Om Kalthoum (Om Kalsoum) (Umm Kulthum) (1904-1975)
Esta cantora egípcia (o seu nome pode aparecer em caracteres latinos de diferentes formas) é a maior figura da música árabe. O seu apogeu, nos anos 40 e 50, corresponde a uma era de expansão do cinema dos estúdios do Cairo, cuja expansão abrangia directamente todo o vasto mundo de língua árabe e indirectamente áreas linguístico-culturais limítrofes (turca, persa, paquistanesa...). Esse cinema era de conteúdo romântico e tinha quase sempre uma feição musical. Foi aí que Om Kalsoum se começou a afirmar como intérprete de referência. Viviam-se tempos de ideais pan-arabistas. O Cairo era então não só a capital cultural do mundo árabe, como o foco difusor desses ideais, que tinham encontrado em Nasser o seu paladino. Mas enquanto os desafios políticos nasserianos mobilizavam a opinião pública, os cinemas enchiam-se, levando aos corações mensagens de amor e desamor. Assim, Om Kalsoum chegou a ser ainda mais popular que o próprio líder e realizou de modo mais efectivo uma certa forma de pan-arabismo...
A sua extrema popularidade não foi, contudo, suficiente para passar as fronteiras ocidentais. Sucede que a canção árabe pouco tem de semelhante com a estrutura da canção popular ocidental. Basta dizer que o padrão standard de 3 minutos corresponderá a uma parte da introdução de uma canção normal de Om Kalsoum. O complexo desenvolvimento melódico e a aspereza da língua árabe dificultam ainda mais o acolhimento ocidental. É, evidentemente, uma questão de códigos culturais, mas é estimulante exercitar a nossa sensibilidade para romper essas barreiras. Ao longo de um tempo, que pode ir de 5 a 50 minutos, cada canção conta uma história sentimental de uma forma lenta, que joga com distintos cenários instrumentais e com um clímax de expressividade que as suas capacidades interpretativas conseguem ir graduando de forma precisa. Claro está, que o tempo destas canções não foi condicionado pelas necessidades da indústria discográfica - o formato EP e até LP não eram adequados - frequentemente, um LP acolhia uma única canção e a operação de virar o disco interrompia o natural desenvolvimento da sua audição. O tempo é aquele que advem de formas tradicionais, aqui e ali adaptadas às necessidades do cinema. Onde se capta melhor a valia expressiva desta música é em gravações ao vivo. Aquela que é a mais conhecida das suas gravações, Al-Atlaal, demonstra uma participação intensa do público, o qual não se coíbe de sublinhar o dramatismo da narrativa com arrebatados aplausos e interjeições. Os sofridos gemidos da "diva do Nilo" são, assim, amplificados pela plateia.
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