domingo, dezembro 05, 2004

Viagens (10): Picos de Europa / 2001 (4)

10

Riaño (antes e depois da submersão)

3º Dia – 6 de Abril (6ª Feira) (manhã)

Costumo dizer que nem mesmo em Espanha é fácil encontrar quem saiba mais da sua geografia (… e história) do que eu. Este interesse vem desde miúdo, graças às remessas de livros, postais e mapas que o meu pai despejava em minha casa, as quais atestavam as suas contínuas andanças por Espanha, nos anos 40 e 50. Com o tempo fui aperfeiçoando e alargando os conhecimentos, graças em parte a viagens, em parte a leituras. Assim, estava seguro que o percurso deste dia seria espectacular.
Logo de manhã, o espectáculo de Riaño e seu entorno superava o da véspera. Quanto à localidade, propriamente dita, observei que a maioria das casas deveria ser de segunda habitação. Os primitivos habitantes, aqueles que lá viviam antes da submersão, devem ser poucos. Não é que, antes, houvesse lá muitos, só que foi um processo traumático. Com efeito, nos anos 70 e 80 viveu-se uma polémica a propósito da construção da barragem e suas consequências. A localidade fica no extremo nordeste da província de León, junto aos Picos de Europa, escoltada por Torre Cerredo (2.648 m), Llambrón (2.617 m) e Peña Prieta (2.536 m). A própria aldeia primitiva situava-se numa cota acima dos 1000 metros. O seu isolamento geográfico é já de si uma realidade incontornável, mas, além disso, no Inverno, por causa de nevões, é sujeita a ocasionais bloqueios nas três estradas que a servem. O isolamento apercebe-se imediatamente. Por exemplo, às 10 horas vendia-se o Diário de León, mas mais nenhum outro jornal tinha ainda chegado.E sintonizar alguma emissora de rádio é tarefa complicada.
Parti pouco depois das 10, rumo a Fuente De. O que se seguiu não é fácil descrever sem cair em lugares comuns. A estrada estreita e cheia de curvas passava por contínuos desfiladeiros, ou melhor, apertadas gargantas entre colossos de rocha. Assim foi até ao limite nordeste da província de León.
No Puerto de San Glório, a 1.600 metros de altitude, entrei na Região de Cantábria, província de Santander. Foi imperioso parar e admirar a paisagem de cumes escarpados e nevados, os prados e os bosques. A partir dali havia vários caminhos de montanha e avistavam-se pequenos grupos de caminhantes. A descida foi feita em vertiginosas curvas e contra-curvas apertadas, sobre precipícios, sem guarda. À medida que se ía descendo, havia cada vez mais prados e uma densa população de vacas, que deve superar a humana, dispersa por aldeias perdidas e semi-abandonadas. Salpicando esta paisagem apareciam algumas ermidas românicas, cuja antiguidade deve mergulhar no ocaso dos tempos godos e primórdios da Reconquista.
Era meio-dia quando cheguei a Fuente De, no fim do vale de La Liébana. Há aí um teleférico, suspenso em cabos, que sobe quase 1.000 metros a pique! Entrar na cabine requer algum sangue-frio, mas que é recompensado por um panorama invulgar, quer na ascensão, quer lá em cima, junto aos 2.600 metros de Peña Vieja. A diferença de temperatura na saída do teleférico constituiu um choque álgido. A neve estacionava em mantos descontínuos, mas a panorâmica dos horizontes distantes prendia a atenção mais do que qualquer outra coisa - avistam-se picos e picos sem fim. É uma sensação de grandiosidade impressionante!

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