segunda-feira, maio 12, 2008

Guia hispânico (27)

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Giles Tremlett - Fantasmas de Espanha: Viagens pelo presente escondido de um país (2008) [Ghosts of Spain (2006)]
Os comentários citados na contra-capa ajudam mesmo a perceber a valia deste livro. O autor é jornalista, correspondente em Madrid de The Guardian. Vive há década e meia em Madrid, tendo antes vivido uns anos em Barcelona. Por força dos seus afazeres profissionais, tem percorrido Espanha de lés a lés. Contudo, o que é essencial é a base de conhecimentos de natureza histórica e sociológica que possui, a qual vai além registo jornalístico. Evita-se assim cair em lugares comuns mais ou menos sensacionalistas e, pelo contrário, em certos casos, somos conduzidos a uma percepção desmistificadora. Nota-se que há um fascínio pelo país. É, diga-se, da mesma filiação da de muitos intelectuais britânicos e norte-americanos... Releva de um conceito tocado na sua origem por concepções românticas. É também daí que provem o meu fascínio... Deste modo senti como que uma espécie de cumplicidade espiritual com muitas das observações e reflexões que são desfiadas. Há ainda uma verve de pendor humorístico que constitui um valor acrescido. Só é possível porque provem de alguém que está suficientemente entranhado na condição de estar e de viver em Espanha, entendendo a forma e filosofia de vida dos seus autóctones, mas que não deixa de ser um estrangeiro, ainda por cima munido de uma matriz cultural, em vários aspectos, antagónica.
Ninguém pode encontrar melhor guia para conhecer a Espanha contemporânea, com pistas para se poder entranhar na sua rica história e cultura(s) e poderosos descodificadores para entender as suas tensões actuais. Brilhante!

sábado, maio 10, 2008

Viagens (59): Barcelona, Girona, Figueres e Montserrat / 2007 (4)

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Girona

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Viagens (58): Barcelona, Girona, Figueres e Montserrat / 2007 (3)

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Montserrat

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sexta-feira, maio 09, 2008

Mediterráneo / Mediterrània (52): Catalunya

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Companyia Elèctrica Dharma - Catalluna (1983)
Antes de mais, o título sugere o duplo sentido Catalunha e "agarra a lua", reiterado pela capa. É uma sugestão poética, coerente com o conteúdo do álbum. Um álbum que se pode considerar o culminar de um projecto da Companyia Elèctrica Dharma de fusão da música tradicional catalã com a música electrónica de uma forma, digamos, pop. Algumas das mais populares canções tradicionais são aqui transfiguradas sem nunca perderem o seu carácter intrinsecamente catalão. A sonoridade das sardanes perpassa por todos de um modo, por vezes, grandioso, épico. Com efeito, são estes os adjectivos apropriados para alguns dos temas, nomeadamente o primeiro e o remate do último, que é extenso. Este, aliás, inspira-se nas danças de La Patum - festejos da cidadezinha de Berga, no extremo norte da província de Barcelona, num vale pirenaico. É um álbum indispensável para quem queira ter uma noção suficientemente informada do que é a música catalã.
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Companyia Elèctrica Dharma - La presó de Lleida in Catalluna (1983)

Mediterráneo / Mediterrània (51): Catalunya

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Companyia Elèctrica Dharma - Força Dharma!: Deu anys de resistència (1985)
Companyia Elèctrica Dharma é um grupo difícil de definir. Assenta numa base familiar que, ao longo do tempo, integra cinco de sete irmãos de uma família originária do bairro barcelonês de Sants, os Fortuny, à qual acresce sempre Carles Vidal e, pontualmente, mais alguns outros que não partilham o apelido Fortuny. Coincidindo com o fim de um período de maior projecção, em 1986 faleceu, repentinamente, um dos irmãos, Esteve, após um concerto. Para todos os efeitos, esse foi um momento marcante na trajectória do grupo. Contudo, manteve-se em actividade, sem cair na penumbra. Para além desta feição de trupe familiar, o que lhes confere originalidade é a música que fazem - uma mistura entre rock electrónico e música tradicional catalã (sardanes), ligada por conceitos perfeitamente jazzísticos de fusão, que estimulam o improviso. Note-se que os instrumentos que imperam são os mesmos das coblas (pequenas orquestras tradicionais) que presidem às danças das sardanes. A sonoridade é, assim, marcada por cornetins e outros instrumentos de sopro que são uma imagem de marca da identidade musical catalã. Contudo, há um aparatoso envolvimento de sintetizadores e baterias.
Desde os seus inícios, em meados dos anos 70, o grupo inscreveu-se no universo do catalanismo. Até essa altura era um universo esmagadoramente ocupado pela canção de texto (nova cançó), mas que vira, pouco antes, surgir algo que se apresentava como rock catalão por via de Jaume Sisa e Pau Riba. Em todo o caso, a proposta de Dharma não tinha a ver nem com uma coisa nem com outra. Tal originalidade granjeou-lhes aplausos da crítica e, depois, no início dos anos 80, também reconhecimento comercial. Este álbum corresponde, precisamente, a esse período. Das forças e das fraquezas desse tipo de música nesse período dá a devida conta. Esgrimindo os tópicos mais militantes do nacionalismo, procurou as referências dançáveis e festivas das tradições, não ignorando também uma das mais contemporâneas como transparece na associação do lema Força Dharma ao lema futebolístico Força Barça.
Há temas bem conseguidos e outros que nem tanto... Os três fortíssimos de entrada são, de longe, o melhor, em particular o exótico e arrebatador Anònim empordanés que se desenvolve numa improvável junção de uma marcha tradicional ampurdanesa com uma furiosa bateria.

Companyia Elèctrica Dharma - Anònim empordanès in Força Dharma!: Deu anys de resistència (1985)

segunda-feira, maio 05, 2008

Mediterráneo / Mediterrània (50): Catalunya

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Joan Manuel Serrat - Cançons tradicionals (1967)
Tinha Serrat 24 anos quando publicou esta álbum, o segundo da sua carreira; contudo, já era uma figura de impacto na cena musical catalã. Integrava a vaga fundadora e era uma das figuras de proa da nova cançó. No ano seguinte, em 1968, causou sensações contraditórias: por um lado, quebrou como que uma regra implícita e começou a cantar em castelhano; por outro, renunciou com estrépito à intérpretação da canção La, la, la, no Festival da Eurovisão, por não lhe ter sido dada autorização para a cantar em catalão. Esta atitude corajosa não impediu os zelotas do catalanismo de encarar a opção pelo bilinguismo como uma traição. Contudo, era uma opção compreensível - a sua mãe, aragonesa, era de língua castelhana, e seu pai, de origem autóctone, era de língua catalã. Era também bilingue a realidade que o rodeava no popular bairro barcelonês de Poble Sec, onde afluíam emigrantes aragoneses, murcianos, andaluzes.
Nas vésperas destas polémicas, este álbum constitui como que uma serena proclamação de acrisolado amor à Catalunha, através de algumas das suas mais emblemáticas canções tradicionais. São, na maior parte dos casos, de recorte bucólico e extravasando referências de vetusta catalanidade, incrustadas numa secular história de agravos e ressentimentos. Estão magnificamente orquestradas e servidas por uma voz adequadamente melancólica. Enfim, é um belo álbum conceptual e de referência.
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Joan Manuel Serrat - L'estudiant de Vic in Cançons tradicionals (1967)

sábado, maio 03, 2008

Geografia íntima (23)

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Porto - Ribeira

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Porto - Vista geral desde Vila Nova de Gaia

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Porto - Rio Douro

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Porto - Rua das Aldas (Sé)

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Porto - Rua da Pena Ventosa (Sé)

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Porto - Rua dos Pelames (Sé)

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Porto - Rua dos Caldeireiros (Vitória)

Porto - Fotos de José Paulo Andrade in Ruas do Porto
Parabéns ao autor destas fotos do Porto (José Paulo Andrade)! São apenas uma amostra do vasto conjunto disponível no sítio com hiperligação em cima. Vale a pena apreciar.
Este é o meu Porto. O Porto histórico do velho burgo.

Geografia íntima (23) (17 remake)

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GNR - Rock in Rio Douro (1992)
Este álbum dos GNR tem dois temas especiais: Sangue Oculto e Pronúncia do Norte. Neles, a voz semi-falsete de Rui Reininho contracena, respectivamente, com Javier Andreu (vocalista do grupo espanhol La Frontera) e com a essa vibrante mulher do Norte que é Isabel Silvestre. De resto, todos os outros temas são vulgares, revelando que cá, como em todo o lado, as fórmulas do pop/rock se foram esgotando a partir de finais dos 80... Mas esses dois temas são, de facto, especiais. O primeiro tem força genuína, sendo, além disso, um original diálogo em castelhano e português. O segundo, descontados muitos exemplos vindos da Galiza, é o "hino" mais apropriado que conheço para aquele mundo de brumas e granito que é o Norte. Em dueto com Reininho, a voz de Isabel Silvestre parece esvair-se num fio etéreo, mas há uma superior expressão emotiva nesse fio que impregna toda a canção, dominando-a. Além de que o tema assenta no enunciado da pronúncia do Norte como expressão de carácter - essa pronúncia que se recusa a emudecer as vogais e que transporta a expressão em sonoridade. O português que vem do mais fundo dos tempos...
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GNR / Isabel Silvestre -
Pronúncia do Norte in Rock in Rio Douro (1992)