domingo, maio 28, 2006

Tiro ao Alvo (10)

Estatuto da Carreira Docente
A ministra da educação tem-se tornado o alvo preferido de muitos professores pelas medidas que desde há um ano para cá têm vindo a ser tomadas. Entre estas destacam-se as tão vilipendiadas “aulas de substituição” – algo que não passa de uma obrigação elementar já há anos consagrada pela lei, prática rotineira noutros países e, inclusivamente, em algumas das nossas escolas. Contudo, para um observador atento, tornava-se evidente que isto era apenas o início de um duro trajecto correctivo que decorria da necessidade de se atalhar em dois domínios: o desastre educativo e o desastre das finanças públicas. Muitas novidades teriam de chegar e, entre elas, avultaria o novo estatuto da carreira docente, que seria a pedra de toque decisiva. O anúncio agora efectuado parece confirmá-lo.
A generalidade dos professores portugueses vive numa inusitada situação de relativos privilégios. É indispensável que estes deixem de contemplar o umbigo dos "direitos adquiridos" e encarem a nova realidade. Se assim não for, será pior para todos. Mesmo numa lógica de interesses corporativos há muito mais a perder para além do que parece já certo, com maior ou menor espernear politico-sindicalmente induzido... Uma progessão minimamente suada e o rastreio de vocações erradas são trivialidades em qualquer profissão digna desse nome. Estabelecer uma mínima diferenciação entre os melhores e os demais, também. Cercear o acesso ao topo através de uma espécie de numerus clausus também se entende, atendendo ao estado das finanças. Vai certamente doer, mas não há alternativa.
Contudo, também não se deve deixar de sublinhar que os privilégios que têm bafejado os professores são comuns à generalidade dos cargos superiores da “função pública”, havendo outras situações mais sintomáticas. O sindicalismo arrancou sem grande esforço
esses privilégios e ainda com menor esforço blindou-os. O oportunismo e incompetência de sucessivos governos pactuou com eles e consagrou-os. São privilégios quantificáveis e não quantificáveis – estes últimos passam pelo clima de relação pouco exigente que se estabelece entre colegas, (o “porreirismo”). O que se anuncia é a intenção de fazer entrar os professores numa situação de normalidade desconhecida. Só que, atenção, o mesmo, provavelmente, será necessário fazer com professores universitários, militares de carreira, médicos... É o inevitável caminho para evitar a bancarrota. No caso dos professores é também o caminho para tentar minimizar o desastre educacional. Contudo, em relação a este desastre, é importante que se tenha em conta que não basta uma maior exigência profissional - é preciso também inverter política e filosofia educativas, o que é complicado, pois os relativismos culturais e visões afins, que tantos danos têm causado à educação, pontificam ainda no mundo em que estamos inseridos. Precisamente, a área política de onde emana o governo é das que mais têm cultivado tais visões... Há ainda um outro aspecto: intenções, por mais bem intencionadas que sejam, não chegam. Tem-se observado na prática deste ministério um certo despiste e voluntarismo que, em vários domínios, têm criado novos problemas. É espantoso que, aparentemente, não se tenha ainda percebido que o essencial passa pela gestão escolar, a qual está muito longe de ter meios e condições de legitimidade para ser o braço executor das orientações ministeriais. Em todo o caso, o ministério navega no rumo certo. Que a nave não naufrague entre as violentas tempestades que se avizinham!

segunda-feira, maio 22, 2006

Mediterráneo / Mediterrània (30)

Lluís Llach - Ara i aqui (1970)
Tinha dezoito anos e viviam-se os conturbados tempos do pós 25 de Abril, quando, através de uma colega de faculdade, consegui um álbum que cá em Portugal era impossível comprar. Essa mesma colega já o tinha e emprestara-mo. Gostei tanto que pedi-lhe que, assim que fosse a Espanha, mo comprasse. Há coisas, evidentemente, que só têm condições para ser apreciadas num determinado contexto. Naquela altura, Ara i Aqui, pareceu-me o máximo, em larga medida porque, desde um empenhamento esquerdista (que era desgraçadamente o meu, nessa altura) era uma lufada de lirismo cançonetista que entroncava com uma visão mais ou menos idílica da cidade de Barcelona e do catalanismo. Além disso, o então jovem cantautor Lluís Llach tinha qualidades superiores a muitos dos seus congéneres - estava longe de ser um mero baladeiro, pois tinha uma voz melodiosa, tocava piano e alternava o registo acústico com acompanhamento orquestral. O álbum era uma gravação ao vivo de um espectáculo no emblemático Palau de la Música Catalana, num ambiente de resistência antifascista, patente nos arrebatados aplausos - algo que atingiu o climax no tema L'Estaca, que, provavelmente por causa da censura, foi apresentado em versão instrumental. A verdade é que se trata de uma gravação não só interessante pelo seu carácter de testemunho de uma época, como também pelo sua vertente artística. Paradoxalmente, não conheço nenhuma tentativa tão bem conseguida de exploração de uma via melódica potencialmente comercial para a nova cançó. Carácter militante aparte, o certo é que a maioria das canções do jovem Lluís Llach no início da sua carreira inscreviam-se num modelo de cançonetismo tradicional - eram simples canções de amor e, ainda por cima, de excelente corte melódico. Algo que contrasta com o carácter pesado, monótono, irremediavelmente marcado por uma pulsão amarga de denúncia ideologicamente condicionada, que domina a sua carreira a partir de meados dos anos 80. Há muito que parece ter-se-lhe esvaído a inspiração e a frescura, de modo que ouvir Ara i Aqui, como outros brilhantes álbuns dos anos 70, é uma oportunidade para relembrar outras fases mais proveitosas.
Infelizmente, as edições em
CD de Ara i Aqui têm graves defeitos em relação ao álbum original: os aplausos desapareceram de todo e o ambiente apercebe-se como de estúdio (provavelmente as gravações originais eram um falso "ao vivo"); faltam dois dos melhores temas (Respon-me e Irene), assim como falta o tema mais significativo (L'Estaca - versão instrumental).
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Página Web

quarta-feira, maio 17, 2006

Imprensa (3)

Diarios de Informação Geral - Top
A imprensa espanhola tem uma qualidade que, de algum modo, se expressa na sua difusão. O seu índice global de difusão per capita, se bem que permaneça bastante aquém dos países do Centro e Norte da Europa, é ligeiramente superior ao da Itália, nitidamente superior ao da Grécia e esmagadoramente superior ao de Portugal. Em todo o caso, no que diz respeito à comparação com os primeiros, não se pode deixar de ter em conta que os tablóides sensacionalistas ao estilo britânico (The Sun, Daily Mirror) ou ao estilo alemão (Bild Zeitung) não existem em Espanha. Os índices de difusão estão muito desigualmente repartidos pela geografia espanhola. Com efeito, o Norte apresenta índices muito superiores ao Sul. Num extremo Navarra e o País Vasco. No outro Castilla - La Mancha, Extremadura e Andalucía.
É impressionante a força de alguns jornais regionais. El Correo, de Bilbao e La Voz de Galicia, de A Coruña têm uma difusão superior a qualquer jornal diário português. É também impressionante verificar que cidades como San Sebastián ou Pamplona, que não chegam aos 200.000 habitantes, sustentam jornais diários com, respectivamente, 90.000 e 60.000 exemplares de difusão média. Também não deixa de ser curioso que jornais diários de Vigo, Murcia, Santander e Valladolid alcancem valores na ordem de grandeza dos nossos dois jornais diários nacionais de referência: Público e Diário de Notícias...
Eis aqui os jornais diários espanhóis de informação geral cujo valor médio de difusão é superior a 20.000 exemplares diários (Fonte: OJD):
_453.602 El País (Madrid)
_314.591 El Mundo del Siglo XXI (Madrid)
_278.166 ABC (Madrid)
_208.139 La Vanguardia (Barcelona)
_170.181 El Periódico de Catalunya (Barcelona)
_140.088 La Razón (Madrid)
_124.843 El Correo (Bilbao)
_103.399 La Voz de Galicia (A Coruña)
__89.259 El Diario Vasco (Donostia / San Sebastián)
__60.032 Diario de Navarra (Pamplona / Iruña)
__59.710 La Nueva España (Oviedo)
__55.465 Heraldo de Aragón (Zaragoza)
__46.140 Levante - El Mercantil Valenciano (Valencia)
__43.872 Las Províncias (Valencia)
__41.637 Faro de Vigo (Vigo)
__40.125 La Verdad (Murcia)
__40.060 El Diario Montañés (Santander)
__39.008 El Norte de Castilla (Valladolid)
__36.501 Diario Sur (Málaga)
__35.181 Última Hora (Palma de Mallorca)
__34.173 Información (Alicante / Alacant)
__34.031 La Província (Las Palmas de Gran Canaria)
__34.015 Ideal (Granada)
__32.817 Canarias 7 (Las Palmas de Gran Canaria)
__28.055 El Comercio (Gijón)
__27.520 Diario de Cádiz (Cádiz)
__27.234 Avui (Barcelona)
__25.839 El Punt (Girona)
__25.474 Hoy - Diario de Extremadura (Badajoz)
__24.497 Diario de Sevilla (Sevilla)
__23.277 Diario de Mallorca (Palma de Mallorca)
__22.537 El Día (Santa Cruz de Tenerife)

Nota: Avui e El Punt são editados em catalão; El Periódico de Catalunya tem também edição em catalão.

quarta-feira, maio 10, 2006

Viagens (33)

Centro
Prossigo a apreciação dos lugares que conheço em Portugal.
1ª coluna: classificação - escala de 1 a 10; 2ª coluna: lugar; 3ª coluna: tipo de lugar.

Aveiro

08 Aveiro (Cidade)
08 São João de Loure (Localidade )
08 Sever do Vouga (Localidade)

Castelo Branco

05 Beira-Baixa (Planalto)
05 Belmonte (Localidade)
05 Caria (Localidade)
05 Castelo Branco (Cidade)
07 Cova da Beira (Vale)
07 Covilhã (Cidade)
07 Fundão (Localidade)
08 Manteigas (Localidade)
05 Sertã (Localidade )

Coimbra

08 Aldeia das Dez (Localidade)
07 Arganil (Localidade)
07 Coimbra (Cidade)
07 Figueira da Foz (Cidade)
08 Lousã (Localidade)
09 Luso Localidade
06 Mealhada (Localidade)
07 Midões (Localidade)
07 Oliveira do Hospital (Localidade)
08 Penacova (Localidade)
07 Pinhal Norte (Planalto)
08 Piódão (Localidade)
07 Serra da Boa Viagem (Serra)
07 Serra da Lousã (Serra)
07 Serra do Açor (Serra)
08 Serra do Buçaco (Serra)
05Tábua (Localidade)
06 Travanca de Lagos (Localidade)

Guarda
08 Almeida (Localidade)
07 Celorico da Beira (Localidade)
08 Estrela (Serra)
07 Folgosinho (Localidade)
08 Gouveia (Localidade)
05 Guarda (Cidade)
08 Linhares (Localidade)
08 Seia (Localidade )
04 Vilar Formoso (Localidade)

Leiria
05 Alvaiázere (Localidade)
05 Ansião (Localidade)
08 Costa de Prata (Localidade)
07 Leiria (Cidade)
08 Nazaré (Localidade / Praia)
07 Pinhal Sul (Planalto)
08 São Pedro de Muel (Localidade / Praia)
06 Serra de Alvaiázere (Localidade)

Viseu
05 Carregal do Sal (Localidade)
07 Castro Daire (Localidade )
06 Mortágua (Localidade)
06 Tondela (Localidade)
08 Vale de Lafões (Vale)
07 Viseu (Cidade)

sábado, maio 06, 2006

Imprensa (2)

Anuários El País
O meu gosto por estatísticas encontrou há muito forma de se saciar em publicações como o Anuario El País. É editado desde 1982. O número deste ano é, portanto, o 25º. Tenho-os todos menos o segundo, o de 1983. É uma magnífica obra de consulta, na linha de outras publicações do género, comuns em França e Estados Unidos (refiro-me apenas a casos que conheço). Em Espanha, as editoras são jornais diários. Julgo que El País foi o primeiro jornal a tomar a iniciativa. Em todo o caso, existem outros exemplos, como El Mundo. Espero, aliás, assim que tiver oportunidade, adquirir também este anuário. Quanto ao Anuario El País deste ano, que inesperadamente me foi oferecido por uma amiga, mantem-se fiel à linha e estilo do costume, intercalando dados estatísticos de todo o tipo com apreciações opinativas sobre o ano passado nos mais diversos sectores. Em Portugal o que de mais parecido existe é o Anuário do Expresso. Contudo, as diferenças são demasiado grandes, sobretudo no que diz respeito ao grafismo e, decisivamente, no volume e variedade de dados estatísticos.

sexta-feira, maio 05, 2006

Imprensa (1)

El País - 30 Anos
Desde que me conheço que sou consumidor de jornais. Com o tempo tornei-me um consumidor quase compulsivo. Uma faceta deste meu gosto é o facto de, geralmente, ter o cuidado de comprar, ler (e guardar... para colecção, se for o único exemplar) o(s) diário(s) das cidades por onde passo.
Se há jornal que, para mim, ocupa um lugar especial é El País - símbolo, por excelência, da Espanha pós-franquista. Nem o facto de estar num quadrante ideológico que não é o meu, me retira a admiração por um projecto jornalístico de qualidade e de sucesso. Profissionalismo e know-how, tanto quanto, por exemplo, não se vêm na imprensa diária portuguesa. Ainda por cima, está longe de ser exemplo isolado no cenário espanhol. Sem referir o pujante mercado de diários regionais e locais, e cingindo-nos apenas aos de difusão estatal: El Mundo (Madrid), ABC (Madrid / Sevilla), La Razón (Madrid), La Vanguardia (Barcelona) e El Periódico (Barcelona). São todos, desde a sua perspectiva ideológica, produtos bem feitos e também, pode-se dizer, com carisma.
Pois sucede que El País faz agora 30 anos. Lembro-me bem do primeiro número que comprei, numa tabacaria do Rossio, tinha eu 19 anos - um dos primeiros números - creio que ainda não teria cumprido um mês de existência. Como foi crescendo, desde então... Entre os vários empreendimentos comemorativos, um avulta de forma grandiloquente: um suplemento comemorativo de 506 páginas, distribuido gratuitamente com a edição de 4 de Maio... Parabéns!