3º Dia – 6 de Abril (6ª Feira) (tarde)
Almocei magnificamente na bela localidade de Potes – uma habada (feijoada) típica da região. Potes tem um interessante núcleo central antigo, onde sobressaem uma velha ponte e um imponente paço medieval (Torre del Infantado). É a mais importante localidade de La Liébana, no sudoeste de Cantábria. Encontra-se já na área de influência de Santander – os jornais que se vêm são desta cidade, com destaque para El Diario Montañés.
A estadia em Cantábria limitou-se à travessia do seu extremo sudoeste. A estrada, apertada pelo imponente desfiladeiro de La Hermida, conduziu-me ao Principado de Astúrias. Entretanto, chegara a chuva inesperadamente. A verde Astúrias não abdicava da sua bruma e chuva, fazendo-se anunciar com esta mudança meteorológica... Assim entrei pela primeira vez nesta região, que desde há muito ansiava conhecer. Foi uma entrada à altura das expectativas. Em Cabrales, um desvio por motivo de obras, conduziu-me a um pedaço da recôndita ruralidade asturiana, onde me ia despistando por prados repletos de vacas, tendo como pano de fundo paisagens de alta montanha...
Ia agora na direcção Oeste, com o objectivo de subir ainda nessa tarde aos Lagos de Covadonga. Acabou por ser um objectivo gorado, pois o denso nevoeiro inviabilizou a façanha a meio da escalada, quando esta se tornava pouco menos que suicida. Assim, assentei arrais na cidadezinha de Cangas de Onís bem antes do anoitecer. Aqui nasceu o primeiro reino cristão independente da tutela muçulmana. Mas, além desta glória, apresenta um testemunho monumental do seu prestigioso passado - uma magnífica ponte medieval, que aparece frequentemente em prospectos turísticos da região. Nela está suspensa a emblemática Cruz de Pelayo, presente na bandeira asturiana.
Em Cangas de Onís apercebi-me da personalidade asturiana. Por todo lado há sidrerías – lugares onde se bebe sidra, que é uma típica bebida asturiana, feita a partir de maçã. Há também muitas lojas de recuerdos regionais: réplicas dos espigueiros asturianos (amplos e quadrados - diferentes dos galegos e minhotos, que são mais pequenos e rectangulares); gaiteiros (a gaita asturiana também é diferente da galega); figuras de míticos deuses célticos; múltiplos artefactos feitos com pele de vaca; gorros asturianos; CDs de música regional). Observei também que, nas bancas de jornais, onde imperavam os três principais diários asturianos (El Comércio, de Gijón; La Nueva España e El Periódico de Asturias, de Oviedo), havia um semanário escrito na língua vernácula da região, o bable, ou como os seus defensores preferem, o asturianu. Aliás, pelo caminho, tinha observado que, desde a entrada no Principado, muitas placas toponímicas estavam corrigidas na sua grafia por pichagens. Confirmei que por aqui também há nacionalistas e dedicados amantes de uma língua vernácula. Porém, não detectei ninguém que a falasse. É certo que alguns intelectuais falarão asturianu em actos simbólicos, mas provavelmente será preciso procurar nas montanhas quem ainda o fale com naturalidade. Já tinha lido uma vez no Público que linguistas da Universidade de Oviedo (já agora, Oviéu) tinham muita curiosidade em relação ao mirandês (da zona de Miranda do Douro) que é um dialecto idêntico ao bable / asturianu. Ambos são o que resta da língua astur-leonesa.
Duas coisas conclui: Cangas de Onís é um dos centros simbólicos do asturianismo; este movimento, se nunca teve expressão política, tem alguma existência cultural. Enfim, o cantonalismo das Espanhas não cessa de me surpreender...
2 comentários:
Cantonalismo y caldeado ambiente politico (la crispacion)
Feliz Natal, Feliz Navidad.
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