sexta-feira, dezembro 31, 2004

sábado, dezembro 25, 2004

Viagens (13): Picos de Europa / 2001 (6)

3º Dia – 6 de Abril (6ª Feira) (tarde)

Almocei magnificamente na bela localidade de Potes – uma habada (feijoada) típica da região. Potes tem um interessante núcleo central antigo, onde sobressaem uma velha ponte e um imponente paço medieval (Torre del Infantado). É a mais importante localidade de La Liébana, no sudoeste de Cantábria. Encontra-se já na área de influência de Santander – os jornais que se vêm são desta cidade, com destaque para El Diario Montañés.
A estadia em Cantábria limitou-se à travessia do seu extremo sudoeste. A estrada, apertada pelo imponente desfiladeiro de La Hermida, conduziu-me ao Principado de Astúrias. Entretanto, chegara a chuva inesperadamente. A verde Astúrias não abdicava da sua bruma e chuva, fazendo-se anunciar com esta mudança meteorológica... Assim entrei pela primeira vez nesta região, que desde há muito ansiava conhecer. Foi uma entrada à altura das expectativas. Em Cabrales, um desvio por motivo de obras, conduziu-me a um pedaço da recôndita ruralidade asturiana, onde me ia despistando por prados repletos de vacas, tendo como pano de fundo paisagens de alta montanha...
Ia agora na direcção Oeste, com o objectivo de subir ainda nessa tarde aos Lagos de Covadonga. Acabou por ser um objectivo gorado, pois o denso nevoeiro inviabilizou a façanha a meio da escalada, quando esta se tornava pouco menos que suicida. Assim, assentei arrais na cidadezinha de Cangas de Onís bem antes do anoitecer. Aqui nasceu o primeiro reino cristão independente da tutela muçulmana. Mas, além desta glória, apresenta um testemunho monumental do seu prestigioso passado - uma magnífica ponte medieval, que aparece frequentemente em prospectos turísticos da região. Nela está suspensa a emblemática Cruz de Pelayo, presente na bandeira asturiana.
Em Cangas de Onís apercebi-me da personalidade asturiana. Por todo lado há sidrerías – lugares onde se bebe sidra, que é uma típica bebida asturiana, feita a partir de maçã. Há também muitas lojas de recuerdos regionais: réplicas dos espigueiros asturianos (amplos e quadrados - diferentes dos galegos e minhotos, que são mais pequenos e rectangulares); gaiteiros (a gaita asturiana também é diferente da galega); figuras de míticos deuses célticos; múltiplos artefactos feitos com pele de vaca; gorros asturianos; CDs de música regional). Observei também que, nas bancas de jornais, onde imperavam os três principais diários asturianos (El Comércio, de Gijón; La Nueva España e El Periódico de Asturias, de Oviedo), havia um semanário escrito na língua vernácula da região, o bable, ou como os seus defensores preferem, o asturianu. Aliás, pelo caminho, tinha observado que, desde a entrada no Principado, muitas placas toponímicas estavam corrigidas na sua grafia por pichagens. Confirmei que por aqui também há nacionalistas e dedicados amantes de uma língua vernácula. Porém, não detectei ninguém que a falasse. É certo que alguns intelectuais falarão asturianu em actos simbólicos, mas provavelmente será preciso procurar nas montanhas quem ainda o fale com naturalidade. Já tinha lido uma vez no Público que linguistas da Universidade de Oviedo (já agora, Oviéu) tinham muita curiosidade em relação ao mirandês (da zona de Miranda do Douro) que é um dialecto idêntico ao bable / asturianu. Ambos são o que resta da língua astur-leonesa.
Duas coisas conclui: Cangas de Onís é um dos centros simbólicos do asturianismo; este movimento, se nunca teve expressão política, tem alguma existência cultural. Enfim, o cantonalismo das Espanhas não cessa de me surpreender...

quinta-feira, dezembro 23, 2004

Boulevard nostalgie (18)

Charles Aznavour - La bohème (1965)
Os anos 60 são os melhores anos de Aznavour. A sua voz estava na plenitude e são de então os seus maiores êxitos. Eram tempos em que os tops se compatibilizavam com a qualidade e em que o pop/rock anglo-saxónico ainda não dominava tão esmagadoramente. Nesse tempo, portanto, Aznavour estava longe de se limitar a ser um fenómeno do mundo francófono, tinha uma projecção mundial (como Dalida e Bécaud, por exemplo). La Bohème é de 1965 e será uma das mais belas canções de sempre. O seu lirismo é indissociável da interpretação de Aznavour. Também no álbum se encontra um outro tema excepcional, Paris au mois d'août - que é genuinamente aznavouriano. Este CD reúne não apenas os temas do álbum original, mas também mais algums outras editados em EP ou single entre 1963 e 1966.
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Boulevard Nostalgie (17)

Charles Aznavour (Chahnour Varenagh Aznavourian)(Paris, 1924)
Se há voz com um timbre carismático, a de Aznavour é uma delas. Se a de Sinatra seduz pelo poder, a de Aznavour seduz pelo timbre que exala algo de agreste e, ao mesmo tempo de calor expressivo. É um intérprete por excelência de canções e a prova de como em pouco mais de três minutos se pode transmitir elevadas emoções musicais. Nada é banal na sua interpretação. Mais do que ninguém (com excepção de Edith Piaf), representa as virtualidades da chanson. E curiosamente, em rigor, não é um francês puro... Descendente de arménios exilados (a família Aznavourian foi obrigada pelos horrores do genocídio arménio a uma errância sem destino), nasce em Paris por acaso. Mas, seja lá como for, Aznavour é francês!
Nas nossas FNACs apareceu agora a sua obra integral (L'Intégrale) reunida numa enorme caixa que é uma peculiar réplica do Arco de Triunfo. São 44 álbuns, 786 canções, 64 páginas e... 700 euros. Sendo eu comprador compulsivo de CDs, DVDs e livros, assim estoirando, mês após mês, o meu salário quase até ao último cêntimo, senti-me tentado a elevar qualitativamente a incontinência com a aquisição de tão extravagante produto. Mas contive-me, héllas, que remédio...
A página oficial de Aznavour é monumental, mas há outras muito boas também. Eis um artista que está representado na rede a um nível correspondente ao seu valor.

American Dream (3)

Toponímia Francesa na América do Norte
O sonho americano, antes de se concretizar anglo-saxonicamente na forma individualista e competitiva de encarar a vida, foi um sonho vago, assente num Novo Mundo de recursos ilimitados, com oportunidades para os que arriscassem passar o Atlântico. Neste sentido, começou por ser uma aventura de espanhóis (El Dorado); foi de portugueses (bandeirantes do sertão brasileiro) e de holandeses; e foi também de franceses...
Até meados do século XVIII a América do Norte era um Novo Mundo tripartido entre Espanha (Florida, West e Far West), Inglaterra (Costa Leste e Norte) e França (Mid West). Na verdade, mais até do que a Espanha, a França estava envolvida num consistente projecto de colonização da América do Norte. Enquanto o Império Espanhol, espraiando-se por vastidões de todas as Américas, deixara um pouco ao abandono os seus longínquos territórios do Oeste, a França pós-Richelieu, potência de primeira grandeza, concentrara a parte decisiva das suas energias ultramarinas no esforço de garantir uma forte presença no Centro e no Nordeste. Em vésperas da Guerra dos Sete Anos (1756-1763) dominava todo um conjunto de territórios a oeste dos Apalaches, que configuravam um arco que se estendia desde as margens do São Lourenço (Québec) até ao delta do Mississipi (Louisiana). Mais importante ainda é saber que nas extremidades deste arco havia fortes núcleos de colonização com tendência para se expandirem. Eram núcleos connstituídos, sobretudo, por empreendedores huguenotes. Nos territórios intermédios havia uma presença militar que seria superior, em qualidade e quantidade, à dos ingleses na Costa Leste. Havia também comerciantes franceses que exploravam rotas assentes no comércio de peles e, sobretudo, importantes núcleos de jesuítas franceses. Estes últimos conseguiram cristianizar e afrancesar vários povos índios, quer do ramo algonquíno, quer do ramo dos nómadas das pradarias centrais. Note-se que a maior parte dos algonquinos lutou ao lado dos franceses na Guerra dos Sete Anos.
Perante esta realidade, em meados do século XVIII, qualquer projecção sobre o futuro da América do Norte, poderia imaginar com razoabilidade, que à França estaria reservado o destino de potência dominante. A Guerra dos Sete Anos desfaria qualquer possibilidade de tal vir a concretizar-se. Mas, dos tempos anteriores ficaram abundantes marcas: o Québec, como comunidade homogénea francófona; a Louisiana, com a sua herança cultural francesa; a nomenclatura de povos índios, como Cheyenne e Assiniboine, que denotam uma transcrição pela grafia francesa; a toponímia. Em relação a este último aspecto, vejamos alguns exemplos, sem ter em conta o Québec e sem pretender ser minimamente exaustivo:
Detroit (1701 - Antoine de Cadillac funda Pontchartrain de l'Étroit), Marquette, Sault Saint-Marie, Pontiac, Cadillac, Charlotte, Saint-Claire (Michigan); La Crosse , Fond du Lac (Wiscosin); Terre Haute (Indiana); Belleville, Champaign, Du Quoin, Rochelle (Illinois); Des Moines, Dubuque (Iowa); Saint-Louis , Mâcon, Cape Girardeau (Missouri); Bâton Rouge, Thibodaux, Laplace, Plaquemine, Ville Platte, Abbeville (Louisiana).

sábado, dezembro 18, 2004

Flamenco (9)

El Pele / Vicente Amigo - Canto (2003)
Que se poderia esperar da junção destes dois cordobeses, Vicente Amigo e El Pele, (respectivamente, a melhor guitarra e uma das melhores vozes flamencas da actualidade) senão algo de notável? O que aqui há de moderno é relativamente discreto, mas eficaz. Contudo, os argumentos decisivos dizem respeito à alma do flamenco - há aqui momentos de duende y arte! A voz rasgada de El Pele e o virtuosismo de Vicente Amigo representam as qualidades inatas do espírito e da técnica próprios do flamenco. Na verdade, pode-se dizer que nesta gravação nos confrontamos com alguns momentos de cante jondo... O melhor ocorre no tema sete, Aconteció (seguirilla). Aí somos conduzidos quase ao transe emocional através da voz de El Pele, no seu estado mais selvagem, sabiamente sublinhada pelos acordes pontuais da guitarra e pela cadência rítmica da percussão.
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Flamenco (8)

La Barberia del Sur - Algo pa Nosotros (1997)
O grupo La Barberia del Sur (barberia = um grupo de bárbaros ou berberes) é um dos mais importantes do Nuevo Flamenco, se não for mesmo, neste momento (ainda que reduzido a duo), o mais importante. Este álbum é, provavelmente, a seguir aos Songhaï 1 e 2, dos Ketama, o mais importante do género.
O grupo surgiu em 1991 com componentes oriundos de conhecidas dinastias flamencas (entre as quais, também, os Habichuela) e com uma consolidada trajectória de músicos de background. Depois de algumas recomposições, chegaram a esta gravação como trio: Negri (voz e percussão), Paquete (guitarra) e Ardilla (guitarra). Contudo, tiveram aqui a preciosíssima participação de Chano Domínguez (piano), Carles Benavent (baixo) e Jarge Pardo (sax). Ou seja, três músicos de formação jazzistica, que sempre estiveram na vanguarda e nas mais profícuas experiências de fusão flamenca com jazz. Refira-se que não foi uma participação ocasional, já que se repetiu em espectáculos e em outras gravações. Sucede que a especialidade fusionista do grupo foi sempre a que se desenvolveu na direcção do jazz e, portanto, entende-se esta continuada colaboração, a ponto de se poder afirmar que estes três músicos também têm feito parte, embora intermitentemente, do grupo. Apesar de várias recomposições, apesar também destas colaborações, a verdade é que o núcleo duro de La Barberia reside em Negri e Paquete. O primeiro têm uma voz notável - enrouquecida e com densidade expressiva. Hoje em dia estão, de facto, reduzidos ao núcleo duro, mas, como é evidente, para espectáculos e gravações fazem-se acompanhar de músicos variados.
Neste álbum, entre todos os temas, deve-se destacar o último, Fragua Futura. É uma espécie de martinete vanguardista, que proprciona um magnífico desempenho vocal entre o cantaor Antonio Suárez Guadiana e Negri. São suas vozes genuinamente flamencas, que, no sucessivo contraste das suas distintas tonalidades e reforçadas com uma poderosa percussão em crescendo, criam uma ambiência muito forte.
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sexta-feira, dezembro 17, 2004

Flamenco (7)

José Soto Sorderita - Mi secreto pirata (1995)
José Soto Sorderita foi a primeira voz solista de Ketama e, na verdade, mesmo depois de ter saído, não deixou de continuar ligado ao grupo, já que regressou expressamente para participar nas duas edições do extraordinário Songhaï, que é, talvez, a obra cimeira do nuevo flamenco e, mundialmente, um dos mais aclamados produtos da chamada world music. Tem um timbre de voz bem flamenco, mas na variante fina. Sem desprimor para Antonio Carmona, que herdou a condição de voz solista de Ketama, Sorderita tem uma maior delicadeza, que, em certos temas, consegue ser oportunamente expressiva. Este álbum foi editado numa época em que Ketama estava já consagrado e a projecção de Sorderita continuava subsidiária da fama do grupo. Era o momento para reafirmar um caminho autónomo, em que o fusionismo é entendido de uma forma menos heterodoxa. Não temos aqui experimentalismo radical, temos, isso sim, uma linha de fusão que nunca ultrapassa um determinado limite. Em que consiste? Por exemplo: numa seguiriya utiliza-se um piano em vez da guitarra; nuns tanguillos ou numas bulerías recorre-se a guitarras eléctricas. Mas, com estas roupagens nunca deixam de ser bem reconhecíveis os palos (estilos básicos do flamenco). A destacar: Puros sesenta e o tema que dá nome ao álbum (respectivamente tanguillos e seguiriyas) que sintetizam inspiradamente o espírito de fusão entre casticismo e modernidade.
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Flamenco (6)

Ketama - Ketama (1985)
O produtor Mario Pacheco e a sua editora Nuevos Medios constituiram a base de lançamento do movimento Nuevo Flamenco. Estávamos em meados dos anos 80. A movida madrilena regia as tendências dominantes. Nuevos Medios estava implicada no lançamento de grupos pop/rock e, ao mesmo tempo, apostada em experiências inovadoras no universo do flamenco. Entre esses dois universos as fronteiras diluíam-se. Os Ketama foram os líderes destas experiências e, com o tempo, tornaram-se nos seus mais conhecidos representantes. Este CD é a reedição do seu primeiro álbum, editado em 1985 e gravado em 1983. Nessa altura ainda tinha a sua composição original: José Soto Sorderita; Ray Heredia; Juan Carmona; Antonio Carmona - jovens herdeiros de duas grandes dinastias ciganas de artistas flamencos : os Habichuela e os Sordera.
A novidade do Nuevo Flamenco reside no facto da fusão flamenca não se dirigir apenas na direcção do pop/rock ou da música ligeira, mas, decididamente, na direcção do jazz e de outras músicas étnicas. Este álbum pode, até certo ponto, ser considerado como fundador. Aqui encontramos enunciadas as tendências que se tornarão marcantes em futuras gravações dos Ketama e de muitos outros que entretanto surgiriam (Pata Negra; Arrajatabla; Navajita Plateá; La Barbería del Sur...). Há quase como que um delírio iconoclasta na utilização de diferentes formas de expressão musical. Assim, podemos encontrar ritmos de samba, percussões árabes, acordes de blues... À partida parece não haver limites. A única espinha dorsal está nesse duende flamenco, nessa alma salerosa que é exclusiva do flamenco e que dá nexo a este esperimentalismo. Sendo bom, este álbum não é dos melhores do género, mas tem essa qualidade de marca fundadora... A destacar o tema que lhe dá nome, assim como ao próprio grupo. É de refinada beleza! Diga-se, a título de curiosidade, que Ketama é o nome de uma região marroquina que é conhecida por ser a origem de... afamado haxixe.
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quinta-feira, dezembro 16, 2004

Perros callejeros (6)

Los Chorbos - Poder gitano (1975)
Aquando do desaparecimento precoce de Manzanita surgiram evocações do início da sua carreira, como membro de Los Chorbos. Com 18 anos, Manzanita integrava esse grupo, quando em 1975 foi editado o álbum Poder gitano. Era apenas guitarrista - a sua voz não contava, o que não deixa de ser incrível... Faziam ainda parte do grupo os irmãos Losada (Amador e Miguelín) e Veneno. Contudo, a alma mater desse projecto era o produtor José Luís de Carlos, da CBS. Foi um projecto revolucionário. Apontou caminhos que conduziram, por um lado, à rumba pop e, por outro, ao nuevo flamenco. De notar que José Luís de Carlos, três anos antes, fora o responsável pela erupção do duo Las Grecas com o retumbante êxito Te estoy amando locamente, que abrira uma nova era. Este produtor, de uma estadia nos EUA, trouxera ideias que incutiu em músicos dispostos a trilhar caminhos inovadores - ideias que começaram a concretizar-se com Las Grecas. Havia que consolidar a conquista. Deste modo, aqui reencontramos a mesma equipa de produção, onde, curiosamente, tem lugar um músico português, Johnny Galvão. A matéria prima de ocasião era este quarteto de jovens ciganos. Com excepção de Manzanita, eram de um bairro pobre do sul de Madrid - Caño Roto. As letras das músicas tinham, aliás, um carácter de denúncia social e de orgulho rácico, sendo, neste particular, um passo em frente em relação a Las Grecas e um prenúncio do que fariam Los Chichos e Los Chunguitos. A este género se chamou Sonido Caño Roto. Está visivelmente marcado por uma transposição, a vários níveis, do conceito black power para algo que poderíamos designar como gypsy power.
O álbum começa com Vuelvo a casa (mais tarde versionado por Los Chunguitos). Ao ouvi-lo temos uma sensação peculiar - algo assim como a que resultaria de uma improvável mistura de um instrumental de Isaac Hayes (em plano Shaft) com vozes aflamencadas e com um batido sincopado de palmas em contratempo, à sevilhana... Toda a gravação discorre a partir deste enunciado e mais de trinta anos depois ainda é fascinante. Quase uma década antes do produtor Mario Pacheco, de Nuevos Medios, ter lançado o conceito Nuevo flamenco, pode-se dizer que a coisa, afinal, já existia.
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Flamenco (5)

Los Chorbos - Cañorroto ataca de nuevo (1989)
Los Chorbos tiveram uma existência curta. Cada um seguiu o seu próprio caminho. A partir de 1979, encetando uma carreira a solo, Manzanita conhece grande sucesso e rapidamente atinge uma projecção incomparavelmente superior a qualquer ex-companheiro. Contudo, em 1989 dá-se uma ocasional recomposição do grupo para efeitos de gravação deste álbum. Muito havia entretanto acontecido e a operação era um ensaio para o relançamento da carreira dos três componentes menos famosos, um pouco à custa da fama de Manzanita, muito embora este já estivesse num plano de crescente subalternidade, a partir de meados de 80. Viviam-se tempos de explosão do nuevo flamenco e era um contra-senso que os que estiveram nos seus prenúncios não beneficiassem da onda. O produtor José Luis de Carlos preparou o reencontro com esse objectivo. Se o álbum esteve longe de conseguir concretizá-lo, não deixa, porém, de ser interessante, pois é uma demonstração de qualidade ao mesmo nível de alguns dos mais badalados nuevos flamencos. Apesar de Manzanita ter uma participação marginal, o álbum tem ainda a curiosidade de o apresentar num desempenho que jamais tivera no grupo, utilizando a sua voz inconfundível (ainda que apenas em breves momentos). Neste particular funciona como uma espécie de reparação simbólica a posteriori...
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quarta-feira, dezembro 15, 2004

Viagens (12): New York - New Jersey / Agosto de 2000 (3)

Notas de férias: Habitações
A grande maioria da população norte-americana vive em habitações unifamiliares, em madeira ou aglomerados sintéticos com madeira, de construção por módulos pré-fabricados. O resultado é contraditório. Por um lado, são, geralmente, bonitas, amplas, muito confortáveis (quentes no inverno; frescas no verão), mais protegidas da humidade e económicas. Por outro lado, pelo menos para mim, não deixam de dar a sensação de insegurança, na medida em que um simples caminhar pelo soalho implica algum estremecimento da estrutura e a abundante presença da madeira sugere vulnerabilidade a incêndios. Para quem está habituado à nossa realidade é difícil perder uma sensação de precaridade. Sensação que é reforçada quando se observa que, pelo nenos naquela zona de New Jersey, quase toda a gente tem casa alugada e não passa pelo plano de vida dos jovens comprar casa. Na verdade parece existir uma grande facilidade em mudar de casa - mesmo na comunidade portuguesa concentrada em Ironbound (Newark) é comum a mudança de casa sem sair dessa zona. Percebe-se, desde logo, que existe um mercado de habitação para alugar, o que implica uma vida preparada para mudanças. Este desprendimento do lugar onde se vive é, aliás, um símbolo de uma mutabilidade social que pouco tem a ver com os padrões da sociedade portuguesa. É curioso observar como os portugueses aí instalados se adaptam facilmente a esse estilo de vida.

sábado, dezembro 11, 2004

Mariachi y tequila (13)

Diego Rivera - La era (1904)

Mariachi y tequila (12)

Diego Rivera - Mujeres peinandose (1957)

Mariachi y tequila (11)

Diego Rivera - Sueño de una tarde dominical en la alameda (1947)

Mariachi y tequila (10)

Julie Taymor - Frida (2002)
Este filme aborda a vida da pintora mexicana Frida Kahlo, qur foi casada com o famoso pintor Diego Rivera. É certo que foi uma vida marcada por uma personalidade invulgar e tão recheada de peripécias dramáticas que consitui um guião invejável para qualquer filme. Contudo, o desempenho de Salma Hayek como Frida e de Alfred Molina como Diego Rivera valorizam ainda mais o filme. Além disso, há que reconhecer que a desconhecida realizadora norte-americana, Julie Taynor, consegue, entre outras coisas, sintonizar-se com a estética subjacente à obra de Frida Kahlo. Se a tudo isto se juntar uma adequada banda sonora, temos, portanto, um excelente filme, que está à altura dos seis óscares para que foi nomeado, tendo ganho dois: melhor caracterização e melhor banda sonora original (Eliott Goldenthal).
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Guia hispânico (6)

Timothy Anna, Jan Bazant, Friedrich Katz, John Womack Jr, Jean Meyer, Alan Knight, Peter H Smith - História de México (2001)
O México é um dos países que mais me fascina. Tive sempre a ideia de conhecer um pouco da sua história, para além da época da conquista de Hernán Cortez. Não é tarefa fácil para quem tem dificuldades em língua inglesa, já que, a produção de sínteses que abranjam todo o período colonial e o período de independência não é abundante fora das universidades dos EUA e Grã-Bretanha. Porém, em boa hora, a Editorial Crítica, de Barcelona, começou a traduzir para castelhano sínteses parcelares da monumental Cambridge History of Latin America. Esta edição abrange os capítulos respeitantes ao México, desde a Guerra da Independência até à actualidade. Cada capítulo foi feito por um especialista. Todos partilham a velha e sólida perspectiva historioográfica tradicional anglo-saxónica.
Embrenhado nas peripécias da primeira metade do século XIX mexicano, não posso deixar de me espantar pela convulsiva instabilidade política e social, a qual, comparativamente, consegue fazer das guerras liberais portuguesas ou mesmo das guerras carlistas espanholas cenários relativamente serenos... Consegue-se por essas e outras razões entender melhor como foi possível que os Estados Unidos arrebatassem metade do território mexicano, naquilo que constituiu uma das mais espantosas mutilações territoriais da história contemporânea. Não menos espantoso é verificar como essa mutilação é tão generalizadamente ignorada...
Mas a coisa promete, pois que, aguardando Benito Juárez e, depois, Pancho Villa é caso para se dizer que o melhor ainda está para vir...
Nota final para a imagem da capa, que é a reprodução de um pormenor de um daqueles belíssimos murais de Diego Rivera.
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sexta-feira, dezembro 10, 2004

Flamenco (4)

Manzanita - Por tu Ausencia (1998) / Manzanita en Directo (2002)
Em 1988 Manzanita relança a sua carreira, depois de 10 anos de obscuridade. O seu apogeu ocorrera na primeira metade dos anos 80, quando tinha contrato com a CBS e como produtor José Luís de Carlos. Entre 1985 e 1986 deixou a CBS e ingressou na RCA para acompanhar o produtor. Contudo, produziu-se um declive, que correspondeu também ao surgimento de propostas de fusão flamenca mais ousadas, que passaram a ser privilegiadas pela crítica e pelo público. Manzanita teve dificuldade em adaptar-se a esta situação. Nos finais dos anos 70 anuncia a sua conversão a uma seita evangélica, troca Madrid por Barcelona e, depois do insucesso comercial de dois álbuns gravados para a RCA, deixa o seu produtor e assina por uma pequena editora de Barcelona, Horus. Embora continue a gravar álbuns com assiduidade quase anual, as suas presenças em espectáculos tornam-se raras, ao mesmo tempo que era cada vez mais notório o seu empenho religioso. Oe álbuns dessa fase não são completamente desinteressantes, porque se mantêm as suas qualidades interpretativas e porque há sempre alguns temas bons. Contudo, a qualidade do repertório baixa - deixa de haver propostas imaginativas e a produção opta por registos convencionais e melosos. Acentua-se assim o seu ostracismo artístico até 1988. Nesse ano, depois de assinar pela multinacional Warner, ocorre o espectáculo que assinala o relançamento da sua carreira, pela mão do produtor Paco Ortega. O espectáculo destinava-se à gravação de um álbum elaborado com uma produção cuidada. Paco Ortega convocou o grupo La Barbería del Sur, um dos mais vanguardistas da fusão flamenca e, deste modo, enunciou um caminho a seguir, o qual, aliás, recuperava a lógica inicial da carreira de Manzanita. O álbum tem coerência e é um produto adequado ao fim a que se destinava. Assenta no melhor do seu repertório (o mais antigo) e dá-lhe uma roupagem inovadora.
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Há cerca de dois anos foi feita uma edição em DVD, a qual, porém, pouco acrescenta, na medida em que se limita a ser uma registo visual estático da actuação em palco. Tem, no entanto, uma utilidade marginal - a de nos confrontar com a mudança de imagem do cantor, que adquirira uma corpulência mórbida, com mais de 130 quilos...
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Flamenco (3)

Manzanita - Talco y bronce (1981)
A CBS organizou uma digressão de Manzanita aos Estados Unidos, a fim de fazer alguns espectáculos e gravar com músicos locais. Tinha sucedido que uma emissora FM de Nova Iorque divulgara o seu segundo álbum, Espirítu sin nombre, obtendo uma inesperada adesão, sobretudo, em relação ao tema Paloma blanca. Ou seja, Manzanita tinha-se tornado quase um objecto de culto entre uma elite de iniciados, como, de resto, sucedera em mais algumas paragens (Israel, Japão...). Tal deveu-se à capacidade da multinacional CBS. Pois esta gravação é resultado imediato dessa digressão. As imagens da capa e contra-capa ilustram o facto. Mas a coisa não se limitou a ser uma operação de marketing - teve um efectivo conteúdo. Foi uma gravação parcialmente concebida e realizada em Nova Iorque. Os arranjos, a cargo de Dave Thomas, imprimem um carácter decididamente fusionista e o mínimo que há que dizer é que são espectaculares. Provavelmente nunca houve tão ousada fusão flamenca na vertente ligeira, a qual atreveu-se a utilizar instrumentos tão inusuais, como, por exemplo, o violino e a cítara. Tudo isto desembocou num ambiente sonoro refinado. A voz de Manzanita é decisiva para o resultado, estando mais domesticada, mais aveludada, sem perder a reconhecidatonalidade flamenca. É o trabalho mais criativo de toda a sua carreira. Não há um tema fraco e há um punhado de temas notáveis. Note-se que, com excepção do refrão do tema inicial de Por tu ausencia, tampouco se pode dizer que houvesse concessões comerciais. Refrão que merece, aliás, uma referência pelo facto de ser cantado em português com sotaque brasileiro – algo que voltará a suceder em temas do álbum seguinte. Temas como o instrumental Talco y bronce, Quien fuera luna (poema de Gustavo Adolfo Bécquer) Un ramito de violetas (da malograda cantautora Cecília) e El rey de tus sueños são soberbos e os melhores de uma inspiradíssima colheita que representará para sempre o apogeu da sua carreira. Resta acrescentar esta ironia: sem denotar particulares concessões comerciais, acabou por se tornar um espectacular êxito de vendas, com mais de meio milhão de cópias vendidas! Nunca Manzanita foi tão bem sucedido comercialmente, ao mesmo tempo que nunca foi tão aclamado pela crítica.
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Flamenco (2)

Manzanita - Mal de amores (1984)
Uma das vias de fusão do flamenco foi na direcção do cançonetismo. Mais do que uma novidade, esta via foi sempre uma ligação intermitente, transfigurada segundo as roupagens orquestrais das modas vigentes. Manzanita nunca a desprezou, mas é com este álbum que se lança nela plenamente. Fê-lo de um modo que constituiu uma ruptura na sua carreira. Com efeito, interrompendo a colaboração com o consagrado produtor José Luis de Carlos, fez esta gravação sob a direcção de Jorge Álvarez, vindo da área do pop/rock mais comercial. A CBS disponibilizou acrescidos recursos, os quais consistiram na participação da Royal Philarmonic Orchestra e do maestro Luís Cobos. O rumo apontava caminhos mais comerciais. Em todo o caso, os resultados de vendas foram decepcionantes, tendo em conta os gastos de produção e as vendas atingidas pelos álbuns precedentes. Não segurou o seu público mais exigente e não conquistou públicos mais amplos. Sucede, contudo, que este álbum é merecedor de atenção. Os arranjos são pesados, ora dando protagonismo à caixa de ritmos, ora configurando um cançonetismo de aparato. Ainda por cima atreve-se a impensáveis desplantes falhados, como pegar no La Bohème, de Aznavour, em moldes de zarzuela, ou na copla Los Piconeros com instrumentalização eléctrica... Outros excessos, porém, resultam magnificamente, como certas letras liricamente toscas e de conteúdo ao estilo de macho castigador, onde avulta esse delicioso vademecum do género que é Sin darme cuenta. Nesta linha, o primeiro e último temas são também fortes e sublinham a tónica de um mano a mano entre orquestrações pesadas e um desempenho vocal pleno de garra. Na verdade, a voz, entre o agreste e o aveludado, estava mais exuberante do que nunca. Para o bem e para o mal, tudo aqui é mais do que quente, é tórrido... Há coisas muito boas e muito más.
Com este álbum maldito, desenterraram-se alguns demónios relacionados com os seus antecedentes machistas (denúncias de assédio e opiniões tonitruantemente polémicas...) e começaram a esboçar-se sinais de uma decadência precoce. Depois do álbum seguinte, La quiero a morir, entrou numa fase de penumbra, de onde só chegaram os tímidos ecos da conversão a uma seita evangélica e os intermitentes testemunhos de uma carreira em retirada, através de uma série de álbuns menores.
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segunda-feira, dezembro 06, 2004

Flamenco (1)

Manzanita (José Ortega Heredia)(1956-2004)
Morreu hoje, subitamente, Manzanita. Foi um dos mais importantes percursores do Nuevo Flamenco.

domingo, dezembro 05, 2004

Viagens (11): Picos de Europa / 2001 (5)

Fuente De / Peña Vieja - Vista desde a estação (superior) do teleférico

Viagens (10): Picos de Europa / 2001 (4)

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Riaño (antes e depois da submersão)

3º Dia – 6 de Abril (6ª Feira) (manhã)

Costumo dizer que nem mesmo em Espanha é fácil encontrar quem saiba mais da sua geografia (… e história) do que eu. Este interesse vem desde miúdo, graças às remessas de livros, postais e mapas que o meu pai despejava em minha casa, as quais atestavam as suas contínuas andanças por Espanha, nos anos 40 e 50. Com o tempo fui aperfeiçoando e alargando os conhecimentos, graças em parte a viagens, em parte a leituras. Assim, estava seguro que o percurso deste dia seria espectacular.
Logo de manhã, o espectáculo de Riaño e seu entorno superava o da véspera. Quanto à localidade, propriamente dita, observei que a maioria das casas deveria ser de segunda habitação. Os primitivos habitantes, aqueles que lá viviam antes da submersão, devem ser poucos. Não é que, antes, houvesse lá muitos, só que foi um processo traumático. Com efeito, nos anos 70 e 80 viveu-se uma polémica a propósito da construção da barragem e suas consequências. A localidade fica no extremo nordeste da província de León, junto aos Picos de Europa, escoltada por Torre Cerredo (2.648 m), Llambrón (2.617 m) e Peña Prieta (2.536 m). A própria aldeia primitiva situava-se numa cota acima dos 1000 metros. O seu isolamento geográfico é já de si uma realidade incontornável, mas, além disso, no Inverno, por causa de nevões, é sujeita a ocasionais bloqueios nas três estradas que a servem. O isolamento apercebe-se imediatamente. Por exemplo, às 10 horas vendia-se o Diário de León, mas mais nenhum outro jornal tinha ainda chegado.E sintonizar alguma emissora de rádio é tarefa complicada.
Parti pouco depois das 10, rumo a Fuente De. O que se seguiu não é fácil descrever sem cair em lugares comuns. A estrada estreita e cheia de curvas passava por contínuos desfiladeiros, ou melhor, apertadas gargantas entre colossos de rocha. Assim foi até ao limite nordeste da província de León.
No Puerto de San Glório, a 1.600 metros de altitude, entrei na Região de Cantábria, província de Santander. Foi imperioso parar e admirar a paisagem de cumes escarpados e nevados, os prados e os bosques. A partir dali havia vários caminhos de montanha e avistavam-se pequenos grupos de caminhantes. A descida foi feita em vertiginosas curvas e contra-curvas apertadas, sobre precipícios, sem guarda. À medida que se ía descendo, havia cada vez mais prados e uma densa população de vacas, que deve superar a humana, dispersa por aldeias perdidas e semi-abandonadas. Salpicando esta paisagem apareciam algumas ermidas românicas, cuja antiguidade deve mergulhar no ocaso dos tempos godos e primórdios da Reconquista.
Era meio-dia quando cheguei a Fuente De, no fim do vale de La Liébana. Há aí um teleférico, suspenso em cabos, que sobe quase 1.000 metros a pique! Entrar na cabine requer algum sangue-frio, mas que é recompensado por um panorama invulgar, quer na ascensão, quer lá em cima, junto aos 2.600 metros de Peña Vieja. A diferença de temperatura na saída do teleférico constituiu um choque álgido. A neve estacionava em mantos descontínuos, mas a panorâmica dos horizontes distantes prendia a atenção mais do que qualquer outra coisa - avistam-se picos e picos sem fim. É uma sensação de grandiosidade impressionante!

sexta-feira, dezembro 03, 2004

Dancing Days (10)

Van McCoy (1940-1979)
Precocemente desaparecido, com apenas 39 anos, Van McCoy permanecerá, no entanto, sempre ligado ao auge do Disco Sound. A sua carreira musical, embora curta, foi muito preenchida, sobretudo como compositor e produtor de grupos pop (The Shirelles - anos 60) e soul (The Styilistics - anos 70). Mas, em 1975 estoira com um êxito absoluto, que se tornará um dos mais emblemáticos do Disco Sound: The Hustle (mais de 8 milhões de singles vendidos!). A dimensão deste fenómeno fez obscurecer a sua profícua trajectória. Ainda hoje, este tema permanece como detendo uma sonoridade das mais identificadoras dos anos 70...

Dancing Days (9)

CD2: KC and the Sunshine Band - 25th Anniversary Collection (1999)
No Disco Sound, poucos grupos tiveram tanta relevância como este. No que diz respeito a tops, nenhum alcançou tantos êxitos, nem mesmo os Bee Gees. A partir da Florida, o grupo de Wayne "KC" Casey (um branco...), fez um som negro ligeiro, para dança, mesclado com algumas referências latinas. Comercialmente foi um produto que se aguentou na primeira linha do sucesso entre 1975 e 1984. Ou seja, até para além do período áureo do Disco Sound. No USA Top40 (Singles) teve cinco #1 : Get down tonight (1975); That's the way (I like it) (1975); Shake your booty (1976); I'm your boogie man (1977); Please don't go (1979). O arrebatador Give It Up, que não teve o mesmo sucesso (#18), é de 1984.
A sua importância está bem presente nos nostálgicos do Disco Sound, tal como se pode verificar nesta lista do sítio Seventies Dance Music Page.

Dancing Days (8)

CD2: Disco / 40 Grandes Clássicos do Disco Sound (2004)
Esta compilação foi feita para o mercado português e em boa-hora, já que, entre nós, nunca se deixou de fazer sentir o eco de uma remota censura sobre o disco sound e, portanto, nunca abundaram iniciativas que viessem ao encontro da nostalgia disco. Tem este mérito básico, mas não deixa de ser pertinente observar que a opção por um único tema por artista, se tem alguma lógica, não deixa de acarretar inconvenientes, pois não dá o devido peso aos nomes mais significativos. Menos compreensível é a ausência dos Bee Gees, dos Boney M, com o poderoso Daddy Cool, ou de Peaches & Herb. Estes factores constituem um dano irreparável para a sua representatividade. Também é de lamentar a má qualidade audio de alguns temas. Contudo, há coisas muito positivas. A saber: o non-stop na ligação entre os temas, que é totalmente adequado ao género, sugerindo o ambiente de discoteca; a inclusão de certos temas emblemáticos, que no seu tempo não tiveram aqui a correspondente repercussão do seu êxito nos Estados Unidos. Neste último caso destaco: KC & The Sunshine Band - That's the Way (I Like It); Van McCoy - The Hustle; Hot Chocolate - You Sexy Thing; Patrick Juvet - I Love America; Lipps Inc - Funkytown. ~
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quarta-feira, dezembro 01, 2004

Complexo de Aljubarrota (2)

Cardinal Richelieu (Armand Jean du Plessis) (1585-1642)
Que faz aqui o Cardeal Richelieu? Pois sucede que hoje é dia 1º de Dezembro, feriado nacional. Poucos serão os portugueses com uma ideia rigorosa sobre o que originou este feriado. A maioria terá ideias que se resumirão à evocação de que "nesse dia nos tornámos independentes dos espanhóis". Os mais informados precisarão a Restauração da Independência como pondo termo a 60 anos de "domínio filipino". Na verdade, esse golpe nobiliárquico, pouco mais do que palaciano, veio criar uma situação que só se definiria cerca de 20 anos depois, no tempo da governação do Conde de Castelo Melhor. A Guerra da Restauração, no essencial, desenrolou-se nesse tempo diferido, muito depois do ocorrido no dia 1º de Dezembro de 1640. Não foi decisivo o sentimento nacional - de resto, este utilizar tal conceito para esta época ainda é parcialmente anacrónico. Foi decisivo, isso sim, o contexto de crise do império hispânico e, mais precisamente, o desafio lançado pela estratégia do "primeiro-ministro" de França, o Cardeal Richelieu. O criador da raison d'état veio alterar os dados estratégicos da Europa, com uma política que visava criar todo o tipo de dificuldades ao império hispânico. Nessa orientação se inseriu a instigação da revolta catalã, que eclodiu em Junho de 1640 e que, durante 19 anos, concentrou os mais importantes recursos militares do valido de Filipe IV, Conde-Duque Olivares. Durante esses 19 anos, Portugal pode preparar-se militarmente. Quando finalmente a máquina militar espanhola, desmoralizada e desgastada foi chamada a "pôr na ordem" os insurrectos portugueses, encontrou pela frente um motivado dispositivo militar de cariz defensivo, superiormente organizado pelo Conde Castelo Melhor. A Restauração ficou, finalmente, assegurada. O seu maior responsável objectivo tinha falecido há mais de 20 anos - fora o criador de la grandeur de la France: Richelieu. Falta um busto dele no monumento aos restauradores...

domingo, novembro 28, 2004

Guia hispânico (5)

Bigas Luna - Jamón Jamón (1992)
O barcelonês Bigas Luna é um dos mais importantes realizadores espanhóis. O seu cinema caracteriza-se pela orignalidade e vanguardismo, através de argumentos insólitos e imagens com impacto (quase sempre de carácter erótico). Começou na publicidade e esse facto nunca deixou de ser manifesto. O primeiro filme dele que vi, em finais dos anos 70, foi Bilbao - cuja protagonista, ostentando esse "nome de guerra", era uma prostituta de Barcelona. Retive-o na memória pelo seu decandentismo canalha. Hoje em dia tem uma consolidada carreira de realizador, mas a sua criatividade não se resume ao cinema. (Página web)
Jamón Jamón merece destaque por vários factores. O argumento é, como de costume, bizarro. Imagens de impacto são ainda mais sugestivas, talvez, do que em qualquer outro dos seus filmes. Assim, temos uma cena em que Javier Bardem, nu, lida um touro pela madrugada. Temos também a constante utilização como ponto de encontro de um desolado baldio, sob um dos emblemáticos placards da Veterano Osborne (o touro preto que domina as estradas de Espanha). São, enfim, imagens que concitam um sem número de referências de uma Espanha profunda... Há também sons sugestivos, como o bolero Otra Vez, cantado por Moncho. O filme passa-se numa desértica paisagem aragonesa, numa pequena localidade que se estende ao longo de uma estrada movimentada. Predominam cenas entre um café e um bar nocturno, daqueles que costumam ser frequentados por camioneros. Foi um dos filmes espanhóis com maior êxito comercial, pelo impacto do seu erotismo e... por Penélope Cruz. Em relação a esta última, é de notar que se trata do seu primeiro filme e aparece-nos aqui muitíssimo jovem, num absoluto esplendor. Chegou e causou logo impacto... É com deslumbramento que apreciamos a bela actriz em início de carreira, ainda, digamos, não contaminada pelo estatuto de fama global. Visto a posteriori, isto acaba por reforçar o carácter de cult movie.
Este filme já passou na nossa TV, pelo menos uma vez. Não há uma edição portuguesa em DVD, mas houve uma edição em VHS para venda e aluguer. Não me lembro do título que recebeu cá - não foi uma tradução literal (seria "Presunto Presunto" - algo desgracioso e despojado da expressividade idiomática original...).
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Rompecorazones (4)

Penélope Cruz

sábado, novembro 27, 2004

Vintage (2)

A Corda (Rope)
A obra de Hitchcock é reconhecida pelo público e pela crítica. Mas o mestre do suspense tem também filmes menores. Não são esses que geralmente vêm à memória quando evocamos a sua filmografia. Há um, porém, que está longe da primeira linha do reconhecimento e não se pode dizer que seja um filme menor. É A Corda (Rope) (1948). A trama é original, embora haja alguns outros filmes de Hitchcock tão ou mais originais. A forma como o filme é feito, nomeadamente a direcção de actores e, sobretudo, a composição do ambiente é que lhe dão um carácter insolitamente macabro. Tecnicamente também é um filme insólito, na medida em que constitui um exercício de virtuosismo - o tempo da acção corresponde ao tempo real e é filmado sempre no mesmo plano (com a mesma câmara, que se limita a correr nos carris). Ora, sucede que isto não é apenas um capricho técnico, na medida em que tem incidência no adensamento do ambiente macabro.
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Vintage (1)

Frank Sinatra - In The Wee Small Hours (1955)
É unânime entre os conhecedores do percurso musical de Frank Sinatra: o seu apogeu corresponde ao período Capitol (anos 50). Foi então que coincidiram no mais elevado grau dois factores: uma timbre vocal extraordinário e orquestrações exímias - uma boa parte das quais devem-se a Nelson Riddle. O LP aqui reeditado em formato CD reúne estes dois requisitos. Mas esta gravação é ainda particularmente importante pelo facto de ser, segundo parece, o primeiro álbum conceptual de sempre. Com efeito, até então, todas as gravações de longa duração eram um mero repositório do previamente editado em discos de curta duração - daí, aliás, a designação álbum. Assim continuou a ser, na esmagadora maioria dos casos, até ao momento em que The Beatles, Bob Dylan e outros nomes da primeira linha da pop/rock dos anos 60 e 70 impõem o álbum conceptual como paradigma e avançam para os álbuns temáticos.
O conceito de In The Wee Small Hours é uma ambiência musical e poética que converge numa linha que vai da melancolia à amargura, conduzida por reflexões suscitadas pela desilusão amorosa. A imagem da capa e o título sublinham o conceito: um Sinatra quarentão ensimesmado, de cigarro pendente na mão, numa rua deserta, no fim de uma noite que se adivinha de ter sido de desilusão... A homogeneidade musical percorre os 16 temas. Contudo, há dois que merecem destaque: What is this thing called love e Ill Wind - em ambos, mas particularmente no primeiro - brilha desde a entrada o clarinete de Nelson Riddle e uma voz magnificente no seu poder expressivo de interpretar o sentimento amargo da música e letra. Gravação feita ainda em mono, em meados dos anos 50, no alvorecer de uma nova era da música popular (germinava já o rock & roll...), este trabalho é um ponto de chegada e de partida.
Desta forma inicio a rubrica Vintage, na qual me proponho evocar música, cinema e literatura cuja qualidade, o tempo demonstrou estar acima de modas e gostos efémeros.
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Página Web (em reestruturação)

Soulsville (2)

CD2: Isaac Hayes - Shaft (1971)
DVD: Gordon Parks - Shaft (1971)
Se há algum filme cujo relevância advenha da sua BSO este é um deles. Composta por Isaac Hayes, representa um estilo e sonoridade de uma época. O tema principal, assente em wowows de guitarra eléctrica, acompanhados por um poderoso naipe de metais, é um eterno clássico, mas os restantes temas, quase todos instrumentais, são excelentes, com destaque para Do Your Thing - o mais jazzy de todos os de Isaac Hayes. No conjunto há muito poucos temas vocais, mas entre eles avulta Soulsville, que incide na questão social dos ghettos negros das grandes cidades norte-americanas.
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O filme, de Gordon Parks, protagonizado por Richard Roundtree, seria hoje encarado como um mero filme de Série B, não fora a BSO e o facto de ser a primeira vez em que o herói de um filme é um negro. De resto, a história é simples, dentro dos conhecidos cânones, mas produzida e realizada com honestidade, sem pretensiosismos descabidos. Em todo o caso, é um produto susceptível de proporcionar descontraída nostalgia. Diga-se que foi, na época, um êxito no mercado norte-americano, facto que originaria, aliás, duas sequelas.
Há um extra especial: uma sessão de gravação de Isaac Hayes e seu grupo, The Isaac Hayes Movement. É gratificante ter a oportunidade de o ver a tocar. Além disso, é curioso o contraste entre a sua calvície absoluta (avant la lètre) e a vasta cabeleira esférica (como estava então na moda entre a negritude norte-americana) dos restantes músicos. Também dá para perceber o virtuosismo da trupe, que brota de uma descontracção criativa um pouco ganzada, a qual pode deixar entrever, talvez, suspenso no ambiente, um certo cheiro a erva...
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Soulsville (1)

Isaac Hayes (1942)
Isaac Hayes foi um dos mais importantes nomes da Soul nos anos 70. Contudo, antes de se tornar conhecido como intérprete, a partir de 1969, tinha já uma trajectória como compositor do soul duo Sam & Dave. Tinha, inclusivamente, gravado e editado, como protagonista e intérprete, um LP (Precious, Precious 1967) - que só escaparia do anonimato nos anos 70. Na verdade, este descendente de escravos das plantações do Tennessee cedo procurou os caminhos da música, já que, ainda adolescente, tocava saxofone e cantava em night-clubs de Memphis.
A edição de Hot Buttered Soul (1969) assinala uma viragem na carreira de Hayes, alcançando um reconhecimento que se prolongou até finais da década de 70. A partir de então entra na obscuridade. A sua produção caiu em quantidade e qualidade, pelo menos até um efémero reaparecimento em meados de 90. A sua carreira passou a estar mais ligada ao cinema e TV - foi, por exemplo, uma das vozes de um personagem da série de animação para adultos, South Park.
Os anos 70 foram o auge da carreira musical de Hayes, que assentou numa Soul inovadora, construída com temas de longo (ou longuíssimo) desenvolvimento, com sofisticadas orquestrações e com a sua voz - ingredientes de acentuado cariz quente e amanteigado - hot buttered (seria preferível o termo aveludado...). Apesar de excelente compositor, Hayes atinge a plenitude nas versões de temas alheios. Neles, exerce uma transfiguração radical, já que os recria, tornando-os em algo completamente diferente do original. Alguns são geniais exercícios de decomposição e recomposição através de uma matriz hayesiana, única e inconfundível - é o caso de By The Time I Get to Phoenix (in Hot Buttered Soul); I Stand Accused (in The Isaac Hayes Movement); Our Day Will Come e The Look of Love (in To Be Continued); Never Gonna Give You Up (in Black Moses). Estes exemplos conduzem-nos, aliás, a um tópico crucial: as sequências faladas - raps. Foi a primeira vez que se utilizou o termo, podendo-se dizer que 10 anos antes da eclosão do Rap como género, já havia surgido, mas com uma feição bem distinta, com mensagens e formas sensuais ou mesmo eróticas. Os Ike's raps tornam-se uma imagem de marca e em certa altura da sua produção discográfica chegou a ser utilizada uma curiosa contagem (Ike's rap nº4, Ike's rap nº5, etc...).
O título do LP Hot Buttered Soul tornou-se designação extensível ao estilo. Este LP "fundador" e uma série de LP's subsequentes (todos com o selo da editora Stax) consolidaram-no. Entre eles avulta a banda sonora original (BSO) do filme Shaft, que representou o ponto mais alto da carreira de Hayes, correspondendo ao Óscar de melhor BSO (1971).

Rádio (3)

La Mega 97,9 FM / Nueva York
Esta é uma das várias emissoras que emitem exclusivamente em espanhol na área metropolitana de NY. Como a maioria, dedica a maior parte dos seus espaços musicais à salsa e reggaeton. A animação é constante, graças a um forte ritmo de emissão, que está sustentado em jingles imaginativos e numa locução agressiva. O programa estrela é El vacilón de la mañana.

sexta-feira, novembro 26, 2004

Salsa y merengue (6)

India - Dicen que Soy (1994)

Na origem da salsa foram decisivos artistas como a cubana Célia Cruz, o porto-riquenho Tito Puente, o panamenho Rubén Blades e produtores como Ralph Mercado. Todos convergiram nos meados de 70, em Nova Iorque, tecendo inovadores cruzamentos de son, mambo, jazz e rock... A cubana estabeleceu-se como la reina de la salsa e nesse indisputado trono permaneceu até ao fim da vida. Porém, deixou uma sucessora, à qual consentiu o apodo de princesa de la salsa. Trata-se de India. Lançada por Ralph Mercado - produtor hegemónico no universo salsero - e apoiada por tão fortes credenciais, a jovem teve oportunidade de demonstrar as suas qualidades. Entre estas destacam-se a garra interpretativa e a voz poderosa. Parcialmente limadas certas arestas (a saber, alguma estridência), chega a este seu segundo álbum. Apoiada por adequados meios de produção, India vê-se consolidada como princesa de la salsa - algo que foi reforçado por uma imagem de mulher agressiva e descomplexada. Ora, importa salientar que este álbum torna-se incontornável por Ese hombre (música de Manuel Alejandro; letra de uma tal Ana Magdalena). Originalmente interpretada por Rocío Jurado, dir-se-ia (sem nenhum desprimor para a andaluza) que a canção encontra finalmente a voz e o estilo a que estava destinada... É um explosivo concentrado de despeito feminino em forma de insulto, disparado com toda a fúria salsera. É insólito e grandioso! Por alturas de 1994-95 ouvia-se assiduamente em Espanha através das ondas da Cadena Dial..
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Audio Sampler CDUniverse

Salsa y merengue (5)

Célia Cruz (1924-2003)

A salsa é de Nova Iorque, mais do que de outro lugar. Na área metropolitana desta cidade vivem cerca de três milhões de hispanos, ou seja, quase um quinto do total da população. Aí, em muitos sítios, a língua mais comum é o castelhano. Há muitas estações de rádio e de TV que emitem exclusivamente em castelhano. À semelhança do que ocorre por todos os Estados Unidos, os hispanos, mais do que uma comunidade, constituem um conglomerado de comunidades. Se, na imensidão que vai do o Texas até à California predominam os chicanos, na Florida predominam os cubanos. Sucede que em NY predominam os porto-riquenhos. Pois foi entre a comunidade porto-riquenha que surgiu a salsa, em meados dos anos 70. Contudo, os seus antecedentes entroncam-se no son cubano e alguns dos seus mais destacados protagonistas foram cubanos exilados. Com efeito, se a cubana La Lupe pode ser considerada um "pré-arranque" da salsa, outra cubana, Célia Cruz, é indiscutivelmente o nome maior da salsa propriamente dita. Daí, aliás, ter sido conhecida como la reina de la salsa. Recentemente desaparecida, a artista permanece como um dos mais poderosos símbolos do muundo hispano nos Estados Unidos.

Rompecorazones (3)

Tania Libertad - Mujeres Apasionadas (1997)
Ainda não tenho este CD. Revela-se complicado atingir esta prometida jóia... Na capa: título sugestivo; bela face e olhar expressivo; formidável pose; toilette requintada, estilo anos vinte. Na gravação: voz de invulgar beleza; naipe insuperável de boleros e rancheras de três mulheres de paixões superiormente sublimadas: María Grever (Cuando vuelva a tu lado...); Chelo Velázquez (Bésame mucho...); Emma Valdelamar (Mucho corazón....) Tem que ser uma jóia!!!

Guia hispânico (4)

Hugh Thomas - El Imperio Español - De Colón a Magallanes (2003)
É grande a quantidade (e qualidade) de hispanistas britânicos, em particular na historiografia. Em Cambridge parece existir um interesse sem fim pelos mistérios da "pele do touro"... Hugh Thomas, ao qual se deve um clássico sobre a Guerra Civil, fez sair há pouco tempo uma síntese sobre a construção do Império Espanhol. É sintomática a inexistência de uma tradução portuguesa e a improbabilidade de vir a existir. Na verdade, o interesse e conhecimento sobre estes assunto está, entre nós, reduzido a meia dúzia de superficialidades. A mais recorrente consiste na contraposição do modelo de expansão português, supostamente benévolo, frente ao modelo castelhano, supostamente malévolo. É algo que não resiste às mais elementares realidades (nomeadamente o carácter intrinsecamente esclavagista do empreendimento lusitano - tráfico negreiro), mas que persiste como legado de uma percepção nacionalista do nosso passado. Mais além de anacronismos valorativos e insensatos relativismos culturais, o empreendimento castelhano é dotado de uma grandeza civilizacional ímpar! O maior mérito desta síntese consiste, precisamente, em nos fornecer dados para se avaliar a dimensão dessa obra. Além disso, é sempre um prazer penetrar numa narrativa historiográfica liberta dos (pre)conceitos estruturalistas, à boa maneira das academias anglo-saxónicas. Enfim, história pura e dura, com factos, nomes e apelidos.
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quarta-feira, novembro 24, 2004

Guia hispânico (3)

Estado: Veracruz - Llave (Capital: Xalapa de Enríquez)

Estado: Jalisco (Capital: Guadalajara)

domingo, novembro 21, 2004

Mariachi y tequila (9)

La estrella de Jalisco

Aunque quisiera ya
no puedo comprender
no sé no me lo explico.
Busqué la estrella más bonita
del cielo de Jalisco
y te la dí una vez
que te arrulle al vaivén del lago de Chapala
mientras la luna azul
nos envolvía en su luz
y se metía en el agua.
Por tu tremendo amor
yo ya podía esperar
la muerte entre tus brazos
sentí que poco a poco el cielo
se me caía en pedazos
y te mire temblar
y se quebro tu voz
un tanto apasionada
y te entregue mi amor
como se da el amor
sin preguntarte nada.
Pero se fue la noche
y me quede llorando
llorandotu abandono
y amanecí en la vida
alrededor de nada
completamente solo.
Por eso ya lo vez
no puedo comprender
no sé no me lo explico.
Busqué la estrella más bonita
del cielo de Jalisco
y te la dí una vez
y te arrullé al vaivén
del lago de Chapala
mientras la luna azul
nos envolvía en su luz
y se metía en el agua.
José Alfredo Jiménez

terça-feira, novembro 16, 2004

Viagens (9): Picos de Europa / 2001 (3)

2º Dia – 5 de Abril (5ª Feira) (tarde)

Passou-se a fronteira. Depois da placa azul com as estrelinhas da UE anunciando “España”, a placa “Castílla y León” e logo outra indicando “Província de Zamora”. A estrada continuava estreita e cheia de curvas, mas o piso melhorara e surgiram guias de berma. Logo a seguir passei por Calabor. O contraste com a aldeia de França era evidente. O aspecto desértico era o mesmo, só que todas casas eram tradicionais, com telhados de ardósia e alpendres de madeira. Uma boa parte delas eram modernas. Algumas das mais antigas estavam em ruína.
Os vinte quilómetros seguintes demonstraram o isolamento dos calaboreños. Não se viu nenhum carro ou vivalma e não se avistou uma única casa. A paisagem ia ficando cada vez mais árida. Era lógico concluir que estavam mais próximos do resto da humanidade, passando a fronteira. Aliás, farão caminho mais directo para a sua capital de província através de Bragança, reentrando em Espanha por Quintanilha.
Subitamente, ao fim de um curva, deparou-se Puebla de Sanabria e o seu castelo. Casas novas e velhas tinham todas telhados de ardósia. O aspecto era agradável. No centro havia vários bancos e um comércio airoso. Daí, atingiu-se rapidamente o lago de Sanabria. Encaixado entre grandes moles rochosas, que do noroeste descem de mais de 2000 metros (Peña Trevinca), o lago, com águas escuras, tinha um aspecto selvagem que condizia com as suas origens glaciares. Comi numa cafeteria de Ribadelago e foi uma experiência má, pois a conta apresentada por uma mulher antipática era inverosímil, dada a correspondente falta de qualidade. Tendo em conta algumas lendas locais, aquela criatura foi como que um monstro saído do lago, que acabara de consumar um acto de extorsão com um gesto glaciar...
Após o almoço, tomei a Autovía das Rías Baixas até Benavente. É a ligação entre o sul da Galiza e Madrid e o seu tráfico intenso foi um contraste com as estradas ermas de onde vinha. Adentrei-me numa paisagem cada vez mais castelhana, com planuras extensas e montanhas ao fundo. Não havia tempo para ver Benavente, que, certamente, terá motivos de interesse, ou não fosse uma das muitas localidades castelhanas com História. Aí virei a norte, tomando a estrada que seguia rumo a León e que faz parte do eixo que liga as Astúrias à Andaluzia. Passei ao lado de León. No sábado e domingo haveria oportunidade de visitar a cidade, como se impunha.
Daí para cima as opções restringiam-se a estradas muito secundárias. A paisagem foi-se tornando cada vez mais verde e montanhosa. Belíssimas aldeias foram surgindo ao longo do trajecto, o qual era ladeado, quase sempre, por pequenos cursos de água revolta. Surgiam prados e mais prados, assim como montanhas cada vez mais altas de onde iam sobressaindo, por detrás, alguns cumes nevados... Era uma paisagem de bilhete postal, que só não incutia paz de espírito por alguma incerteza sobre a existência de hotel no fim da jornada, que era em Riaño. Na verdade, os sinais de povoamento iam-se tornando cada vez mais raros na penumbra do fim da tarde, não deixando dúvidas que me internava num extremo isolamento.
Finalmente apareceu Riaño, num enquadramento fantástico - implantada numa península saliente a meio da albufeira. Em seu torno, os abruptos picos nevados davam à paisagem um ar de conto de fadas. Sabia que a primitiva aldeia ficara debaixo das águas da albufeira. As duas igrejas tinham sido reimplantadas pedra a pedra – o resto era novo, mas com uma arquitectura de qualidade.. A sensação de paz e isolamento era total... mas havia, senão um hotel, pelo menos um hostal! Um hostal de aspecto montanhês. O jantar (cordero asado acompanhado por um Rioja) foi uma redenção em relação ao almoço!

sábado, novembro 13, 2004

Castilla (10): Castilla y León

Ávila de los Caballeros