sexta-feira, setembro 29, 2006

Rádio (8)

Discos Pedidos / Dedicatórias

Umas das coisas mais simples e encantadoras que a rádio de antigamente tinha eram os "discos pedidos". Na nossa rádio já só subsistem praticamente nas pequenas e cada vez mais limitadas emissoras locais. Na rádio espanhola ainda não é tanto assim. Pelo menos na Cadena Dial podem-se escutar peticiones del oyente e, ainda por cima, con dedicatoria. Às vezes, a partir daí, desfiam-se pedaços de algumas histórias de vidas, quase sempre assinaladas pela solidão e desencontros amorosos. É o exercício de uma certa forma de romantismo ingénuo que sobrevive dificultosamente. Apreciem-se alguns exemplos conservados em arquivo: Esta Semana / Las mejores historias. Eu, por mim, bem gostaria de fazer também uma dedicatória, por exemplo, com esta balada, que tem passado precisamente nessas ondas:


quinta-feira, setembro 28, 2006

Boulevard nostalgie (22)


Léo Ferré - Avec le temps (1970)

Viagens (43): Norte de Itália / Julho - Agosto de 2001 (4)

Viagem ao Norte de Itália (Julho/Agosto de 2001) 2º Dia (tarde / noite)
É claro que em Portofino o almoço tinha que ser junto à marina. Mas, por prudência, em vez da faustosa esplanada de um ristorante, optei pela mais simples de uma trattoria. Nem por isso me livrei de uma conta de dificultosa digestão…
A viagem tinha de prosseguir, mas, renitente em abandonar estas paisagens, resolvi prosseguir fora da auto-estrada. Assim, tomei a marginal que desafia a encosta escarpada e onde, através de curvas e contra-curvas, se disfrutam de belas panorâmicas sobre a baía. Quando cheguei à cidadezinha de Chiavari impunha-se retomar a auto-estrada. Aliás, a costa, a partir daí, vai-se tornando ainda mais acidentada e deixa de haver estrada marginal. É a região de Cinque Terre, nome alusivo a cinco povoados cujo acesso só é possível por barco.
Não faltou muito que entrasse na Toscana. As montanhas de Carrara anunciavam-na. Daqui são extraídos os famosos mármores e, por causa disso, as montanhas apresentam um aspecto escalavrado. Tinha planeado seguir pela auto-estrada e fazer incursões a Lucca e Pistoia, mas havia a alternativa de passar por Pisa, a qual, contudo, implicava chegar a Florença mais tarde, por uma estrada comum. A opção acabou por ser a última.
Pisa é uma cidade de quase 100.000 habitantes nas margens do Arno. Na Idade Média fora um importante porto que sustentara rivalidade com Génova. Pois, agora está a cerca de 20 quilómetros do mar e o Arno está longe de ser navegável. O mar recuou e o rio assoreou. Foi o mesmo que sucedeu na cidade flamenga de Bruges. A torre e o conjunto monumental que a rodeia são imponentes e apresentam o mesmo estilo renascentista que encontraria em Florença. A torre pareceu-me ainda mais inclinada do que supunha. O acesso ao seu interior é interdito. Dois factos desagradáveis começaram a salientar-se: um calor excessivo e um vasto exército de turistas. Isso, juntamente com a necessidade de não chegar demasiado tarde a Florença, determinaram uma visita curta. Assim, depois de feito o abastecimento de recordações (existe uma sortido espantoso de quinquilharia alusiva ao ex-libris local), deixei a cidade de Galileo Galilei.
A chegada a Florença não esteve à altura das expectativas. Entrei por uma zona residencial moderna que se liga em transição incaracterística ao centro histórico. Além disso, rapidamente me achei consumido por um quebra-cabeças: como chegar ao destino, Hotel Medicis, em pleno centro e estacionar aí? Para grandes males, grandes remédios: como estacionar só seria possível numa garagem, pagando avultada maquia, resolvi antecipar a devolução do carro à Hertz, que tinha um escritório ainda aberto no aeroporto local. Chegar lá e encontrar, previamente, uma gasolineira aberta para deixar o depósito cheio (como era imperioso pelo contrato de aluguer), num domingo à noite, revelou-se uma aventura que descambou em sofrido transe… Era já meia-noite quando, finalmente entrei no quarto do hotel. Era um quarto grande mas fora do hotel propriamente dito. Ou seja, era um anexo exterior que estava num edifício de habitação, numa estreita rua com o sugestivo nome de Via delle Belle Donne. Tinha acabado de pagar uma brutalidade pelo aluguer do carro, outra brutalidade por uma corrida de táxi e estava cansado…

Salsa y merengue (14)


India - Dícen que soy (1994)

quarta-feira, setembro 27, 2006

Baúl de los recuerdos (13)

Fernando Salaverri - Sólo éxitos año a año: 1959 - 2002 (2005)
As canções populares podem ser faróis que sinalizam memórias de vida. Ouvidas na rádio e TV incessantemente durante um certo período, depois, eventualmente, compradas ou gravadas, podem entrar na vida de cada um, ilustrando uma episódio, fase ou, inclusivamente, associando-se a experiências emocionais. Esta é a maior força da música popular, da que pode ser assobiada ou cantarolada. Na sua expressão mais simples corresponde ao que em Espanha se designa como la canción del verano. Contudo, o fenómeno está muito longe de se limitar aos efémeros êxitos estivais... É hoje evidente que, pelo menos até finais dos anos 80, a qualidade e o êxito não estavam sempre em trajectória divergente. Sempre houve muitas canções simples de grande qualidade. Seja como for, o segredo de pôr em 3 ou 4 minutos uma melodia, ritmo que cative um público é caprichoso. Conectar com o gosto popular é um dom que merece ser estudado ou desvendado. Quanto mais não seja, tem valor sociológico. Recompilando as listas de vendas de todo o tipo de discos no mercado espanhol, durante mais de quarenta anos, Fernando Salaverri (com longo percurso profissional na indústria discográfica e na rádio) fez um trabalho inédito. Além disso, foi um trabalho exaustivo e que se apresenta de forma irrepreensível, não deixando, até, de incluir em cada ano uma cronologia política, social e artística. Conheço compilações análogas para os Estados Unidos e Itália e esta é a mais completa. Para mim, repassá-lo ano após ano é um autêntico guia de memórias pessoais.
Info in SGAE
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terça-feira, setembro 26, 2006

Complexo de Aljubarrota (6)

Prós e contras de 25 de Setembro de 2006 (RTP1)
Gravei o programa para o ver integralmente. Sem surpresa, constatei a enésima manifestação do velho complexo através dos seguintes aspectos: a verborreia da apresentadora, com alguma ignorância e uma contumaz pulsão sensacionalista; o reverente cenário de beija-mão preparado para José María Aznar. Nem a qualidade das intervenções da generalidade dos convidados pôde obviar tais incovenientes. Foi pena até porque Fátima Campos Ferreira até tem algumas qualidades para este tipo de programas...
Aznar foi um bom primeiro-ministro, porque aplicou a velha e sábia receita liberal num momento decisivo. Contudo, fora da área económica,
o seu liberalismo deixou a desejar, porque, na verdade, o seu pensamento é refém de alguma herança franquista. O patético delírio de querer associar o terrorismo etarra com o mega-atentado de 11 de Março é um sintoma desse mal genético. Enfim, trata-se de um desgraçado lastro da direita espanhola... Nas relações externas, o alinhamento com os Estados Unidos, se bem que louvável, foi demasiado primário, representou uma ruptura simbólica com algumas tradições da política externa espanhola, além de que chegou a tornar-se embaraçoso e, em última análise, pouco útil para a estratégia norte-americana. É evidente que estas questões não foram adequadamente discutidas, embora também não se perceba porque é que se enveredou tanto por estes domínios, a não ser, talvez, para tentar realçar a figura de Aznar como estadista...
Sobre
o tema, a discussão não se desprendeu do inconveniente de partir dos pressupostos habituais. Com efeito, a correcta perspectiva da generalidade dos participantes enunciou-se quase sempre em esforço contra argumentativo. Sejamos claros, uma boa parte dos repisados mitos desfazem-se num exercício simplório: olhar para o mapa da Península e ter em conta elementares dados da demografia e da história. Os dados usualmente arremessados para ilustrar a invasão económica espanhola são insuficientes face a realidades elementares. Eu diria, pelo contrário, que vinte anos após a adesão comunitária, é curioso que a presença económica espanhola em Portugal não seja ainda mais expressiva. O curioso, é que, de passagem, foram apresentados dados que atentam contra a ideia de invasão e deles não se soube retirar as devidas ilações, pelo menos para deixar no ar as mais elementares interrogações. Depois desfiaram-se outros comuns estereótipos que, de tão reiterados, sugerem que no luso terrunho se vivem pertinazes obsessões comparativas, que apelam ao divã de um impossível psicanalista colectivo... A diferença de nível de vida, por exemplo. Em Espanha é superior, mas as diferenças continuam a não ser significativas, sendo certo, porém, que nos últimos anos se acentuaram um pouco. Entre meados dos finais 50 e meados dos anos 60 a Espanha ultrapassou o nível de vida de Portugal. Desde então, as diferenças mantiveram-se dentro dos mesmos parâmetros relativos, atenuando-se ligeiramente a favor de Portugal durante os primeiros dez anos de integração comunitária. O que explica essa diferença? Uma cultura empresarial mais capitalista (centrada em três pólos: Catalunha, País Basco e Madrid) e uma armadura proteccionista de direitos laborais um pouco menos pesada. Em todo o caso, não se deve perder de vista que há acentuadas diferenças de nível de vida entre regiões espanholas. Quanto ao fado das idiossincrasias, há que sublinhar que, se é pertinente admitir uma idiossincrasia correspondente a um tipo espanhol, não é menos certo que existem diferenças entre as várias culturas que se integraram na construção histórica de Espanha. A genérica, resultou da convivência de várias culturas sob o mesmo tecto estatal durante séculos e determinou uma moldagem construída a partir do génio castelhano. Contudo, as diferenciações periféricas são acentuadas, a ponto, por exemplo, de se tornar grotesco associar salero, extroversão, alegria e outros tópicos afins à generalidade dos espanhóis. Entre nós são comuns as visões extremadas que não correspondem à realidade espanhola. Com efeito, esta está tão longe de ser invertebrada (exemplo: a ex Jugoslávia), como homogénea (exemplo: França - em devido tempo sujeita ao rolo compressor do jacobinismo). Mais coisas haveria a anotar, mas já chega.


quinta-feira, setembro 21, 2006

Cuore matto (4)


Parole, parole (Mina/Alberto Lupo vs Dalida/Alain Delon)
Compare-se, através destes dois clips, a versão original, interpretada por Mina e Alberto Lupo, em italiano, com a versão interpretada por Dalida e Alain Delon, em francês.

segunda-feira, setembro 18, 2006

Flamenco (16)


Las Grecas - Te estoy amando locamente (1974)
Las Grecas representam a erupção do fenómeno flamenco-rock. É precisamente o tema Te estoy amando locamente que o assinala. Por detrás deste fenómeno esteve a mão avisada do produtor da CBS, José Luis de Carlos. Recém-chegado dos Estados Unidos, percebeu como ninguém as potencialidades que a fusão de elementos do pop/rock com o flamenco poderia desencadear. Ele é, efectivamente, a alma deste novo som, na altura designado também por gypsy rock ou ainda, mais vernaculamente, como sonido caño roto (nome alusivo a um bairro degradado da periferia madrilena). Com este duo e com o grupo Los Chorbos (integrado pelos irmãos Losada e por Manzanita, ainda muitíssimo jovem e confinado a guitarrista), constituiu uma guarda avançada com as quais obtém um grande êxito comercial e o reconhecimento por parte da crítica. Uma plêiade de notáveis instrumentistas protagonizou a aventura. Entre eles havia um português integrado no universo musical espanhol, conhecido com o nome artístico de Johnny Galvão. Tocava guitarra eléctrica e, mais tarde, tornou-se produtor. Creio, porém, que não é ele que protagoniza o espectacular solo de guitarra eléctrica que abre a composição e que se tornou como que um ex-libris.
O duo era composto por duas irmãs ciganas oriundas de Valladolid - Tina e Carmela. Subiram rapidamente à glória, mas não foi demorada a sua queda. Delas ficaram apenas 4 álbuns. Os anos 80 consolidam o seu esquecimento. Vários outros protagonistas tomaram a liderança de um género que conheceria um novo esplendor. A trajectória de Las Grecas terminara e... em desgraça. O termo justifica-se pelo pesado drama pessoal que acabou por assolar as suas vidas (ver Las Grecas y su flamenco pop in El Chiringuito) - uma das irmãs foi apunhalada pela outra, a qual acabou por ser presa, sendo mais tarde internada num hospício psiquiátrico e acabando por falecer precocemente; a outra acabou por se radicar no México.

sábado, setembro 16, 2006

Guia hispânico (22)


José María Zavala - Los horrores de la Guerra Civil (2004)

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Francisco Sevillano Calero - Exterminio: el terror con Franco (2004)

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A leitura destas duas obras constitui dura prova contra a sensibilidade humanista de qualquer carácter bem formado. Contudo, compete à História revolver os pesadelos vividos pela humanidade, para, na medida do possível, ajudar à sua compreensão. Estes dizem respeito a um tempo e a um espaço que nos são relativamente vizinhos. São mais um contributo para que devamos entender que a distância entre civilização e barbárie é mais ténue do que este tempo (últimos 50 anos) e lugar (civilização ocidental) possam ilusoriamente induzir... Os desastres balcânicos da passada década podem ser um aviso para a possibilidade de advento de experiências já desgraçadamente vividas.
Para a sociedade espanhola, revolver estes horrores pode ser ainda traumático... mas é imperioso fazê-lo. Está já na altura de o fazer. É uma questão de elementar justiça! Compreende-se que a Transição assentasse num tácito pacto de silêncio sobre a Guerra Civil. Mas já passou mais de um quarto de século. Quanto à guerra, propriamente dita, cumprem-se agora 70 anos sobre a sua eclosão...
Não por acaso têm-se revelado nos últimos anos múltiplas obras de investigação levadas a cabo por jovens historiadores espanhóis. Se é certo que, no que diz respeito a grandes obras de síntese, o primado continua a pertencer à historiografia britânica (e a recente obra de Antony Beevor é a confirmação dessa primazia), no que diz respeito a monografias é já muito significativo o conjunto de trabalhos entretanto realizados e quase todos de autores espanhóis.
Neste caso concreto trata-se de duas sínteses temáticas sobre a violência e repressão de rectaguarda. Contudo, enquanto a primeira, indiscrimidamente, aborda os dois bandos, a segunda dedica-se exclusivamente ao bando franquista, desenvolvendo uma tese já enunciada por vários investigadores - o terror como estratégia de
política de extermínio. A primeira têm características mais acordes com a reportagem jornalística do que com a metodologia historiográfica, não deixando de ser um poderoso testemunho que paira magnificente acima de qualquer facciosismo, numa cabal demonstração de como a crueldade e fanatismo se espalharam abundantemente pelos dois lados. Pena é que a contrastação das fontes nem sempre esteja ao nível que se desejaria, podendo aqui e ali incorrer em certos laivos de sensacionalismo.
É preciso ter resistência anímica para empreender a leitura destes testemunhos. Parece-me, insisto, que seria importante que a sociedade espanhola, aparentemente já tão distanciada de todos estes horrores, se confrontasse com fantasmas que nunca chegou verdadeiramente a exorcizar.

quarta-feira, setembro 13, 2006

Cuore matto (3)


Mina - Se telefonando (1964)

domingo, setembro 10, 2006

Andalucía (17)

Jaén in Andalucía es de cine (2002)

Baeza (I) in Andalucía es de cine (2002)

Montefrío in Andalucía es de cine (2002)

Alcalá la Real in Andalucía es de cine (2002)

Há várias amostras no YouTube de clips da série Andalucía es de cine. Os exemplos acima apresentados são Jaén, Baeza, Montefrío e Alcalá la Real. De seguida reproduzo a imagem e o texto do post Geografia de Espanha 9.

Manuel Gutiérrez Aragón / Juan Lebrón / Fernando Olmedo - Andalucía es de cine (2002)
Na senda aberta por A Vista de Pajaro surgiram séries análogas dedicadas ao País Vasco e Navarra, à Catalunha e à Galiza. Recentemente tomei contacto com esta série, dedicada à Andaluzia. É, como as demais, notável, contudo, apresenta algumas particularidades que a afastam do modelo mais ou menos estabelecido. Apresenta-se como uma enciclopédia audiovisual geográfica. São 250 clips com a duração de 1 minuto e meio, dedicados a uma localidade, comarca ou serra. As mais importantes localidades são contempladas com dois ou três clips - é o caso, por exemplo, de Sevilha, Granada e de todas as demais capitais de província. A duração e concepção dão a entender que cada clip foi concebido como interlúdio nas emissões televisivas do canal autonómico Canal Sur. Esta particularidade é, à primeira vista, um pouco desconcertante mas acaba por ser entendida não só em função deste conceito de inserção televisiva, como, sobretudo, pelo carácter enciclopédico com que a edição em DVD é apresentada. Efectivamente, cada clip é apresentado por ordem alfabética e existem informações complementares como base de dados, mapas de localização e fotografias sobre cada lugar objecto do clip. A série é também original, na medida em que, por exemplo, a locução e o carácter dos textos têm um carácter muito diferente das outras séries. A locução (a cargo do actor Juan Luís Galiardo) é épica, arrebatada, muito afastada, por exemplo, da sóbria emotividade de Juan María del Río. A música é também épica (sempre o mesmo extracto da suite orquestral The Planets, de Gustav Holst) Deve-se dizer que locução e música adequam-se à natureza dos textos, da autoria do escritor José Caballero Bonald - são textos de prosa quase poética, recheados de adjectivos enfáticos e exaltantes. Sob o ponto de vista técnico é uma série extraordinária. A qualidade da fotografia e montagem reflecte da melhor maneira os avanços da tecnologia, mas reflecte, sobretudo, a mestria de um realizador como Manuel Gutiérrez Aragón. Note-se que não há uma utilização exclusiva de meios aéreos, pois há alguns planos terrestres - inovação que, tendo em conta os precedentes, quase se assume como heterodoxa, mas, que, apesar de tudo, não pode deixar de ser saudada. Por fim, uma palavra para a matéria-prima básica. Como é bela a Andaluzia! Como são belos aqueles pueblos blancos nas serranias ou nas planícies, entre olivos ou à beira das marismas!
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Euskal Herria (18)

Bermeo in La mirada mágica (2002)
Também disponível no YouTube um amostra da série La mirada mágica (Lau haizeetara). O exemplo diz respeito à localidade biscaínha de Bermeo. Reproduzo de seguida a imagem e o texto do post Euskal Herria 3.

Iñaki Pangua - Euskal Herria: Lau haizeetara / La mirada mágica (2002)
Inspirada por A vista de pájaro, a Televisão autonómica do País Basco (EITB) produziu e exibiu uma série que cobre todos os territórios de Euskal Herria (País Basco, Navarra e Iparralde ou País Basco francês) através de vistas aéreas a partir de helicóptero. Foi há pouco tempo editada em dez DVDs. Cerca de década e meia depois, o nível técnico é muito superior ao da série inspiradora. Por outro lado, dado o âmbito geográfico muito mais restrito, o detalhe é muitíssimo maior. Toda esta belíssima região tem, deste modo, um meio de divulgação que lhe faz jus.
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Mediterráneo / Mediterrània (31): Valencia

Valencia in A vista de pájaro (1988)
Eis aqui o terceiro post alusivo à série A vista de pájaro. A sua oportunidade consiste em apresentar este exemplo disponível no YouTube. O trecho diz respeito à cidade de Valencia.

quinta-feira, setembro 07, 2006

Soulsville (8)

Isaac Hayes - Walk on By (1969)
Eis o grande Ike numa apresentação televisiva que remonta a 1969. Foi precisamente nesse ano que se editou o aclamado Hot Buttered Soul, que virou uma página na sua carreira artística, até então, no essencial, confinada aos desempenhos de instrumentista e compositor. É desse álbum o tema aqui presente apenas pela metade. Com efeito, dificilmente a sua duração total seria compatível com as exigências televisivas, da mesma forma que não se imagina a apresentação em TV de alguns dos seus mais emblemáticos temas... Walk On By é um standard de Bacharach & David aqui suavemente transfigurado.

terça-feira, setembro 05, 2006

Il bel paese (3)

Itália - Mapa Dialectal

Il bel paese (2)

Italia Irredenta
A Itália é um estado recente. Foi formada no terceiro quartel do século XIX a partir do Piemonte (Monarquia da Casa de Sabóia). Esse estado englobava também o Vale d’Aosta, a Ligúria e a Sardenha. Todo o resto da Península Itálica estava retalhado por várias soberanias (Império Austríaco, no Norte e Nordeste; vários pequenos estados independentes, no Centro-Norte; Estados Pontifícios, no Centro (incluindo Roma); Reino de Nápoles, no Sul e Sicília.
O processo de unificação designa-se Rissorgimento. O seu objectivo era estabelecer uma unidade estatal em toda a Península Itálica e ilhas adjacentes. O novo estado corresponderia a uma unidade geográfica natural e, neste contexto, Roma estaria naturalmente destinada a ser a capital, sendo que, ainda por cima, estava investida de poderoso significado histórico. Por outro lado, em todos esses territórios falavam-se línguas latinas e havia uma óbvia unidade religiosa – ao longo de séculos o catolicismo reforçara uma unidade cultural básica.
A consciência patriótica italiana desenvolveu-se a partir do início do século XIX, sobretudo entre a burguesia. Estabeleceu-se, sem grande discussão, o superior prestígio do toscano (idioma de Dante, Petrarca e Bocaccio) sobre todos os demais, assim como a vantagem de ser inteligível pelas populações meridionais e setentrionais. O toscano já era, aliás, a língua literária da inteligência de toda a Península, ainda que, no Norte, em situação de partilha com o francês ou alemão.
Alcançar a unificação política implicou guerras com o Império Austríaco e com a Santa Sé, que tiveram desenlaces vitoriosos, não só graças à mobilização do entusiasmo patriótico, mas também, ao apoio da França.
Contudo, quando o Rissorgimento alcançou os seus objectivos básicos, permaneciam fora da Itália territórios que reuniam requisitos geográficos e culturais de italianidade. Eram: Córcega e Nice (França); Ticino (Suiça); Trentino, Trieste e Fiume (Império Austro-Húngaro). Os patriotas radicais ainda adicionavam, com voluntarismo: Zara e toda a Dalmácia (Império Austro-Húngaro), Albânia e Malta. Em relação aos territórios franceses havia como que um tácito acordo de renúncia como contrapartida tácita pelo apoio francês. Quanto ao Ticino havia a consciência de que a população local permanecia alheia a qualquer tendência centrífuga em relação à Suiça. Onde a questão se colocava de forma aguda era em relação aos territórios sob soberania austríaca – extensos, importantes e onde havia uma opinião pública entusiasticamente envolvida no objectivo de se unir à Itália. É a partir daqui que surge o movimento Italia Irredenta, que visa completar a unidade italiana. Ele foi decisivo na reviravolta de alianças, aquando da eclosão da Grande Guerra em 1914, e foi a base sobre a qual se alicerçaram os primeiros ímpetos imperialistas do Fascismo. No pós II Guerra Mundial o irredentismo corporizou-se no vasto movimento de reintegração de Trieste no território italiano.

Galícia (11)

Andrés do Barro - San Antón (1970)
É espantoso o que se pode encontrar no YouTube. Dos tempos de miúdo passados no Porto, das audições que à noite fazia da Rádio Popular de Vigo e outras emissoras galegas, lembro-me bem desta canção de Andrés do Barro. 15 anos depois descobri o correspondente LP em Lisboa, na já desaparecida Discoteca Roma. Aliás, comprei esse e outro LP de Andrés do Barro, ambos incrivelmente baratos, em saldo. Quase todas as canções eram cantadas em galego. Além disso, tinham um estilo que era uma espécie de fusão entre pop comercial da época com referências folclóricas regionais. Isto que aqui aparece é um trecho de um filme. Andrés mais a sua namorada (papel desempenhado por Conchita Velasco) vão a uma romaria galega. Não faltam gaiteiros ataviados à maneira, nem outros elementos genuinamente galegos. Tudo isto tem um delicioso sabor retro... Infelizmente, Andrés do Barro já morreu. Desapareceu precocemente, mas deixou uma memória que ultimamente tem sido reavivada. Apesar de ter representado uma tedência algo datada e um pouco efémera, teve mais importância do que possa parecer. Em finais dos anos 60 e início dos 70 protagonizou não só a tentativa de afirmação de uma música popular moderna cantada em galego, como conseguiu um feito extraordinário ao conseguir posicionar algumas das suas canções cantadas em galego em elevadas posições nos tops de venda de toda a Espanha.


Dobarrismo in Blog A Regueifa

sábado, setembro 02, 2006

Galícia (10)

Castelao - A Derradeira Lección do Mestre (Série de desenhos Galicia Mártir)

Alfonso Daniel Rodríguez Castelao foi um nacionalista galego de múltiplos talentos: formado em medicina sem ter exercido, espraiou-se na escrita, como dramaturgo, contista, antropólogo; foi também desenhador e caricaturista. O seu talento para o desenho pode ser apreciado em A Derradeira Lección do Mestre. Vivia-se a Guerra Civil e Castelao estava refugiado na zona republicana, concretamente em Valencia. Aí fez três séries de desenhos: Galicia Martir, Átila en Galicia e Milicianos. Constituem uma denúncia dos horrores cometidos na sua região pelos insurrrectos militares e seus apoiantes falangistas e requetés. Este exemplo é o mais comevedor. Dois miúdos vêem, consternados, o cadáver do seu professor fuzilado. Sublinhe-se que dois colectivos foram alvos preferenciais da barbárie: sacerdotes e professores. Se um bando eliminou milhares de sacerdotes, o outro bando não ficou atrás no que diz respeito aos professores. Porquê os professores? A maioria era de esquerda e em zonas rurais constituíam uma espécie de guarda avançada da modernidade para os espíritos, num universo conservador, hostil. Eram agentes de uma formatação ideológica concorrente com tradicionalismo clerical. Na verdade, muitos eram socialistas, muitos eram republicanos, alguns eram anarquistas e um ou outro era comunista. Todos foram indiscriminadamente tratados como perigosos rojos e sujeitos às maiores violências. Os fuzilamentos sumários junto aos cemitérios ou nas bermas das estradas eram uma constante. Ser professor, como ser operário, para já não referir, claro está, dirigente político de um partido da Frente Popular, era só por si condição de candidatura a vítima do capricho assassino de um qualquer falangista ou requeté. Muitas vezes os corpos jaziam dias e dias no lugar da execução - era uma forma de constrangimento pelo terror. Ao contrário do que se possa imaginar, a Galiza e outras regiões desde o início submetidas ao jugo insurrecto sem resistência assinalável, conheceram uma repressão de rectaguarda mais feroz do que outras mais tardiamente conquistadas.

Museo Castelao