Rafael Valladares - A independência de Portugal: Guerra e Restauração 1640 - 1680 (1976) / La rebelión de Portugal 1640 - 1680 (1998)
Este livro é um achado. O tema tem estado sempre ausente das preocupações historiográficas espanholas. Por cá o tema ficou assolado por uma visão nacionalista e, a avaliar pelo mercado editorial, não tem despertado interesse que sustente novidades. Rafael Valladares é um caso sui generis. Para além de um interesse avalizado por uma profunda investigação, demonstra uma rara percepção do como o assunto é visto e sentido por cá. Será, enfim, um dos poucos espanhóis que compreendem a natureza do tal complexo de Aljubarrota... Mas a sua percepção vai mais longe - avança com elementos para se entender esse lugar ausente que Portugal ocupa na cosmovisão espanhola. Com efeito, uma peça essencial na sua tese é a que a perda do império português para a monarquia hispânica foi algo, a todos os títulos doloroso e traumatizante, de tal modo que constituiu o ponto de partida para um processo de perda não superado - um luto que nunca chegou a ser feito e que, com o tempo, cristalizou em esquecimento e ignorância anormais.
A informação discorre pelos caminhos da pura história política. Percebe-se que a Restauração se tornou possível graças ao contexto da política europeia da segunda metade do século XVII. Dois factores tornaram-se decisivos para o seu êxito: o Brasil e os Jesuítas. O pano de fundo favorável é, evidentemente, a decadência do império hispânico dos Habsburgos, a posição ascendente da França (já moldada pela raison d'état de Richelieu), primeiro, e a Inglaterra empenhada em obter o domínio da navegação atlântica, depois. Tal contexto não o ignorava, mas desconhecia muitos dados concretos que os ilustra. Espanta a debilidade da monarquia restaurada dos Braganças, cuja sobrevivência só é compreensível pela ainda mais espantosa inanidade da máquina militar do valido Conde-Duque Olivares. Neste particular há, para mim uma novidade: a sua clarividência política é bem mais débil do que supunha. Via-o mais como vítima de circunstâncias adversas, mas agora parece-me que a sua acção demonstra demasiada obstinação e rigidez. Em todo o caso, a situação ficou por definir muito tempo para além do seu desaparecimento do cenário político. Até quase ao final do século a reintegração de Portugal na monarquia hispânica continuou a ser uma possibilidade muito viável. Uma vez mais, o que acabou por ser decisivo foram os factores da grande política europeia, que jogaram sempre no sentido do enfraquecimento do império espanhol.
Uma nota final para sublinhar a qualidade gráfica desta edição - capa dura, sobrecapa, bom papel e boas gravuras.
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A informação discorre pelos caminhos da pura história política. Percebe-se que a Restauração se tornou possível graças ao contexto da política europeia da segunda metade do século XVII. Dois factores tornaram-se decisivos para o seu êxito: o Brasil e os Jesuítas. O pano de fundo favorável é, evidentemente, a decadência do império hispânico dos Habsburgos, a posição ascendente da França (já moldada pela raison d'état de Richelieu), primeiro, e a Inglaterra empenhada em obter o domínio da navegação atlântica, depois. Tal contexto não o ignorava, mas desconhecia muitos dados concretos que os ilustra. Espanta a debilidade da monarquia restaurada dos Braganças, cuja sobrevivência só é compreensível pela ainda mais espantosa inanidade da máquina militar do valido Conde-Duque Olivares. Neste particular há, para mim uma novidade: a sua clarividência política é bem mais débil do que supunha. Via-o mais como vítima de circunstâncias adversas, mas agora parece-me que a sua acção demonstra demasiada obstinação e rigidez. Em todo o caso, a situação ficou por definir muito tempo para além do seu desaparecimento do cenário político. Até quase ao final do século a reintegração de Portugal na monarquia hispânica continuou a ser uma possibilidade muito viável. Uma vez mais, o que acabou por ser decisivo foram os factores da grande política europeia, que jogaram sempre no sentido do enfraquecimento do império espanhol.
Uma nota final para sublinhar a qualidade gráfica desta edição - capa dura, sobrecapa, bom papel e boas gravuras.
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4 comentários:
Vasconcelos......¿la primera víctima de las defenestraciones politicas?
Libro de don Manuel Fraga Iribarne: Razon de Estado, Pasion de Estado.
Noticia del 26 de enero de 2007: Juan Luis Cebrián (Prisa)demanda al Estado Portugués y a la CNMV por la nueva ley de opas.......
Excelente comentário a este livro essencial de R. Valladares. Pena é, como diz, que a historiografia lusa continue alheada deste tema tão eivado de mitos e de simplificações.
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