domingo, dezembro 16, 2007

Dancing Days (18) (4 remake)

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Peaches & Herb - The best of Peaches & Herb (1996)
É a melhor colectânea de Peaches & Herb (2ª fase). Integra a colecção Polydor Soul Series. A entrada faz-se com o dance hit Shake your groove thing (é preferível a versão para EP, que constitui a última faixa). Continua com outro dance hit, Funtime. O destaque vai, contudo, como não podia deixar de ser, para a super balada Reunited.
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Peaches & Herb - Reunited (1978)

Dancing Days (17) (3 remake)

Peaches & Herb - Reunited (1978)
Espectacular é o que se pode dizer desta balada de Peaches & Herb! Foi um dos singles mais vendidos de sempre. Este duo (nesta altura composto por Linda Green e Herbert Feemster, de Washington DC, pela mão do compositor e produtor Freddie Perren, tornou-se relevante no cenário disco sound de finais dos anos setenta. Nesse género, estritamente considerado, o seu maior êxito foi Shake your groove thing (13 semanas no Top40 USA, onde chegou a alcançar o 5º lugar, em 1979). Contudo, o seu maior êxito absoluto e um dos maiores de toda a história da música pop foi precisamente esta balada, que esteve 15 semanas no Top40 USA, alcançou o 1º lugar nesse mesmo ano de 1979. Mereceu, pois é a mais soberba balada romântica pop alguma vez feita! É curioso tal sucesso cavalgando a onda disco, já que esta era a segunda fase de uma carreira que tinha principiado em meados dos anos sessenta em plano de rythm & blues, com uma solista diferente, Francine Barker e um produtor também diferente, Van McCoy. Foi, enfim, uma reinvenção bem sucedida.

terça-feira, dezembro 11, 2007

Baúl de los recuerdos (19)


Juan & Júnior - Anduriña (1968)

A partir de meados dos anos 60 havia já uma cena musical pop espanhola bem implantada. Havia grupos que eram réplicas dos Beatles. Entre estes, Los Brincos foram os mais populares. Já havia clubes de fans e algum mediatismo, de modo que quando os dois mais populares membros deste grupo saíram abruptamente, houve estrépito. Eram o galego Juan Pardo e o filipino Antonio Morales, de nome artístico, Júnior. Foi um desenlace preparado por produtores discográficos. Imediatamente constituíram um duo e gravaram singles que tiveram grande êxito. O maior de todos foi esta balada de intrínseco sabor galego, Anduriña. Das minhas estadias de infância no Porto, recordo-me de o escutar através das ondas da Radio Popular de Vigo, que se captava bem à noite.
O duo teve uma carreira efémera. As ambições de Juan Pardo e Júnior apontavam em direcções diferentes e desenvolveu-se, parece, rivalidade entre os dois. O primeiro seguiu uma carreira mais discreta, como produtor, embora, com o tempo, dando cada vez mais espaço a uma longa carreira de compositor e solista. O segundo seguiu uma carreira mais espaventosa, incluindo incursões pelo cinema, mas cedo acabou na penumbra da carreira da sua mulher, a ex chica pop, Rocío Dúrcal. O casamento entre os dois, em 1970, foi, aliás, um evento com impacto.


Espanha - 17/06/1968: #04 Top Singles (28 semanas em lista)

Fonte: Fernando Salaverry - Sólo éxitos: Año a año (1959 - 2004)

quarta-feira, novembro 28, 2007

Mariachi y tequila (46)

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Juan Gabriel / Rocío Dúrcal - Juntos otra vez (1997)
Um encontro várias vezes repetido foi o desta parceria hispano - mexicana. Está ainda fresca a comoção provocada pelo falecimento recente de Rocío Jurado. Começou a sua carreira nos anos 60 como uma das chicas pop que ajudaram a dar um toque de modernidade no cenário artístico espanhol de então. Nos anos 70 a sua carreira enveredou pelo cançonetismo. Nesse plano, consolidou a sua projecção. Na verdade, esta opção por uma via convencional foi, no seu caso, valorizada pela elegância de estilo e por uma voz de fino timbre. Contudo, algo se constituiu como diferencial na sua carreira. Sucede que, em finais da década de 70 começou a desenvolver uma carreira paralela no México, país pelo qual se apaixonou numas daquelas digressões hispano-americanas comuns aos artistas espanhóis. Mas este facto adquire muito mais significado porque Rocío passou a interpretar um repertório de música ranchera, através, sobretudo, de temas de Juan Gabriel. Fê-lo com competência tal que não desmerece como herdeira das mais consagradas do género (Lola Beltrán, Lucha Reyes, Amalia Mendoza). Assim se tornou muito popular no México e ajudou a reavivar o interesse pela música popular mexicana em Espanha. Na sua discografia, entre os vários álbuns convencionais, há alguns exclusivamente dedicados a rancheras. Este é o último e, provavelmente, o melhor.
Juan Gabriel é um artista bizarro. Desde logo, pela sua assumida homossexualidade. Depois pelo seu carácter artisticamente multifacetado. É compositor e intérprete de estilos diversos, mas uma parte substancial da sua produção é música
ranchera. Tem muitas e excelentes composições rancheras. Neste álbum há uma cabal demonstração deste particular talento. Ainda por cima, o dueto e partilha entre Gabriel e Rocío funcionam com a cumplicidade própria de quem se conhece bem, se estima e entende a alma bravia e festiva desta música. Ainda por cima, a produção é do melhor que se encontra no género - absolutamente esmerada, com um mariachi de qualidade superlativa.
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Juan Gabriel / Rocío Dúrcal - ¿Sabes por qué? in Juntos otra vez (1997)

terça-feira, novembro 27, 2007

Mariachi y tequila (45)

José Alfredo Jiménez / Lucha Villa - La enorme distancia

Mariachi y tequila (44)

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José Alfredo Jiménez - Las 100 clásicas (2000)
Trata-se de uma formidável colectânea, com uma qualidade de edição que contrasta com a maioria das que vão surgindo no mercado e abrangem os géneros menos comerciais. Só faltam as letras... Mas, mesmo assim, não deixa de ser um autêntico compêndio da música ranchera através de um dos seus maiores vultos de sempre: José Alfredo Jiménez.
Foi compositor e, mais tardiamente, intérprete. Como compositor notabilizou-se por temas que começaram por se tornar famosos na voz de Jorge Negrete, Pedro Infante e Miguel Aceves Mejia. Compôs também o bolero La media vuelta, tendo este transcendido o universo ranchero. Como intérprete, em gravações efectuadas nos anos 60, deixou um registo emocional que veio enriquecer um estilo até então um pouco estereotipado. Na verdade, carecia de qualidades vocais académicas, mas tinha um sentimento desgarrado e uma alma que sobejamente as compensavam.
São inúmeros os temas magníficos que sobressaem neste conjunto de 100, mas, ainda assim, atrevo-me a destacar três: La estrella de Jalisco, Ella e Cuando el destino.
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José Alfredo Jiménez - La estrella de Jalisco (1971)

Memória do Futebol (8): Estádios no Google Earth - Porto

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Dragão - FC Porto

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Bessa Século XXI - Boavista FC

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Mar - Leixões SC

domingo, novembro 25, 2007

Para siempre boleros! (28)


Javier Solís - Me recordarás...
Há testemunhos na Internet de uma espécie de culto em torno da figura de Javier Solís. Encontram-se montagens de documentários no YouTube. Este é um exemplo curioso, já que assenta em declarações do próprio artista no que parece ter sido uma entrevista radiofónica. Faz um resumo da sua vida.

sábado, novembro 24, 2007

Para siempre boleros! (27)

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Javier Solís, el rey del bolero ranchero (1931 - 1966)
Com Jorge Negrete e Pedro Infante, Javier Solís é um de Los 3 gallos - os três cantores rancheros que desapareceram precocemente no auge da fama. Foram cantores e também actores de cinema, sublinhe-se. Com efeito, nos anos 40, 50 e 60, alcançar tal projecção na cena artística mexicana advinha necessariamente da convergência das duas carreiras.
Solís, teve uma carreira de apenas 10 anos, mas intensa. Apareceu interpretando tangos e boleros rancheros ao estilo de Pedro Infante. Com a morte trágica deste, tornou-se como que o seu natural sucessor, inclusive imitando-o. Porém, rapidamente adquiriu uma marcada identidade, assente nos dotes da sua voz - superiores às de Infante e também às Negrete - e na consolidação do bolero ranchero através do seu registo interpretativo cada vez mais inconfundível. Na verdade, tinha uma voz forte e com timbre original. Nos primeiros anos da década de 60 era o mais importante cantor mexicano e ensaiava, tanto quanto a novíssima onda do rock & roll permitia, uma projecção internacional. Gravou vários discos para a CBS, onde deixou um conjunto de temas de grande qualidade que ficaram para sempre ligados à sua figura, de tal modo que é injusto relembrá-lo só pelos dois que ficaram para sempre como mais emblemáticos: Sombras e Payaso. O primeiro foi o que mais o popularizou, a ponto de um dos seus apodos ter sido El señor de las sombras. Independentemente da qualidade de ambos, o que sucede é que o seu carácter de signo trágico (sonoridade e letra) conjuga com uma história de vida difícil como foi a da sua infância e juventude - abandonado pelo pai e entregue pela mãe a uns tios; obrigado a deixar a escola para trabalhar; curtido, enfim, pela vivência da pobreza suburbana... Ainda por cima, esse signo trágico ficou definitivamente consagrado com o seu súbito desaparecimento, que tem servido, aliás, para alguma especulação.

sexta-feira, novembro 23, 2007

Para siempre boleros! (26)

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Armando Manzanero - Sus 26 grandes boleros (1990)
Infelizmente não estão editados em CD os álbuns de originais de Manzanero dos anos 60 e 70. Em contrapartida, existem várias antologias, se bem que a maioria pouco criteriosas e sem informações adicionais. Sobre a mais completa já fiz elogiosa referência em Para siempre boleros! (17). Contudo, não é tão completa a ponto de conter todos os seus mais famosos boleros. Com efeito, não inclui Esperaré e a versão de Adoro que inclui é a instrumental. Esta antologia tem esses dois temas. Em contrapartida, faltam outros que estão incluídos naquela. Seja como for, e este é um pormenor decisivo, inclui um encarte com as letras dos 26 boleros seleccionados. Note-se ainda que não é impossível encontrar-se no mercado português... (pelo menos alguma vez tenho a certeza que vi este CD numa loja FNAC).
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Armando Manzanero - Si me faltas tú (1968)

domingo, novembro 18, 2007

sexta-feira, novembro 16, 2007

Para siempre boleros! (24)

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Moncho - On és la gent? (2003)
Desde há uns anos que Moncho, El gitano del bolero, tem vindo a fazer gravações em catalão, intercaladas com outras em castelhano. Sem abandonar o bolero como estilo dominante, numas e noutras têm surgido canções de outros estilos. Nesta, por exemplo, atreve-se com versões em catalão de três célebres canções italianas: Grande, grande, grande (Meva, meva, meva), Parole, parole (Paraules, paraules) e Caruso (T'estimo tant). As duas primeiras, de Mina; a terceira de Lucio Dalla. Além disso, amplia o seu repertório de versões de Joan Manuel Serrat com Pare e M'en vaig a peu. Se bem que estas versões tenham uma valia desigual, demonstram uma crescente diversificação.
No seu conjunto é um álbum interessante e que consolida um espectacular renascimento da sua carreira (De 60 e até meados de 70 tivera um período de esplendor ao qual se seguiu uma longa obscuridade...). Com os dotes ímpares da sua voz e uma produção que ultimamente tem sabido projectá-la, Moncho é uma das mais originais figuras do cenário actual do bolero.

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Moncho - Ningú com tu! in On és la gent? (2003)

quinta-feira, novembro 08, 2007

Mediterráneo / Mediterrània (48): Mallorca (23 remake)

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Maria del Mar Bonet - Jardí tancat (1981)
Com permissão do antecedente Saba de terrer, considero este o melhor álbum de Maria del Mar Bonet. É certo que não conheço os mais recentes, mas não imagino ser fácil reencontrar agora o encanto ímpar aqui alardeado. A sua voz atinge uma doçura e suavidade que, se bem que nunca perdida, dificilmente poderia voltar a alcançar tal esplendor. Como se não bastasse, tudo o mais em Jardí Tancat parece tocado por um estado de graça: os arranjos de orquestração; o repertório de poetas maiorquinos contemporâneos; as fotos nos Jardins de Raixa (em Maiorca); a foto da capa... Curiosamente é um álbum na linha da canção de texto e em que a presença folk é discreta, apenas indirectamente trazida através da temática dos poemas. Entre um punhado de jóias, cabe sublinhar que a forma como o álbum se despede, com Cançó de la sirena, é algo de invulgarmente belo: uma melodia encantatória vai-se desvanecendo gradualmente, deixando no ar um perfume melódico, diria, de genuína essência mediterrânica...
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Maria del Mar Bonet - Cançó de la sirena in Jardí tancat (1981)

domingo, outubro 28, 2007

Cuore matto (18)

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Ornella Vanoni - Ornella Vanoni (Hanno ammazzato il Mario (1961)
É o primeiro álbum de Ornella Vanoni, mas limita-se a ser uma compilação de singles previamente editados. Era o normal nessa época. O formato de longa duração ainda era encarado apenas com o verdadeiro significado do termo álbum: um repositório do que já havia sido feito. A carreira de Ornella tinha começado em meados dos anos 50 numa combinação de teatro e música, em ambiente intelectual. Com cerca de vinte anos integrava o elenco do Piccolo Teatro di Milano, sob a direcção de Giorgio Strehler. A jovem beldade ruiva, com um belo fio de voz e dotes interpretativos exercitados sobre temas de Berthold Brecht, tornou-se diva de uma espécie de sucursal transalpina da rive gauche...
Boa parte do repertório é composto por canções do espectáculo Canzoni della malavita, que glosa os meios da má vida milanesa. Veiculam uma visão romântica e social, com uma auréola de mistério propositadamente reforçada com insinuações de Giorgio Strehler sobre as supostas circunstâncias em que teriam sido encontrados os manuscritos onde constavam. Na verdade, tinham sido compostas por alguns dos mais destacados elementos do circulo desenvolvido em torno do Piccolo Teatro. Algumas têm a particularidade de ser cantadas em milanês. É o caso de
Sentii come la vosa la sirena, de Dario Fo. O idioma hoje em dia, está em forte recessão, mas nos anos 50 ainda era corrente nas ruas de Milão. É um dialecto do lombardo. Tem uma sonoridade suave, com vogais muito mais fechadas do que no italiano. De um modo simplista dir-se-ia estar situado a meio caminho do francês...
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Ornella Vanoni - Sentii come la vosa la sirena in Ornella Vanoni (Hanno ammazzato il Mario (1961)

sexta-feira, outubro 26, 2007

Mediterráneo / Mediterrània (47): Mallorca (22 remake)

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Maria del Mar Bonet - Maria del Mar Bonet (L'águila negra) (1971)
Em 1971, em plena maré ascensional da nova cançó, Maria del Mar Bonet publica o seu segundo álbum. Um ano antes havia publicado o primeiro, Maria del Mar Bonet (Fora d’es sembrat), mas já em 1967 e 1968 havia publicado um single e dois EP’s, respectivamente. Tinha pouco mais de 20 anos, possuía um timbre de voz melodioso e dedicava-se, especialmente, a recriar temas populares maiorquinos. Nesta orientação convergiam duas linhas: a canção de intervenção e o folk. O álbum confirma a orientação, embora também inclua temas de pura canção de texto, de poetas e compositores reconhecidos, assim como temas da sua autoria. Aliás, Cançó per una bona mort e Mercé (este último uma homenagem à sua mãe) são ambos de sua autoria e são os melhores. Apesar de um pouco desigual, há neste álbum uma frescura e um lirismo encantadores. De notar que a reedição em CD é feita a partir da reedição em LP feita dez anos depois da primeira edição, incorporando um tema que não constava originalmente, embora tivesse sido editado na mesma época. Esse tema é L’águila negra - versão catalã de L’aigle noire, de Barbara - e acabou por ser utilizado como título das reedições, já que o original ostentava como título, apenas, o nome da cantora.
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Maria del Mar Bonet - Mercé in Maria del Mar Bonet (L'águila negra) (1971)

Mediterráneo / Mediterrània (46): Mallorca

Um documento notável: Maria del Mar Bonet - Mercé in You Tube. É um extracto de uma gravação filmada de um espectáculo de Maria del Mar Bonet, realizado nos idos de 1970, 1971, na presença da sua mãe - a quem o tema era, aliás, dedicado. Este documento está integrado num episódio da recente série da TV3, da Catalunha, Totes aquelles cançons e é seguido por um comentário actual da cantora e pela parte final de um velho videoclip original (uma preciosidade!) da mesma canção, o qual, tanto quanto é dado ver, foi rodado na Peninsula de Formentor, no extremo norte de Mallorca.

quarta-feira, outubro 24, 2007

Viagens (56): Norte de Itália / Julho - Agosto de 2001 (8)


5º Dia (4ª Feira)(noite)

Tinha combinado encontrar-me no bar da FNAC de Milão com um participante do Forum na Internet sobre Mina. Era um dos participantes que menos se dava a conhecer, a ponto de não saber ao certo o fazia, nem a sua idade. No terceiro piso da FNAC, em pleno bar, não tive, contudo, dificuldade em o identificar num vulto de quarentão, com óculos muito graduados, que avançava na minha direcção. Para além dos naturais problemas idiomáticos, os problemas de comunicação foram acrescidos pela sua timidez. Imediatamente, de um saco a tiracolo retirou um magote de velhos singles de Mina, editados por esse mundo fora, nos idos de 60 e 70. Havia edições japonesas e até uma de Angola. Eram preciosidades para um coleccionador. Depois mostrou-me alguns CD’s promo (promoções para rádio) e entendi que os estava a oferecer-mos. Só perante o seu ar aflito me apercebi que, afinal, não era isso - estava a propor que eu os comprasse. Rejeitei atarantadamente a proposta. Senti-me sem jeito e ficou no ar uma pesada sensação de gaffe... Tanto que, quando o convidei para jantar, esperava que não aceitasse. Mas não só aceitou, como, simpaticamente, se prestou a desempenhar papel de guia. Mostrou com entusiasmo os vestígios romanos de Mediolanum ali bem perto e forneceu informações que nenhum guia de papel pode dar. Mas era, definitivamente, uma pessoa estranha, tão afastada quanto se possa imaginar do estereotipo italiano. Verifiquei que, numa cidade em que, normalmente, se é furiosamente nerazzurro (Inter) ou rossonero (AC Milan), tinha perante mim um exemplar neutro… que odiava futebol. O seu passatempo preferido era, disse enfaticamente, deambular solitário pelas montanhas... Conduziu-me a um restaurante, onde se comeu bem e a preço razoável. No final, queria pagar a sua parte da conta..! Não consegui deixar de me espantar com tal alarde de mesquinhez, que resolutamente rejeitei. Fosse como fosse, apesar das situações constrangedoras, houve uma agradável e interessante troca de impressões, que, entre outras coisas, me permitiu concluir que o salário de um professor italiano é em termos absolutos inferior ao nosso e em termos relativos ainda mais baixo. Era anti-berlusconiano e também não gostava de Umberto Bossi, líder da Lega Nord. A propósito perguntei-lhe se ainda se falava dialecto milanês, ao que me respondeu que nas cidades já não, mas que nos campos ainda era falado por idosos. Lembrava-se que na sua juventude ainda era corrente escutá-lo pelas ruas de Milão. Adorava a sua cidade, a qual, dizia, não trocava por nenhuma outra. De Portugal não sabia nada, nem os superficiais lugares-comuns. Parecia não ter interesse nenhum em conhecer Portugal ou Espanha. O único grande interesse que tinha por terras estrangeiras era por Paris. A minha afinidade com ele limitava-se a gostos musicais, desde Mina a Nino Ferrer. Despediu-se inopinadamente em pleno Duomo e, depois de tudo, acabei por não estranhar o modo desconcertante como desapareceu.
O Duomo é sensacional, pela fachada da catedral, pela amplitude da praça, pela Galleria Vittorio Emanuelle. Esta é composta por um cobertura sobre duas ruas e uma ampla abóbada no seu cruzamento. A estrutura é de vidro e ferro e os edifícios têm a traça da melhor arquitectura da segunda metade do século XIX. Aí, o comércio é do mais refinado. A livraria Feltrinelli, por exemplo, é majestosa. Aqui, como em Espanha, traduz-se tudo e a oferta abrange uma variedade por cá inimaginável. Regressei ao hotel atormentado pelo calor. Na ida e na vinda utilizei o metro, que cobre quase toda a cidade. Como o de Madrid, Barcelona ou Nova Iorque é mais feio que o de Lisboa, mas mais funcional.

domingo, outubro 21, 2007

Salsa y merengue (26) (1 remake)

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Aldo Matta -
Soy del Caribe (1993)
Aldo Matta é um cantor porto-riquenho cuja maior notoriedade coincidiu com um terceiro lugar obtido num qualquer dos desqualificados festivais da OTI. A sua carreira tem-se desenvolvido de modo discreto e oscilante, mais pelos terrenos do cançonetismo. No que diz respeito à salsa tem feito algumas incursões. Nos inícios dos anos 90 uma dessas incursões rendeu uma canção notável e um álbum magnífico. A canção é Derroche e o álbum é Soy del Caribe. Esta fase proveitosa foi dirigida pelo produtor Frank Torres. Não teve, porém, continuidade. É pena. O álbum aqui em apreço é um dos melhores da salsa romántica, género surgido em meados dos anos 80 entre Nova York e Porto Rico. Desfila um conjunto de temas que são um instintivo convite à dança, ao mesmo tempo que possuem encanto melódico - é o caso de Para tenerte siempre, Una tempestad de besos e Me encanta verte así. Quanto ao tema Derroche, incluído na edição espanhola deste álbum, tinha aparecido no álbum anterior, de 1991, com o mesmo título, mas a sua distribuição limitara-se às Américas. Se é um facto que o erotismo atravessa quase todos os temas, neste atinge-se o clímax, o que sucede através da conjugação da letra com um tórrido ambiente sonoro. Pouco tempo depois a cantora espanhola Ana Belén interpretou uma versão que teve impacto. Também Julio Iglesias acabou por vir a interpretar a sua versão com aquele inexpressivo artificialismo delicodoce que constitui marca pessoal...
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Aldo Matta - Me encanta verte así in Soy del Caribe (1993)

Salsa y merengue (25)

Derroche

El reloj de cuerda suspendido,
el teléfono desconectado,
una mesa dos copas de vino,
y a la noche se le fue la mano.
Una luz rosada imaginamos
comenzamos por probar el vino,
con mirarnos todo lo dijimos,
y a la noche se le fue la mano
Si supiera contar
todo lo que sentí
no quedó ni un lugar
que no anduviera de ti.
Besos, ternura
qué derroche de amor
cuánta locura
besos, ternura
qué derroche de amor
cuánta locura.
Que no acabe esta noche
ni esta luna de abril
para entrar en el cielo
no es preciso morir.
Besos, ternura
qué derroche de amor
cuánta locura
besos, ternura
qué derroche de amor
cuánta locura.

Derrochamos no importaba nada
las reservas de los manantiales
parecíamos dos irracionales
que se iban a morir mañana.
Si supiera contar
todo lo que sentí
no quedó ni un lugar
que no anduviera de ti.

Besos, ternura...


Manuel Giménez



Aldo Matta - Derroche in Derroche (1991)

sábado, outubro 20, 2007

Salsa y merengue (24) (6 remake)

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India - Dicen que soy (1994)
Na origem da salsa foram decisivos artistas como a cubana Célia Cruz, o porto-riquenho Tito Puente, o panamenho Rubén Blades e produtores como Ralph Mercado. Todos convergiram nos meados de 70, em Nova Iorque, tecendo inovadores cruzamentos de son, mambo, jazz e rock... A cubana estabeleceu-se como la reina de la salsa e nesse indisputado trono permaneceu até ao fim da vida. Porém, deixou uma sucessora, à qual consentiu o apodo de princesa de la salsa. Trata-se de India. Lançada por Ralph Mercado - produtor hegemónico no universo salsero - e apoiada por tão fortes credenciais, a jovem teve oportunidade de demonstrar as suas qualidades. Entre estas destacam-se a garra interpretativa e a voz poderosa. Parcialmente limadas certas arestas (a saber, alguma estridência), chega a este seu segundo álbum. Apoiada por adequados meios de produção, India vê-se consolidada como princesa de la salsa - algo que foi reforçado por uma imagem de mulher agressiva e descomplexada. Ora, importa salientar que este álbum torna-se incontornável por Ese hombre (música de Manuel Alejandro; letra de uma tal Ana Magdalena). Originalmente interpretada por Rocío Jurado, dir-se-ia (sem nenhum desprimor para a andaluza) que a canção encontra finalmente a voz e o estilo a que estava destinada... É um explosivo concentrado de despeito feminino em forma de insulto, disparado com toda a fúria salsera. É insólito e grandioso! Por alturas de 1994-95 ouvia-se assiduamente em Espanha através das ondas da Cadena Dial...
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India - Ese hombre in Dícen que soy (1994)

Salsa y merengue (23)


India - Ese hombre (1994)

Salsa y merengue (22)

Ese hombre
Ese hombre que tú vez ahi
que parece tan galante
tan atento y arrogante
lo conozco como a mi

Ese hombre que tú vez ahi
que aparenta ser divino
tan amable y efusivo
solo sabe hacer sufrir

Es un gran necio
un estúpido engreído
egoísta y caprichoso
un payaso vanidoso
inconciente y presumido
falso malo rencoroso
que no tiene corazón

Lleno de celos
sin razones ni motivos
como el viento impetuoso
pocas vezes cariñoso
inseguro de si mismo
insoportable como amigo
insufrible como amor

Ese hombre que tú ves alli
que parece tan amable
navigoso y agradable
lo conozco como a mi

Ese hombre que tu vez alli
que parece tan seguro
de pisar bien por el mundo
solo sabe hacer sufrir

Solo sabe hacer sufrir
tú no tienes corazón
me engañaste con traición
tú no tienes corazón
ese hombre que tú vez ahi
parece tan amable
pero no es agradable
me engañaste con traición
tú no tienes corazón

Pocas vezes cariñoso
en un payaso vandioso
que me llena de dolor

Tú no tienes corazón
tú me engañaste y me traicionaste
no te quiero ya
falso malo rencorozo
ya no te quiero más

tú me enganaste
tú me enganaste
y me traicionaste
y me traicionaste
no no no no...
no quiero verte más
no no no
...
tú me engañaste
y me traicionaste
ah ah ya no te quiero más
ya no voy a sufrir mas

ese hombre ya se va!

Manuel Alejandro / Ana Magdalena

sexta-feira, outubro 19, 2007

Mariachi y tequila (43) (4 remake)

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Paquita la del Barrio - En vivo desde su lugar (1998)
Este álbum foi gravado ao vivo chez elle, ou seja, na Casa Paquita - restaurante que à noite se transforma em sala de espectáculos. A voz poderosa de Paquita não sai nada diminuída do registo ao vivo, bem pelo contrário! É uma voz autêntica, de um poder sem artifícios. Além disso, o calor humano enriquece a performance, já que o público, por vezes, sublinha ululantemente as passagens mais condimentadas. Com efeito, as tiradas contra los hombres malvados, as consequentes imprecações (me estás oyendo, inútil?) são acolhidas com estrepitoso regozijo. Musicalmente, impera uma sonoridade mariachi convencional. A função não pôde acolher todos os seus êxitos, mas estão presente alguns dos mais carismáticos e morbosos. Saliente-se que nas introduções nos apercebemos que, quando não está investida no acto de cantar, Paquita, em contraste com a sua imagem de la masacradora, fala com um sussurrante fio de voz e intui-se uma desconcertante timidez. Em várias entrevistas, este contraste já tinha sido enunciado por ela mesma, assumindo uma transfiguração em palco. Dir-se-ia que, a vários níveis, algo de freudiano enriquece o fenómeno de culto que Paquita la del Barrio constitui...
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Paquita la del Barrio - El fracaso de mi amor in En vivo, desde su lugar (1998)

Mariachi y tequila (42)

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Pico de Orizaba (Citlaltéptl) , Puebla / Veracruz - Llave

Mariachi y tequila (41) (22 remake)

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Paquita la del Barrio / Banda La Costeña -
Paquita la del Barrio con Tambora (1993)
Na carreira discográfica de Paquita la del Barrio distinguem-se três modalidades de orquestração, as quais chegam a ter gravações cujo título alude especificamente a cada uma. Assim, temos Paquita la del Barrio con mariachi, ...con sonora ou ...con tambora. Esta última modalidade tem um carácter irredutivelmente kitsh. A existência de bandas conhecidas como tamboras é um fenómeno genuinamente mexicano, especialmente popular nas zonas norteñas da costa do Pacífico. A que aqui acompanha a diva tem precisamente o nome de La Costeña e é do estado de Sinaloa.
A sonoridade das tamboras não dá para acreditar... É uma charanga tonitruante onde avultam espessos trombones e demais panóplia de metais pesados sobre um fundo compassado de bateria crua. É frequente os cantores populares mexicanos gravarem com tamboras - faz parte de um percurso mais ou menos estabelecido pela tradição. Portanto, Paquita não é inovadora ao fazê-lo. Porém, tendo em conta as suas características, pode-se dizer que a junção é explosiva. Aqui, estão presentes algumas das suas mais morbosas e carismáticas canções, de modo que este álbum se torna num invulgar monumento ao kitsh! Perfeito exemplo é o último tema, Escoria humana, onde são desferidos alguns dos mais soezes insultos com que se pode brindar, neste caso não um homem (como é o mais comum com Paquita), mas uma mulher. A mensagem é adequadamente enquadrada pelo ribombar de trombones.
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Paquita la del Barrio / Banda La Costeña - Escoria humana in Paquita la del Barrio con Tambora (1993)

segunda-feira, outubro 15, 2007

Mariachi y tequila (40)

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Paquita la del Barrio - Azul celeste (2000)
Pelas mais conhecidas canções e pela pose, Paquita la del Barrio representa algo de bizarro. Contudo, não deixa de se inserir num universo tradicional, que é o da música ranchera. O que tem feito, é acentuar de um modo teatral alguns dos traços do rancherismo. Ironicamente, isso tornou-a num produto kitsch assimilável por uma certa modernidade. Tal é particularmente válido no que diz respeito à agressiva pose anti-machista que lhe valeu o apodo de la masacradora. Só que o que sustenta esta imagem está presente no carácter radicalmente melodramático do rancherismo. O repertório tradicional ilustra-o. Se o bolero clássico é, basicamente, lamentativo e platónico, o bolero ranchero acaba muitas vezes em tragédia. Está recheado de cenas canalhas e o despeito que as inspira é verdadeiramente feroz. Foi essa a banda sonora do cinema mexicano dos anos de ouro (30, 40 e 50). Tais tragédias foram cantadas como pontualizações das tramas românticas que deliciavam as plateias populares. Os consagrados Pedro Infante, Jorge Negrete, Antonio Aguilar, Lola Beltrán foram, assim, antecessores de Paquita. Aqueles com o glamour mediático próprio de um género vigente no seu tempo. Esta apenas com o glamour decadentista próprio de um género flagrantemente fora de vigência neste nosso tempo. Azul celeste insere-se no rancherismo tradicional - o repertório incide em clássicos do género, que em tempos conheceram grande popularidade no México, em grande parte da hispanidade e não só... A nossa Amália, por exemplo, cantou Fallaste corazón. Esta recuperação de clássicos faz-se com autenticidade, mesmo se aqui e ali com ajustamentos à sua imagem de marca. Assim, por exemplo, esse mesmo consagrado tema, que originalmente era um auto-desqualificador monólogo de borracho, transforma-se, pela inevitável ausência do contexto cinematográfico original, num libelo anti-machista, a la Paquita...
Azul celeste
é mais um exemplo de absoluta coerência na carreira discográfica de Paquita - música e espírito ranchero servidos por uma intérprete excepcional do género.
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Paquita la del Barrio - Fallaste corazón in Azul celeste (2000)

Mariachi y tequila (39)


Pedro Infante - Fallaste corazón in La vida no vale nada (1955)


sábado, outubro 13, 2007

Cuore matto (17)

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Mina - Cinquemilaquarantatre (1972)
Este é um dos mais famosos álbuns de Mina. Deve tal fama ao título e capa e, sobretudo, à canção Parole parole. O título corresponde tão-só ao número de série de registo de edição discográfica (5.043). A capa, em estilo pop art, foi insolitamente, editada em três ou quatro variantes de cores. Mas o mais importante é, evidentemente, Parole parole - um original dueto entre Mina e Alberto Lupo. Este corteja-a com palavras (parole) insinuantes e a destinatária desdenha tais palavras e desacredita o esforçado galanteador. A coisa é não só original, como, musicalmente resulta em pleno. Pois fique-se sabendo que resultou de um artifício para pano de fundo do genérico final de um show televisivo da RAI... Registe-se ainda o nome dos três inspirados compositores: Leo Chiosso, Giancarlo Del Re e Gianni Ferrio. A canção, no seu tempo, teve impacto, mesmo além das fronteiras transalpinas. Mas, o maior impacto correu por conta da versão francesa interpretada pelo dueto Dalida / Alain Delon. Sem desprimor para esta última versão (também magnífica!), a original é melhor, não só porque cantada em italiano, como pela suprema capacidade interpretativa de Alberto Lupo e Mina. Parole parole é o último tema do álbum, que abre como uma bonita canção Fiume Azzurro e atravessando um conjunto de temas de valor mediano desagua assim nesta obra-prima.
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Mina - Parole, parole in Cinquemilaquarantatre (1972)

sexta-feira, outubro 12, 2007

Cuore matto (16)

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Mina - Mina (E penso a te) (1971)
Entre mais de meia centena de álbuns de originais de Mina (com as compilações ultrapassar-se-á a centena...), este álbum estará muito longe de se poder incluir entre os melhores. Contudo, contém Grande, grande, grande - a canção interpretada por Mina que sempre foi mais divulgada, pelo menos, fora de Itália. Resulta irónico que essa divulgação corresse mais a cargo da versão inglesa de Shirley Bassey, já que nada, absolutamente nada (nem a excelente voz da galesa) pode arrogar-se a condição de sucedâneo de tão acabada versão como é esta, a original! O belíssimo tema foi composto por uma das glórias do Festival de San Remo, Tony Renis e foi orquestrado por aquele que permanece até hoje como um dos maestros mais carismáticos da carreira de Mina, Pino Presti. Há uma outra canção que merece destaque: Amor Mio, de uma dupla fulcral de compositores da canção italiana: Mogol / Lucio Battisti.
Uma nota final sobre a insólita capa: Parece que a diva, num determinado dia da fase inicial da sua gravidez, desgostosa perante a aparência da sua face no espelho, decidiu num arroubo de radical ironia, que a capa do disco que estava em preparação haveria de ostentar um símio...
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Mina - Grande, grande, grande in Mina (E penso a te) (1971)

Cuore matto (15)

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Mina - Frutta e verdura (1973)
Entre fans e críticos tormou-se desde há muito consensual situar este disco como um dos melhores de Mina. De facto, o valor médio é muito elevado, embora nenhum tema tivesse ascendido à condição de emblemático ou popular, com a parcial excepção de E poi... Contudo, junto com este, deve-se destacar Devo tornare a casa (os dilemas de uma mulher em ruptura com o seu casamento), Domenica sera e Tentiamo ancora. De notar ainda que há uma versão italiana de Águas de Março, de Tom Jobim (La pioggia di marzo). Graças à voz ímpar da cantora, à natureza das letras e das músicas, assim como aos arranjos de Pino Presti, impera uma quente sensualidade que marca a identidade deste álbum.
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Mina - Tentiamo ancora in Frutta e verdura (1973)

quinta-feira, outubro 11, 2007

Cuore matto (14)

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Mina - La Mina (1975)
Mina tem percorrido, desde 1958 até aos dias de hoje, uma carreira extensa e multifacetada, marcada pela sua intrínseca italianidade... Versatilidade, ecletismo e elegância podem aqui ajudar a definir tal atributo, não esquecendo esse ponto de mistério que acompanha o seu desaparecimento como entidade pública visível desde finais dos anos 70. Precisamente, dessa década datam alguns dos seus melhores álbuns. Este é um deles. Sem um tema desinteressante e configurando de início a fim um ambiente cálido e insinuante. Temas a destacar: Signora più che mai, Immagina un concerto, Tu no e, acima de todos, L'importante è finire - uma das suas mais famosas canções e... justificadamente. Tem uma densa atmosfera sensual, que se deve aos arranjos de Pino Presti e à voz de Mina, aqui mais insinuante e expressiva do que nunca... Definitivamente, foi nos anos 70 que la tigre di Cremona atingiu o apogeu como cançonetista, sendo certo, porém, que não tinha ainda revelado outras faculdades (ver-se-ia a partir de finais de 70 que a sua versatilidade não conheceria limites...).
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Mina - L'importante è finire in La Mina (1975)

sexta-feira, outubro 05, 2007

Cuore matto (13)

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Mina - Italiana (1982)
Italiana foi originalmente editado como duplo LP, identificado cada um como Italiana Vol. 1 e Italiana Vol. 2. As sucessivas reedições em CD mantiveram o conceito. Contudo, há continuidade entre os dois volumes. Partilham a mesma sonoridade. Há variedade, mas indistintamente repartida por ambos. É um ponto de encontro de várias tendências do seu repertório, predominando uma sonoridade pop standard. A cuidada produção dá consistência ao projecto. É consensual entre os “minófilos” tratar-se de uma trabalho importante, embora sugerindo rumos duvidosos para os mais afeiçoados ao cançonetismo tradicional. Mina está aqui rodeada pela sua habitual equipa desta época, liderada por Vittorio Buffoli. A importância do seu filho Massimiliano Pani é já evidente e aparece Celso Valli como responsável de arranjos de alguns temas. Note-se que predominam originais de compositores italianos, o que não impede que existam três temas cantados em inglês.
No Vol 1, Magica follia abre da melhor forma. É um tema quente, bem à medida da cantora. Deve-se destacar ainda Per averti qui, Già visto e Sapori de civiltà. Há ainda a versão de um velho tema de Chico Buarque – Que Serà (O que será?).
O Vol 2 inicia-se com o melodioso Mi piace tanto la gente e acaba em força com Oggi è nero – peça de construção elaborada. Pelo meio, temos Sweet Transvestite - uma espécie de hino para drag queens, cuja insólita sonoridade é sublinhada por um registo andrógeno, demonstrativo da variada gama de virtuosismos da sua voz - e It’s your move, que é do mais elementar e puro disco.
Italiana
consagra uma nova fase na trajectória de Mina, iniciada em 1979 – definitivamente na vanguarda da canção italiana num ponto de cruzamento de influências diversas. Por fim, note-se que as capas são das mais conseguidas dentro da feição vanguardista característica de Mauro Baletti - aparece uma sugestiva Mina de feições clownescas, em fundo de azul veludo.
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Mina - Sapori di civiltà in Italiana Vol 1 (1982)

quinta-feira, outubro 04, 2007

Guía hispânico (26)

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Hugh Thomas - La conquista de México (1993)
Este historiador tem já uma obra que o credita como um nome importante na extensa lista de hispanistas britânicos. Há, contudo, dois factores que o distinguem nessa insigne galeria: 1) não tem incidido exclusivamente na história contemporânea; 2) tem ideias conservadoras. Com efeito, já na anterior monumental síntese, El imperio español, se tinha embrenhado na expansão castelhana, entre a viagem inicial de Colombo e a de Magalhães. Com outra síntese de fôlego, La guerra civil española, tinha feito como que o ponto da situação do estado da arte historiográfica sobre essa matéria, nos anos 90. Duas áreas muitas distintas, dir-se-ia, mas que assinalam traves mestras para a compreensão da Espanha moderna e contemporânea.
Em El imperio español, a conquista do México já merecia extenso destaque. Aqui temos um desenvolvimento minucioso da saga de Cortés. É matéria fascinante em si, como exemplo de choque de civilizações e ponto de partida de um processo de mestiçagem cultural. Mas há um fascínio adicional para os historiadores avisados: desfazer mitos que decorrem da visão anacrónica com que muitas vezes tal choque é apreciado. Foram mitos que constaram da visão tradicional do nacionalismo espanhol. São ainda outros mitos que continuam vigentes na visão hipercrítica racionalista, afim à sensibilidade das esquerdas, digamos, e que têm tido livre curso na percepção comum. São mitos opostos, mas nocivos à compreensão da história e, portanto, devem ser denunciados. Porém, não estamos perante uma obra articulada em torno da denúncia, nem de qualquer outro proselitismo. Nada disso! Temos um criterioso levantamento de factos, contrastados e acompanhados de perspectivas de enquadramento. É precisamente a sobriedade e o bom-senso que acabam por desencadear um posicionamento naturalmente alheio a tais mitos.
O México acabou por se tornar uma realidade mestiça de incomensurável riqueza e em poucos lugares do mundo encontraremos algo de tão fascinante a este nível! O fascínio desata-se imediatamente nas peripécias únicas da conquista, em que determinados detalhes podem adquirir um significado crucial. São páginas que se lêem como num romance fantástico ou como em certas parábolas bíblicas, seja pela trama de acontecimentos extraordinários, seja pelas abundantes lições de vida. Vejamos uma, bem conhecida e absolutamente sintomática: Perante os desafios de um Mundo Novo, frente a perigos desconhecidos, Cortés, contrariando as instruções que recebera, manda destruir os barcos que os conduziram até esse ponto - um ponto de não retorno. A ele e aos seus 500 homens só restariam duas opções: conquistar ou morrer!

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domingo, setembro 30, 2007

Euskal Herria (23)

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Joseba Tapia / Koldo Izagirre - Apoaren edertasuna (1998)
O fascínio deste álbum passa pelo seu carácter impenetrável. É difícil imaginar algo tão pouco comercial, pelo menos fora da cultura basca. Desde logo, não há qualquer concessão idiomática. As letras não estão traduzidas, nem, tampouco, há qualquer indicação noutra língua que não a basca. Não há vestígios de palavras inteligíveis, constituindo este facto um bizarro desafio. Quanto ao conteúdo central, a música surge sem qualquer artifício de produção. Temos Joseba Tapia mais o seu acordeão diatónico (trikitixa) e com a sua voz singela, cantando em basco. Num ou noutro tema o ritmo é vigorosamente marcado por compassado bater de pés. E mais nada. É tudo simples. Dir-se-ia mesmo, de intrínseca feição rústica. Além disso, a música partilha protagonismo com a récita de textos, pois que, introduzindo cada tema, há uma narrativa feita, provavelmente, pelo escritor Koldo Izagirre (pelo menos, autor dos textos é).
É de notar que em ...Y la palabra se hizo música: La canción de autor en España, de Fernando González Lucini, esclarece-se que o título, Apoaren edertasuna, significa A beleza do sapo. O original desenho da capa confirma a informação. Tem um traço infantil, o que sugere historietas moralizadoras. Contudo, saiba-se que, tal como é explicado no referido livro, o título está de acordo com um elaborado propósito que atravessa todo o álbum intencionalmente: a pretensão de ajudar a descobrir a beleza onde, aparentemente, ela não está visível. Há, portanto, um objectivo político (em sentido amplo), que se louva em tempos de maciça estandardização de gostos. Enfim, o sapo também tem a sua beleza... E tem! Este "sapo musical" soa, assim, muito bem e suscita emoções que ultrapassam os limites do hermetismo idiomático, conferindo-lhe um certo fascínio acrescido. Finalmente, é de salientar que há aqui uma proposta de valorização da trikitixa e da música popular basca, num sentido contrário ao que segue, por exemplo, Kepa Junkera. Menos cosmopolita e despojado, mais próximo das raízes. Igualmente fascinante!

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Joseba Tapia - Igela ideari beha in Apoaren edertasuna (1998)

quarta-feira, setembro 26, 2007

Euskal Herria (22)

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Fermin Muguruza - Amodio eta gorrotozko kamiak / Canciones de amor y odio (1984 - 1998) (1999)
Sob a etiqueta El Europeo têm sido editados vários livros/CD. A série tem incidido mais em cantautores como Julio Bustamente, Luis Pastor, Luis Eduardo Aute, Amancio Prada, Martírio. Contudo, a edição aqui em apreço insere-se num género plenamente rock. Com efeito, é uma edição antológica dedicada ao nome mais sonante do rock radical basco, Fermin Muguruza. As propostas musicais abrangidas, se bem com algumas cambiantes, mantém-se sempre em sonoridades pesadas e agressivas e quase sempre sustentadas em batidas fortes. O conteúdo é correspondente: militantemente radical, de extrema esquerda e nacionalista. Passam em desfile os grupos pelos quais passou Muguruza (Kortatu, Negu Gorriak...) e prestações da sua intermitente carreira de solista. Estamos perante um privilegiado documento sobre o rock radical basco, que é, até certo ponto, a banda sonora da juventude que vive no caldo de cultura abertzale (extrema esquerda nacionalista). A luxuosa edição (é uma característica dos livros/CD de El Europeo) documenta exaustivamente este percurso. São 175 páginas de fotos, de letras de todas as canções de todos os álbuns da sua carreira e, sempre que estas estão em basco (a maioria), apresenta as respectivas traduções. É, enfim, um exemplo de como deve ser uma antologia.

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Negu Gorriak - BSO in Gure Jarrera (1991)

domingo, setembro 23, 2007

Flamenco (30)


El Bicho - Locura in El Bicho (2003)

Aqui segue mais um exemplo do carácter iconoclasta de El Bicho. Este clip foi feito para um tema do primeiro álbum, intitulado apenas com o nome do grupo.

sábado, setembro 22, 2007

Flamenco (29)


El Bicho - Los rokipankis in El Bicho VII (2007)

De regresso às heterodoxias, com um exemplo de manifesta impureza, ostentando reconhecidas contaminações: El Bicho - grupo de flamenco - fusión. Fusão com hip-hop, heavy e sabe-se lá que mais... É um projecto que parece ir além da dimensão estritamente musical, já que é uma espécie de trupe de performance em vários sentidos, com a música num lugar central. A página web oficial (versão mais completa - web de viaje, em construção; versão abreviada - web de prisa) confirma tendências ecléticas. É mais uma prova da vitalidade dos territórios periféricos do continente flamenco. O clip ilustra, através de animação de estética sinistra, mas bastante imaginativa, um tema do último álbum, El Bicho VII. A mensagem também é, digamos, um tanto sinistra, se bem que nada original. O curioso é o contexto em que aparece.

Web: El Bicho - Página oficial

terça-feira, setembro 18, 2007

Flamenco (28)

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Antonio Mairena - Esquema historico del cante por seguiriyas y soleares (1976)
Da mais afastada periferia do continente flamenco para o seu âmago. Se se pretende conhecer o que é o flamenco puro e duro, este disco é indicado. Foi originalmente editado em duplo LP e posteriormente reeditado em CD. Contudo, a reedição que conheço, está amputada no repertório e na informação, de tal modo que é indigna em relação ao original e à intrínseca valia do seu conteúdo.
Antonio Mairena foi um dos últimos patriarcas do cante. Fez um trabalho de compilação e apuramento que, em parte, foi apresentado nesta gravação. Dedicado aos palos (géneros) mais jondos (profundos), que são as seguiriyas e os soleares, é um trabalho quase académico, de todo alheio a modas e facilidades. Assim se cimentou o conceito mairenismo, que traduz a afirmação da ortodoxia e da tradição. Mas, mais do que isso... Mairena, gitano plebeu, foi um flamencólogo. Imerso em prática e teoria. Fez escola e teceu doutrina. Severa e intransigentemente.
Estamos a anos-luz das experiências fusionistas, que a partir dos anos 70 tanto dinamizaram o flamenco. Porém, não é necessário entender o mairenismo como uma tendência hostil à modernidade, mas antes complementar. Ao fim e ao cabo, não faz sentido ignorar o modelo de referência. Impõe-se preservá-lo, desde qualquer perspectiva.
Mairena tinha uma voz poderosa e rude e uma interpretação arrebatada. À força de pulmão e, sobretudo, de garra, remetia, naturalmente, as guitarras para o plano marginal em que a tradição sempre as confinara. Deixou um conjunto de gravações que constituem um acervo privilegiado do cante jondo, na medida em que, os grandes patriarcas que o antecederam jamais gravaram, ou fizeram-no muito parcialmente e em condições precárias. Consciente deste papel de portador de testemunho, condescendeu em gravar frequentemente em frios estúdios. Foi uma das suas raras concessões, mas deliberada...
Não é fácil entrar no cante jondo. Mesmo para os amantes, há momentos em que não dá... e outros
em que se torna uma necessidade purificadora. Esta música tem uma força e rudeza telúrica que a tornam uma provocação à vigente futilidade destes tempos que vivemos. É, de certo modo, uma experiência de religiosidade mística inacessível ao vulgo...

Antonio Mairena - Ovejitas (Seguiriyas tradicionales) in Esquema historico del cante por seguiriyas y soleares (1976)

sábado, setembro 15, 2007

Flamenco (27) (14 remake)

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Antonio Flores - Cosas mias (1994)
Eis Antonio Flores. Filho de Lola Flores, La Faraona, a célebre rainha do folclorismo flamenco e de Antonio, El Pescailla, famoso rumbero. Irmão de Lolita e Rosario - ambas, artistas destacadas da cena espanhola. Estava fatalmente destinado a ser artista. Porém, teve uma carreira fugaz... Com efeito, este álbum foi editado cerca de um ano antes da sua morte. Aparentemente, dir-se-ia, que foi produzido sob o signo celebrante da vida, exemplificado quer através da evocação do nascimento da filha do artista, em Alba, quer através da vitalidade de Arriba los corazones. Este facto não deixa de ser uma ironia, pois por essa altura o artista afundava-se na dependência da heroína, que o conduziria à morte, por overdose, poucos dias, aliás, após a morte da sua mãe.
Dizer que este álbum está enquadrado no flamenco é abusivo. Na realidade, é um álbum de rock com tonalidades flamencas. Estas encontram-se num ou noutro elemento dos arranjos, mas, sobretudo, na voz. Contudo, são detalhes suficientes para lhe dar um valor acrescido, tanto mais que a voz é expressiva no agreste timbre gitano... Se, além disso, tivermos em conta a atinada inspiração como compositor, patenteado em Isla de Palma, Cuerpo de mujer, Arriba los corazones e Alba, concluiremos que é um produto cujos méritos transcendem o de legado testamentário de uma vida precocemente interrompida.
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Antonio Flores - Arriba los corazones in Cosas mias (1994)