sábado, abril 26, 2008

Cuore matto (21)

click to comment
Antonello Venditti - Diamanti (2007)
Antonello Venditti é um cantautor já veterano da cena musical italiana. Com efeito, tem uma carreira com já mais de trinta anos e assinalada por um punhado de êxitos. O seu registo é um pop mais próximo do rock do que do cançonetismo. Nada na sua música é especialmente relevante, a não ser que alguns dos seus êxitos têm uma qualidade acima do padrão do género e que a sua voz apresenta um timbre deveras original. Muitas das letras, mediante um certo azedume céptico, contribuem para uma imagem de herói rebelde ou, pelo menos, incompreendido. Ao mesmo tempo, tem o cuidado em não não cultivar uma imagem comercial, nem, tampouco, em sustentar forçadamente receitas musicais para o público mais jovem - em contraste, por exemplo, com o que sucede com o seu conterrâneo Eros Ramazzotti. Nem por isso, Venditti deixou de alcançar níveis de popularidade interna talvez superiores, mas, em contrapartida, não pôde, jamais transcender as fronteiras transalpinas... Provavelmente, nunca apostou decidamente nessa expansão e sente-se realizado com a grande popularidade que alcançou na sua cidade, Roma. Na verdade, nas suas músicas, há constantes referências à cidade e, por outro lado, sempre fez gala da sua devoção fuebolística pela AS Roma, a ponto de ser o intérprete do hino oficial do clube.
Para conhecer Antonello Venditti esta antologia é a forma mais indicada. Na ausência da possibilidade de a adquirir por cá, a alternativa é a compra via Internet ou, então, anotar como encargo para futura visita a Itália. É uma súmula num único CD de uma antologia mais ampla, de três CDs, com o mesmo título e a mesma capa. Nesta, porém, cabem todos os seus grandes êxitos.
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Web: Antonellovenditti.com



Antonello Venditti -
Ci vorrebbe un amico (1984)

terça-feira, abril 22, 2008

Viagens (57): Norte de Itália / Julho - Agosto de 2001 (9)

6º Dia (5ª Feira)

Nesta viagem, o hotel de Milão foi o melhor de todos e, curiosamente, também o mais barato. Estava localizado na zona ocidental, próximo do recinto de exposições, sendo esta proximidade apresentada na sua página web como a sua maior vantagem. Porém, a localização afastada do centro implicava a utilização de transportes públicos. O metro era o mais prático, só que estava um pouco distante. A alternativa era o eléctrico. Com efeito, Milão tem linhas de eléctrico com composições de cor alaranjada, compridas e estreitas. Logo de manhã o objectivo era ir à Igreja de Santa Maria delle Grazie, a fim de garantir a entrada para o Cenáculo, onde está a Última Ceia de Da Vinci. Não queria correr o mesmo risco que em Florença. Sucede que a igreja ficava perto e para lá chegar bastaram alguns minutos a pé, por agradáveis zonas residenciais, onde se respirava conforto e bom-gosto burguês. Quando cheguei à igreja, comprovei que, definitivamente, a avalanche turística não chegara ali; havia bastante gente mas nada que se comparasse com o que se vira nos dias anteriores. Mesmo assim foi necessário fazer uma marcação para as duas da tarde. Assim, o objectivo imediato tornou-se, entretanto, o centro, via eléctrico. Quando ao entrar fazia menção de pagar os bilhetes, o condutor fez um simpático sorriso, abanando a cabeça – não vendia bilhetes; ao mesmo tempo, fechou as portas e senti-me, assim, convidado a viajar à borla. Ocorreu-me que seria de aproveitar para visitar o Museu do Teatro alla Scala. Milão é a capital do mundo operístico. Nova Iorque (Metropolitan), Londres (Covent Garden), Paris (L’Opera) e Barcelona (Liceo) são os pontos fulcrais do circuito operístico, mas La Scala é o mais importante. O museu está no edifício do teatro e não só acolhe um amplo espólio de adereços de artistas e compositores como proporciona uma panorâmica da sala de espectáculos a partir de alguns camarotes. Causa impacto estar naquela sala tão famosa, que, tanto quanto sei, é parecida com a do São Carlos. Perto de La Scala está o “quarteirão da moda” (Il Quadrilatero). Do que se seguiu, só vi coisa comparável na parte superior da Quinta Avenida de Nova Iorque. A Via Monte Napoleane, a mais importante das que compõem o quarteirão, é toda ela glamour. Montra após montra deparamo-nos com sofisticação. Zara e outros simpáticos contributos para melhorar a indumentária popular não tem ainda guarida aqui. É coutada de Versace, Ferragamo, Giorgio Armani, Gucci e afins... Aqui estão as suas sedes. São lojas amplas e espaventosamente decoradas. Os preços são inverosímeis. Encarar um par de sapatos que ostentasse menos de 250.000 liras (25.000 escudos) foi impossível. A média não deveria andar longe das 500.000. Mas havia abundância de preços delirantes, que eram mais do que inacessíveis... Apesar da minha quase indigência em matéria de roupa, não desdenho sempre quem se veste bem – é uma algo que não é demasiado importante para mim, mas não encaro como inconveniente em certas pessoas... O certo é que gostei do que vi. Bem antes das duas horas estava de novo junto a Santa Maria delle Grazie. O regresso fora de eléctrico e... (outra vez) à borla - sempre era mais agradável que de metro e... pagando. Era um modesto contributo para dar razão ao qualificativo portoghese que em Itália, desde uma embaixada quinhentista de D. Manuel I a Roma, significa borlista ou "penetra".
São impressionantes os cuidados que rodeiam a visita ao Cenáculo. Para ver um dos mais famosos frescos da humanidade os visitantes são filtrados de modo a que lá dentro o número de presenças seja sempre reduzido. A Última Ceia apreciada no seu verdadeiro contexto parece estranha. À força de tanto vê-la reproduzida, resulta insólito verificar que ocupa toda a parte superior do espaço de uma parede, que nem sequer é muito ampla e que colide com a ombreira de uma porta, a qual lhe rouba espaço vital.. As cores são tão suaves que se tornam esbatidas, mas a sensação de profundidade é notória, sobretudo quando nos afastamos. No exterior havia todo o tipo de informações, incluindo as referentes aos trabalhos de restauro, por conta da Olivetti. É um pequeno espaço museológico exemplar que sabe enquadrar da melhor maneira o que apresenta.
O resto da tarde foi passado no quarto do hotel - formidável refúgio do calor que não dava tréguas. À noite voltei ao mesmo restaurante da véspera e cirandei pelas lojas da
Galleria Vittorio, em particular pela labiríntica livraria Feltrinelli...

sábado, abril 19, 2008

Mediterráneo / Mediterrània (49): Catalunya

click to comment
Ildefonso Falcones - La catedral del mar (2006)
Este romance histórico tem sido um estrondoso êxito de vendas. É um facto tanto mais notável quanto se trata da estreia de um escritor, no caso um advogado barcelonês de meia idade. Porém, o êxito é compreensível dada a junção de dois ingredientes: um sedutor cenário histórico e um enredo imaginativo, recheado de peripécias e emoções. Este último factor decorre de algo indispensável para se obter um bom romance: ter uma boa história para contar. Na verdade, estamos perante uma boa história, que, aliás, daria um bom filme... Contudo, é precisamente o impacto da história que suscita algumas debilidades, as quais se manifestam em certos aspectos da sua articulação com a História.
É evidente que um romance histórico não se confunde com um compêndio de História, mas presume-se que cumpra regras básicas de verosimilhança. Ou seja, sabe-se que é ficção, mas não é ilógico admitir que pudesse ter sucedido. Portanto, a erudição historiográfica do romancista é, geralmente, muito útil. Pois, note-se que o autor, para além do visível gosto pela História, teve o cuidado de se documentar. Num esclarecimento final refere as suas fontes, nomeadamente a mais importante que foi a Crónica de Pedro III, o Cerimonioso, monarca da coroa aragonesa, cujo reinado incide no centro do convulsionado século XIV. Assim, muitos acontecimentos descritos não são ficção, estando detalhadamente descritos nessa crónica. Do mesmo modo, muitos detalhes sobre as leis, usos e costumes foram retirados de diversas fontes da épocas, nomeadamente compilações jurídicas como as Usatges catalãs. É assim um romance intrinsecamente histórico, sendo emblemático desta natureza que seja inspirado e desenvolvido em torno da igreja de Santa María del Mar - um dos mais destacados exemplos do gótico na Catalunha - implantada no coração de um dos mais antigos bairros de Barcelona, El Born. Em certo contraste com esta natureza e com tão evidentes cuidados de inserção histórica, sucede que o enredo aqui e ali implica que se incorra em algum anacronismo, mais concretamente, naquele tipo de anacronismo que diz respeito às mentalidades. Com efeito, os heróis protagonistas, Bernat Estanyol e, sobretudo, o seu filho Arnau Estanyol, por vezes, pensam e vêem o mundo não tanto como homens daquele tempo medieval, mas mais como homens deste nosso tempo. Diga-se que tal óbice é frequente nos romances históricos, mas que neste caso, dado os cuidados de rigor, não deixa de ser assinalável. Seja como for, para além de ser uma excelente história, não deixa de ser um magnífico contributo para se entrar na História de um tempo e de um lugar fascinantes: Barcelona e o mundo mediterrâneo nos finais da Idade Média.
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

sexta-feira, abril 18, 2008

Cuore matto (20)

click to comment
Mina - Catene (1984)
Numa carreira tão longa e eclética como a de Mina é inevitável que se destaquem períodos de maior e menor fulgor. Alguns álbuns dos anos 80 encontram-se, definitivamente, entre o que de menos interessante se apresenta na sua carreira. Catene é um duplo álbum, cujo 1º volume (em certas edições os dois volumes chegaram a ser vendidos como unidades independentes) é um pouco desafortunado. É certo que alguém disse, e é possível que fosse a propósito de Mina, que, com certas vozes de eleição, até ouvir cantar a lista telefónica pode ser emocionante... Contudo, a manifesta displicência na escolha de repertório, que é em alguns outros álbuns como que um divertido desplante, assume aqui proporções um pouco caricatas, pela futilidade dos diversos estilos contemplados e porque, às vezes, os arranjos não ajudam. É esse o caso da abominável versão de Strangers in the night... Contudo, não deixam de existir momentos bem compensadores. Assim, encontramos, como que perdido no 1º volume, uma agradável versão evanescente de Estate e, no 2º volume, um naipe de interessantes originais, onde sobressai Rose su rose. Em todo o caso, sublinhe-se que a sua voz apresenta-se aqui com elevado poder, confirmando que nos anos 80 esta, talvez, tivesse atingido o climax, pelo menos no que diz respeito à sua cambiante de timbre mais agreste.
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10


Mina - Rose su rose in Catene (1984)

terça-feira, abril 15, 2008

Flamenco (34)


Flamenco 2008 - Festival de Lisboa
No próximo sábado, na Aula Magna da Reitoria da Universidade Clássica de Lisboa actuará um dos maiores nomes da actual cena flamenca: Miguel Poveda. Não é demais dizer que é um grande acontecimento para os amantes da arte flamenca em terras lusas... De notar que o recital se insere num festival flamenco, que, desde o passado mês de Março, tem vindo a levar a cabo iniciativas variadas, como colóquios e exibições de filmes.

quarta-feira, abril 09, 2008

Flamenco (33)

click to comment
Miguel Poveda - Viento del Este (1995)
Este é o primeiro álbum de um cantaor que, sob diversas formas, foge aos parâmetros comuns, mas que vem adquirido crescente projecção. Não tem origens ciganas e é catalão - nascido em Badalona, subúrbios de Barcelona. A sua família, ainda que humilde e imigrante, não tem tradições musicais, nem tampouco raízes andaluzas. O pai é murciano; a mãe é manchega.
A discografia de Miguel Poveda é ainda curta, mas já apresenta destaques de monta. Assim, contactar com este primeiro álbum pode ser, até certo ponto, algo de contrastante com o que que é mais actual na sua carreira. Nesta primeira gravação predominam os cantes mineros, mas quer estes, quer os mais ortodoxos cantes aí interpretados dão-nos um registo de um flamenco mais próximo do jondo do que de experiências fusionistas... Seja como for, sobressai um voz de forte expressividade. Desde então para cá, Poveda tem percorrido caminhos mais ousados e, por isso, tem sabido seduzir uma crítica que o tem enaltecido, mas é sobre esta voz, entretanto mais amadurecida, que assenta o essencial do seu valor.
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Web: Miguel Poveda

Miguel Poveda - Y yo qué culpa tengo (tangos) (1995)