sexta-feira, outubro 29, 2004

Mediterráneo / Mediterrània (22)

Maria del Mar Bonet - L'Aguila Negra (1971)
Em 1971, em plena maré ascensional da nova cançó, Maria del Mar Bonet publica o seu segundo álbum. Um ano antes havia publicado o primeiro, Maria del Mar Bonet (Fora d’es sembrat), mas já em 1967 e 1968 havia publicado um single e dois EP’s, respectivamente. Tinha pouco mais de 20 anos, possuía um timbre de voz melodioso e dedicava-se, especialmente, a recriar temas populares maiorquinos. Nesta orientação convergiam duas linhas: a canção de intervenção e o folk. O álbum confirma a orientação, embora também inclua temas de pura canção de texto, de poetas e compositores reconhecidos, assim como temas da sua autoria. Aliás, Cançó per una bona mort e Mercé (este último uma homenagem à sua mãe) são ambos de sua autoria e são os melhores. Apesar de um pouco desigual, há neste álbum uma frescura e um lirismo encantadores. De notar que a reedição em CD é feita a partir da reedição em LP feita dez anos depois da primeira edição, incorporando um tema que não constava originalmente, embora tivesse sido editado na mesma época. Esse tema é L’águila negra - versão catalã de L’aigle noire, de Barbara - e acabou por ser utilizado como título das reedições, já que o original ostentava como título, apenas, o nome da cantora.
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Audio Sampler Terra Musica Premium (fazer busca a álbum "Aguila Negra")

Mediterráneo / Mediterrània (21): Mallorca

Maria del Mar Bonet - Saba de terrer (1979)

A produção discográfica de Maria del Mar Bonet alberga várias pérolas. Até meados dos anos 80, entre os discos dedicados à música popular maiorquina, este é, para mim, o melhor. Só por si, o tema de entrada, o romance tradicional, Sa des cavaller, é esplendoroso, sendo que o resto, porém, em nada desmerece... Nunca a sua voz soou tão etérea. A capa, reproduzindo uma velha foto de artesãs maiorquinas, sugere o ambiente tradicional de onde provem a música. Os arranjos e a concepção artistica global indicam uma cuidada prospecção pela música tradicional maiorquina. Mas, se os arranjos não estão longe do purismo tradicionalista é por uma via elaborada, pois não deixam de evidenciar formação erudita, algo que se nota particularmente no último tema - El cant de la sibil.la.
Temos também oportunidade de apreciar como o dialecto mallorquí, apresenta, comparativamente com o catalão padronizado, uma doçura fonética arcaizante que, provavelmente, o aproxima do provençal. Já agora, vem a propósito esclarecer que saba de terrer, significa sapato de terreiro, terreiro de festa, de baile. É, portanto, uma alusão às festas tradicionais.
Pena é que a 1ª edição em CD seja tão pobre em informações e grafismo, comparada com a edição original em LP.
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Audio Samper Sapo XL Música (Fazer busca a título Saba de terrer)

Mediterráneo / Mediterrània (20): Mallorca

A maiorquina Maria del Mar Bonet é o nome mais importante da canção catalã. Ao longo da sua carreira, apesar de algum ecletismo, são dominantes as referências às suas origens maiorquinas. Cantou sempre exclusivamente em catalão, ficando assim confinada a uma projecção relativamente limitada.

Mediterráneo / Mediterrània (19): Mallorca

Palma de Maiorca (início dos anos 50)
Panorâmica da Baía de Palma, desde o castelo de Bellver. No centro, a parte mais antiga da cidade, onde se destaca a catedral. Ao fundo, no lado direito, S'Arenal, onde hoje se estende uma longa fila de hotéis.

Mediterráneo / Mediterrània (18): Mallorca

Mallorca (início dos anos 50)
Eis um traje tradicional maiorquino. Em tradições (vestuário, danças...) e na língua (dialecto mallorquí) a ilha permaceu como um repositório da mais ancestral catalanidade sujeita a influências mediterrâneas mais meridionais (berberes, árabes...).

Mediterráneo / Mediterrània (17): Mallorca

Mallorca (início dos anos 50)
Os folhetos turísticos anteriores aos anos 60 revelam-nos uma realidade bem diferente da que surge com o turismo de massas, o qual, em larga medida, veio a transformar a paisagem. Contudo, neste caso concreto, esta advertência não será tão pertinente, pois a paisagem da costa montanhosa do ocidente de Maiorca (Tramuntana) não foi muito alterada.

Mediterráneo / Mediterrània (16): Mallorca

Baleares
Região Autónoma: Illes Balears/Islas Balears (947.000 habitantes)
Capital: Ciutat de Palma/Palma de Mallorca (334.000)
Índice Paridades de Poder de Compra: 115,7 (Média UE25 = 100)
Ilhas: Menorca (72.000); Mallorca (677.000); Eivissa/Ibiza (88.000); Formentera (5.500).

quinta-feira, outubro 28, 2004

Mariachi y tequila (8)

Mariachi Vargas de Tecalitlán - Lo mejor de lo mejor (1990)
Na colecção de antologias Lo mejor de lo mejor, da RCA Victor/ México, temos este duplo CD que é do melhor que se pode encontrar no género. O Mariachi Vargas, da pequena cidade de Tecalitlán (extremo sul de Jalisco), é tido como o mais conceituado, tendo uma trajectória histórica.
O género Mariachi tem o seu epicentro no estado de Jalisco (capital: Guadalajara) e é a forma mais tradicional de execução de música ranchera. Para além do conhecido tipicismo dos atavios dos músicos, a orquestração é rica, combinando uma vasta secção de cordas com uma poderosa secção de metais. Na sua versão Norteña (a qual, mais que versão de Mariachi, é um outro género que abarca também a música ranchera), o acordeão assume um protagonismo, que aqui apenas se entrevê esporadicamente. A origem do Mariachi remonta à presença francesa nos mais altos meios da sociedade mexicana do século XIX. O termo, aliás, deriva da corruptela de marriage. Com efeito, a origem destes grupos parece encontrar-se nas festividades de bodas entre as elites terratenentes de Jalisco.
O músico mariachi tornou-se um símbolo do México bravio. Não se trata de um simples músico, mas de um cow-boy rude, que no intervalo de aventurosas andanças se expande em desaforados comportamentos. Desce à cidade para beber, tocar e deitar-se com uma mulher a jeito... Esta imagem foi reforçada através de mitologia popular de heróis emergentes de uma confusa história de revoluções e acabou por ficar sedimentada através do cinema mexicano dos anos 40, 50 e 60.
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Mariachi y tequila (7)

Robert Rodríguez - El Mariachi (1992)
Robert Rodríguez, de San Antonio (Texas) - coração do universo chicano - já tinha um percurso de colaboração com Quentin Tarantino, quando em 1992 se abalança como argumentista e realizador para uma produção de baixo orçamento, que se centra na temática e iconografia do Mariachi, de uma forma original, vanguardista mesmo... Apesar dos meios rudimentares, do plantel de actores pouco menos que anónimo, o filme teve um justo sucesso, de tal modo que dele haveria uma sequela - Desperado, já com um orçamento dem diferente e integrando vedetas como Antonio Banderas, Salma Hayek e, já agora... Joaquim de Almeida. Apesar de não desmerecer (de facto, também é bom...), não consegue alcançar a mesma surpreendente originalidade.
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quarta-feira, outubro 27, 2004

Mariachi y tequila (6)

José Alfredo Jiménez (1926-1973)
Alguém disse (Tony Évora in El Libro del Bolero) que não há nada mais intrinsecamente machista que a música ranchera. É bem possível, tanto mais que são evidentes, no seu conteúdo e pose, traços marcantes de uma cultura de fronteira, feita de bravatas e fanfarronices em narrativas épicas. Curiosamente, José Alfredo Jiménez, el Rey, que foi o maior compositor do género, assume, várias vezes, uma imagem que poderíamos designar como de "macho fragilizado"... Este facto não será alheio à sua dependência do álcool, que causou um processo degenerativo que culminou na sua morte precoce.
A protagonista da novela de Pérez Reverte, A Rainha do Sul, por entre as múltiplas referências musicais que evoca (entre narcocorridos e Paquita la del Barrio), reserva a mais sentimental para uma ranchera de José Alfredo. Esse é o momento em que a surpreendemos mais comovida, lembrando o seu México distante.

Salsa y merengue (4)

Juan Luís Guerra / 4.40 - Bachata rosa (1990)
A República Dominicana está na metade Oriental da Ilha Hispaniola (a metade Ocidental é o Haiti, de língua francesa). Foi o primeiro ponto do Novo Mundo onde os castelhanos se estabeleceram e foi, portanto, a primeira realização humana do que viria tornar-se a Hispano-América. Nos tempos coloniais, o seu nome era Santo Domingo, como ainda é o da capital. Actualmente é um popular destino de férias, graças às suas praias e paisagens paradisíacas, gozáveis a convidativos preços. Entre os muitos turistas que aí chegam serão poucos os que conhecem a importância da música dominicana. No entanto, para tal, bastaria conhecer Juan Luís Guerra...
Desde os tempos em que, com um punhado de compatriotas, em Massachusets (meados dos anos 80), constituiu o grupo 4.40 (espécie de versão latina dos Manhattan Transfer), Juan Luís Guerra começou um percurso que evoluiria até lograr um feito: a divulgação mundial da bachata e o merengue (géneros musicais do seu ignoto e pobre terrunho...). A primeira é uma forma de bolero local; a segunda é um ritmo frenético que ecoa africanidade.
Nada melhor que entrar nestes sons por via deste álbum, que é uma prova de como qualidade e êxito comercial podem andar a par. Não obstante outros notáveis trabalhos de Juan Luís Guerra (assim como de Victor Victor, por exemplo), Bachata Rosa é insuperável e, constituiu, além do mais, uma revolução, pela divulgação mundial que lugrou obter. No Verão de 1991, toda a Espanha era sacudida pelo ritmo de Rosalía, de A pedir su mano e de La bilirrubina, ao mesmo tempo que reencontrava o sabor do romantismo com Borbujas de amor. Ecos desse êxito chegaram, inclusivamente, até nós, pela divulgação feita na Rádio Cidade (então na moda...) deste último tema - o que proporcionaria um espectáculo do artista e do seu grupo em Cascais, a que eu tive, aliás, a oportunidade de assistir. Borbujas de amor teve, de facto, repercussão mundial, quer directa, quer também indirectamente, por via das de algumas versões locais. No Brasil, por exemplo, Raimundo Fagner fez uma versão que teve sucesso.
Com a sua figura longuilínea de quase dois metros de altura, com a sua barba rala, ominipresente chapéu e roupas garridas, Juan Luís Guerra, em tournées e televisões, tornou-se um ícone da música latina e um dos mais fortes representantes do que se convencionou designar como world music.
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terça-feira, outubro 26, 2004

Viagens (6): Picos de Europa / 2001 (1)

1º Dia – 4 de Abril (4ª Feira)

O tempo não prometia. Chovia e não havia abertas. Foi assim até mais de metade da auto-estrada Lisboa-Porto. Só o cessar da chuva e uns tímidos raios de sol, por alturas da área de serviço de Antuã, deixaram entrever alguns motivos para menor pessimismo.
A Sempre Invicta foi atravessada perifericamente, pela Ponte do Freixo e pela VCI. Sucede que o destino imediato era Mirandela e a minha cidade, neste contexto, não era objecto de passeio. Ainda assim, anotei como Vilar de Andorinho e Avintes estão muito diferentes dos tempos da minha infância – perderam muito do ar rural e suburbanizaram-se. Descortinei algumas fileiras de vivendas geminadas, com bom aspecto. Os grandes blocos de apartamentos que entretanto surgiram, estão ainda longe de predominar.
Entretanto, a chuva voltara. Em boa verdade, o passeio começava a partir do Porto. A minha atenção redobrara, mas os horizontes estavam pouco generosos. Da auto-estrada para o Marão fui entrevendo uma paisagem verde, salpicada por vivendas. Sobranceiro, num alto, vi Penafiel. A seguir, ao longe, adivinhei Marco de Canaveses – ambas visitadas no ano anterior. Desse passeio era impossível deixar de recordar as belezas de Amarante e o pormenor mórbido da passagem pela fatídica ponte de Entre-os-Rios...
A subida do Marão consistiu numa imersão nas nuvens, sem se ver mais do que as guias das bermas. O piso estava escorregadio e o limpa pára-brisas trabalhava em cadência acelerada. Logo após a passagem do ponto mais alto, a chuva parou. Pouco depois, Vila Real foi avistada, mostrando um crescimento próprio de capitais de distrito.
O tempo ia ficando, definitivamente, muito melhor. Havia nuvens escuras, mas a chuva desaparecera de todo e até surgiam horizontes com sol. Isto dava ânimo, assim como a noção de que iria conhecer a paisagem transmontana. Tinha presente os lugares-comuns acerca da sua rudeza, os quais, desde logo, se confirmaram. A densidade populacional vai-se tornando escassa – deixara-se de se avistar casas e o tráfego rareava. Nas margens da IP4, a vegetação era mais rasteira e emergiam penedos graníticos. Bonito!
Ás cinco da tarde entrava em Mirandela. Foi fácil encontrar o Hotel D. Dinis - um edifício moderno, demasiado grande para a escala do lugar. Gozei o privilégio de ter o quarto sobranceiro ao Tua e ao centro. Da linha do casario, sobressaíam a fachada do edifício da Câmara Municipal e a igreja, ao seu lado. Era, surpreendentemente, uma construção moderna, cuja traça, porém, se integrava no conjunto. Mas parecia-me insólito que não existisse uma antiga igreja matriz antiga. Um passeio nos minutos seguintes revelaria a realidade – a igreja nova era, afinal, um acrescento à antiga. Diga-se que, se sob o ponto de vista arquitectónico, a coisa tinha o seu interesse, mas achei insólito...
O mais bonito da terra é, sem dúvida, a ponte e o espaço ribeirinho. O Tua é, já de si, um senhor rio. Com uma represa a jusante, conseguiu-se um espelho de água, o qual, com os espaços ajardinados das margens, proporciona um panorama airoso. A ponte romana está reservada para peões, com bancos distribuídos longitudinalmente para as pessoas se sentarem como num jardim.
Depois de um agradável passeio, nada melhor do que um soberbo jantar. Assim aconteceu no restaurante O Grêz. Um óptimo naco de carne transmontana, servida de forma simpática e eficiente, fez-me reflectir, pela enésima vez, sobre como se como bem no Norte e fez-me ainda lembrar um cozinheiro transmontano estabelecido na Amadora, o Jaime de O Cordial.

terça-feira, outubro 19, 2004

Geografia íntima (17)

GNR - Rock in Rio Douro (1992)
Este álbum dos GNR tem dois temas especiais: Sangue Oculto e Pronúncia do Norte. Neles, a voz semi-falsete de Rui Reininho contracena, respectivamente, com Javier Andreu (vocalista do grupo espanhol La Frontera) e com a essa vibrante mulher do Norte que é Isabel Silvestre. De resto, todos os outros temas são vulgares, revelando que cá, como em todo o lado, as fórmulas do pop/rock se foram esgotando a partir de finais dos 80... Mas esses dois temas são, de facto, especiais. O primeiro tem força genuína, sendo, além disso, um original diálogo em castelhano e português. O segundo, descontados muitos exemplos vindos da Galiza, é o "hino" mais apropriado que conheço para aquele mundo de brumas e granito que é o Norte. Em dueto com Reininho, a voz de Isabel Silvestre parece esvair-se num fio etéreo, mas há uma superior expressão emotiva nesse fio que impregna toda a canção, dominando-a. Além de que o tema assenta no enunciado da pronúncia do Norte como expressão de carácter - essa pronúncia que se recusa a emudecer as vogais e que transporta a expressão em sonoridade. O português que vem do mais fundo dos tempos...
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Geografia íntima (16)

Porto (1912)
Nos anos 60 ainda se captavam com facilidade imagens idênticas à da foto. Pelas vielas abarrotadas de vida, extravasando misérias e alegrias, havia canalha por todo o lado. A meio caminho entre o tempo da foto e esse tempo que conheci há um inesquecível filme que dá fé dessa realidade: Aniki- Bóbó...

Geografia íntima (15)

Porto (1912)
É o Barredo, mas podiam ser os Guindais ou a Bainharia - Alma granítica atravessando o tempo...

Geografia íntima (14)

Porto (1912)
É conhecido o tópico do "homem do Norte", mas, ainda mais justo seria o tópico da "mulher do Norte"... de porte altivo, carácter autoritário, rija têmpera e vernácula expressividade que evocam um mítico matriarcado céltico...
Esta foto foi tirada no Mercado do Anjo, desaparecido há muito. Estava situado no que hoje é a Praça de Lisboa, no lado oeste dos Clérigos.
Apesar da foto se reportar a um tempo que é o dos meus avós, conheço muito bem aqueles xailes de lã, aquelas longas saias rodadas, aquelas fisionomias...

Geografia íntima (13)

Porto (1912)
Esta Ribeira, pejada de carros de bois, não a conheci. Em todo o caso a minha Ribeira estava mais perto desta do que da actual. Não havia bares e restaurantes. Havia lojas onde se vendia bacalhau e polvo seco, com aquele característico cheiro salgado. Havia mercearias e casas de pasto. De manhã os gritos das vendedeiras dominavam o ambiente. Em muitas tardes de Verão a canalha de pé descalço atirava-se em mergulho para o rio.

Geografia íntima (12)

Porto (1912)
Ontem como hoje a face do Porto é a mesma: autenticidade, seriedade, solidez.
A meio caminho entre os Clérigos e a Ribeira, a igreja onde fui baptizado: A igreja da Vitória.

sexta-feira, outubro 15, 2004

Dancing Days (7)

CD: Barry White - Barry White's Greatest Hits (1975)
Trata-se da reedição em CD de um LP antológico de 1975, o qual, portanto, concentra todos os grandes êxitos do tempo auge de Barry White, excluíndo, contudo, os que foram protagonizados pela sua Love Unlimited Orchestra.
Abre com os dois mais poderosos temas: What am I gonna Do with You (para mim, um hino intemporal...) e You're the first, the last, my everything. Pena é que, apesar da capa envergar uma estética concordante, o encarte seja pobre.
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Dancing Days (6)

Barry White (1945-2003)
A voz quente de Barry White, as suas composições e orquestrações foram um dos elementos mais identificadores do auge Disco Sound em meados dos anos 70. A um nível idêntico apenas chegaram os Bee Gees ou os KC & Sunshine Band. A junção de uma batida fortemente ritmada com um grandioso fundo orquestral, onde as cordas estavam em relevo, foi a receita que lhe trouxe êxitos sobre êxitos. Teve 4 temas no Top5 USA: Love's Theme (#1 - 1973)(com a sua Love Unlimited Orchestra); I'm gonna love You just a little more baby (#3 - 1973); Can't get enough of your love, baby (#1 - 1974); You're the first, the last, my everything (#2 - 1974). Todos estes temas são espectaculares e marcaram justamente uma era. Não por acaso, a título de exemplo, o último destes temas era o da promoção do canal SIC Gold. Incrível como uma fisionomia tão disforme (correspondente a muito mais de 100 Kg...) deu alma e forma a uma música popular, de amor e jovialidade. Barry White morreu há pouco tempo, mas ficará sempre como um dos ícomes dos anos 70.

quinta-feira, outubro 14, 2004

Dancing Days (5)

CD: Grace Jones - Slave to the Rhythm (1985)
A jamaicana parisiense Grace Jones foi sempre em todos os domínios sinónimo de produção sofisticada. Os domínios foram ecléticos: moda, música e cinema... pelo menos. O seu corpo longuilínio e a sua face dura inspiraram experiências de produção imaginativas, normalmente em tons andrógenos. Na música, sempre sob orientação de produtores exímios, evoluiu desde o disco sound (onde irrompeu com uma espantosa versão hiper-inconoclasta de La Vie en Rose) até ao prenúncio das novas tendências da dance music. Esta gravação representa esse último ponto. Mais do que nunca, o verdadeiro protagonismo vai para o produtor, neste caso Trevor Horn e mais do que nunca Grace Jones é uma imagem, um pretexto... sugestivo e eficaz.
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segunda-feira, outubro 11, 2004

Boulevard Nostalgie (14)

Aimer à perdre la raison



Ah, c'est toujours toi que l'on blesse

C'est toujours ton miroir brisé,

Mon pauvre bonheur ma faiblesse

Toi qu'on insulte et qu'on délaisse

Dans toute chair martyrisée.



Aimer à perdre la raison

Aimer à n'en savoir que dire

À n'avoir que toi d'horizon

Et ne connaître de saisons

Que par la douleur de partir

Aimer à perdre la raison.



La faim la fatigue et le froid,

Toutes les misères du monde,

C'est par mon amour que j'y crois

En elles je porte ma croix

Et de leurs nuits ma nuit se fonde
Louis Aragon

Boulevard Nostalgie (13)

CD- Jean Ferrat - Ferrat chante Aragon (1971)
Este LP de Jean Ferrat é um perfeito exemplo de como a canção francesa é inexcedível na arte de adaptar poemas. Neste caso, Jean Ferrat faz um trabalho sublime com alguns dos mais conhecidos poemas de Louis Aragon. O lirismo das palavras é totalmente correspondido pela composição, arranjos e voz. Um particular estado de graça parece ter passado por aqui...
De notar que esta versão em CD corresponde à original, que é preferível a uma versão posterior, com arranjos diferentes.
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domingo, outubro 10, 2004

Castilla (8): Castilla y León

Calatañazor (Soria)

Castilla (7): Castilla y León

Leão e Castela Velha
De toda a Espanha, que tantos e tão diferentes atractivos proporciona, o que mais me emociona são as terras de León e de Castilla la Vieja. León corresponde às províncias de León, Zamora e Salamanca. Castilla la Vieja abrange as terras do coração de Espanha, onde nasceu a língua e onde se começou a forjar o poder do Império de Carlos V e Filipe II. Corresponde às províncias de Burgos, Palencia, Valladolid, Ávila, Segovia e Soria. Com o estabelecimento das autonomias estas designações caíram em desuso, em favor de Castilla y León - região autónoma que as engloba, com capital em Valladolid. Estes territórios estendem-se, em grande parte, por uma ampla meseta, seca e rude, de frios e calores extremos. Aldeias e cidades de carácter austero cortam aqui e ali uma paisagem de campos de trigo. Já não são, hoje em dia, tão pertinentes as alusões de Antonio Machado à decadência castelhana, mas deparamo-nos frequentemente com sinais de anacrónico espírito imperial: castelos em digna ruína; palácios grandiosos em lugares ignotos; nomes ressonantes de história em ínfimos pueblos; plazas mayores em lugarejos sem motivos para mais toponímia.
De León, Salamanca, Segovia, Ávila e Burgos conhecem-se sobejamente os atractivos, mas convém destacar as pequenas capitais de província (Zamora, Palencia, Soria), as pequenas cidadezinhas (Astorga, Benavente, Toro, Ciudad Rodrigo, Medina de Ríoseco, Tordesillas, Medina del Campo, El Burgo de Osma) e inúmeros pueblos: Sahagún, La Alberca, Miranda del Castañar, Alba de Tormes, Lerma, Covarrubias, Fromista, Carrión de los Condes, Peñafiel, Arévalo, Madrigal de las Altas Torres, Cuéllar, Sepúlveda, Turégano, Pedraza, Peñaranda de Duero, Medinaceli... Os castelos, os casarios (raramente violentados pela presença de edifícios destoantes), as torres das igrejas, as ermidas românicas, os horizontes amplos (ancha es Castilla...) com as montanhas de cumes nevados ao fundo são a estampa emblemática desta velha Castela. E há, acima de tudo, o carácter castelhano: altivo, orgulhoso, rude e sincero.

Castilla (6): Castilla y León

A orillas del Duero
El Duero cruza el corazón de roble
de Iberia y de Castilla.
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¡Oh, tierra triste y noble,
la de los altos llanos y yermos y roquedas,
de campos sin arados, regatos ni arboledas;
decrépitas ciudades, caminos sin mesones,
y atónitos palurdos sin danzas ni canciones
que aun van, abandonando el mortecino hogar,
como tus largos ríos, Castilla, hacia la mar!
Castilla miserable, ayer dominadora,
envuelta en sus andrajos desprecia cuanto ignora.
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¿Espera, duerme o sueña? ¿La sangre derramada
recuerda, cuando tuvo la fiebre de la espada?
Todo se mueve, fluye, discurre, corre o gira;
cambian la mar y el monte y el ojo que los mira.
¿Pasó? Sobre sus campos aún el fantasma yerra
de un pueblo que ponía a Dios sobre la guerra.
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(...)
---
El sol va declinando. De la ciudad lejana
me llega un armonioso tañido de campana
—ya irán a su rosario las enlutadas viejas—.
De entre las peñas salen dos lindas comadrejas;
me miran y se alejan, huyendo, y aparecen
de nuevo ¡tan curiosas!... Los campos se obscurecen.
Hacia el camino blanco está el mesón abierto
al campo ensombrecido y al pedregal desierto
Antonio Machado

Castilla (5): Castilla y León

Antonio Machado (1875-1939)
Figura de primeiro plano da geração de 98, Antonio Machado foi o poeta que melhor transmitiu as emoções da paisagem humana e natural de Castela. Em 1912 publica Campos de Castilla, uma das suas obras mais populares. Ao longo da sua vida viveu em muitos lugares de Espanha e viveu também em Paris. Foi como professor de Francês que passou uma temporada em Soria - pequena cidade ribeirinha de um Douro mal acabado de nascer, capital da menos povoada província de Castela Velha e cujas paisagens são um acabado protótipo daquelas que o inspiraram.
Como tantos e tantos, exilado pela Guerra Civil, morreu longe de Castela, fora da sua amada Espanha, mas está sepultado a um passo da fronteira, em Collioure.
Como canta Louis Aragon:
Machado dort à Collioure
Trois pas suffirent hors d'Espagne
Que le ciel pour lui se fît lourd
Il s'assit dans cette campagne
Et ferma les yeux pour toujours

Guia hispânico (2)

Joan Manuel Serrat - Dedicado a Antonio Machado, Poeta (1969)
O cantautor catalão Joan Manuel Serrat começou a sua carreira na vanguarda do movimento nova cançó, cantando e compondo, portanto, em catalão. No conjunto da sua vasta discografia, essa fase inicial foi, sob todos os pontos de vista, a mais interessante. Contudo, este álbum é um dos primeiros cantados em castelhano e constitui um difícil e sintomático exercício: a adaptação musical de alguns dos mais conhecidos poemas de Antonio Machado - poeta, por excelência, de emoções castelhanas. A partir daqui, a vertente castelhana da obra de Serrat tornar-se-á mais relevante e, sobretudo, alcançará uma ampla divulgação. Deste modo, passará a ter em paralelo uma dupla carreira - em catalão e castelhano.
Adaptar musicalmente poemas é um exercício difícil. Neste LP, Serrat não consegue atingir um nível homogéneo. Dois temas se destacam acima da média: Cantares e La Saeta. Este último desenvolve-se num ambiente de densidade dramática que se integra totalmente com o poema, traduzindo bem o espírito das saetas da Semana Santa andaluza. Contudo, o aspecto mais relevante é que este trabalho, no seu conjunto, constitui uma comovente homenagem a Antonio Machado (note-se: ainda em tempos franquistas...) e é uma eficaz divulgação da sua obra poética.
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Castilla (4): Castilla y León

Castela e Leão

Região Autónoma: Castilla y León (capital: Valladolid).
Províncias: León; Zamora; Salamanca; Ávila; Segovia; Valladolid; Palencia; Burgos; Soria.

sábado, outubro 09, 2004

Argel - Cairo - Beirute (1)

Om Kalthoum (Om Kalsoum) (Umm Kulthum) (1904-1975)

Esta cantora egípcia (o seu nome pode aparecer em caracteres latinos de diferentes formas) é a maior figura da música árabe. O seu apogeu, nos anos 40 e 50, corresponde a uma era de expansão do cinema dos estúdios do Cairo, cuja expansão abrangia directamente todo o vasto mundo de língua árabe e indirectamente áreas linguístico-culturais limítrofes (turca, persa, paquistanesa...). Esse cinema era de conteúdo romântico e tinha quase sempre uma feição musical. Foi aí que Om Kalsoum se começou a afirmar como intérprete de referência. Viviam-se tempos de ideais pan-arabistas. O Cairo era então não só a capital cultural do mundo árabe, como o foco difusor desses ideais, que tinham encontrado em Nasser o seu paladino. Mas enquanto os desafios políticos nasserianos mobilizavam a opinião pública, os cinemas enchiam-se, levando aos corações mensagens de amor e desamor. Assim, Om Kalsoum chegou a ser ainda mais popular que o próprio líder e realizou de modo mais efectivo uma certa forma de pan-arabismo...
A sua extrema popularidade não foi, contudo, suficiente para passar as fronteiras ocidentais. Sucede que a canção árabe pouco tem de semelhante com a estrutura da canção popular ocidental. Basta dizer que o padrão standard de 3 minutos corresponderá a uma parte da introdução de uma canção normal de Om Kalsoum. O complexo desenvolvimento melódico e a aspereza da língua árabe dificultam ainda mais o acolhimento ocidental. É, evidentemente, uma questão de códigos culturais, mas é estimulante exercitar a nossa sensibilidade para romper essas barreiras. Ao longo de um tempo, que pode ir de 5 a 50 minutos, cada canção conta uma história sentimental de uma forma lenta, que joga com distintos cenários instrumentais e com um clímax de expressividade que as suas capacidades interpretativas conseguem ir graduando de forma precisa. Claro está, que o tempo destas canções não foi condicionado pelas necessidades da indústria discográfica - o formato EP e até LP não eram adequados - frequentemente, um LP acolhia uma única canção e a operação de virar o disco interrompia o natural desenvolvimento da sua audição. O tempo é aquele que advem de formas tradicionais, aqui e ali adaptadas às necessidades do cinema. Onde se capta melhor a valia expressiva desta música é em gravações ao vivo. Aquela que é a mais conhecida das suas gravações, Al-Atlaal, demonstra uma participação intensa do público, o qual não se coíbe de sublinhar o dramatismo da narrativa com arrebatados aplausos e interjeições. Os sofridos gemidos da "diva do Nilo" são, assim, amplificados pela plateia.
Página Web

Musseque (1)

Papa Wemba - Papa Wemba (N' fono yami)(1988)
A matéria musical aqui presente é o Sokous - género pop oriundo do Congo (Zaire). É o melhor álbum de música africana que conheço. Sem a rusticidade das produções feitas em África e sem o artificioso de algumas produções feitas na Europa. Diria que está no perfeito meio termo. Mas, acima de tudo há dois elementos essenciais: a poderosa cadência rítmica que sugere aquela África verdadeiramente selvagem e a voz vibrante de Papa Wemba, a qual reitera esse carácter, no melhor sentido que pode ter... Deve-se dar particular atenção ao tema Esclave, que é das coisas mais emocionantes que a música africana já alguma vez deu.
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segunda-feira, outubro 04, 2004

Boulevard Nostalgie (12)

CD: Salvatore Adamo - Adamo Vol 2 (La Nuit) (1965)
Antes de mais, este CD faz parte de uma colecção da editora francesa Magic Records que é um exemplo magnífico de como se pode reeditar velhos LP's de uma forma que é um exercício de reconstituição, pois existe o cuidado de recuperar o design original, que chega, inclusive, ao pormenor de dar à etiqueta do suporte a aparência do vinil. É, portanto, um produto adequado para coleccionadores ou simples nostálgicos. Diga-se, desde já, que este não é um dos melhores LP's de Adamo, contudo, apresenta uma particularidade: tem um tema cantado em italiano, Dolce Paola, que nunca teve versão noutro idioma. É um tema muito bonito que constitui uma dedicatória à princesa italiana do mesmo nome que tinha acabado de se casar com o herdeiro do trono belga. Note-se que os grandes êxitos de Adamo foram sempre originalmente cantados em francês, mas todos tiveram versões suas cantadas em italiano e espanhol. Algumas foram cantadas também em línguas tão insólitas como o japonês. Esta colecção da Magic Records apresenta algumas dessas versões comuns e exóticas como bonus tracks.
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Boulevard Nostalgie (11)

Salvatore Adamo
Adamo nasceu na Sicilia, mas, ainda na primeira infância, os seus pais emigraram para uma cidade industrial da Valónia, Bélgica. Nos anos 60 tornou-se um dos maiores nomes da música popular francófona, com grande projecção mundial. Foi um ídolo - o maior que a Bélgica jamais alguma vez teve, com a licença de Jacques Brel, que, enfim, teve um registo artístico diferente (curiosamente outro ídolo belga seu contemporâneo foi Rocco Granata, também italo-descendente) A voz melancólica ajustava perfeitamente com um ar angelical, sendo esta a base de uma pose romântica que consituiu o seu sucesso. Contudo, nesses tempos, estes fenómenos de popularidade não implicavam necessariamente má qualidade musical. Foi sempre um excelente cantor, servido por magníficas composições.

Boulevard Nostalgie (10)

Les Cornichons
Eis a prosaica letrinha de Les Cornichons (provavelmente com algum duplo sentido...) - canção que tem tanto de simples como de brilhante. Curiosamente parece que a versão original é norte-americana, mas, dessa, pouco transcendeu...
On est parti, samedi, dans une grosse voiture,
Faire tous ensemble un grand pique-nique dans la nature,
En emportant des paniers, des bouteilles, des paquets,
Et la radio !
Des cornichons
De la moutarde
Du pain, du beurre
Des p'tits oignons
Des confitures
Et des oeufs durs
Des cornichons
Du corned-beef
Et des biscottes
Des macarons
Un tire-bouchons
Des petits-beurre
Et de la bière
Des cornichons
On n'avait rien oublié, c'est maman qui a tout fait
Elle avait travaillé trois jours sans s'arrêter
Pour préparer les paniers, les bouteilles, les paquets
Et la radio !
Le poulet froid
La mayonnaise
Le chocolat
Les champignons
Les ouvre-boîtes
Et les tomates
Les cornichons
Mais quand on est arrivé, on a trouvé la pluie
C'qu'on avait oublié, c'était les parapluies
On a ramené les paniers, les bouteilles, les paquets
Et la radio !
On est rentré
Manger à la maison
Le fromage et les boîtes
Les confitures et les cornichons
La moutarde et le beurre
La mayonnaise et les cornichons
Le poulet, les biscottes
Les oeufs durs et puis les cornichons

Audio Sampler Amazon.fr (track 5 disco 1)

Boulevard Nostalgie (9)

Nino Ferrer - Nino Ferrer (2001)

Nino Ferrer nasceu em Génova, Itália, mas fez o mais importante da sua carreira artística em França, apesar de não ter deixado de sustentar uma carreira italiana, em paralelo. Nos anos 60 obteve grande sucesso com temas como Les cornichons, Agata e Mirza. Estava plenamente inserido na onda pop desses tempos. Contudo, desde o início tornou-se patente a sua versatilidade, quer pelo carácter jazzy que imprimia a muitas das suas composições, quer pela sua vocalização soul, quer ainda pelo seu talento em compor baladas melódicas. Com efeito, foi o autor do tema C'ést irréparable, que sairia do anonimato como Un anno d'amore, versão italiana popularizada por Mina e, posteriormente, ainda mais popularizado por Luz Casal na versão espanhola, Un ano de amor. Dando plena expressão a essa versatilidade, a partir dos anos 70 procurou caminhos musicais vanguardistas e explorou também outras áreas artísticas, com destaque para a pintura. Espírito atormentado, acabou por se suicidar, deixando grata memória entre os seus requintados fans.
Esta colectânea ilustra o conjunto da trajectória da sua carreira francesa. Não é um simples CD, já que este está integrado num pequeno livro com abundante documentação sobre o artista e excelente grafismo.


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Web: Página Oficial

domingo, outubro 03, 2004

Noites tropicais (5)

Roberto Carlos - Detalhes (1971)
Para mim, Roberto Carlos é mesmo O Rei... da MPB (Música Popular Brasileira). É incompreensível que quando se apresente a MPB não se saliente, desde logo, este facto. Não se entende que a sua carreira, por ter assentado numa trajectória de êxito comercial, seja menosprezada. É um profissional exemplar, além de que as suas qualidades interpretativas jamais recorreram ao artificial e o seu posicionamento musical, durante os primeiros 10 anos da sua carreira, esteve na vanguarda ou próximo.
Este CD é a reedição de um LP que, não sendo o melhor da sua imensa discografia, tem o privilégio de abrir com Detalhes - para mim, uma das mais belas canções de sempre! É a "jóia da coroa" da profícua dupla Roberto Carlos/Erasmo Carlos. O tom íntimo da interpretação, a bela simplicidade da melodia, a melancólica amargura da letra, fazem um conjunto ímpar.
Há um outro tema que merece destaque, é o último: Amada Amante - uma proclamação amorosa, em toada reiterativa, com uma sonoridade própria daquela época (com protagonismo no órgão Hammond), que me recorda a rádio e os bailes populares daqueles tempos...
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Noites tropicais (4)

Walter Wanderley - Rain Forest (1966)
A colecção Verve by Request tem reeditado luxuosamente em CD (reproduzindo, em encarte, o grafismo original) os LP's produzidos por Creed Taylor nos anos 60. Este foi o responsável pelo salto qualitativo da Bossa Nova ao produzir as extraordinárias experiências de fusão com João Gilberto, Astrud Gilberto e Stan Getz. A ele se deve também a produção de Walter Wanderley . Este, pernambucano de origem, era um organista e pianista de night clubs de São Paulo e foi dos primeiros a entrar na onda da Bossa Nova, mediante a sonoridade, então moderníssima, do órgão Hammond. Gravou com Astrud Gilberto, mas depois iniciou uma carreira exclusivamente instrumental. Este é o seu primeiro LP dessa fase. O sucesso foi enorme, por causa de Summer Samba, de Marcos Valle, o qual atingiu o Top40. Como as notas deste órgão electrónico soam tão quentes! Wanderley ficou para sempre nos EUA, instalando-se na California, onde viria, aliás, a falecer em meados dos anos 80.
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sábado, outubro 02, 2004

Euskal Herria (12)

Pedro Antequera Aizpiri - Ay Ne! in La Esfera, 1915
A caricatura é uma alusão ao atávico tradicionalismo rural dos bascos. Para além do simplismo do estereótipo, a verdade é que as raízes do nacionalismo basco são profundamente tradicionalistas e desenvolveram-se sempre em intimidade com um catolicismo fundamentalista. Com efeito, Sabino Arana Goiri, o fundador do nacionalismo, foi a síntese de duas tendências: a do carlismo e a do racismo positivista. A primeira é ultra-conservadora e antes de se reciclar no nacionalismo pugnava pela recomposição das liberdades tradicionais (Fueros). A segunda pertence ao mesmo tipo de modernidade, que entre outras coisas, sustentou uma das bases teóricas do nazismo. O lema do Partido Nacionalista Basco era Jaungoikoa eta Lagizarra (Deus e a Lei Antiga). No essencial, com muito mais moderação, é certo, esta marca genética persiste na grande maioria do nacionalismo, o qual é maioritário no País Basco. Porém, numa vasta franja Abertzale (esquerda nacionalista radical), encontramos a juvenil kale borroka (violência de rua) e o terrorismo etarra, que, apesar de algumas ideias feitas, também se filiam nessas origens...

Euskal Herria (11)

Pedro Antequera Aizpiri - Los Bersolaris in La Esfera, 1915
A gravura refere-se a uma das mais antigas tradições dos bascos: os bertsolaris. São poetas populares que improvisam versos em euskera (língua basca)durante competições festivas nas aldeias, em domingos, dias santos ou de romaria. É um dos símbolos da vitalidade da velha língua no coração de Euskal Herria.
O termo Euskal Herria é um neologismo nacionalista de finais do século XIX que significa "terra onde se fala euskera". Engloba sete territorios históricos. Em Espanha, quatro: Biskaia (Vizcaya), Gipúzkoa (Guipúzcoa), Araba (Álava) e Nafarroa (Navarra). Em França, três (que podem ser designados no seu conjunto como Iparralde): Zuberoa (Soule), Laburdi (Labourd) e Benafarroa (Basse Navarre).
Na verdade, a área que hoje em dia é euskaldun (basco-falante) é muito mais restrita, abrangendo só o Leste de Vizcaya, Guipúzcoa, o Norte de Navarra, e o Sul de Iparralde, num conjunto estimado entre 500.000 e 750.000 pessoas. Contudo, é certo que o proteccionismo linguístico do Governo Basco tem operado uma recuperação e não é menos certo que nas áreas euskaldun, sempre gozou, sem interrupção, até ao presente, de plena vitalidade. Em contrapartida, em Bilbao, por exemplo, o uso da língua, além de minoritário, reveste-se de um certo artificialismo, sustentado por convicções nacionalistas. Sucede também que em todo o Sul de Álava e em todo o Sul de Navarra, assim como na cidade francesa de Bayonne, o basco desapareceu há muito dos hábitos de comunicação (na maior parte dos casos, desde a Idade Média). O conceito de Euskal Herria, na prática, sustenta-se em hábitos, costumes e tradições, que, de facto, continuam fortes e permanecem comuns a muitas populações de todos os territórios. Se se pretende, como ocorre entre o nacionalismo, extrair ilações políticas em prol de uma mítica grande nação basca, pois entra-se num terreno polémico, que é contraditado pela vontade da maioria da população de fora do que constitui oficialmente País Basco.

Euskal Herria (10)

Iker Goenaga - Soinugorri (1998)
O êxito de Kepa acabou por fazer vir ao de cima um conjunto de tocadores de trikitixa que asseguraram a continuidade da tradição nas aldeias de Guipúzcoa e Vizcaya. Iker Goenaga é um deles. Neste álbum temos uma sonoridade menos cosmopolita, mas mais próxima da tradicional, a qual assentava na combinação rudimentar entre a triki e a pandeireta. O tema Elgeta merece destaque. Além de ser musicalmente forte, é uma homenagem a um velho tocador de San Sebastián, conhecido como Elgeta, que nos anos 40, 50 e 60 tocava triki pelas ruas e bares da cidade, vivendo da mendicidade.
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Euskal Herria (9)

Kepa Junkera - Bilbao 00:00h (1998)
Este álbum duplo, apresentado em luxuosa edição com formato de livro, musicalmente é uma produção não menos luxuosa. Para quem imagina o carácter basco como fechado e pouco dado a cosmopolitismos, pode começar por aqui um processo de revisão de ideias. Na verdade, partindo da trikitixa (pequeno acordeão diatónico), opera-se aqui um exercício de transversalidade dentro da chamada world music. Participaram na gravação um vasto conjunto de artistas das mais variadas procedências, de um modo que visou mestiçagens em diferentes direcções. De notar que Dulce Pontes (cantando um tema em... basco) faz parte do elenco. Numa realização tão ambiciosa, com estas características, nem todos os temas podem brilhar à mesma altura. Destaca-se uma magnífica meia dúzia, dos quais saliento aqui Santimamiñeko Fandangoa & Ioaeoe, que, por sinal, é um dos que, sem deixar de ter um certo grau de mestiçagem (sobretudo na parte inicial), alardeia uma tonalidade genuinamente basca. O poder rítmico e melódico da triki ressalta de forma empolgante, favorecido pela rude sonoridade de fundo da txalaparta (primitivo instrumento de percussão).
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Euskal Herria (8)

Kepa Junkera - K (2003)
Uma forma privilegiada de entrar no universo musical de Kepa Junkera é este duplo DVD que incide sobre um espectáculo realizado em Março de 2003 no Teatro Arriaga, em Bilbao. O espectáculo, propriamente dito consta do primeiro DVD. Não se limita a ser um mero registo de palco, na medida em que tem alguns interessantes pormenores de realização. Por outro lado, musicalmente, o espectáculo está ao nível das últimas gravações de estúdio, com um vasto conjunto de músicos convidados (das mais variadas procedências). A riqueza musical está também patente no espaço que é deixado para dois outros tradicionais instrumentos bascos: txalaparta e alboka. No segundo DVD há vários extras, entre os quais um excelente documentário que faz um enquadramento da trikitixa e de Kepa.
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Euskal Herria (7)

Kepa Junkera (1965)
O bilbaíno Kepa Junkera tornou-se o maior divulgador da trikitixa (triki) - instrumento basco, que é um acordeão diatónico. Tem um som inconfundível. Desde meados do século XIX tornou-se um elemento fundamental das romarias e festas familiares e, portanto, tornou-se o som basco, por excelência. Kepa modernizou de forma radical a utilização do instrumento, sem deixar de respeitar a sua essência. O seu virtuosismo e nível de produção têm dado aos seus espectáculos e gravações uma projecção que ultrapassa muito o contexto restrito do País Basco.

Euskal Herria (6): Euskadi : Bilbao

Aupa Athletic!
Para os conhecedores da res futebolistica, Bilbao tem um outro ex-libris: o Athletic. Clube de grande historial e rico palmarés, persiste hoje em dia numa política que sustentou desde sempre: só integra jogadores nascidos no País Basco. Tal persistência num campeonato onde imperam as mais cosmopolitas contratações milionárias, tendo recursos mais que suficientes para alinhar nessa política, não deixa de ser algo digno de louvor.

Euskal Herria (5): Euskadi: Bilbao

Bilbao (2003)
É uma perspectiva do conhecido edifício que é agora o ex-libris da cidade: o Museu Guggenheim, do arquitecto Frank Gehry.

Bilbao (2003)
Esta ponte continua a ser o elo mais importante de ligação entre o núcleo urbano mais antigo (Siete Calles) e o Centro (Abando). De um lado, estreitas ruas antigas, onde se multiplicam bares e restaurantes. Do outro lado amplas avenidas e praças arborizadas, onde imperam edifícios de boa traça (alguns de certa imponência) que servem de sedes a Bancos, Companhias de Seguros, Companhias de Navegação...

Euskal Herria (4): Euskadi: Bilbao

Bilbao (Anos 50)
Bilbao é a capital de Vizcaya e a mais importante cidade do País Basco. A sua área metropolitana tem mais de meio milhão de habitantes (2/3 da população de Vizcaya e cerca de 1/4 da população do País Basco). Está situada a poucos quilómetros do Mar Cantábrico e o seu Centro coincide com o ponto onde o Rio Nervión se transforma em Ria - poucos metros a jusante da ponte mostrada nos dois postais. Não tem os encantos da inexcedível beleza de San Sebastián, mas é uma cidade com carácter. Carácter de uma cidade industrial, mineira e marinheira. Operária e Burguesa. É também de uma cidade com carácter ao mesmo tempo basco e espanhol, numa cabal demonstração prática de que as duas identidades não são antagónicas...

Geografia íntima (11)

Amadora (193? 194?)
Esta panorâmica aérea incide na parte Leste do Centro. Em primeiro plano, junto à linha de caminho-de-ferro, está a fábrica de cintas e espartilhos Santos Matos. Lembro-me bem desse edifício, contudo tinha deixado as suas funções fabris muitos anos antes de eu o conhecer. Vislumbra-se, no centro do postal, o edifício (branco) onde hoje está instalada a Agência Natália. São muito poucos outros exemplos de casas sobreviventes, mas são numerosos aquelas de que guardo memória. Note-se que os terrenos que hoje pertencem à Academia Militar, na parte superior do postal, correspondiam ainda nesta altura (anos 30, 40?) ao aeródromo que notabilizou a Amadora na primeira metade do século XX..

Geografia íntima (10)

Amadora (193? 194? 195?)
Foi esta a origem da moderna Amadora e causa seu do desenvolvimento: a estação de caminhos-de-ferro. Até à construção da sua sucessora subterrânea, a fisionomia que aparece no postal permaneceu idêntica. Contudo, algumas árvores foram desaparecendo progressivamente...

Geografia íntima (9)

Amadora (193? 194?)
No postal aparece a antiga denominaçãoda Avenida Santos Matos - Avenida Amaral. O edifício do Recreios (à esquerda) permanece e recuperado como espaço requalificado, multiusos. Pertence agora à Câmara Municipal. Durante muito tempo este foi o cinema da terra. Um típico cinema de bairro, de reprise. Em frente, vê-se, contudo um, já desaparecido, que ostenta a designação cinema. Na verdade, o Recreios foi um espaço mais vocacionado para funções teatrais e de carácter social; só quando o outro, em frente, foi demolido, passou à condição de cinema. Na esquina está um edifício que ainda existe. Hoje, ao lado, está instalada a Segurança Social, em frente do mais genuíno café da Amadora, o Pigalle.

Geografia íntima (8)

Amadora (192? 1930?)
Eis a Avenida da República, no ponto mais central da Amadora (anos 20 ou 30?). Lembro-me bem da moradia que aparece no lado esquerdo e de uma outra, na esquina superior do lado direito da rua que sobe (Rua 1º de Dezembro). A "minha" Amadora, mais do que qualquer outra, é esta - vai da estação até à parte mais alta da Venteira, indo na direcção de Queluz. Foi nesta última zona que eu cresci.
Este centro formou-se por causa da estação. A estação, por sua vez, instalou-se neste lugar porque ficava a meio caminho de duas aldeias: a Porcalhota e a Venteira. Da mesma maneira que a estação de Queluz se instalou a meio caminho de Queluz (que era o Palácio e imediações) e Belas. Em ambos os casos, a estação acabou por se tornar o ponto de agregação e por definir o novo centro. Parece que o nome Amadora derivou de uma vivenda com esse nome, situada na Rua Elias Garcia. A CP adoptou o nome para a estação, já que Venteira-Porcalhota não era, propriiamente, bonito. Já no caso de Queluz, a designação da estação manteve-se como Queluz-Belas.

Geografia íntima (7)

Amadora (192? 193? 194?)
Tenho 47 anos e vivo na Amadora há 46. Gosto desta terra. Vi-a mudar muitíssimo, mas ainda gosto dela. Tornou-se de bom tom referir a Amadora como o paradigma do inferno suburbano. Discordo. Ou melhor, concordo se a afirmação incidir sobre a vasta periferia (Buraca, Damaia, Brandoa...). O centro, não sendo já o que foi, tem ainda, pelo menos, as seguintes vantagens: um ambiente agradável, espaços de socialização e convívio, dois amplos parques e muito comércio e serviços. Já pouco resta, porém, das muitas vivendas que o povoavam. A que aparece neste postal de 1916, a Casa Aprígio Gomes, situada, aliás, na zona onde vivo, definitivamente, sobreviveu e da melhor maneira, visto que foi recentemente restaurada e viu aí instalar-se o Centro Ciência Viva da Amadora (CCVA) . Ficou como uma espécie de testemunho da Amadora do passado - terra de bons ares, escolhida por gente bem (Mestre Roque Gameiro, Delfim Guimarães, Piteira Santos, por ex.) para acolher as sua moradias de verão.
No postal é visível, em primeiro plano, do lado esquerdo, uma casa térrea que ainda hoje existe, mas já abandonada. Aí foi a fábrica de rebuçados Dr. Bayard, de onde saía. alguma vezes, um cheiro adocicado. Ao fundo vê-se bem a casa da Tia Sofia, na Rua Elias Garcia, junto ao parque. Já não existe. Era uma conhecida casa de pasto e tinha um terreiro com parreira. Uma casa térrea ao lado, que não se vê no postal, essa sim, resiste. Nela está instalada uma agência funerária...

sexta-feira, outubro 01, 2004

Euskal Herria (3)

Iñaki Pangua - Euskal Herria: Lau haizeetara / La mirada mágica (2002)
Inspirada por A vista de pájaro, a Televisão autonómica do País Basco (EITB) produziu e exibiu uma série que cobre todos os territórios de Euskal Herria (País Basco, Navarra e Iparralde ou País Basco francês) através de vistas aéreas a partir de helicóptero. Foi há pouco tempo editada em dez DVDs. Cerca de década e meia depois, o nível técnico é muito superior ao da série inspiradora. Por outro lado, dado o âmbito geográfico muito mais restrito, o detalhe é muitíssimo maior. Toda esta belíssima região tem, deste modo, um meio de divulgação que lhe faz jus.
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Euskal Herria (2): Navarra

Navarra
Região Autónoma: Comunidad Foral de Navarra (capital: Pamplona/Iruña)

Euskal Herria (1): Euskadi

País Basco
Região Autónoma: País Vasco/Euskadi (capital: Vitoria/Gasteiz).
Províncias: Vizcaya/Biscaia (capital: Bilbao); Guipúzcoa/Gipuzkoa (capital: San Sebastián/Donostia); Álava/Araba (capital: Vitoria/Gasteiz).