quinta-feira, dezembro 16, 2004

Perros callejeros (6)

Los Chorbos - Poder gitano (1975)
Aquando do desaparecimento precoce de Manzanita surgiram evocações do início da sua carreira, como membro de Los Chorbos. Com 18 anos, Manzanita integrava esse grupo, quando em 1975 foi editado o álbum Poder gitano. Era apenas guitarrista - a sua voz não contava, o que não deixa de ser incrível... Faziam ainda parte do grupo os irmãos Losada (Amador e Miguelín) e Veneno. Contudo, a alma mater desse projecto era o produtor José Luís de Carlos, da CBS. Foi um projecto revolucionário. Apontou caminhos que conduziram, por um lado, à rumba pop e, por outro, ao nuevo flamenco. De notar que José Luís de Carlos, três anos antes, fora o responsável pela erupção do duo Las Grecas com o retumbante êxito Te estoy amando locamente, que abrira uma nova era. Este produtor, de uma estadia nos EUA, trouxera ideias que incutiu em músicos dispostos a trilhar caminhos inovadores - ideias que começaram a concretizar-se com Las Grecas. Havia que consolidar a conquista. Deste modo, aqui reencontramos a mesma equipa de produção, onde, curiosamente, tem lugar um músico português, Johnny Galvão. A matéria prima de ocasião era este quarteto de jovens ciganos. Com excepção de Manzanita, eram de um bairro pobre do sul de Madrid - Caño Roto. As letras das músicas tinham, aliás, um carácter de denúncia social e de orgulho rácico, sendo, neste particular, um passo em frente em relação a Las Grecas e um prenúncio do que fariam Los Chichos e Los Chunguitos. A este género se chamou Sonido Caño Roto. Está visivelmente marcado por uma transposição, a vários níveis, do conceito black power para algo que poderíamos designar como gypsy power.
O álbum começa com Vuelvo a casa (mais tarde versionado por Los Chunguitos). Ao ouvi-lo temos uma sensação peculiar - algo assim como a que resultaria de uma improvável mistura de um instrumental de Isaac Hayes (em plano Shaft) com vozes aflamencadas e com um batido sincopado de palmas em contratempo, à sevilhana... Toda a gravação discorre a partir deste enunciado e mais de trinta anos depois ainda é fascinante. Quase uma década antes do produtor Mario Pacheco, de Nuevos Medios, ter lançado o conceito Nuevo flamenco, pode-se dizer que a coisa, afinal, já existia.
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