sexta-feira, dezembro 31, 2004
sábado, dezembro 25, 2004
Viagens (13): Picos de Europa / 2001 (6)
Almocei magnificamente na bela localidade de Potes – uma habada (feijoada) típica da região. Potes tem um interessante núcleo central antigo, onde sobressaem uma velha ponte e um imponente paço medieval (Torre del Infantado). É a mais importante localidade de La Liébana, no sudoeste de Cantábria. Encontra-se já na área de influência de Santander – os jornais que se vêm são desta cidade, com destaque para El Diario Montañés.
A estadia em Cantábria limitou-se à travessia do seu extremo sudoeste. A estrada, apertada pelo imponente desfiladeiro de La Hermida, conduziu-me ao Principado de Astúrias. Entretanto, chegara a chuva inesperadamente. A verde Astúrias não abdicava da sua bruma e chuva, fazendo-se anunciar com esta mudança meteorológica... Assim entrei pela primeira vez nesta região, que desde há muito ansiava conhecer. Foi uma entrada à altura das expectativas. Em Cabrales, um desvio por motivo de obras, conduziu-me a um pedaço da recôndita ruralidade asturiana, onde me ia despistando por prados repletos de vacas, tendo como pano de fundo paisagens de alta montanha...
Ia agora na direcção Oeste, com o objectivo de subir ainda nessa tarde aos Lagos de Covadonga. Acabou por ser um objectivo gorado, pois o denso nevoeiro inviabilizou a façanha a meio da escalada, quando esta se tornava pouco menos que suicida. Assim, assentei arrais na cidadezinha de Cangas de Onís bem antes do anoitecer. Aqui nasceu o primeiro reino cristão independente da tutela muçulmana. Mas, além desta glória, apresenta um testemunho monumental do seu prestigioso passado - uma magnífica ponte medieval, que aparece frequentemente em prospectos turísticos da região. Nela está suspensa a emblemática Cruz de Pelayo, presente na bandeira asturiana.
Em Cangas de Onís apercebi-me da personalidade asturiana. Por todo lado há sidrerías – lugares onde se bebe sidra, que é uma típica bebida asturiana, feita a partir de maçã. Há também muitas lojas de recuerdos regionais: réplicas dos espigueiros asturianos (amplos e quadrados - diferentes dos galegos e minhotos, que são mais pequenos e rectangulares); gaiteiros (a gaita asturiana também é diferente da galega); figuras de míticos deuses célticos; múltiplos artefactos feitos com pele de vaca; gorros asturianos; CDs de música regional). Observei também que, nas bancas de jornais, onde imperavam os três principais diários asturianos (El Comércio, de Gijón; La Nueva España e El Periódico de Asturias, de Oviedo), havia um semanário escrito na língua vernácula da região, o bable, ou como os seus defensores preferem, o asturianu. Aliás, pelo caminho, tinha observado que, desde a entrada no Principado, muitas placas toponímicas estavam corrigidas na sua grafia por pichagens. Confirmei que por aqui também há nacionalistas e dedicados amantes de uma língua vernácula. Porém, não detectei ninguém que a falasse. É certo que alguns intelectuais falarão asturianu em actos simbólicos, mas provavelmente será preciso procurar nas montanhas quem ainda o fale com naturalidade. Já tinha lido uma vez no Público que linguistas da Universidade de Oviedo (já agora, Oviéu) tinham muita curiosidade em relação ao mirandês (da zona de Miranda do Douro) que é um dialecto idêntico ao bable / asturianu. Ambos são o que resta da língua astur-leonesa.
Duas coisas conclui: Cangas de Onís é um dos centros simbólicos do asturianismo; este movimento, se nunca teve expressão política, tem alguma existência cultural. Enfim, o cantonalismo das Espanhas não cessa de me surpreender...
quinta-feira, dezembro 23, 2004
Boulevard nostalgie (18)
Boulevard Nostalgie (17)
Nas nossas FNACs apareceu agora a sua obra integral (L'Intégrale) reunida numa enorme caixa que é uma peculiar réplica do Arco de Triunfo. São 44 álbuns, 786 canções, 64 páginas e... 700 euros. Sendo eu comprador compulsivo de CDs, DVDs e livros, assim estoirando, mês após mês, o meu salário quase até ao último cêntimo, senti-me tentado a elevar qualitativamente a incontinência com a aquisição de tão extravagante produto. Mas contive-me, héllas, que remédio...
A página oficial de Aznavour é monumental, mas há outras muito boas também. Eis um artista que está representado na rede a um nível correspondente ao seu valor.
American Dream (3)
sábado, dezembro 18, 2004
Flamenco (9)
Flamenco (8)
sexta-feira, dezembro 17, 2004
Flamenco (7)
Flamenco (6)
quinta-feira, dezembro 16, 2004
Perros callejeros (6)
O álbum começa com Vuelvo a casa (mais tarde versionado por Los Chunguitos). Ao ouvi-lo temos uma sensação peculiar - algo assim como a que resultaria de uma improvável mistura de um instrumental de Isaac Hayes (em plano Shaft) com vozes aflamencadas e com um batido sincopado de palmas em contratempo, à sevilhana... Toda a gravação discorre a partir deste enunciado e mais de trinta anos depois ainda é fascinante. Quase uma década antes do produtor Mario Pacheco, de Nuevos Medios, ter lançado o conceito Nuevo flamenco, pode-se dizer que a coisa, afinal, já existia.
Flamenco (5)
quarta-feira, dezembro 15, 2004
Viagens (12): New York - New Jersey / Agosto de 2000 (3)
sábado, dezembro 11, 2004
Mariachi y tequila (10)
Guia hispânico (6)
sexta-feira, dezembro 10, 2004
Flamenco (4)
Flamenco (3)
Flamenco (2)
Com este álbum maldito, desenterraram-se alguns demónios relacionados com os seus antecedentes machistas (denúncias de assédio e opiniões tonitruantemente polémicas...) e começaram a esboçar-se sinais de uma decadência precoce. Depois do álbum seguinte, La quiero a morir, entrou numa fase de penumbra, de onde só chegaram os tímidos ecos da conversão a uma seita evangélica e os intermitentes testemunhos de uma carreira em retirada, através de uma série de álbuns menores.
segunda-feira, dezembro 06, 2004
Flamenco (1)
domingo, dezembro 05, 2004
Viagens (10): Picos de Europa / 2001 (4)
Costumo dizer que nem mesmo em Espanha é fácil encontrar quem saiba mais da sua geografia (… e história) do que eu. Este interesse vem desde miúdo, graças às remessas de livros, postais e mapas que o meu pai despejava em minha casa, as quais atestavam as suas contínuas andanças por Espanha, nos anos 40 e 50. Com o tempo fui aperfeiçoando e alargando os conhecimentos, graças em parte a viagens, em parte a leituras. Assim, estava seguro que o percurso deste dia seria espectacular.
Logo de manhã, o espectáculo de Riaño e seu entorno superava o da véspera. Quanto à localidade, propriamente dita, observei que a maioria das casas deveria ser de segunda habitação. Os primitivos habitantes, aqueles que lá viviam antes da submersão, devem ser poucos. Não é que, antes, houvesse lá muitos, só que foi um processo traumático. Com efeito, nos anos 70 e 80 viveu-se uma polémica a propósito da construção da barragem e suas consequências. A localidade fica no extremo nordeste da província de León, junto aos Picos de Europa, escoltada por Torre Cerredo (2.648 m), Llambrón (2.617 m) e Peña Prieta (2.536 m). A própria aldeia primitiva situava-se numa cota acima dos 1000 metros. O seu isolamento geográfico é já de si uma realidade incontornável, mas, além disso, no Inverno, por causa de nevões, é sujeita a ocasionais bloqueios nas três estradas que a servem. O isolamento apercebe-se imediatamente. Por exemplo, às 10 horas vendia-se o Diário de León, mas mais nenhum outro jornal tinha ainda chegado.E sintonizar alguma emissora de rádio é tarefa complicada.
Parti pouco depois das 10, rumo a Fuente De. O que se seguiu não é fácil descrever sem cair em lugares comuns. A estrada estreita e cheia de curvas passava por contínuos desfiladeiros, ou melhor, apertadas gargantas entre colossos de rocha. Assim foi até ao limite nordeste da província de León.
No Puerto de San Glório, a 1.600 metros de altitude, entrei na Região de Cantábria, província de Santander. Foi imperioso parar e admirar a paisagem de cumes escarpados e nevados, os prados e os bosques. A partir dali havia vários caminhos de montanha e avistavam-se pequenos grupos de caminhantes. A descida foi feita em vertiginosas curvas e contra-curvas apertadas, sobre precipícios, sem guarda. À medida que se ía descendo, havia cada vez mais prados e uma densa população de vacas, que deve superar a humana, dispersa por aldeias perdidas e semi-abandonadas. Salpicando esta paisagem apareciam algumas ermidas românicas, cuja antiguidade deve mergulhar no ocaso dos tempos godos e primórdios da Reconquista.
Era meio-dia quando cheguei a Fuente De, no fim do vale de La Liébana. Há aí um teleférico, suspenso em cabos, que sobe quase 1.000 metros a pique! Entrar na cabine requer algum sangue-frio, mas que é recompensado por um panorama invulgar, quer na ascensão, quer lá em cima, junto aos 2.600 metros de Peña Vieja. A diferença de temperatura na saída do teleférico constituiu um choque álgido. A neve estacionava em mantos descontínuos, mas a panorâmica dos horizontes distantes prendia a atenção mais do que qualquer outra coisa - avistam-se picos e picos sem fim. É uma sensação de grandiosidade impressionante!
sexta-feira, dezembro 03, 2004
Dancing Days (10)
Dancing Days (9)
Dancing Days (8)
quarta-feira, dezembro 01, 2004
Complexo de Aljubarrota (2)
domingo, novembro 28, 2004
Guia hispânico (5)
sábado, novembro 27, 2004
Vintage (2)
Vintage (1)
Soulsville (2)
Soulsville (1)
Rádio (3)
sexta-feira, novembro 26, 2004
Salsa y merengue (6)
Na origem da salsa foram decisivos artistas como a cubana Célia Cruz, o porto-riquenho Tito Puente, o panamenho Rubén Blades e produtores como Ralph Mercado. Todos convergiram nos meados de 70, em Nova Iorque, tecendo inovadores cruzamentos de son, mambo, jazz e rock... A cubana estabeleceu-se como la reina de la salsa e nesse indisputado trono permaneceu até ao fim da vida. Porém, deixou uma sucessora, à qual consentiu o apodo de princesa de la salsa. Trata-se de India. Lançada por Ralph Mercado - produtor hegemónico no universo salsero - e apoiada por tão fortes credenciais, a jovem teve oportunidade de demonstrar as suas qualidades. Entre estas destacam-se a garra interpretativa e a voz poderosa. Parcialmente limadas certas arestas (a saber, alguma estridência), chega a este seu segundo álbum. Apoiada por adequados meios de produção, India vê-se consolidada como princesa de la salsa - algo que foi reforçado por uma imagem de mulher agressiva e descomplexada. Ora, importa salientar que este álbum torna-se incontornável por Ese hombre (música de Manuel Alejandro; letra de uma tal Ana Magdalena). Originalmente interpretada por Rocío Jurado, dir-se-ia (sem nenhum desprimor para a andaluza) que a canção encontra finalmente a voz e o estilo a que estava destinada... É um explosivo concentrado de despeito feminino em forma de insulto, disparado com toda a fúria salsera. É insólito e grandioso! Por alturas de 1994-95 ouvia-se assiduamente em Espanha através das ondas da Cadena Dial..
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Audio Sampler CDUniverse
Salsa y merengue (5)
A salsa é de Nova Iorque, mais do que de outro lugar. Na área metropolitana desta cidade vivem cerca de três milhões de hispanos, ou seja, quase um quinto do total da população. Aí, em muitos sítios, a língua mais comum é o castelhano. Há muitas estações de rádio e de TV que emitem exclusivamente em castelhano. À semelhança do que ocorre por todos os Estados Unidos, os hispanos, mais do que uma comunidade, constituem um conglomerado de comunidades. Se, na imensidão que vai do o Texas até à California predominam os chicanos, na Florida predominam os cubanos. Sucede que em NY predominam os porto-riquenhos. Pois foi entre a comunidade porto-riquenha que surgiu a salsa, em meados dos anos 70. Contudo, os seus antecedentes entroncam-se no son cubano e alguns dos seus mais destacados protagonistas foram cubanos exilados. Com efeito, se a cubana La Lupe pode ser considerada um "pré-arranque" da salsa, outra cubana, Célia Cruz, é indiscutivelmente o nome maior da salsa propriamente dita. Daí, aliás, ter sido conhecida como la reina de la salsa. Recentemente desaparecida, a artista permanece como um dos mais poderosos símbolos do muundo hispano nos Estados Unidos.
Rompecorazones (3)
Guia hispânico (4)
quarta-feira, novembro 24, 2004
domingo, novembro 21, 2004
Mariachi y tequila (9)
terça-feira, novembro 16, 2004
Viagens (9): Picos de Europa / 2001 (3)
Passou-se a fronteira. Depois da placa azul com as estrelinhas da UE anunciando “España”, a placa “Castílla y León” e logo outra indicando “Província de Zamora”. A estrada continuava estreita e cheia de curvas, mas o piso melhorara e surgiram guias de berma. Logo a seguir passei por Calabor. O contraste com a aldeia de França era evidente. O aspecto desértico era o mesmo, só que todas casas eram tradicionais, com telhados de ardósia e alpendres de madeira. Uma boa parte delas eram modernas. Algumas das mais antigas estavam em ruína.
Os vinte quilómetros seguintes demonstraram o isolamento dos calaboreños. Não se viu nenhum carro ou vivalma e não se avistou uma única casa. A paisagem ia ficando cada vez mais árida. Era lógico concluir que estavam mais próximos do resto da humanidade, passando a fronteira. Aliás, farão caminho mais directo para a sua capital de província através de Bragança, reentrando em Espanha por Quintanilha.
Subitamente, ao fim de um curva, deparou-se Puebla de Sanabria e o seu castelo. Casas novas e velhas tinham todas telhados de ardósia. O aspecto era agradável. No centro havia vários bancos e um comércio airoso. Daí, atingiu-se rapidamente o lago de Sanabria. Encaixado entre grandes moles rochosas, que do noroeste descem de mais de 2000 metros (Peña Trevinca), o lago, com águas escuras, tinha um aspecto selvagem que condizia com as suas origens glaciares. Comi numa cafeteria de Ribadelago e foi uma experiência má, pois a conta apresentada por uma mulher antipática era inverosímil, dada a correspondente falta de qualidade. Tendo em conta algumas lendas locais, aquela criatura foi como que um monstro saído do lago, que acabara de consumar um acto de extorsão com um gesto glaciar...
Após o almoço, tomei a Autovía das Rías Baixas até Benavente. É a ligação entre o sul da Galiza e Madrid e o seu tráfico intenso foi um contraste com as estradas ermas de onde vinha. Adentrei-me numa paisagem cada vez mais castelhana, com planuras extensas e montanhas ao fundo. Não havia tempo para ver Benavente, que, certamente, terá motivos de interesse, ou não fosse uma das muitas localidades castelhanas com História. Aí virei a norte, tomando a estrada que seguia rumo a León e que faz parte do eixo que liga as Astúrias à Andaluzia. Passei ao lado de León. No sábado e domingo haveria oportunidade de visitar a cidade, como se impunha.
Daí para cima as opções restringiam-se a estradas muito secundárias. A paisagem foi-se tornando cada vez mais verde e montanhosa. Belíssimas aldeias foram surgindo ao longo do trajecto, o qual era ladeado, quase sempre, por pequenos cursos de água revolta. Surgiam prados e mais prados, assim como montanhas cada vez mais altas de onde iam sobressaindo, por detrás, alguns cumes nevados... Era uma paisagem de bilhete postal, que só não incutia paz de espírito por alguma incerteza sobre a existência de hotel no fim da jornada, que era em Riaño. Na verdade, os sinais de povoamento iam-se tornando cada vez mais raros na penumbra do fim da tarde, não deixando dúvidas que me internava num extremo isolamento.
Finalmente apareceu Riaño, num enquadramento fantástico - implantada numa península saliente a meio da albufeira. Em seu torno, os abruptos picos nevados davam à paisagem um ar de conto de fadas. Sabia que a primitiva aldeia ficara debaixo das águas da albufeira. As duas igrejas tinham sido reimplantadas pedra a pedra – o resto era novo, mas com uma arquitectura de qualidade.. A sensação de paz e isolamento era total... mas havia, senão um hotel, pelo menos um hostal! Um hostal de aspecto montanhês. O jantar (cordero asado acompanhado por um Rioja) foi uma redenção em relação ao almoço!