terça-feira, julho 29, 2008

Extravagâncias (3)

Monty Python - Spam in Monty Python's flying circus - 25º Episódio, sketch final (1970)
O ponto mais alto do humor foi alcançado pelos Monty Python na série Monty Python's flying circus, que por cá recebeu a nome de Os malucos do circo. A RTP passou-a nas emissões da hora de almoço, no início dos anos 70. Representa o ponto mais alto do humor e, em particular, do humor absurdo, tipicamente non sense, do qual os ingleses, melhor do que ninguém, conhecem os ingredientes. Muitos foram os sketches brilhantes, que podem agora ser apreciados em edições em DVD que, finalmente, chegaram ao nosso mercado. Este é um dos mais notáveis e tem uma história que merece ser contada. Spam era, e é, o nome de uma marca americana de carne de porco enlatada (tipo presunto). Durante a II Guerra Mundial era a a única carne não sujeita a racionamento. Daí resultou que a sua ruim qualidade se tornasse mais abominável pelas escassas alternativas. Gerações de britânicos, mesmo dos que da guerra já não tinham memória directa, guardaram Spam como sinónimo de algo enjoativo, indesejável. Foi com este lastro de quase trauma colectivo, que a trupe se lembrou da coisa no anárquico e improvisado processo produção de script para um sketch. O bando de vikings cantando as excelsas virtudes do Spam e a descrição da presença obsessiva do mesmo no menu é das coisas mais delirantes que já se viu... Contudo, a história não acaba aqui. Sucede que muito anos depois alguém se lembrou do Spam, por via deste sketch, como termo apropriado para designar a invasão de correio electrónico não solicitado. Ora, como se sabe, o termo pegou.
PS: No sketch a obsessão Spam contamina a própria ficha técnica que encerra o episódio. É demais...
Monty Python Spam Song

segunda-feira, julho 14, 2008

Guia hispânico (31)

click to comment

Ernest Hemingway - Fiesta [The sun also rises (1926)]
Li algures que as festas de San Fermín são actualmente o maior evento festivo do mundo a seguir ao Carnaval do Rio e à Festa da Cerveja de Munique. É bem possível que assim seja, tanto mais que, ano após ano, acresce a afluência de jovens forasteiros de todo o mundo. Uma boa parte deles são britânicos e a maioria são norte-americanos. A origem do fenómeno está, evidentemente, em Ernest Hemingway e, em particular, no romance Fiesta.
Pamplona está reconhecida ao escritor e são múltiplas as referências que o atestam. Por exemplo, junto à Praça de Touros há um grande busto acompanhado por palavras
que traduzem eloquentemente um espírito cívico de gratidão. É como se o escritor norte-americano se tivesse tornado património pamplonês; e é justo que assim seja! Ora, sucede que o romance é, além do mais, excelente. Merece ser lido não só por dar uma visão expressiva dos festejos, mas também por ser representativo de um género que mistura realismo documental com trama própria de ficção. Hemingway foi um dos melhores exemplos de jornalista-escritor ou, talvez mais apropriadamente, de escritor-jornalista e este romance é do mais inspirado que nessa dupla condição se produziu.

domingo, julho 06, 2008

Andalucía (26)


Salmarina - Fué en Sevilla in Carlos Saura - Sevillanas (1992)

sexta-feira, julho 04, 2008

Andalucía (25)

click to comment
Salmarina - Filigrana (1993)
O que valoriza as sevillanas de Salmarina, para além de qualidade vocal, tem sido a qualidade dos produtores. Primeiro os irmãos Muñoz e Évoras, seus conterrâneos. Depois, com Manuel Ruíz Queco. Este cordovês, sempre próximo do seu compadre Vicente Amigo, esteve nos anos 80 e 90 em muito do que inovador foi surgindo no universo flamenco, através de experiências fusionistas que foram desde as fronteiras do rock até aos domínios mais comerciais - foi, por exemplo, produtor de Las Ketchup e autor do seu êxito Aserejé. Note-se que tem sido não só produtor como também guitarrista e cantor. Neste caso interessa-nos como produtor, já que a qualidade de arranjos e direcção artística patenteada no álbum aqui em apreço constitui como que um paradigma de qualidade em termos de sevillanas. Na senda do que havia sido feito por Muñoz e Évoras, Queco conduz Salmarina a um conceito de sevillanas com fronteiras totalmente esbatidas em relação ao flamenco e com uma estética comum a muitas formas de nuevo flamenco. Impera o acústico. As guitarras, o cajón, o baixo e aqui e ali a flauta envolvem com suavidade as vozes sempre vibrantes do trio de Sanlúcar. Finalmente, a qualidade das composições, em boa parte da autoria de Queco, está muito acima do estereótipo do género e é ainda um factor mais decisivo que tudo o resto, que já não é pouco.
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Sal Marina - La luz del entedimiento in Filigrana (1993)

quarta-feira, julho 02, 2008

Perros callejeros (9) (6 remake)

click to commentclick to comment
Los Chorbos - Poder gitano (1975)
Aquando do desaparecimento precoce de Manzanita surgiram evocações do início da sua carreira, como membro de Los Chorbos. Com 18 anos, Manzanita integrava esse grupo, quando em 1975 foi editado o álbum Poder gitano. Era apenas guitarrista - a sua voz não contava, o que não deixa de ser incrível... Faziam ainda parte do grupo os irmãos Losada (Amador e Miguelín) e Veneno. Contudo, a alma mater desse projecto era o produtor José Luís de Carlos, da CBS. Foi um projecto revolucionário. Apontou caminhos que conduziram, por um lado, à rumba pop e, por outro, ao nuevo flamenco. De notar que José Luís de Carlos, três anos antes, fora o responsável pela erupção do duo Las Grecas com o retumbante êxito Te estoy amando locamente, que abrira uma nova era. Este produtor, de uma estadia nos EUA, trouxera ideias que incutiu em músicos dispostos a trilhar caminhos inovadores - ideias que começaram a concretizar-se com Las Grecas. Havia que consolidar a conquista. Deste modo, aqui reencontramos a mesma equipa de produção, onde, curiosamente, tem lugar um músico português, Johnny Galvão. A matéria prima de ocasião era este quarteto de jovens ciganos. Com excepção de Manzanita, eram de um bairro pobre do sul de Madrid - Caño Roto. As letras das músicas tinham, aliás, um carácter de denúncia social e de orgulho rácico, sendo, neste particular, um passo em frente em relação a Las Grecas e um prenúncio do que fariam Los Chichos e Los Chunguitos. A este género se chamou Sonido Caño Roto. Está visivelmente marcado por uma transposição, a vários níveis, do conceito black power para algo que poderíamos designar como gypsy power.
O álbum começa com Vuelvo a casa (mais tarde versionado por Los Chunguitos). Ao ouvi-lo temos uma sensação peculiar - algo assim como a que resultaria de uma improvável mistura de um instrumental de Isaac Hayes (em plano Shaft) com vozes aflamencadas e com um batido sincopado de palmas em contratempo, à sevilhana... Toda a gravação discorre a partir deste enunciado e mais de trinta anos depois ainda é fascinante. Quase uma década antes do produtor Mario Pacheco, de Nuevos Medios, ter lançado o conceito Nuevo flamenco, pode-se dizer que a coisa, afinal, já existia.
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Los Chorbos - Vuelvo a casa in Poder gitano (1975)