). The last, but not the least: confirmo que toda a gente (incluindo os nórdicos) cantava ainda nos seus linguajares indígenas.
The Eurovision Database
6 comentários:
Señores don José María Iñigo (El Musiquero) y don José Manuel Lara(Planeta)....observen este "tesoro lusitano" en materia de crítica musical.....
Gran exito del post Eurovisivo.
Na verdade a Gala dos 50 anos do Festival da Eurovisão foi muito bem acolhida, pelo que pude constatar, em comentários com várias pessoas. Nos anos 60 e meados dos 70, eram poucos os entretenimentos - quase tudo girava à volta da televisão... Pelos vistos em Espanha, a situação não era muito diferente. A este respeito, lembrei-me de dois livros, que, seguramente,se refeririam ao Festival. "La España de Cuéntame cómo pasó - el final de los años sesenta" (edição TVE -Aguilar)menciona "un país en donde, un lejano Abril de 1968, una cantante en Eurovisión nos hacía sentir por primera vez europeos." Juan Luis Cano no seu divertido livro "Las piernas no son del cuerpo - la vida de barrio en los años 60", num capítulo dedicado à " Tele comunitaria", descreve a assistência que teve a chegada do homem à Lua, dizendo que "era casi tan emocionante como el Festival de Eurovisión, pero aquí nadie debía dar puntos a nadie..."
Pena é que esse festival tenha perdido o brilho de outros tempos. É bom que haja outros países a participar, embora me pareça que, na sua maioria, estejam mais interessados em equiparar-se às "modas" de uma certa Europa...
Pela minha parte, há muito que deixei de assistir. Uma das razões, portanto, que justificam a minha nostalgia em relação ao evento.
TC
A mi modo de ver, la gracia del Eurofestival residía en la personalidad de las cantoras que allí acudían: los hombres latinos del Sur de Europa quedaban deslumbrados con las macizas cantantes nórdicas, los del norte de Europa admiraban la belleza mediterránea de las italianas; las cantantes francesas y portuguesas eran sobrias y contenidas, mientras que las españolas (Conchita Bautista, Massiel,Salomé) erán un torbellino desatado con movimientos de extremidades inferiores y superiores.....Los que se "cargaron" el invento fueron los Abba; me explico: cantaron en inglés como si fueran un grupo pop britanico "Waterloo" y ganaron; a partir de ahí, todos pretenden imitarlos, sobre todos los del Este de Europa.....
Cantante valenciana Salomé.
Ahora, el chiki chiki......
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