segunda-feira, agosto 30, 2004

La Copla (6)

Conchita Piquer
Esta cantora valenciana foi a mais importante intérprete da canção tradicional espanhola. Foi a sua voz cheia de garra e sentimento que mais popularizou nos anos 30, 40 e 50 temas como : Ojos Verdes; La Parrala; Tatuaje... Ouvi-la nessas velhas gravações é uma imersão no domínio mais hardcore das espanholadas... y Olé! (não aconselhável a temperamentos vegetais, sensibilidades insonsas e gostos estandardizados...!)

sábado, agosto 28, 2004

La copla (5)

Carlos Cano - Cuaderno de coplas (1985)
Este álbum significou um salto qualitativo. Com melhores meios de produção e, sobretudo, com caminhos artísticos bem definidos, a partir daqui todos as suas gravações foram de nível muito bom. Para mim este é o melhor de todos, apresentado uma notável coerência de ambiente sonoro e de temas. Um excelente gosto instrumental confere-lhe um valor geral acima da soma das partes. Há um tema muito especial: Pasodoble Torero para Gerald Brenan. É uma homenagem ao grande hispanista britânico afincado na sua amada Andaluzia, numa aldeia das Alpujarras. Canta Carlos Cano num refrão de inexcedível beleza: Ay Alpujarra, Alpujarra que grandes son las estrellas, más grandes los corazones. Olé y viva Gerald Brenan! Cierro los ojos y te siento, aunque de ti esté lejos. Ay Alpujarra, Alpujarra. Ay Alpujarra.
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La copla (4)

Carlos Cano - La copla, memoria sentimental (1999)
Foi o último disco gravado por Carlos Cano. É constituído por coplas das mais populares, nomeadamente: Ay, pena, penita; La bien pagá; Ojos verdes. Os mais consagrados compositores têm presença dominante, nomeadamente a inspirada tríade: León, Quintero y Quiroga. A recriação coplera levada a cabo nesta gravação é o que poderíamos designar como copla cool, sem precisar atrever-se por experimentalismos. A interpretação de Carlos Cano dispensou potência sem perder sentimento, bem pelo contrário...
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La copla (3)

La bien pagá
A maioria das coplas foram interpretadas por vozes femininas e veiculam um discurso feminino, não obstante quase todos os seus compositores terem sido homens. Entre as excepções, conta-se uma das mais populares: La Bien Pagá. No seu tempo, Miguel de Molina foi a voz que mais a divulgou. Consta do CD que recolhe canções das bandas sonoras dos filmes de Almodóvar. Carlos Cano também a interpretou. Eis a letra:

Na te debo na te pido
me voy de tu vera olvídame
ya que pago con oro tus carnes morenas
no maldigas paya que estamos en paz
no te quiero no me quieras
si to me lo diste yo na te pedí
no me eches en cara que to lo perdiste
también a tu vera yo to lo perdí
bien pagá
si tú eres la bien pagá
porque tus besos compré
y a mí te supiste dar por un puñao de parné
bien pagá bien pagá bien paga fuiste mujer
no te engaño
quiero a otra
no creas por eso que te traicioné
no cayó en mis brazos me dio sólo un beso
el único beso que yo no pagué
na te pido na
me llevo entre esas paredes dejo sepultás
Penas y alegrías
que te dao y me diste
y esas joyas que ahora pa otro lucirás
bien pagá
si tú eres la bien pagá
porque tus besos compré
y a mí te supiste dar por un puñao de parné
bien pagá bien pagá bien pagá fuiste mujer.
Ramón Perelló / Juan Mostaza

La copla (2)

Basílio Martín Patino - Canciones para después de una Guerra (1971)

O movimento de recuperação de La Copla não se limitou ao ambito musical, foi, até, precedida pelo cinema, através deste filme, que é um documentário de autor. Em tempos tardo-franquistas, contextualiza as castiças coplas plenas de salero e morbo, que encheram o éter radiofónico e as salas de cinema daquela desgraçada Espanha pós Guerra Civil. Império Argentina, Juanita Reina, Estrellita Castro, Lola Flores, Conchita Piquer são aqui escutadas como banda sonora de imagens que constituem um violento contraste ou uma irónica pontualização das suas mensagens.
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Info IMDB

La copla (1)

Carlos Cano (1946-2000)
Este cantautor granadino esteve na primeira linha da recuperação da copla (canção tradicional espanhola). Contribuiu decisivamente para um movimento de homenagem e modernização deste género, procedendo a um cruzamento entre tradição e inovação. Espírito generoso e solidário, Carlos Cano foi coerente com os seus ideais, traduzindo-os em empenhamento político. Sentimento que foi, aliás, transposto para a música popular de outros povos deste nosso tão desconhecido mundo. A nossa Amália teve nele um fiel devoto - facto que se traduziu concretamente naquele que foi o maior êxito da sua carreira - María, la Portuguesa.
Pasodoble torero para Carlos Cano!
Página Web

quarta-feira, agosto 25, 2004

Los Toros (3)

Não sou um aficionado, mas admiro a corrida numa perspectiva antropológica e cultural. Tenho simpatia por esse mundo, apesar de desconhecer muitas especificidades da lide. Não vejo que isto seja incompatível com o meu gosto por animais, bem pelo contrário! Que fique claro que considero ser um espectáculo cruel, mas também, e até em larga medida por isso mesmo, profundamente artístico! O sofrimento do touro é a exaltação das suas inatas qualidades de bravura - assim como uma exaltação da força bruta da vida selvagem em confronto com a racionalidade do homem. Uma genuína metáfora do triunfo da civilização, cujas raízes se embrenham no fundo dos tempos. Toda a coreografia e panóplia de rituais reforçam este carácter e adicionam elementos de esconjuro ao medo e de apoteose da coragem viril. É este conjunto de factores que são a base da Fiesta e no qual vão desaguar certos elementos sociais: a equitativa distribuição da carne do touro morto, pelo povo; a origem plebeia do matador... Um mundo sem a corrida é um mundo mais pobre, endereçado no caminho do "politicamente correcto", asséptico, insuportavelmente virtuoso no que de mais hipócrita o termo encerra... Felizmente que o mundo que sustenta a afición é resistente!

terça-feira, agosto 24, 2004

Los Toros (2)

Peña Taurina Los Suecos
Peñas são associações de tertulianos e fans. É um fenómeno genuinamente espanhol que se desenvolveu em torno da fiesta, do futebol e de outras actividades. Têm, como elemento agregador um matador ou um clube e como base, normalmente, um bar. São pretexto para convívio, discussões e excursões. Há muitas peñas taurinas, mas incrível é saber que há uma estabelecida na Suécia e composta de suecos.

segunda-feira, agosto 23, 2004

Los toros (1)

Desenho de Goya
A propósito de rock torero, aqui vai uma estampa goyesca de motivo tauromáquico - um picador em faena. De notar que não há protecção para o cavalo. Da destreza e força do picador dependia a sobrevivência do cavalo, pois, escusado será salientar, o touro estava sempre com as suas defesas integrais, em pontas... A protecção para o cavalo só se tornou obrigatória no início do séc. XX.

La movida (4)

Gabinete Caligari
Eis um exemplo da iconografia do rock torero de Gabinete Caligari. Entre os seus êxitos avulta Que Dios reparta suerte (1983), onde se distinguem castanholas e referências de casticismo.

La movida (3)

Gabinete Caligari
Este grupo é emblemático do que se chegou a designar como rock torero. Na verdade, pela sua pose e temática, a designação faz sentido para esta versão de pop/rock neo-romântico à espanhola...

La movida (2)

Tino Casal (1940-1991)
Um dos mais importantes nomes da frente musical de la movida foi Tino Casal. Oriundo das Astúrias, estabeleceu-se em Madrid no início dos anos 80, depois de ter passado alguns anos em Londres. Trouxe o glam rock, inspirado por David Bowie e Brian Ferry. Com ele, a coisa assumiu proporções de rococó, pesadamente kitsch. O tema Etiqueta negra ou uma versão do velho tema Eloíse, de Barry Ryan (1968) são exemplificativos.
Casal teve uma vida acidentada. Viu a sua carreira interrompida em meados dos anos 80 por graves problemas de saúde. Em 22 de Setembro de 1991 faleceu num desastre de automóvel, em Madrid. Tornou-se objecto de culto.

domingo, agosto 22, 2004

La movida (1)

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Pedro Almodóvar - Mujeres al borde de un ataque de nervios (1988)
De novo em Madrid vem a propósito evocar la movida (cujo auge vai já para 20 anos...) Foi um movimento tipicamente madrileno, com ramificações centrífugas para algumas periferias (que não Barcelona, note-se...). O filme, talvez mais emblemático dessa onda foi Mujeres al borde de un ataque de nervios, de Almodóvar, com Carmen Maura e Antonio Banderas. Estou longe de ser um admirador do cinema de Almodóvar, porém, este filme agradou-me, sendo uma comédia engraçada e congregando uma iconografia que me seduziu. Ponto alto: o bolero Puro teatro de La Lupe. Aliás, outros filmes almodovarianos detestei ou apreciei, mas uma coisa em todos me atraiu: a banda sonora.
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Perros callejeros (2)

Apesar da popularidade da Rumba Catalana, a verdade é que a mais estimulante evolução da rumba ocorreu em Madrid, com os já mencionados Los Chunguitos (inspiradores do título deste blog), Las Grecas (duo feminino já desaparecido) e Los Chichos (ainda no activo). A incorporação de prestações rock foi decisiva nestes casos. A imagem reproduz a capa de um livro dedicado a Los Chichos.

sábado, agosto 21, 2004

Mediterráneo / Mediterrània (13): Catalunya: Barcelona

Peret (Pere Pubill i Calaf, 1965) / Rumba Catalana
Barcelona não é apenas uma cidade catalã. Para além do seu cosmopolitismo, foi destino de fluxos migratórios das mais pobres regiões de Espanha e também, desde os anos 80, de África e América Latina. Há, portanto, muitos elementos de mestiçagem que incorporou. Um dos vários resultados deste processo é a Rumba Catalana. Peret foi o seu impulsionador nos anos 60 e 70, obtendo, então, grande popularidade. Outros nomes deram continuidade ao género: Los Amaya, Gato Pérez, Los Manolos, Chipen...

quarta-feira, agosto 18, 2004

Mediterráneo / Mediterrània (12): Catalunya: Barcelona

Llantiol / Eugenio (Eugeni Jofra Bofarull, 1941-2001)
No centro de El Raval, na obscura La Riereta, está o Café-Teatro Llantiol. Deve pairar por lá o encanto de modestos espectáculos decadentes... Imagino-o com veludos desbotados e camareros entradotes. Era aí que actuava Eugenio, contador de anedotas (acudits, em catalão / chistes, em castelhano) em sessões de Stand-Up Comedy (irónica designação, pois, neste caso, o comediante actuava sentado... fumando e bebendo) - Tinha uma figura magra e longuilínia, barba rala e óculos escuros, voz cavernosa, sempre com um ar taciturno, entre o impassível e o enfastiado. Os chistes de Eugenio, num castelhano de cerrada pronúncia catalã, espalharam-se em cassete por toda a Espanha, nos anos 70 e 80. A sua especialidade eram os contos de humor absurdo, algo ingénuo e surrealista. A voz que se ouve ao abrir a página web do Llantiol é a dele.

Mediterráneo / Mediterrània (11): Catalunya

Rafael de Casanovas, 1670-1744
A pintura reproduzida tem como título, Onze de Setembre. É alusiva ao momento em que Rafael de Casanovas é ferido. Este, como Conceller en Cap da Generalitat, era o líder dos defensores de Barcelona. O Dia Nacional da Catalunha (Diada) é comemorado em 11 de Setembro.

Mediterráneo / Mediterrània (10): Catalunya

11 de Setembro de 1714
Neste dia acabou a resistência de Barcelona, após um cerco de vários meses. Esta pode ser considerada a segunda revolta catalã, no contexto da Guerra de Sucessão de Espanha. A nova dinastia vencedora, os Bourbons, retira os foros e, assim, a Catalunha perde o que restava da sua autonomia.

Mediterráneo / Mediterrània (9): Catalunya

Corpus de sang
A Revolta Catalã ficou também conhecida como Guerra dels Segadors (Guerra dos Cefeiros). Foi desencadeada quando camponeses se levantaram contra os desmandos dos soldados em trânsito para a guerra contra os franceses. O dia crucial foi o do Corpo de Deus de 1640, o qual ficou conhecido como o Corpus de Sang.
O hino nacional catalão é alusivo a estes acontecimentos.

Mediterráneo / Mediterrània (8): Catalunya

Pau Claris i Casademunt (1586-1641)
A Revolta da Catalunha durou 19 anos (1640-1659). Em larga medida foi graças a ela que ocorreu a Restauração em Portugal. O Conde-Duque de Olivares deu prioridade ao esmagamento dessa revolta, que significava mais um desafio de Richelieu. O contexto era o da Guerra dos 30 Anos, a decadência do Império Espanhol e a ascensão da França à condição de potência hegemónica. A revolta catalã somava-se a uma vasta série de levantamentos populares um pouco por todo o lado. Pau Claris, à frente da Generalitat (governo autónomo catalão) deu-lhe objectivos políticos: táctico - a procura da protecção francesa; estratégico - o estabelecimento de uma república catalã independente. Não viveu para conhecer o desenlace. Algum tempo mais tarde consumou-se o pior: o Tratado dos Pirinéus, pelo qual a França se comprometeu a ajudar a coroa espanhola a submeter a Catalunha, ficando, em troca com a sua parte Norte, a Alta Cerdanya e o Rossilhão.

terça-feira, agosto 17, 2004

Mediterráneo / Mediterrània (7): Catalunya: Barcelona

Carrer d'en Robador
Em 1982, quando fui pela primeira vez a Barcelona deparei-me, na parte mais degradada do Raval (Barrio Chino), com a Carrer d’en Robador - rua pedonal, estreita e comprida, que tinha uma animação feita essencialmente de prostituição. Sucediam-se bares que, da forma mais relaxada, ilustravam o cenário, intercalados com Sex Shops e com uma estranha espécie de lojas que ostentavam a designação de Consultório Venereológico. Em cada extremo, patrulhas políciais pareciam tomar conta da situação em regime rotineiro. Mesmo a horas tão insuspeitas como, por exemplo, as 3 da tarde, a animação era vibrante. Jovens putas instalavam-se em pleno pavimento, sentadas em altos bancos de balcão (para aí inopinadamente trazidos), de perna cruzada, com poses e indumentárias provocatórias – uma ou outra, até, sumariamente ataviadas apenas com esparsas tiras de cores brilhantes… Outras, não tão jovens, atacavam com audácia os transeuntes, cortando-lhes a passada com propostas de serviços e preços. Alegres impropérios, descontraídos piropos e algazarras musicais troavam pelo ar. Alguns neóns contrastavam com a roupa estendida dos pisos superiores.
Em 1987, de novo em Barcelona, voltei lá - toda aquela animação desaparecera. Vivia-se o auge do impacto da emergente SIDA e tinham sido encerrados praticamente todos os estabelecimentos. Estavam selados com avisos que diziam “por ordem das autoridades sanitárias”. Fiquei desolado...
Em 1991, regressado de novo, em véspera das Olimpíadas, com a cidade transformada numa estaleiro, verifiquei que o bairro estava sofrendo um processo de saneamento social. A rua em questão tinha recuperado parte da sua antiga animação, mas era visível que tudo era agora mais comedido e civilizado. Como estará agora a Carrer d’en Robador?

Mediterráneo / Mediterrània (6): Catalunya: Barcelona

Ramblas
Eis a artéria mais vital da cidade! A sua designação quer dizer ribeira que corre da montanha - de facto, no subsolo correm águas que vêm de Collserola. Por um lado, liga a Barcelona burguesa ao mar; por outro lado, dividem a Ciutat Vella em duas realidades: Barri Gòtic, turistico e Raval, parcialmente degradado. Mas as Ramblas, em si, constituem um espectáculo. Cheias de cafés, esplanadas, artistas de rua, espantosos quiosques (de jornais/revistas; de flores; de pássaros...) e, enfim, um desfilar de gentes das mais variadas. Ramblas amunt, Ramblas avall...

Mediterráneo / Mediterrània (5): Catalunya: Barcelona

Barcelona - início dos anos 80
Outra perspectiva com a Plaça Catalunya em primeiro plano. A Catedral assinala o centro do Barri Gòtic. Mais atrás, junto ao Port Vell, EL Born e ,no extremo superir direito, parte do Parc de Ciutadella.

segunda-feira, agosto 16, 2004

Mediterráneo / Mediterrània (4): Catalunya: Barcelona

Gaudí (Antoni Gaudí, 1852-1926)
Aquando da comemoração dos 150 anos do seu nascimento, a Generalitat de Catalunya e o Ajuntament de Barcelona, entre outras entidades, promoveram múltiplas actividades e iniciativas.
Em Gaudí fascina-me, além, evidentemente, da sua extraordinária obra, o seu pensamento e convicções. Foi profundamente católico, de uma forma tradicionalista/ascética e ao mesmo tempo visionária/modernista. Um aparente paradoxo que, no entanto, se traduz na sua obra e vida.
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sexta-feira, agosto 13, 2004

Mediterráneo / Mediterrània (3): Catalunya: Barcelona

Postal de início dos anos 80: Em primeiro plano a Plaça Catalunya de onde sai a linha verde das Ramblas até ao Port Vell ; à esquerda o Barri Gòtic; à direita El Raval; ao fundo, à direita, Montjuïc.

Mediterráneo / Mediterrània (2): Catalunya: Barcelona

Sagrada Família
Postal (de 191?, 192?) - fase inicial de construção

Mediterráneo / Mediterrània (1): Catalunya: Barcelona

Via Laietana
Postal de 1915

quarta-feira, agosto 04, 2004

Para siempre boleros! (2)

Esta tarde vi llover (1967)

Esta tarde vi llover
vi gente correr
y no estabas tú

La otra noche vi brillar
un lucero azul
y no estabas tú

La otra tarde vi
que un ave enamorada
daba besos a su amor ilusionada
y no estabas tú

Esta tarde vi llover
vi gente correr
y no estabas tú

El otoño vi llegar
al mar oí cantar
y no estabas tú

Ya no se cuanto me quieres

si me extrañas o me engañas
solo sé que vi llover
vi gente correr
y no estabas tú

Armando Manzanero

Para siempre boleros! (1)

Armando Manzanero
Manzanero é um grande compositor de boleros. A generalidade dos críticos fica neste plano encomioso, acresentando ser um pianista de créditos firmados (começou, aliás, como pianista). A verdade é que este mexicano de Yucatán, índio de sangue maya, é tudo isso, mas, para muitos, também é um grande cantor, com uma voz sui generis, fora de todos os cânones, com um timbre andrógeno, singular e expressivo. O tempo áureo de Manzanero já não é o tempo áureo do bolero. Quando nos anos sessenta as ondas da rádio do mundo de língua espanhola começam a ser invadidas pelos seus êxitos (Somos novios, Esta tarde vi llover, Adoro, No, Cariño mío...) já os tempos de esplendor desse género tinham passado e começava o desembarque do poderoso exército da pop e do rock anglo-saxónico. Pero yo me quedo con Manzanero....

terça-feira, agosto 03, 2004

Mariachi y tequila (1)

Livro: Arturo Pérez-Reverte - A Rainha do Sul (La Reina del Sur) (2002)
É a mais recente novela de Arturo Pérez-Reverte. A trama desenvolve-se à volta de uma personagem (Teresa), cujo acidentado percurso de vida entre Sinaloa (México) e o Sul de Espanha, acaba por a alcandorar a uma posição cimeira no mundo do narcotráfico. Um dos aspectos curiosos é a frequente alusão a Paquita la del Barrio (e também a Los Chunguitos e, sobretudo, a Los Tigres del Norte), como artistas da preferência da heroína.
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Rádio (2)

Cadena Dial
A partir da emissora Radio Callao, em Madrid, e da emissora Radio Corazón, em Barcelona, consituiu-se, em finais da década de 80, a Cadena Dial, de carácter exclusivamente musical. O seu lema, então, era "24 horas de música en español", o que deixava entrever um ecletismo apenas sujeito à limitação idiomática. Ao longo dos anos houve alterações neste conceito de fórmula musical, mas manteve-se, basicamente, fiel ao lema inicial. Hoje é uma das mais importantes cadeias de rádio com quase cem emissoras.
Dei por mim várias vezes a pensar o seguinte: até que ponto realidades como a Cadena Dial e Radiolé poderiam ter em Portugal algum tipo de equivalente?

domingo, agosto 01, 2004

Rádio (1)

Radiolé
Esta emissora começou em Madrid, em finais dos anos 80, pertencia, então, ao grupo radiofónico Antena 3. Hoje constitui uma cadeia de emissoras, em que a maioria está na Andaluzia. Faz parte do império radiofónico do grupo PRISA. Há pouco tempo mudou de nome - já não se chama apenas Radiolé, mas sim Radiolé Éxitos. Entretanto, afastou-se de um certo purismo inicial, quando o essencial da sua programação era copla e flamenco, embora estes géneros ainda predominem nas suas listas. Ouvia-se razoavelmente no Sotavento algarvio, já que a tinha uma emissora em Lepe (a famosa localidade dos morangos) que fica a poucos quilómetros da fronteira.

Castilla (3): Madrid

Madrid /Anos 80
Subindo no tempo e subindo a Gran Via até Callao. À direita temos o Palácio de la Prensa. Em contraste com os pretéritos pergaminhos de respeitabilidade da instituição, no piso térreo instalou-se uma Sex Shop. Talvez por esse facto, este passeio nobre da cidade passou a acolher um multiétnico mosaico de putas, pelo menos a partir de umas certas horas nocturnas. Isto, mesmo em frente da FNAC, que ocupa todo um edifício que antes acolhera as Galerías Preciados. Anos 80 - são esplenderosos tempos de La Movida - e apetece ouvir alguns daquelas bandas dessa era: Nacha Pop, Radio Futura, Gabinete Caligari, Tino Casal, Golpes Bajos, Semen-Up, Siniestro Total, Presuntos Implicados, Mecano e muitos e muitos outros equivalentes, por exemplo, ao nosso António Variações, pela originalidade e imaginação. Já o Generalíssimo estava mais que defunto. A Espanha vital emergira como um vulcão.

Complexo de Aljubarrota (1)

Federico González - Reflexões de um espanhol em Portugal (2004)
Sempre senti atracção por Espanha. Na verdade, Espanha e Itália por umas razões, Grã-Bretanha por razões de outro tipo, são os países que mais me atraem. Sempre viajei muito por Espanha e posso dizer que conheço Espanha e os espanhóis melhor que a maioria dos portugueses. Este conhecimento foi reforçado pelo facto de ter o meu filho a estudar no Instituto Espanhol e pelo seguimento que faço dos meios de comunicação do país vizinho. Sempre li muito sobre assuntos relacionados com Espanha, podendo dizer que conheço bastante da sua história e geografia.
É um dado conhecido, mas não devidamente tido em conta, o mútuo desconhecimento dos vizinhos ibéricos; melhor dizendo – ambos pensam que se conhecem bem e, na realidade, estão longe de se conhecer bem. O desconhecimento consegue ser ainda maior pelo lado de lá. Ora, sobre isto impõe-se a leitura de Reflexões de um espanhol em Portugal, de Federico González, o qual, com certeiro poder de observação, se deu conta da dimensão do equívoco. O livro é, aliás, delicioso e deveria ser de leitura obrigatória para portugueses e espanhóis que têm de se aturar mutuamente.