domingo, setembro 26, 2004

Geografia íntima (1)

No Porto (Setembro de 1987) (1)

Vivo na Amadora desde que me conheço, mas nasci e tenho raízes familiares no Porto, onde passava sempre, até aos 14 anos, as minhas férias escolares, na Vitória, bem no coração do velho burgo tripeiro, entre os Clérigos e a Ribeira, junto às escadinhas e à Calçada. Muitas memórias retenho desses tempos (anos 60): a canalha (miúdos) descalça e ranhosa; o ambiente ruidoso, (ora festivo, ora brigado). Impressiona-me recordar a pobreza, mas também essa vitalidade perdida. Era um cenário digno de filme italiano, num registo algures entre Totó e Fellini. Pela altura em que esta foto foi tirada já muito desse mundo se desvanecera...
Mas, acima de tudo, no Porto, admiro o carácter das gentes - essa solidez granítica que a cidade parece conferir a muitos dos seus habitantes e que se manifesta na expressividade, frontalidade, ausência de hipocrisia, no orgulho pela ética do trabalho e do esforço individual, no valor da palavra dada e na coerência com princípios e valores de vida. Isso parece emanar sempre daquelas pedras velhas...

1 comentário:

Anónimo disse...

Bonita esta história, relatos de vida...retalhos de uma colcha que não sabemos bem onde começou e continua sendo composta ao longo dos longos anos que se arrastam durante a nossa existência, e depois e nós, com aqueles que descendem de nós.