domingo, dezembro 31, 2006

American dream (7)

David Frankel, Tom Hanks, David Leland, Richard Loncraine, David Nutter, Phil Alden Robinson, Mikael Salomon, Tony To - Irmãos de armas (Band of brothers) (2001)

Em todas as épocas o pacifismo tem sido, geralmente, um perigo. Sucede que, em muitas circunstâncias, é, objectivamente, um incentivo à guerra. A violência está na natureza humana e não se deve ignorar o facto. São algumas das ideologias que encaram a possibilidade da guerra e fomentam a preparação activa para tal, que melhor contribuem para as evitar ou minimizar.
Nos Estados Unidos o pacifismo nunca teve força, excepto quando, nos anos sessenta, se desenvolveu um vasto movimento juvenil contra a Guerra do Vietname. Para além do facto de, em vários sectores na sociedade norte-americana, imperar, inclusivamente, o que se pode designar como uma cultura de violência (facto, obviamente, muito negativo), a verdade é que a disposição dos Estados Unidos para a guerra tem sido uma benesse para a humanidade. Basta pensar que sem a sua intervenção a agonia da Grande Guerra de 1914-18 ter-se-ia prolongado e que, na II Guerra Mundial, o nazismo não teria sido derrotado; que, no final da Guerra Fria, graças à sua capacidade de dissuasão militar o comunismo não teria sido derrotado; que, hoje em dia, nos encontraríamos ainda mais indefesos frente ao megaterrorismo islâmico.
Esta série televisiva, da HBO, luxuosamente editada em pack DVD, lembra-nos como foi decisiva a participação norte-americana no desenlace da II Guerra Mundial. Como quase sempre sucede, muito do que de bom passa na televisão escapa-me. Felizmente, que de forma inesperada acabei por ver a edição em DVD. Deve-se salientar a qualidade técnica irrepreensível, a todos os níveis. Contudo, o mais importante é que mostra de uma forma extremamente realista o que é a guerra. Neste particular, só conheço um precedente com tal grau de rigor, O resgate do soldado Ryan. Para quem teima ignorar o que é essa realidade, talvez seja adequado uma imersão nesta série. Note-se que se baseia em histórias verídicas, que ocorreram com uma divisão de elite das forças aerotransportadas em cenários de guerra europeus (Normandia, Holanda, Bastogne, Hagenau...). Tanto assim é, que há o cuidado da ficção nunca se desprender de um tom de documentário - algo que é evidente, por exemplo, com a integração dos depoimentos de veteranos combatentes, que, em cada episódio, começam por fazer uma introdução. Finalmente, registe-se que a série é dirigida por distintos realizadores, entre os quais figura Tom Hanks. Cada um imprime um estilo um pouco diferenciado de episódio para episódio, o que, dado o formato em questão, é pertinente e enriquecedor. De notar, finalmente, que a página web da série constutui um autêntico guião histórico complementar (hiperligação em baixo). Produtos como este são uma verdadeira lição de história - um memorial em honra de todos aqueles que com extrema coragem e sacrifício lutaram e morreram pela liberdade!

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Salsa y merengue (18)

Marc Anthony - Todo a su tiempo (1995)
Este é o segundo álbum de Marc Anthony, ainda sob a chancela de Ralph Mercado e produzido por Sergio George. É ainda o melhor de toda a sua discografia. Por então ainda estava confinado ao universo latino e, em boa verdade, quase restrito à comunidade porto-riquenha de Nova Iorque e adjacências. Curiosamente, tornou-se mais conhecido na sequência de um dueto que cantou com Índia. É uma fase puramente salsera, onde ainda não existem objectivos de alcançar públicos mais vastos. Seja como for, nesse plano relativamente restrito consegue imediata notoriedade - há quem o crisme como el príncipe de la salsa. Para os puristas e para o público salsero, em geral, é óbvio que, até eventual reincidência, situou-se nessa altura um auge precoce, do qual este álbum é a mais adequada ilustração discográfica... Na verdade, temas como Nadie como ella, Te amaré e Vieja mesa são espectaculares...
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sábado, dezembro 30, 2006

Salsa y merengue (17) (10 remake)

Marc Anthony - Valió la pena (2004)
Não sei se Valió la pena é a versão salsa de Amar sin mentiras ou se, pelo contrário, Amar sin mentiras é a versão pop de Valió la pena. Provavelmente, nenhuma das alternativas é correcta, havendo temas que foram originalmente salseros e outros originalmente pop. São sete os temas comuns, só que, em Amar sin mentiras apresentam-se despojados de carácter salsero. Os dois álbuns saíram no Verão de 2004 e este jogo de versões entre ambos reflecte a dupla via que a carreira de Marc Anthony tem assumido. Diga-se que Amar sin Mentiras é um produto onde predomina a balada pop convencional, com a marca de produção de Miami, ou, melhor dizendo, com a chancela Estefan. O contraste é notório e pode possibilitar um exercício de comparação. Para quem se habituou, por exemplo, a ouvir o tema Valió a pena em exuberante ritmo de salsa, não dá para entrar na outra versão. Por outro lado, Amar sin mentiras tem três temas que não foram convertidos em salsa e, portanto, não constam deste - um deles é o tema que dá nome ao álbum; outro é o tema Tan solo palabras. Como nota curiosa, refira-se que ambos apresentam o tema Escapémonos, que é um dueto conjugal - aí se pode ouvir a voz inexpressiva de Jennifer López, que nem na sua versão salsera consegue despertar um calor remotamente proporcional ao que a sua figura infunde entre a homenzarrada... São dois álbuns muito diferentes, cada um no seu estilo com bastante interesse, algo que tem muito a ver com as qualidades interpretativas de Marc Anthony, onde a versatilidade é uma das mais notórias. Em todo o caso, prefiro este; prefiro a salsa. Aqui Marc Anthony continua a provar que é um salsero de gabarito e o desfiar de temas ilustra-o de forma categórica. Assim, encontramos surpresas como o inolvidável Amigo, de Roberto Carlos, transfigurado em ritmo salsa e um remate de impacto, como o emblemático Lamento borricano (conhecida homenagem a Puerto Rico). No valioso lote só destoa mesmo o tal dueto conjugal...
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Marc Anthony - Amar sin mentiras (2004)

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sexta-feira, dezembro 29, 2006

Salsa y merengue (16) (2 remake)

La Lupe (1939-1992)
La Lupe (Guadalupe Victoria Yoli Raymond) distinguiu-se em vários géneros e ritmo latinos, abrangendo um leque que vai do bolero à salsa. Na verdade, teve uma forma de interpretação que saltou as convenções. Por esse estilo bravio tão pessoal conheceu epítetos como os de Yiyiyi, Too Much e, posteriormente, a escritora nova-iorquina Susan Sontag defeniu-a como "a primeira punk".
Esta cubana teve uma vida de culebrón. Nascida em Santiago de Cuba, filha de um modesto trabalhador da Bacardi, estudou para ser professora primária. Contudo, escapou a um modesto destino de docente em alguma aldeia da montanhosa província do Oriente. Aliás, desde cedo manifestou tendências artísticas que não conjugavam com a imagem de educadora, ainda por cima, com uma pose ostensivamente sensual, própria de mulata descaradona... Quando Castro y sus barbudos desceram da Sierra Maestra já estava na vida artística profissional e havia adquirido notoriedade. De imitadora de Olga Guillot passou a cultivar um estilo pessoal que manteve e desenvolveu. O título do seu primeiro álbum é significativo: Con el diablo en el cuerpo. Em programas televisivos reforçou essa imagem, nomeadamente com os pitorescos vexames que infligia ao seu submisso pianista Homero, como, por exemplo, descalçar-se e bater-lhe com um sapato.
Para o seu temperamento era impossível viver numa sociedade subordinada aos preceitos do novo regime. Seguiu a via da maioria dos artistas e exilou-se. Depois de uma passagem pelo México, estabeleceu-se em Nova York, onde retomou a sua carreira graças às possibilidades criadas pela apetência para experimentações de fusão entre jazz e ritmos latinos. Ao mesmo tempo, tornou-se popular na comunidade latina e conhecida de todos os públicos, graças a shows televisivos. Explorou o filão de interpretar de modo latino standards como Going out of my head e Fever ou êxitos emergentes da pop, como Yesterday. Em finais de 60 actuava com a orquestra de Tito Puente e era conhecida como The Queen of Latin Soul. Tornou-se, assim, uma figura do som latino.
Os excessos conduziram-na ao declínio a partir dos finais dos anos 70. Esse declínio está marcado por elementos anedóticos e dramáticos. Entre o anedótico temos um incontrolado arrebatamento que chegou ao ponto de rasgar as vestes em certo show televisivo, em directo... Entre o dramático temos a adição a drogas e álcool. Uma tentativa de refazer a vida em Puerto Rico apenas acabou por acentuar a decadência. Nos anos 80 levava uma existência miserável no nova-iorquino Bronx, aparentemente esquecida por todos. Viveu então uma rocambolesco cortejo de desgraças que ultrapassam a imaginação de um guionista de culebrones: um dia vai parar ao hospital espancada por um ex-marido; outro dia, ao pendurar umas cortinas, cai e fica temporariamente paralisada; outro dia, ainda, a sua habitação é palco de um incêndio. Recupera-se parcialmente de tanta desgraça e adere a uma seita religiosa evangélica denominada O fim aproxima-se! Nos últimos anos vida, até um ataque cardíaco a ter fulminado, dedica-se a pregar o evangelho de porta em porta...
Antes de desaparecer, quando, ironicamente, já renunciara à vida artística em prol da regeneração espiritual, alguém a resgatou do esquecimento. Foi Pedro Almodóvar, no filme Mujeres al borde de un ataque de nervios, colocando um dos seus temas na banda sonora. O tema é o extraordinário bolero Puro Teatro, do porto-riquenho Tite Curet Alonso. Foi o início do revivalismo de La Lupe. Em Espanha, a rádio começou a divulgar os seus velhos êxitos, que conheceram, assim, divulgação em plena década de 90. Tornou-se objecto de culto em certos meios.
La Lupe in Salsa Magazine 1

Salsa y merengue (15)



Marc Anthony - Valió la pena in Amar sin mentiras (2004)

segunda-feira, dezembro 25, 2006

Rompecorazones (10)


Luis Miguel - La incondicional (1988)

Ainda muito jovem, e antes de enveredar por uma série de produções que constituiram uma bem sucedida recuperação do bolero, Luis Miguel não deixava de explorar já uma imagem romântica, cujo alvo, obviamente, era numa imensa legião de jovens adolescentes do mercado latino. O tema La incondicional é o melhor exemplo. Como se pode ver, o correspondente videoclip vai buscar inspiração directa a um modelo cinematográfico norte-americano que esteve em voga na primeira metade dos anos oitenta. É assim como que um misto de Top gun e Oficial e cavalheiro...

domingo, dezembro 24, 2006

Il bel paese (8)

Palermo - Postais (finais dos anos 40)

sábado, dezembro 16, 2006

Dancing Days (15)


Elton John & Kiki Dee - Don't go breaking my heart (1976)
É usual subvalorizar a música dos anos 70, sobretudo em comparação com os anos 60, mas também em comparação com os 80. São expeditamente tratados como os anos em que emergiu a música disco, sendo isto como que uma espécie de pecado identificador de toda uma década. Se é um facto que os anos 70 vêem emergir a música de discoteca, este facto, em si, não é mais do que o cumprimento de um natural destino da música popular de todos os tempos, que não é, nem nunca foi, contraditório com qualidade. Por outro lado, este juízo pode fazer esquecer que foram os anos 70 aqueles em que a música pop/rock atingiu o apogeu, sob o ponto de vista de penetração no mercado e implantação nos meios de comunicação. Este espectacular tema de Elton John e Kiki Dee será para sempre um exemplo de um tema pop. Simples, dançável e trauteável! Na verdade, muitas vezes, quando a música pop se arma em algo de muito especial e transcendente, estraga tudo... Os seus limites e o seu brilhantismo vêm inexoravelmente de uma receita simples aplicada a um dispositivo de três minutos, assente em ritmo e melodia, onde o refrão é uma bandeira erguida bem alto.

Baúl de los recuerdos (14)


Roberto Carlos - Amigo (1977)

Roberto Carlos alcançou bem cedo uma popularidade tão grande que extravasou as fronteiras do Brasil. Tal sucedeu, pelo menos, em todo o mundo latino. Em 1969 consagra-se em Itália, vencendo o Festival de San Remo (o único estrangeiro que o conseguiu), interpretando Canzone per te, de Sergio Endrigo. Mas é sobretudo no mundo de língua espanhola que atinge notoriedade. Muito cedo, aliás, começou a gravar versões em espanhol dos seus êxitos. Os anos 70 reforçam esta tendência. O tema Amigo é o ponto mais alto de sucesso. A sua versão em espanhol arrasa por toda Hispano-América e entra muito forte no mercado espanhol. Nunca nenhum artista brasileiro conheceu tão forte implantação nesses mercados.


Roberto Carlos - Amigo (1977)

Espanha - 21/08/1978: #13 Top Singles (11 semanas em lista)

Fonte: Fernando Salaverry - Sólo éxitos: Año a año (1959 - 2004)

quinta-feira, dezembro 14, 2006

Noites tropicais (13)

Roberto Carlos - Amigo (1977)
Desde há muito que a carreira de Roberto Carlos se desenvolve em trâmites rotineiros. Um álbum de originais, cujo título é tão-só o nome do cantor, e um programa especial na Rede Globo cada ano, sempre pela mesma altura. Volta e meia enceta uma digressão. Contudo, para os mais atentos, é visível a existência de fases bem marcadas, só que a evolução que as traçou foi acompanhando a natural evolução das gerações que constituíram o seu público e deu-se sem rupturas. Assim, o rocker rebelde dos anos 60 deu lugar, quase sem se dar por isso, ao místico artífice de hinos religiosos dos anos 70. Paulatinamente, chega aos 8o, consolidado na condição de cançonetista clássico que abarca vários estilos enquadráveis nos gostos convencionais dos públicos mais maduros. A descrição desta evolução não pode, porém, deixar passar em branco o facto de, pontualmente, ter lançado êxitos de vendas que excederam o volume médio garantido de vendas apreciáveis. O caso mais notório foi, nos finais da década de 70, Amigo, tema dedicado a Erasmo Carlos, seu dilecto companheiro de composição (Veja-se o video que ilustra eloquentemente a sua natureza de dedicatória). Este foi, talvez, o maior êxito de toda a sua carreira, pelo menos em número de vendas excedeu certamente os míticos êxitos dos anos 60.

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Noites tropicais (12)

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Roberto Carlos - Roberto Carlos em ritmo de aventura (1967)
Este álbum é um dos mais representativos da fase inicial de Roberto Carlos. Corresponde ao filme homónimo que foi um dos marcos que assinalou a explosão do fenómeno Roberto Carlos como expoente da jovem música brasileira nos anos sessenta. Ele representou para o Brasil (e não só...) o que os Beatles representaram para o mundo. Teve impacto com a imagem de jovem rebelde e com a música rítmica onde imperavam as guitarras eléctricas e o órgão Hammond. Tinha ainda uma voz e uma pose que, seguindo os padrões do rock & roll, era uma receita que arrasava por todo o lado.
Para mim este álbum ficará sempre ligado a um São João do Porto, tinha eu dez ou onze anos. Por todo o lado se ouvia o grande êxito Quando, em especial naqueles bailaricos dos largos e recantos, onde as populares rusgas se detinham ou formavam. Por estranho que possa parecer, é e será sempre, para mim, a música emblemática do São João do Porto, quando o martelinho de plástico ainda não se tinha imposto ao alho porro e à ramalhosa...
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Roberto Carlos - Quando in Roberto Carlos em ritmo de aventura (1967)

Tiro ao Alvo (16)

O livro de Carolina

Em boa verdade, as revelações de Carolina não acrescentam nada ao que já se sabia. Há muitas calúnias, mentiras, meias verdades e exageros. Mas há, certamente, algumas realidades que não se podem, nem devem ignorar, sobretudo pelos que, como eu, são orgulhosos da sua condição portista. Torna-se cada vez mais visível que Jorge Nuno Pinto da Costa foi decisivo e indispensável na ascensão e consolidação do FCP, mas perdeu brilho nos últimos anos. Sabe-se que nunca foi, nem pretendeu ser, um modelo de virtudes. Para os adeptos, o que sempre interessou foram as suas capacidades de líderança, cujos resultados transcenderam tudo o que se poderia imaginar e que jamais algum dirigente desportivo conseguiu alcançar. Todos os portistas, lhe estarão eternamente gratos. Tem um lugar à parte na história do clube. Contudo, não há personagens isentos de defeitos e Jorge Nuno Pinto da Costa é uma moeda de duas faces. Na menos brilhante inserem-se algumas práticas de "não olhar a meios para atingir fins". Acredito que entre meados de 80 e meados de 90 tivesse havido algum manejo de bastidores, em que se tentou influenciar a arbitragem e que isso deu alguns frutos, embora, nem pouco mais ou menos aqueles que, em típico delírio de inveja, foram e são esgrimidos... Nesse tempos, e dadas as circunstâncias, era compreensível. O futebol português era um mundo à margem. Entre influências institucionais vindas de um longo passado e pequenos jeitos para amigos, que sempre caracterizaram uma sociedade com uma matriz mental de manhas e expedientes camponeses, quem renunciasse a essas vias seria um tolo. Nesse contexto, tais manejos eram compreensíveis. Será necessário um pesado facciosismo ou, mesmo, alguma má-fé para não reconhecer que os outros só não o fizeram com eficácia, não por renegarem os métodos, mas por incompetência. O essencial é que, numa estratégia que incorporou tais práticas, se construiu a base para uma boa equipa de futebol, dentro das quatro linhas. A sua legitimidade não foi menor do que aquela que havia na base de amparo institucional para o Sporting dos 5 Violinos ou o Benfica de Eusébio. Seja como for, insisto, construiu-se a estrutura para o melhor futebol efectivamente jogado em Portugal e com projecção internacional.
Os tempos mudaram, evoluíram. Descontado o oportunismo das frustradas legiões de adeptos sportinguistas e benfiquistas, as exigências éticas foram crescendo. A persistência de tais práticas, pela força da rotina e do vício, tornou-se um inconveniente excesso de zelo. Nada trouxe de bom, sob nenhum ponto de vista, desde há uma década para cá. Nos últimos anos, entre os três grandes, o FCP é o relativamente menos beneficiado pelas arbitragens. Temerosos por serem associados a tais práticas, os árbitros, in dubio, decidem contra as cores azuis e brancas. Contudo, Jorge Nuno Pinto da Costa tem dificuldade em exercer de timoneiro sem esse modus operandi e, além do mais, certos males de um ego desmedido têm vindo a agravar-se. O livro de Carolina é o resultado destes dois factores.
Seria absurdo imaginar que a nação benfiquista seguisse o velho princípio imperial: "Roma não paga a traidores". Pelo contrário, esse universo plebeu recompensa, com entusiasmo pueril, os traidores. De certa fora, é a metáfora do país que temos, acrisolado na inveja. Imaginam o seu rival com depositário de todos os defeitos mafiosos, porque não aguentam a evidência do mérito das suas glórias. Afadigam-se em encontrar a chave do segredo, exclusivamente nos terrenos mais pantanosos, mas as tentativas de encontrar um padrinho superior têm sido grotescas e algumas, como o fenómeno Vale e Azevedo, trouxeram vexames inomináveis.
Pelo seu lado, a aristocracia de Alvalade insiste em proclamar as suas virtudes num processo que desde há muito consolidou uma cultura de derrota, servida por um exemplar espírito calimero.
Dois tipos distintos de medíocridade instalaram-se e criaram raízes na Segunda Circular. Na Invicta, criadas as indispensáveis estruturas que, em devido tempo, permitiram as condições para as vitórias internas, instalou-se um futebol competitivo e susceptível de proporcionar qualidade dentro das quatro linhas, conquistando glórias na Europa e no mundo. Para os portistas, evidentemente, há que preservar este estado de coisas, mas para os mais lúcidos, como Miguel Sousa Tavares, chegou a hora de dizer que, para tal, talvez seja preciso que o tempo de Jorge Nuno Pinto da Costa acabe. Entre os portistas que se discuta serenamente tal questão. Quanto a outros, pois que continuem a pagar a traidores. Vão longe!

terça-feira, dezembro 12, 2006

Viagens (47): Norte de Itália / Julho - Agosto de 2001 (5)

4º Dia (3ª Feira / manhã)

Para este dia estava planeada uma visita a San Gimignano e Siena. Na Hertz diligenciei o aluguer de uma viatura. O que é que haveria de calhar em sorte? ...Pois, mais um Ford Ka.
A estrada que vai até Siena não sendo propriamente uma auto-estrada, tem faixas separadas, com óptimo piso e não tem portagem. A paisagem toscana está repleta de colinas e é verdejante. Vêm-se muitas casas de quintas. A natureza é ao mesmo tempo exuberante e civilizada. Predominam vinhedos e bosques.
Passei por Poggibonsi, cidadezinha de 20.000 habitantes, com ar próspero. É um dos centros de produção do vinho Chianti. Logo a seguir, consegue-se divisar ao longe San Gimignano, com as suas treze torres. Está no cimo de uma colina, amuralhada. A invasão turística que assolava Florença estendia-se até aqui, produzindo, desde logo, dificuldades para estacionar em qualquer um dos terreiros no exterior da muralha. Não há cidade fora da muralha e lá dentro todas as casas são medievais. Nem Óbidos consegue ter um aspecto tão homogéneo e coerentemente antigo, embora esta cidade seja maior, mais populosa e mais visitada, talvez, numa escala de dez vezes mais... As tais torres, são de palácios aristocráticos e sugerem-nos aquela Toscana medieval onde imperavam rivalidades entre cidades, príncipes e condottieri. Aqui, nesse passado convulso, cada nobre pretendia suplantar o nobre vizinho pela altura da sua torre. Este espírito puerilmente vaidoso é, ao fim e ao cabo, o mesmo que esteve na base do mecenato. É claro que o resultado atenta contra todas as noções de harmonia e proporção, mas não deixa de ser pitoresco. Algures antes dos finais da Idade Média, San Gimignano parou no tempo. O esplendor das vizinhas Florença e Siena determinaram o seu estertor. Apenas se manteve uma activa produção vinícola. Assim chegou aos nossos dias esta anacrónica pérola medieval. Renasce agora em função do turismo.
Estava um calor ainda mais insuportável que o nos dias anteriores. À hora de almoço, encontrei refúgio numa loja com ar condicionado, que vendia sanduíches e proporcionava ao mesmo tempo mesas e bancos para se comer. Assim, nesta espécie de self service rústico acabei por comer e, muito bem, ademais por um preço que, em Itália, é magnífico. Entre outras coisas, foi-me apresentada a mais popular cerveja italiana, a Moretti, assim como a Broschetta, que consiste numa fatia de pão frito com tomate e mais alguns condimentos.

Castilla (19): Castilla y León

Tierra de Campos in A vista de pájaro - Palencia
Entre as províncias de Burgos e León fica a província de Palencia. É uma das mais genuinamente castelhanas, com a maior parte do seu território espraiado por extensas planuras, bem características da meseta. Essas terras, juntamente com outras de províncias limítrofes, constituem a Tierra de Campos. A sequência é retirada de A vista de pájaro e mostra povoações transbordantes de carácter e história: Paredes de Nava, Fuentes de Nava e Becerril de Campos. São terras entranhadamente castelhanas.

Viagens (46)

Condé Nast Traveler, Nov 2006: Top ten cities Europe
O número de Novembro da revista norte-americana de viagens Condé Nast Traveler divulgou listas do que, segundo os critérios próprios, é o melhor em diferentes itens de viagens e turismo. Eis aqui o top ten das cidades europeias:

1 Florença 86,8
2 Roma 85,0
3 Veneza 82,9
4 Istambul 81,3
5 Paris 80,8
6 Barcelona 79,7
7 Siena 79,6
8 Bruges 78,3
9 Londres 78,3
10 Viena 78,1

segunda-feira, dezembro 11, 2006

Castilla (18): Castilla y León

León (anos 50): León, Riaño e León

domingo, dezembro 10, 2006

Castilla (17): Castilla y León

Burgos (anos 50): Burgos, Poncorbo, Medina de Pomar e Santo Domingo de Silos

sábado, dezembro 09, 2006

Tiro ao Alvo (15)

Stephen Frears - The Queen (2006)

Vivemos tempos democráticos, em que o povo é servido à medida dos seus gostos por uma indústria mediática. Esta esmera-se em dar-lhe ídolos e sensações fortes. A Princesa Diana foi um desses ídolos. A sua morte foi uma oportunidade para um prato bem servido de sensações fortes. Este filme aborda o modo como a família real britânica, e muito em especial, a rainha, lidaram com as vagas altas dessa indecorosa exploração. Oferece ocasião para reflexões em diferentes sentidos: não só sobre a histeria sensacionalista do vigente império mediático, mas também sobre a natureza e o carácter da instituição monárquica e sobre o que efectivamente vale a democracia actual, por exemplo. Quem é avesso ao reconhecimento da valia das instituições monárquicas poderá ter aqui uma lição - no mínimo dos mínimos, pode ser um contraponto à vulgaridade imperante, ou seja esta mistela de plebeísmo e individualismo hedonista servida em doses maciças de superficialidade e falta de valores substantivos. Mas, não é difícil ir mais longe e perceber como a instituição monárquica pode deter um valor simbólico agregador dos valores históricos identitários da comunidade.
Fazer um filme como este não foi tarefa fácil. Pôr em cena personagens vivos que permanecem na ribalta, ainda por cima da talha da própria rainha ou do primeiro-ministro Tony Blair, requer coragem e suma habilidade. Stephen Frears sai-se bem da façanha. Se para tal tem o decisivo contributo da actriz Helen Mirren (candidata ao óscar de melhor actriz), na verdade também não deixa de ter uma boa ajuda por parte de Michael Sheen, como Tony Blair. Lidar com um argumento como o que serve de base a este filme é, logo à partida, um exercício de atrevimento que define a capacidade de um realizador.

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sexta-feira, dezembro 08, 2006

Tiro ao Alvo (14)

Vacas e automóveis
Li há alguns dias num jornal uma curiosa notícia, cujo sentido pode ser traduzido, sem grande exagero, da seguinte forma expressiva: Imagine-se um cenário campestre, bucólico, composto por vacas a pastar num verde prado. Imagine-se agora a hedionda IC19 num início de manhã de dia útil, algures entre Cacém e Queluz, atascada num costumeiro engarrafamento automóvel. Pois fique-se sabendo, que a primeira imagem corresponderá, provavelmente, a uma situação mais danosa para o chamado equilíbrio do meio ambiente e um contributo mais efectivo para o aquecimento global do planeta! Efectivamente, a libertação de metano produzida pelo gado, e particularmente por aquele que é mais dado a manifestações aerofágicas, como parece ser o caso do gado vacum, constitui uma ameaça maior que o CO2 libertado pelos tubos de escape. Assim, talvez se justifique mais um acto de contrição no momento em que se coma mais um iogurte do que no momento em que se gire a chave de ignição para arrancar com o automóvel… Parece que a fonte é uma revista científica e, parece, inclusivamente, que para os organismos internacionais dedicados ao estudo deste tipo de problemas, isto não é propriamente um segredo…. O que se passa é que por razões de ordem política e pela histeria sensacionalista em que os media vivem, constituiu-se um poderoso filtro, que não só selecciona a informação em função de uma percepção dominante, como, de algum modo, induz opções políticas (cada vez mais cativas da popularidade mediática) que forçam a adopção de prioridades erradas de investigação junto da comunidade científica. Algo, enfim, que o dinamarquês Bjørn Lomborg tem vindo a denunciar, em particular na sua obra The Skeptical Environmentalist (2001).
Não consegui encontrar on-line o artigo em questão, o qual, julgo, ter lido no Público. Contudo, uma simples pesquisa no Google conduziu-me a este artigo, Vacas contaminantes, o qual aborda o mesmo problema.

quarta-feira, dezembro 06, 2006

Guia hispânico (24)

Marina Mayoral - Tristes armas (2001)
A sociedade espanhola parece cada vez mais decidida a enfrentar os pesados fantasmas da Guerra Civil. O tabu vai quebrando-se. Algo que se nota na historiografia, mas também na literatura. A pequena novela aqui em apreço é um exemplo, tanto mais se se tiver em consideração que parece vocacionada para públicos juvenis. A história de duas pequenas irmãs, que na voragem dos acontecimentos acabam num orfanato soviético ilustra a triste trajectória de los niños de Rusia. O que tem de notável é a capacidade de transmitir realidades horríveis de um modo que não agride a sensibilidade, o que se nota no cuidado de fazer intervir vários personagens de bom carácter (de ambos os bandos!), que arriscam a sua segurança em nome dos elementares valores da humanidade. É, portanto, uma visão que supera completamente qualquer vestígio de maniqueísmo, acabando por ser uma pequena ajuda para o entendimento da psicologia humana em situações tão extremas como a de uma cruel guerra civil, com tudo o que envolve de proximidade familiar e mental entre os intervenientes dos dois bandos.
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terça-feira, dezembro 05, 2006

Complexo de Aljubarrota (9)

Rafael Valladares e a Restauração
Palavras sábias e avisadas a do historiador Rafael Valladares a propósito da Restauração da independência de Portugal, em 1640.
Ler entrevista em O Sol.

sábado, dezembro 02, 2006

Il bel paese (7)

Genova, Portofino, Paraggi, Camogli, Santa Margherita Ligure in L'Italia dal cielo (2005)

sexta-feira, dezembro 01, 2006

Il bel paese (6)

Lago Maggiore: Stresa / Isole Borromee in L'Italia dal cielo (2005)

Il bel paese (5)

L'Italia dal cielo (2005)
Desde que em meados dos anos 80 a RTVE produziu a monumental série A vista de pájaro, foram surgindo em Espanha sucessivas séries análogas, mas de âmbito ainda mais detalhado, focando especificamente diversas regiões. Têm vindo a ser realizadas por iniciativa, ou com a participação, de emissoras televisivas autonómicas. Hoje em dia, a Espanha é uma referência para esse tipo de documentários.
Sempre ambicionei encontrar documentários do mesmo género referentes a outros países, muito em particular, em relação à Itália. Que melhor matéria se poderia ter do que as paisagens italianas? Finalmente encontrei e acedi a esta série, editada em 3 DVDs. Note-se que é a versão italiana de uma produção originariamente norte-americana.
Depois de a ver, deixa-me sensações contraditórias. Como seria de esperar, as belas paisagens naturais e citadinas sustentam um produto notável. Sucede ainda que a qualidade técnica é excelente, com imagem de alta definição. Os textos cumprem adequadamente com a sua função. A locução e a música estão a um nível igualmente adequado. Contudo, fiquei com um sabor próprio de um magnífico aperitivo, mas como que privado do resto da refeição... O problema traduz-se simplesmente da seguinte maneira: Como meter a Itália toda em 3 horas e 45 minutos? Muita, muita coisa tem que ficar de fora e em quase todos os sítios por onde se passa a passagem é demasiado superficial. Dois exemplos: nada sobre Milão ou Turim! Habituado que estou ao detalhe das produções espanholas, aguardarei que um dia surjam produções de nível idêntico para a Itália. Para já saboreio este aperitivo.

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sábado, novembro 25, 2006

Galícia (15)

Uxía - Estou vivindo no ceo (1995)
Há uma deriva na música galega, que se transformou numa corrente dominante desde há muito tempo. É a da influência irlandesa. Resulta da consciência do carácter céltico da cultura popular galega, o qual, se bem que legitimado por muitos elementos objectivos, não deixa de ter uma certa dose de mito. Independentemente do grau de autenticidade, a verdade é que os frutos dessa deriva têm produzido resultados interessantes. Contudo, o álbum em apreço representa uma outra deriva, a qual, em proporções muito mais modestas não deixa de ter os seus representantes. É a da influência portuguesa. Note-se que é uma corrente modesta em termos musicais, mas, verdade se diga, que existe no galeguismo intelectual uma corrente com peso, cuja expressão em termos de doutrina linguística é o reintegracionismo, ou seja, a defesa da reintegração do idioma galego nas normas ortográficas e fonéticas da língua portuguesa. Por este exemplo se pode aperceber o romantismo utópico que grassa nessas hostes... Seja como for, existe entre essa gente, de forte empenhamento político (geralmente alinhado com o Bloque Nacionalista Galego), uma natural simpatia pelas coisas portuguesas.
Uxía Senlle, ex-integrante do grupo Na lúa, enquadra-se nestes meios. Meios onde, por exemplo, a figura de José Afonso foi uma referência. Este álbum é uma cabal demonstração do peso dessa referência, ou não se desse o facto de incluir três versões de famosos temas dele: Verdes são os campos (soneto de Camões),
Milho verde (tradicional) e Senhora do Almortão (tradicional). Significativamente, a produção artística é de Júlio Pereira. Contudo, não deixaria de ser um álbum banal se se limitasse a estas recriações de sabor requentado e sem inovações de registo. Na verdade, e em contra-tendência com o tributo lusitano, abre com uma jóia de valor excepcional, que é genuinamente galega: Alala das Mariñas, um tradicional da região do mesmo nome, no nordeste da província da Coruña e noroeste da província de Lugo. Que belo fulgor de espessa melancolia passa por este canto de nostalgia emigrante! Sublime!
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Página web sobre Uxía in Nubenegra
Página web sobre Uxía in At-Tambur

Uxía: Alala das Mariñas in Estou vivindo no ceo (1995)

Galícia (14)

Betanzos / Pontedeume in A vista de pájaro - A Coruña
Betanzos e Pontedeume são duas localidades situadas no norte da província de A Coruña, próximas da capital, na região de As Mariñas.
Betanzos ou Betanzos dos Cabaleiros (como em tempos idos era designada) é uma cidadezinha histórica, situada na confluência de dois rios (Mendo e Mandeo), pouco antes das suas águas se juntarem com as do mar, formando uma ria. É também sede da comarca do mesmo nome.
Pontedeume é uma vila antiga, cujo nome advem da extensa ponte que atravessa o rio Eume, aí já praticamente ria. É sede da comarca de Eume.
Estas duas localidades têm uma insuspeita ligação a Portugal, ou melhor, às mais ancestrais raízes de Portugal. Vimara Peres, que conquistou Portucale (Porto) aos mouros, em 868, e fundou Vimaranis (Guimarães), seria provavelmente oriundo dessa região. Daí teria trazido os povoadores da Terra Portugalensis (Entre o Douro e Minho), carenciadas de gente, após o despovoamento causado pelos avanços e recuos da fronteira entre mouros e cristãos. Os indícios vêm dos nomes de lugares e gentes, nomeadamente das nobiliárquicas estirpes Mendo (...e, consequentemente, Mendes, ou seja, filho de Mendo) e Andrade, tão destacadas nos tempos do e 2º Condados Portucalenses. Ambos os apelidos evocam Betanzos e Pontedeume.

terça-feira, novembro 21, 2006

Cuore matto (11)


Mina - Ancora, ancora, ancora
(1978)
Este vídeo ilustra, ao que parece, a última aparição televisiva de Mina, algures nos finais dos anos 70. É uma transbordante manifestação de sensualidade e poderio interpretativo. Apesar da amostra aqui presente estar truncada (pela duração abruptamente encurtada e pelo desfilar do genérico), é um testemunho incrível - um autêntico desplante da artista, que dir-se-ia estar no limiar do descontrolo. Veja-se como, num arrebatamento de impetuosa gestualidade (que lhe era, aliás, comum), a páginas tantas enceta uma desconexa batalha com o cabelo, que resulta num desenlace sem solução de continudade. Nesse impasse, expeditamente retoma a desenvoltura com um sorriso trocista... É um vulcão de eruptiva sensualidade. Comparado com isto, os exibicionismos de madonnas e outras divas de pacotilha do actual pop mainstream, mais não são do que insonsas imposturas pronto-a-vestir de marketing para o povinho...
Para ser visto (e idolatrado!) ancora, ancora, ancora... sempre ancora.

Cuore matto (10)

Ornella Vanoni - A un certo punto... (1974)
O ano de 1974 é particularmente notável na carreira discográfica de Ornella Vanoni. Apenas uns meses antes de La voglia di sognare, havia surgido este álbum, A un certo punto.... São os dois muito bons. Neste, descontado o último tema - versão do alegre tema de Caetano Veloso, Chuva, suor e cerveja - há uma nuvem de suavidade que perpassa por todo o álbum. É algo que esbate os conteúdos fortes, modulando a expressão das emoções. Sucedem-se as canções de amor tocadas pela melancolia. Bela melancolia, diga-se, iluminada por laivos de dramatismo contido... É um dos registos em que os dotes de Ornella mais sobressaem. Para completar, as canções são de boa colheita compositora e os arranjos orquestrais são um primor. Enfim, é maais um momento alto do cançonetismo italiano.

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Ornella Vanoni - Prime ore del mattino in A un certo punto... (1974)


Ornella Vanoni - Il continente delle cose amate in A un certo punto... (1974)

Cuore matto (9)

Ornella Vanoni - La voglia di sognare (1974)
Nos anos 70, um pouco em contra-tendência, a canção italiana atinge a sua plenitude. É um facto que o Festival de San Remo estava cada vez mais longe do esplendor da década anterior, mas, em contrapartida, a produção discográfica utiliza meios de produção mais modernos, incorporando, pontualmente, alguns elementos oriundos do pop/rock. A perda de importância do cançonetismo, em Itália, traduz-se, assim, mais no plano quantitativo e, eventualmente, comercial, do que no plano substantivo da qualidade. É o que se passa com Ornella Vanoni, uma das consagradas dos tempos áureos de San Remo.
La voglia di sognare apresenta uma linha melodiosa homogénea. Contudo, o repertório não deixa de ser relativamente variado, com duas versões de temas franceses e uma versão de um tema brasileiro, sendo os oito restantes temas inéditos de consagrados compositores italianos. O valor do conjunto é elevado, mas o destaque vai para Un mondo di più, de Lucio Dalla e Sergio Bardotti - um sugestivo tema de amor que prova como a voz de Ornella, apesar de frágil, pode ser insinuante e quente...
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Ornella Vanoni - Un mondo di più in La voglia di sognare (1974)

Cuore matto (8)


Grande senhora da canção italiana, Ornella Vanoni é quem mais tem sustentado um estatuto de paridade em relação a Mina. Entre os fans de ambas (gente já com idade para ter juízo...) há um longo passado de rivalidades, um pouco à maneira do que ocorria cá, nos anos 60, entre os fans de Madalena Iglésias e os de Simone, mas em ponto muito maior. A verdade é que, quer Ornella, quer Mina, cada uma no seu estilo, representam o melhor da música ligeira. Por mim, adoro as duas, reconhecendo, obviamente, que são muito diferentes. Em todo o caso, a disputa, se é que verdadeiramente existe, pode-se presumir no que diz respeito às respectivas páginas oficiais na Web. Neste particular, parece que se pretende não ficar atrás de Mina... Com efeito, no seu sítio oficial há um excelente grafismo, que se adequa ao seu estilo.

sábado, novembro 18, 2006

Galícia (13)


Amancio Prada - A dama e o cabaleiro / Poemas de Álvaro Cunqueiro (1987)
Amancio Prada é um cantautor berciano (da região situada no oeste da província de León, conhecida como Bierzo, onde cerca de metade da população é de língua galega). De acordo com tais origens, tem dividido a sua carreira entre a expressão galega e a expressão castelhana. Este álbum pertende ao "ramo galego". Aqui, dedica-se a pôr em música cantigas de amigo e cantigas de amor não legítimas, ou seja, não aquelas, trovadorescas, que foram escritas na Idade Média (algo que já anteriormente havia feito em Leliadoura, 1977), mas sim contemporâneas, da lavra do escritor, poeta (e gastrónomo...) Álvaro Cunqueiro. O resultado é magnífico. A lírica galega passa em elevado plano por todo o álbum, atingindo o ponto mais alto nos temas Amiga namorado vou e No niño novo do vento. Ao contrário do que sucedeu em Leliadoura, Prada opta por arranjos que não são enquadráveis no folk ou no tradicional, mas sim na canção clássica, sobressaindo um piano que pauta o ambiente. Em quatro faixas adopta-se a junção de dois temas em contínuo, sendo este o único recurso, digamos, um pouco menos convencional, mas bem conseguido. Longe, é certo, de outras suas propostas bem originais (algumas até radicais...), este álbum é um dos melhores de toda a sua carreira, sendo aquele que, fora dos característicos registos folk e/ou tradicional, mais nos faz chegar à alma galega.
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Amancio Prada: No niño novo do vento in A dama e o cabaleiro (1987)

Galícia (12)

A Coruña (anos 50): Betanzos, A Coruña, Pontedeume e Carballo

sexta-feira, novembro 17, 2006

Mariachi y tequila (34)

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Alejandro Fernández - A corazón abierto (2004)
Mais apropriado para este post seria o título El hijo del Mariachi, pois se é verdade que Alejandro já demonstrou possuir qualidades que o podem tornar um digno sucessor de seu pai, Vicente Fernández, não é menos verdade que este álbum é mais um que está inteiramente inserido num registo pop, que tem sido, aliás, o dominante na sua carreira. Dentro dos cânones da produção de Miami, escorreita, mas "industrial", eis, portanto, mais um álbum que lhe permite alicerçar um estatuto com uma projecção cada vez mais ampla, abarcando todo o mercado hispano e adjacências... Sucede que, além do mais, o álbum se apoia em duas magníficas baladas: Me dediqué a perderte e Qué lástima. O resto, não comprometendo, também não é deslumbrante, servindo para constatar que o amadurecimento das suas qualidades interpreativas já dá para disfarçar algumas debilidades de repertório...

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Página Web Oficial

Alejandro Fernández: Qué lástima in A corazón abierto (2004)

terça-feira, novembro 14, 2006

Perros callejeros (8)

Los Chunguitos - Soy un perro callejero (1988)

Memória do futebol (2)

Grandezas: delírios e realidades
A iniciativa do Benfica em se alardear como recordista mundial em número de sócios suscita-me alguns reparos. Ao contrário do que possa parecer, a iniciativa é mais uma demonstração da sua decadência na galeria dos grandes do futebol mundial. Perdida a glória de ser o clube português com melhor palmarés internacional e confrontado a nível interno com a perda da hegemonia, investe nestas glórias... Iniciativas de divulgação da sua grandeza na história do futebol seriam mais sensatas e pertinentes. Esta, na verdade, é uma glória patética, que assenta na efémera mobilização de sócios, um tanto ad hoc... Tão patética quanto, sendo, indiscutivelmente, o clube com maior número de adeptos, não conseguiu, nas últimas temporadas (mesmo naquela em que foi campeão) ter a liderança na média de assistências por jogo... Além do mais, isto parece ser uma consolação para o desfazer da quimera delirante dos 300.000 sócios... A massa crítica benfiquista, qual aristocracia decadente, parece entregar-se à fruição de delírios megalómanos...
O conceito de sócio é obsoleto para os grandes clubes mundiais. Bem mais significativo é, por exemplo, o número de abonados de pacotes de bilhetes por temporada ou competição, de compras de assistências televisivas de jogos em pay per view, ou, evidentemente, de assistências nos estádios. O conceito de sócio era algo decisivo nas velhas entidades clubísticas, nas quais a prática desportiva fazia parte da afirmação da identidade. Hoje, a nível de grandes clubes, essa realidade só persiste na América do Sul. E mesmo aí, advinha-se, já em crise...
Verdadeiro Ranking de grandeza (algo cruel, mas cada vez mais incontornável) é o que a empresa de consultadoria Deloitte vem fazendo nos últimos anos, ordenando os 20 clubes mais ricos do mundo em função dos seus rendimentos. Veja-se o último, relativo a 2005, in Deloitte (España). No que diz respeito a clubes portugueses, só esteve próximo da lista o FC Porto. Passou, episodicamente pelos 5 lugares adicionais (ou seja, entre o 21º e o 25º lugar), por força da campanha que lhe deu o título europeu e os correspondentes prémios financeiros. Tal sucedeu em 2004. Não há perspectivas razoáveis que possa voltar a suceder a curto ou médio prazo com um clube português.

domingo, novembro 12, 2006

Mediterráneo / Mediterrània (33): Catalunya: Barcelona


Edifícios modernistas - p
ostais (191?, 192?)
Les Punxes (Josep Puig i Cadafalch, 1867-1957); Palau de la Música Catalana (Lluís Domènech i Montaner, 1850-1923); La Pedrera (Casa Milà i Camps) (Antoni Gaudí i Cornet, 1852-1926).

sexta-feira, novembro 10, 2006

Il bel paese (4)

Florença - finais dos anos 40

Viagens (45): Norte de Itália / Julho - Agosto de 2001 (4)

Viagem ao Norte de Itália (Julho/Agosto de 2001) 3º Dia

De manhã, ao sair do hotel, pude finalmente constatar aos encantos de Florença. A luminosidade e a ausência de fadiga permitia-me uma visão diferente. Deparei-me logo com a imponência do Palazzo Strozzi e com a igreja de Santa Maria Novella, que tem uma fachada onde sobressai o contraste entre as linhas entremeadas de cinzento claro e de cinzento escuro, o que se repete, aliás, em vários outros edifícios religiosos e laicos.
Um dos problemas que afectou a estadia foi a avalanche turística que me dissuadiu de engrossar as longuíssimas bichas para entrar em sítios fundamentais. Porém, ainda pior foi a onda de calor, com temperaturas máximas em torno dos 37º e mínimas que não desciam dos 23º. Florença foi protagonista desta vaga e os telejornais repetiam imagens de turistas banhando-se nas fontes.
A Catedral de Santa Maria del Fiore (Duomo) é um dos ex-libris da cidade. A grandiosidade da cúpula, de Brunelleschi, contrasta com a graciosidade das linhas de todo o edifício, em particular com a fachada e o Campanille (torre sineira). Há formas geométricas nos mesmos tons de Santa Maria Novella. Sempre tive queda pelos excessos barrocos, contudo, o classicismo florentino, nomeadamente o que se pode apreciar no Duomo, é de insuperável elegância, sem renunciar a pormenores decorativos. Ainda assim, o interior pareceu-me não estar à altura do exterior. O baptistério, edificado à parte (em Pisa também é assim), bem no centro da praça, é imponente. A Porta do Paraíso (Leste) atraía uma descomunal fila de turistas, cuja maioria, talvez, não soubesse estar perante uma réplica. O original está no vizinho Museo dell’opere del Duomo. Todo este conjunto monumental, visto de cima não deixaria de se assemelhar a torrões de açúcar atacados por um formigueiro. Os turistas são aqui uma completa amostra da humanidade - pude ver, por exemplo, uma excursão de turistas hindus.... Muitos faziam parte de grupos guiados que se embrenhavam por ruas esconsas. Mesmo em sítios aparentemente comuns paravam, banhados em suor, escutando o guia. Em boa verdade, qualquer recanto pode exalar história e a arte pode assaltar a partir de um qualquer saguão. Pouca coisa comum deve haver no centro de Florença... O vulgar turista, mesmo aquele que detém alguma sensibilidade para as coisas da arte e da história, corre o risco de enfartamento. Mas, não se pense que é uma cidade museu, no sentido, em que esteja desprovida de vida normal. Tem cerca de meio milhão de habitantes e um intenso tráfico adaptado às contingências de uma morfologia medieval. Contudo, note-se, que não se vislumbra em todo o centro um único edifício moderno! Este e outros sintomas denotam que a cidadania está orgulhosa do estatuto ímpar da sua urbe.
A Via dei Calzaiuoli é o eixo que atravessa o centro. Um pouco mais ampla que as restantes ruas, exclusivamente reservada a peões, vem desde o Duomo, passa perto da Piazza della Repubblica e desagua na Piazza della Signoria. A Piazza della Repubblica está composta por edifícios novecentistas, de linhas clássicas, ocupados por companhias de seguros. Está rodeada de cafés com esplanadas, onde os turistas são alegremente espoliados pelo consumo de um Cinzano ou de um gelato. A Piazza della Signoria é a ágora – o coração cívico. Impressionei-me quando lá cheguei e dei de caras com o ex-libris máximo, o Palazzo Vecchio e a sua torre comunale. Lá estão estátuas célebres como Perseu, de Benvenuto Cellini e, sobretudo, Davide, de Michelangelo. Mas, é evidente que são réplicas... Naquela manhã de primeira segunda-feira de Agosto, aquele lugar parecia palco de um quase tumulto, tal era a quantidade de turistas emocionados que tropeçam uns nos outros, de máquina fotográfica em riste. Com efeito, muita gente chega aqui com a emoção com que um muçulmano chega Meca. Perante a visão do Davide com a moldura do Palazzo Vecchio atrás, sente que cumpriu um desígnio superior – muitos não se contêm e tratam de utilizar o telemóvel para participar o evento a um algum ente querido distante. Para mim não foi muito distinta a sensação de atravessar a Ponte Vecchio, que até os nazis não tiveram coragem de bombardear... Todas as lojas da ponte, com uma única excepção, são ourivesarias. As montras ostentavam peças a preços inalcançáveis. Mas mais importante foi comprovar que dessa ponte mítica se pode apreciar um pôr de sol especial... Toda o dia foi ocupado em deambulações pedestres – é a única forma adequada de conhecer a cidade. Quando caiu a noite foi uma surpresa verificar que não havia gente na rua na quantidade que seria de esperar. Depreendi que em Itália há pouca animação exterior nocturna, sobretudo, atendendo às potencialidades dos espaços e ao que ocorre, por exemplo, em Espanha.