sexta-feira, janeiro 30, 2009

Salsa y merengue (40)

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Héctor Lavoe - El cantante: The originals (2007)
Na sequência do filme El cantante foi editado o álbum da banda sonora, com as interpretações de Marc Anthony; mas também foi editado um outro álbum, com as versões originais, de Héctor Lavoe. É este aqui em apreço, o qual é uma colectânea oportuna, na medida em que permite uma aproximação mais rigorosa à matéria inspiradora do filme.
Héctor tinha uma voz inconfundível. Nas notas incluídas no encarte do CD, da autoria de Ernesto Lechner, diz-se que era uma "voz profunda e aguerrida". Marc Anthony tem dotes de sonero mas não pode, naturalmente, fazer sugerir plenamente essa voz. E não só. Héctor tinha um jeito muito peculiar de vocalizar, jingando, que se integrava magnificamente na fraseologia rítmica da salsa. Além do mais, tinha uma imagem, digamos, de crooner decadente. Aliás, o que se pode caracterizar como decadente confundia-se com uma pose rufia. A temática de muitas das suas músicas, assim como a sua vida, reforçaram essa imagem, que encontra correspondência num dos seus apodos, "El chico malo de la salsa" e na qualificação do seu estilo como salsa brava. O que pode haver de rebelde na imagem dos modernos soneros é mais pop e, portanto, muito mais convencional.
Héctor Lavoe formou com Willie Colón o tandem que lançou a salsa. Foi com eles que a editora Fania se abalançou no propósito de se tornar numa espécie de equivalente latino da Motown ou da Stax. Viviam-se os finais dos anos 60 e inícios dos 70. Era uma parceria fulcral - um, representava a orquestra; o outro, a voz. Em meados de 70 outro grande nome da salsa, Rubén Blades, tornou-se o sucessor de Héctor como vocalista de Colón. Mas este facto, mais do que uma ruptura, representou a consagração de triângulo, pois continuaram as colaborações, só que a três e entrecambiando desempenhos. Basta referir, por exemplo, que El cantante, o tema emblemático, foi composto por Rubén; tema que, aliás, demonstra uma contundente exuberância orquestral. Refira-se, a propósito, que nas composições deste último, como nas composições e arranjos de Colón, há uma grandiosidade sinfónica que encontra na voz de Héctor a correspondência mais adequada.
Note-se, finalmente, que com abundante informação no encarte e abrangendo gravações do período inicial, em que era o vocalista da orquestra de Colón, esta colectânea é mais completa do que a maioria das que existem de Héctor Lavoe, el cantante de los cantantes.
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Héctor Lavoe - El cantante in Comedia (1978)

segunda-feira, janeiro 26, 2009

Salsa y merengue (39)

Marc Anthony - El cantante (2006)
El cantante termina com esta versão do tema que dá nome ao filme. De notar que no final, são introduzidas imagens reais do funeral de Héctor Lavoe. Por elas se pode verificar a popularidade del cantante de los cantantes.

Salsa y merengue (38)

Héctor Lavoe - El Todopoderoso in La Voz (1975)

domingo, janeiro 25, 2009

Salsa y merengue (37)

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León Ichaso - El cantante (2006)
El cantante como filme, propriamente dito, não é nada de especial, mas vale a pena pela música e pela informação. Essa bela estampa de mulher que é Jennifer López e o seu marido, Marc Anthony, não parece que tenham aqui grandes desempenhos interpretativos. A realização também não parece acertada no ritmo da acção. Em boa verdade, a história é um pouco desconexa e, ao fim e ao cabo, tudo redunda numa espécie de videoclip contínuo. Até certo ponto, ainda bem, pois a música é boa... Trata-se de salsa; Marc Anthony é um bom sonero; a produção musical corre por conta de Willie Colón - figura maior do universo salsero. Porém, o filme propõe-se reconstituir o percurso artístico daquele que foi um dos maiores soneros de sempre, Héctor Lavoe, e é uma pena que a sua vida e carreira não tenham dado azo a um grande filme. As qualidades interpretativas fizeram de Lavoe um mito. A sua vida trágica acentuou a dimensão do mito. Morreu de SIDA, numa decadência assinalada pelo consumo de drogas e tentativas de suicídio. Aliás, o filme não consegue suficiente densidade dramática ao abordar esses momentos. Em todo caso, sublinhe-se a boa música e também o contributo que dá para se entender o caldo de cultura de onde emerge a salsa, essa moderna simbiose de ritmos de Puerto Rico e Cuba com epicentro em Nueva York.
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Info IMDB

sábado, janeiro 24, 2009

Salsa y merengue (36)

Top 100 Salsa CDs of all time
Em Salsa-Central.com encontra-se uma lista dos 100 melhores CDs de salsa de sempre. A origem está na revista porto-riquenha Primera Hora. Todas as lista deste tipo desencadeiam controvérsia, contudo podem ser uma orientação útil para iniciados.
Diga-se que dificilmente se encontrará algum destes CDs em Portugal. Na verdade, não importa muito, graças à possibilidade de os comprar pela Internet. De Espanha, França e, muito especialmente, dos Estados Unidos pode-se conseguir o que se pretende. A destacar: Amazon.com e CD Universe.

Andy Montañés / La Dimensión Latina Andy Montañés & La Dimensión Latina
Batacumbele Con un poco de songo
Bobby Valentín Algo nuevo
Bobby Valentín Musical seduction
Bobby Valentín Rompecabezas
Bobby Valentín Soy boricua
Celia Cruz / Johnny Pacheco
Pete, Celia & Johnny
Celia Cruz / Tito Puente Homenaje a Benny Moré Volumes 1-2-3
Charlie Palmieri Heavyweight / Electro duro
Cheo Feliciano Cheo
Cheo Feliciano Estampas
Cheo Feliciano Sentimiento, tú...
Conjunto BorinCuba / Justo Betancourt Conjunto BorinCuba with Justo Betancourt
Domingo Quiñónez Poeta y guerrero
Eddie Palmieri Champagne
Eddie Palmieri Lo que traigo es sabroso
Eddie Palmieri Superimposition
Eddie Palmieri The sun of latin music
Eddie Palmieri / Tito Puente Masterpiece
El Gran Combo 40th anniversary live!
El Gran Combo Acangana
El Gran Combo Nuevo milenio, el mismo sabor
El Gran Combo Happy days
El Gran Combo Mejor que nunca
El Gran Combo Unity
Familia RMM Combinación perfecta
Fania All Stars Commitment
Fania All Stars Live at the Cheetah Vol # 1 & 2
Fania All Stars Live at Yankee Stadium Vol # 1 & 2
Frank Ferrer 2013
Frankie Ruiz Mi historia: Edición limitada
Gilberto Santa Rosa Esencia
Gilberto Santa Rosa Perspectiva
Héctor Lavoe Comedia
Héctor Lavoe La voz
Impacto Crea Impacto Crea
Ismael Miranda Así se compone un son
Ismael Rivera Eclipse total
Ismael Rivera El sonero mayor
Ismael Rivera El único
Jimmy Bosch Soneando trombón
Joe Batan Riot
Joe Cuba Sextette Comin’ at you
Joe Cuba Sextette Wanted dead or alive
Johnny Pacheco El maestro
Johnny Pacheco / Pete “El Conde” Rodríguez De nuevo los compadres
Johnny Pacheco / Pete “El Conde” Rodríguez Champ
Justo Betancourt Distinto y diferente
Justo Betancourt Pa’ bravo yo
La Conspiración Ernies conspiracy
La Solución / Frankie Ruiz La Solución with Frankie Ruiz
Lalo Rodriguez Simplemente Lalo
Larry Harlow Electric
Larry Harlow Larry Harlow
Larry Harlow / Ismael Miranda Tribute to Arsenio Rodriguez
Lebrón Brothers Salsa y control
Louie Ramírez / Ray de la Paz Con caché!
Luis “Perico” Ortiz Sabor tropical
Luis “Perico” Ortiz Super salsa
Machito Carambola
Machito / Lalo Rodriguez Fireworks
Manny Oquendo / Libre Ahora!
Marvin Santiago Fuego a la jicotea
Oscar D’León Oro salsero: The best of Oscar D’León
Pete “El Conde” Rodriguez Este negro si, es sabroso
Puerto Rico All Stars Los Profesionales & Puerto Rico All Stars Volumes 1 & 2
Rafael Cortijo y su Combo Baile con Cortijo y su Combo
Rafael Cortijo y su Combo Bueno…Y qué?
Rafi Leavitt Jíbaro soy
Ray Barretto El Ray criollo
Ray Barretto Indestructible
Ray Barretto Que viva la música
Ray Barretto Ray Barretto
Ray Barretto Ricanstruction
Ray Barretto Acid
Richie Ray / Bobby Cruz Agúzate
Richie Ray / Bobby Cruz Los durísimos
Roberto Roena y su Apollo Sound Gold
Roberto Roena y su Apollo Sound Roberto Roena y su Apollo Sound # 6
Roberto Roena y su Apollo Sound Roberto Roena y su Apollo Sound # 7
Rubén Blades / Son del Solar Antecedente
Sonora Ponceña Fuego en el 23
Sonora Ponceña Musical conquest
Sonora Ponceña Unchained force
The Alegre All Stars They just don’t make’mlike this anymore!
The CESTA All Stars Volumes 1 & 2
Típica 73 Salsa encendida
Típica 73 The two sides of Típica 73
Tito Puente Cuando suenan los tambores
Tito Puente Dancemania
Tito Puente Para los rumberos
Tito Rodriguez El doctor
Tommy Olivencia Planté bandera
Willie Colón / Celia Cruz
Willie & Celia
Willie Colón / Héctor Lavoe
Cosa nuestra
Willie Colón / Héctor Lavoe
Willie Colón / Héctor Lavoe

La gran fuga
El juicio
Willie Colón / Héctor Lavoe
Lo mato... si no compra este LP
Willie Colón / Rubén Blades Metiendo mano
Willie Colón / Rubén Blades Siembra
Willie Rosario From the depth of my brain
Willie Rosario Nuevos horizontes



sexta-feira, janeiro 23, 2009

Salsa y merengue (35)

Rubén Blades / Son del Solar - Caminando (1991)

sexta-feira, janeiro 16, 2009

Salsa y merengue (34)

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Gilberto Santa Rosa - De cara al viento (1994)
Foi o último álbum que Gilberto Santa Rosa gravou com a sua orquestra. Chegara até aqui, ao longo de uma dúzia de anos, com uma orquestra estável, sendo que, até determinada altura, nos espectáculos e discos apresentava-se como Gilberto Santa Rosa y su orquesta. Dir-se-ia que é em jeito de consagração que, no encarte, aparecem, em destaque, cada um dos componentes da orquestra, agrupados em trompetas, saxofon, trombones, percusion, coro, bajo y piano. Ao todo são treze músicos. O conteúdo atesta o virtuosismo da trupe. É, efectivamente, um desempenho empolgante. Contudo, para tão gratificante constatação de riqueza orquestral, assinale-se também algo inusitado: a presença de cordas. Evidentemente, tal extravasa do âmbito salsero e não poderia estar a cargo da sua orquestra. Com efeito, é um conjunto de músicos convidados que trás a sonoridade de violinos, violoncelos e violas... O que se nota no início de vários temas. Este envolvimento sinfónico confere uma personalidade particular ao álbum e acentua o carácter estilístico do Caballero de la salsa, levando a extremos de suavidade a aliança entre ritmo e melodia. Sem nunca sair da salsa, note-se. Aliás, dá-se o caso que, numa meia-dúzia de temas, não deixa de arremeter com salsa bem caliente... Em suma, espectacular!
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Gilberto Santa Rosa - Mal herido in Cara al viento (1994)

Mediterráneo / Mediterrània (56)

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Raimon - Al vent / La pedra / Som / A cops (1963)

Raimon canta Al vent. É um dos mais emblemáticos temas deste cantautor de Xàtiva, terra onde se fala valenciano, o dialecto catalão que, pela fonética, se aproxima do castelhano. É, sublinho, um tema emblemático. Tenho o EP original, com o "fritado" próprio do vinil muito usado. Comprei-o, em segunda mão, por 15 euros, há ano e meio em Barcelona. Data de 1963 e é material de valia entre coleccionadores. É um símbolo de um tempo e de um país (D'un temps i d'un país é título de um outro tema de Raimon e foi retomado por Serrat como título de um álbum evocativo dos tempos áureos da cançó).
Al vent
foi, nos anos 60, um hino anti-franquista. Diz Raimon que lhe surgiu quando, estrada fora, em cima de uma vespa, se dirigia de Xàtiva a Valencia, onde era aluno de História. Na letra e cadência transporta sentimento de rebeldia. Por isto e pelo facto de não ser cantado na lengua del imperio, tornou-se emblemático; basta dizer que trinta anos depois de ter sido gravado, a efeméride foi pretexto para o espectáculo de onde este vídeo foi extraído. Já agora, repare-se que, no palco, atrás de Raimon, estão Luís Cília e Paco Ibañez. Pode-se ainda ver Joan Manuel Serrat cantando emotivamente. Ao fundo está uma tela gigante que reproduz a pintura que Joan Miró fez para a capa do álbum de Raimon, Cançons de la roda del temps.



Raimon - Al vent (Barcelona, Palau Sant Jordi, 1993)

Mediterráneo / Mediterrània (55): Valencia (37 remake)

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Valencia (anos 50) (2)

Mediterráneo / Mediterrània (54): Valencia (37 remake)

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Valencia (anos 50) (1)

Mediterráneo / Mediterrània (53) (34 remake)

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Raimon - Nov
a integral Edició 2000 (2000)
Raimon (Ramón Sanchis Pelejero) é o decano da cançó catalana, mas não é propriamente catalão, é valenciano. Nasceu em Xàtiva, no sul da província de Valencia. Convém saber que a área linguística catalã estende-se pelo litoral das terras valencianas até ao sul da província de Alicante. As localidades de Elx (Elche) e Crevillent, já próximas de Murcia, assinalam os seus limites meridionais. A forma valenciana de falar catalão (valencià) diferencia-se por uma fonética de vogais mais abertas e por um vocabulário com certas especificidades, uma boa parte das quais de origem árabe. Juntamente com um punhado de intelectuais valencianos, onde avulta Joan Fuster, Raimon foi, nos anos 60 e 70, intérprete de um ideal pan-catalanista que se traduzia no conceito Països Catalans - comunidade linguística entre Principat (Catalunya), Illes (Menorca, Mallorca, Eivissa) e País Valenciá. Tornou-se figura de proa do catalanismo. Mas, em boa verdade, foi mais do que isso, foi uma dos primeiros cantautores com projecção e nessa medida chegou a ter notoriedade em toda a Espanha, apesar de ter cantado sempre só em catalão. Alguns dos hinos antifranquistas dos anos 60 foram da sua lavra. Em qualquer lugar de Espanha os seus espectáculos transformavam-se em comícios. Porém, a sua música foi-se desenvolvendo para além das intervenção política. No início, a crua simplicidade da sua música, assente numa simples guitarra e em acordes lineares, fazia ressaltar uma voz poderosa e expressiva. Este trunfo sempre o manteve. Mas, já em 1966 havia sinais num outro sentido. Nesse ano saiu o álbum Cançons de la roda del temps, onde Raimon pôs em música poemas de Salvador Espriu e tinha uma capa da autoria de Joan Miró. Esta linha levá-lo-ia mais tarde aos poetas valencianos de finais da Idade Média, como Ausiàs March. Nos anos 80 e 90 estava já longe do panfletarismo, apostando por uma via mais valiosa de canção de texto.
Em 2000 é lançada uma reedição de toda a sua carreira discográfica em 10 volumes. No sexto consta Cançons de la roda del temps, não na versão original, mas numa outra, que havia sido entretanto gravada em 1981. A voz ainda poderosa e límpida de Raimon e o adusto lirismo de Espriu proporcionam uma experiência tão interessante como na versão original.



Raimon - Cançó del matí encalmat (1981) in Raimon: Nova integral (2000)

segunda-feira, janeiro 12, 2009

Tiro ao alvo (23)

Medina Carreira in Nós por cá (SIC) (05/01/2009)

terça-feira, janeiro 06, 2009

Cuore Matto (24) (9 remake)

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Ornella Vanoni - La voglia di sognare (1974)
Nos anos 70, um pouco em contra-tendência, a canção italiana atinge a sua plenitude. É um facto que o Festival de San Remo estava cada vez mais longe do esplendor da década anterior, mas, em contrapartida, a produção discográfica utiliza meios de produção mais modernos, incorporando, pontualmente, alguns elementos oriundos do pop/rock. A perda de importância do cançonetismo, em Itália, traduz-se, assim, mais no plano quantitativo e, eventualmente, comercial, do que no plano substantivo da qualidade. É o que se passa com Ornella Vanoni, uma das consagradas dos tempos áureos de San Remo.
La voglia di sognare apresenta uma linha melodiosa homogénea. Contudo, o repertório não deixa de ser relativamente variado, com duas versões de temas franceses e uma versão de um tema brasileiro, sendo os oito restantes temas inéditos de consagrados compositores italianos. O valor do conjunto é elevado, mas o destaque vai para Un mondo di più, de Lucio Dalla e Sergio Bardotti - um sugestivo tema de amor que prova como a voz de Ornella, apesar de frágil, pode ser insinuante e quente...
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Ornella Vanoni - Un mondo di più in La voglia di sognare (1974)

Cuore matto (23)


Mina - L'importante e' finire in La Mina (1975)

Viagens (67): Norte de Itália / Julho - Agosto de 2001 (10)

7º Dia (6ª Feira)
O último dia foi dedicada às compras, tanto quanto o remanescente de liras e saldo do Visa permitissem. Entretanto, aprendi que os bilhetes para os eléctricos (e metro), no valor de 2.000 liras, eram exclusivamente comprados em bares, quiosques e estações de metro. Finalmente, o calor abrandara. Comecei por me dirigir à estação de Cadorna para me assegurar que era dali que saía o comboio para o aeroporto. Depois fui caminhando até ao centro. Não consegui encontrar a igreja desconsagrada que funcionou nos anos 70 como estúdio e onde Mina gravou alguns dos seus melhores discos.
Passei junto ao Castelo Sforzesco. É uma construção austera, com uma torre imponente, que se situa num parque. Os Sforza dominaram o Milanado nos finais da Idade Média. Depois, o território passou para a soberania da Casa de Áustria, vindo a integrar o Império Espanhol. Em meados do século XVII passou para o Império Austríaco. Assim se manteve até ao Rissorgimento. Há vestígios do domínio espanhol, mas há muitos mais do domínio austríaco. Até meados do século XIX as pessoas cultas dominavam tanto o italiano como o alemão. O povo falava milanês, o qual já não se ouve hoje em dia nas ruas - parece que subsiste nas zonas rurais. Escutei-o numa rádio local (Radio Meneghina) e soa assim como que uma mistura de italiano com francês.
Do Castelo Sforzesco parte a elegante Via Dante, que está reservada a peões... e bicicletas. Diga-se, que é frequente ver gente a andar de bicicleta, tanto nestas artérias como nas de trânsito normal. O castelo ainda dominava, ao fundo, quando uma curva me fez desaguar no Duomo.
Perdi-me nas livrarias e lojas de discos situadas à volta do Duomo. Não me admirei com a ampla oferta de temas de arte e arquitectura. A de mapas é também muito boa. Há uma abundante literatura sobre futebol. Quanto às lojas de discos, é visível que a fórmula Virgin é mais bem sucedida que a fórmula FNAC, ao contrário do que sucedeu em Espanha e Portugal.
Os quiosques têm uma oferta variada, quer pelas revistas, quer pelos diários provinciais. Contudo, em Milão mais de metade das pessoas que levam jornais nas mãos (e são muitas), fazem-no com o Corriere della Sera, que desde há muito (pese o nome) passou a ser matutino. Entre os quatro jornais de informação geral de difusão nacional, um está sediado em Roma (La Repubblica), outro em Turim (La Stampa) e os outros dois em Milão (Corriere della Sera e Il Giornale). São magníficos no conteúdo e conservadores no seu grafismo – as primeiras páginas têm texto, não são dominadas por grandes títulos e fotos. A ascensão de La Repubblica tem sido notável – é o hoje o jornal da opinião de esquerda, a nível nacional, equivalente ao El País, em Espanha. O Corriere della Sera é conservador moderado e traduz uma sensibilidade própria da burguesia do Norte de Itália. Entre os dois, a disputa pela liderança é cerrada e faz-se acima dos 700.000 exemplares de venda média diária! A vantagem vai ainda para o Corriere. Mais atrás, vem o jornal ligado à FIAT - La Stampa (300.000) - e o que de melhor produziu a constelação mediática de Berlusconi, o Il Giornale (250.000). Aqui, os índices de leitura de jornais são altos, mas a média nacional é inferior à de Espanha, algo que só se percebe se se souber que a sul de Roma esses índices são os mais baixos de toda a União Europeia.
Milão, estando muito longe de ser dominada pelo turismo, proporciona uma noção mais precisa da realidade social italiana. Impressionou-me a quantidade de orientais e árabes que vi. Era de esperar ver alguns negros com a tez própria dos somalis ou etíopes (antigas colónias italianas). Vi-os, de facto, mas em quantidade menor do que magrebinos, paquistaneses, tailandeses, vietnamitas... Finalmente, devo referir que os contactos com italianos deram-me deles uma imagem de simpatia natural, sorridentes e solícitos.
O comboio que me levou ao aeroporto de Malpenza, a meio da tarde, durou quase uma hora no trajecto. A minha última imagem de Itália foi, o avião levantando voo, a panorâmica do Lago di Como, do Lago Maggiore e dos Alpes. Bela imagem!

domingo, janeiro 04, 2009

Argel - Cairo - Beirute (5) (Cinecittà 3 bis)

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Gillo Pontecorvo - A batalha de Argel [La battaglia di Argeli (1966)]

Nos anos 50 e 60 a produção cinematográfica italiana era prolífica. Na Europa, os estúdios da Cinecittà eram os que mais filmes faziam. A variedade e a qualidade eram diversificadas. Abrangiam-se todos os géneros e públicos. Esse passado brilha com fulgor. Tanto, que qualquer história do cinema reserva lugar destacado para o neo-realismo italiano (anos 40 e 50), exalta o melhor do western spaghetti (anos 60 e 70), não ignora a melhor comédia (anos 50, 60 e 70) e regista o impacto comercial de variados géneros populares (anos 50 e 60). Contudo, existem filmes que podem não ser tão facilmente detectados, já que não são enquadráveis nesses géneros. É o caso deste.
O género é docudrama político-militar. O tema é a Guerra da Argélia. Não é um documentário, mas parece. Na verdade, é um exemplo de integração de uma trama ficcional num contexto histórico. Tem implicações políticas, pelo que esta guerra representou - o ponto mais dramático do processo de descolonização dos anos 50 e 60. Note-se que o realizador tinha um empenho político - era militante do PCI, à semelhança de outros realizadores italianos (incluindo alguns dos mais famosos) e que é uma co-produção italo-argelina. Dir-se-ia reunir todos os ingredientes para ser um instrumento propagandístico. Em boa verdade, não se pode dizer que não o seja, porque a realidade que retrata é favorável à causa da descolonização. Mas, há seriedade na abordagem. Cenas de guerra suja são-nos apresentadas com crueza e protagonizadas por ambas as partes. É particularmente arrepiante a frieza com que três mulheres árabes levam e colocam bombas em cafés para causar o maior número de vítimas entre civis. Não menos arrepiante é a inteligência cruel do Coronel Mathieu, chefe militar francês nessa Argel insurrecta. Corresponde ao Tenente-Coronel Jacques Massu, a quem a esquerda crismou como o "carrasco de Argel". Mas, o filme evita um retrato simplista deste personagem. Aliás, não escamoteia que a sua estratégia foi decisiva para uma viragem que desembocou numa vitória. Foi uma vitória fatalmente provisória, mas, dadas as circunstâncias, foi notável. O fatalmente prende-se com uma realidade que não podia ser ultrapassada, da qual fazia parte a empedernida cegueira dos pieds-noires (colonos), que teria que deitar tudo a perder, fosse como fosse... O que se pode entender através de algo que o filme atira à cara do espectador: a sociedade franco-argelina assentava numa profunda discriminação, num apartheid. Somos levados tanto ao interior da Kasbah como passamos pela mentalidade e forma de vida do pied-noir. O contraste é violento. É um cenário de tragédia sem solução. Na Argélia, como em muitas outras colónias ficaram todos as perder.
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Info IMDb


Gillo Pontecorvo - La battaglia di Argeli (Trailer)

Argel - Cairo - Beirute (4)

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Chaba Zahouania - Nights without sleeping (1988)


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Chaba Zahouania - Goulou limma (1988)

Argel - Cairo - Beirute (3)

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Robert Fisk - A Grande guerra pela civilização (2008) [Great war for civilisation (2005)]

Robert Fisk é um jornalista inglês, correspondente no Médio Oriente há mais de trinta anos. A partir de Beirute tem trabalhado para meios de comunicação social britânicos, nomeadamente o The Times e o The Independent. Poucos terão tanto conhecimento e experiência desta região. Tem-se destacado, não só por isso, mas também por uma abordagem que divulga expressiva e detalhadamente a visão e a perspectiva dos muitos ressentimentos e enfrentamentos em relação ao Ocidente. Tal abordagem tem-lhe feito abrir portas que não se abrem facilmente a jornalistas ocidentais; tem-lhe garantido acesso a fontes privilegiadas de informação. Basta dizer, por exemplo, que Bin Laden foi por ele entrevistado duas vezes - uma no Sudão; outra no Afeganistão. Na verdade, Fisk demonstra a preocupação de entender as razões do outro lado, levando o princípio da neutralidade jornalística a limites que podem, inclusivamente, ser mal-entendidos no mundo ocidental. Em boa verdade, dá-nos pistas para entender equívocos, omissões e contradições em que o Ocidente tem incorrido e que têm contribuído para o arrastamento e agravamento de problemas. O conflito israelo-palestiano é o mais importante, mas está longe de ser o único numa lista que começa, pelo menos, no tempo da I Grande Guerra, aquando do desmoronamento do Império Otomano. É o desfile de uma história de contumaz sobranceria, incompreensão e displicência por parte do Ocidente. Pode-se dizer que, de alguma forma, esta é a tese do livro.
O caudal informativo é portentoso. As descrições são detalhadas e abrangem situações limite, muitas vezes vividas na primeira pessoa. Diga-se, já agora, que Fisk corporiza a figura romântica do correspondente de guerra. Contudo, o livro, se bem que assente nas suas reportagens e artigos, está muito além de uma compilação. É uma síntese com nexo temático em torno dos grandes problemas do Médio Oriente, sendo este aqui um conceito que abrange o mundo árabe (desde o Magrebe), turco, persa, afegão e o indiano islamizado. Para além disso, faz incursões até à I Grande Guerra - "a guerra do seu pai" -, que acabam por ser muito mais pertinentes do que se possa imaginar... Não segue uma orientação cronológica. Está próximo de ser uma síntese de história contemporânea, regional com algumas limitações advindas do facto de ser feita por um jornalista. Contudo, a condição de jornalista propicia também vantagens, como a de se conseguir imagens impressivas de tantas e tantas situações extremas, que têm o condão de fazer perceber e sentir a realidade mais eficazmente do que através de descrições genéricas filtradas por conceitos académicos. Mais do que isso; em matérias como o genocídio arménio (remonta ao desmoronamento do Império Otomano e construção da Turquia moderna) e como a carnificina da Guerra Irão-Iraque, tornam-se pertinentes as descrições fortes, dadas as circunstâncias de omissão que têm rodeado esses extraordinários acontecimentos.
Maneja-se tão vasta e diversificada informação que, muitas vezes. surgem perguntas que não têm resposta. Apetece complementar a leitura desta obra com informações de índole histórica que dêem uma compreensão mais profunda. E já agora, questionarmo-nos se aquilo que atrás referi como tese do livro não será tão-só um dos aspectos para a compreensão dos problemas do Médio Oriente, porventura não o mais decisivo. Com efeito, muita da informação fornecida pode ir ao encontro de outras teses, nomeadamente, as que sustentam que os problemas essenciais preexistiam e já estavam configurados antes do choque contemporâneo com o mundo ocidental.
Uma nota final para um aspecto salientado na recensão critica feita no Público - as deficiências de tradução. No mínimo, parece que os tradutores não estarão suficientemente familiarizados com certos aspectos da cultura árabe. Designar Oum Kalsoum como cantor - ela que foi um autêntico mito, ícone maternal da cultura popular árabe - é, só por si sintomático...

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sábado, janeiro 03, 2009

Argel - Cairo - Beirute (2)


Oum Kalthoum - Al Atlaal (extracto) (1966)

quinta-feira, janeiro 01, 2009

Salsa y merengue (33) (7 remake)

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Willie Colón / Rubén Blades - Siembra (1978)
Este álbum, editado pela Fania, produzido e dirigido pelo novaiorquino Willie Colón, composto e interpretado pelo panamenho Rubén Blades, é consensualmente considerado o mais importante na história da Salsa. Sobressai, desde logo, o facto de conter o famosíssimo tema Pedro Navaja, crónica de um marginal hispano de Nova York, cuja letra e desenvolvimento rítmico marcarão um estilo de referência. Contudo, os demais temas são magníficos, com destaque para a mordaz crítica social do tema incial, Plástico, (que começa em irónico ritmo disco...), para a sabrosura de Buscando guayaba e para a melodiosa Dime. No seu conjunto constitui uma álbum programático, quer pela proposta artística, quer pela temática, a qual se pode resumir no lema: orgulho hispano.

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Willie Colón / Rubén Blades - Buscando guayaba in Siembra (1978)