quarta-feira, abril 27, 2005
Vademecum (3)
Vademecum (2)
Vademecum (1)
sábado, abril 23, 2005
Guia hispânico (12)
sexta-feira, abril 22, 2005
Para siempre boleros! (9)
Nasceu no Oriente de Cuba. Era filho de uma negra e de um modesto imigrante galego. Contudo, apesar destas origens, cedo se lançou na vida artística, obtendo imediata projecção. Não tardou que integrasse, como membro mais destacado, um grupo que teve oportunidade de gravar e actuar nos EUA. Nos anos trinta esteve, assim, na vanguarda da divulgação dos sons latinos. El Manicero é um símbolo destes tempos ainda pré-bolero. Com o mesmo grupo chega à Europa - primeiro Londres; depois Paris. Nesta cidade encontrará um ambiente mais propício ao prosseguimento da carreira. Com uma agenda de espectáculos preenchida e fama firmada, ali permaneceu até à eclosão da 2ª Guerra Mundial. Esta assinalou, porém, uma drástica mudança de ambiente. Rumou a Espanha, mais concretamente a Barcelona, onde era desconhecido e onde se viviam os tempos de penúria do pós-Guerra Civil. Era difícil imaginar pior contexto para relançar a carreira. "Comeu o pão que o diabo amassou", mendigando trabalho em obscuras casas de espectáculos de uma Barcelona deprimida e sem um duro para gastar para além das necessidades básicas. Lentamente, porém, tudo foi melhorando. À medida que a cidade ia saindo desta penumbra, emergia a sua voz melancólica cantando amores arrebatados, enfim, aquellos boleros que encheram o coração de uma Espanha derreada pela pobreza e opressão nos anos de chumbo do franquismo... Em meados dos anos quarenta tinha já readquirido a fama de outros tempos e lugares. A bandeira desses anos é Angelitos Negros, cujo retumbante êxito assinalou a sua conversão como mito da cena musical espanhola. Daí para diante estará sempre no primeiro plano. Mas sonado que las maracas de Machin tornar-se-á uma expressão coloquial para vincar o grande poder mediático de algum facto ou fenómeno. Na verdade, Machin tornou-se, mais que qualquer outro, no bolerista de Espanha. Para este facto contribuiu a sua ascedência paterna, mas sobretudo, o seu casamento (longo e... feliz!) com uma sevilhana de boas famílias. Um casamento que, desde logo, questionou profundos preconceitos racistas... Abdicou de viver em Barcelona e nunca chegou, propriamente, a viver em Madrid. Radicou-se na cidade da sua mulher, de onde partia em cíclicas tournés por Espanha. Pode-se dizer que tornou-se um sevilhano... de pele mais escura. Aí está enterrado.
Para além de um exímio profissional, Machin era um homem bom. Em todo o caso, quero salientar a qualidade única da sua voz frágil mas expressiva, com um timbre melancólico inimitável. Transporta em si como que uma lamento que a faz adequar-se àqueles boleros mais tristes...
A realização deste documentário é excelente. Foge ao convencionalismo de várias maneiras, nomeadamente renunciando ao fio cronológico expositivo e assegurando um ritmo vivo e imaginativo.
quinta-feira, abril 21, 2005
Euskal Herria (14)
Uma nota para a língua basca ou euskera, cuja aspereza indicia uma difícil musicalidade. Tal ideia carece de fundamento. Quer aqui, quer, sobretudo, noutros trabalhos que enveredam por caminhos mais melodiosos, Natxo de Felipe demonstra-o, com a sua voz suave e quente. Vem ainda a propósito referir que toda a metade leste da província de Vizcaya permanece euskaldun, ou seja, falante de euskera. Algo que já não sucede na parte oeste, nomeadamente, na capital, Bilbao. Em todo o caso, no leste de Vizcaya a língua basca tem grande vitalidade. As outras áreas ainda efectivamente euskaldun são toda a província de Guipúzcoa, o norte de Navarra e as zonas mais rurais de Iparralde (conjunto das províncias bascas sob soberania francesa).
quarta-feira, abril 20, 2005
Euskal Herria (13)
95 (57,9%) EAJ/PNV-EA
terça-feira, abril 19, 2005
terça-feira, abril 12, 2005
Mariachi y tequila (21)
Estes corridos consentidos entraram há muito na categoria de clássicos populares. Foi uma forma comum de perpetuar a memória de bandoleros, soldados, charros valientes y... caballos. É um completo devocionário de virtudes viris e valores essenciais. Aliás, o álbum tem uma faixa extra multimédia, que é um filme de animação, cujo enredo é significativo: Don Chente e seus dois filhos (Alejandro e Vicente Jr), passeando a cavalo, inquirindo estes sobre o seu famoso currículo de conquistador; o patriarca não dá confiança para se discutir o assunto, mas acaba por sair de cena abraçado a uma jovem, com visível vaidade de todos. É significativo, sobretudo, pela cumplicidade de valores varonis estabelecida entre pai e filhos. Na verdade, deste universo de corridos rancheros, o mulherio está num plano secundário. O seu lugar é o de figurante que ajuda a dar nexo à trama ou embeleza a paisagem. A excepção é enquanto mala mujer e/ou objecto de disputa, tornando-se um detonador de desgraças. Seja como for, como é evidente, não se deixa de cantar (e muito) o sexo, mas sempre em rigoroso plano machista. Os afectos e emoções que predominam são o amor paternal, o filial, o fraternal, assim como a camaradagem. Afectos e emoções que se sustentam em valores - precisamente os mais tradicionais e que, no caso, formam parte de uma imagem de um México profundo, que é já um mito. Enfim, para quem esse mito é sedutor e, particularmente, para quem conhece e gosta mesmo de música ranchera este álbum não é um apenas um álbum muito bom, é um objecto de culto!
sexta-feira, abril 08, 2005
Tiro ao Alvo (2)
Mariachi y tequila (20)
quinta-feira, abril 07, 2005
Mariachi y tequila (19)
"Nunca he conocido um país más grandioso y exagerado que Méjico. Pertenece a una realidad más cercana a la magia que a la tierra, por eso me gusta tanto. No tiene sentido de la medida. Como casi todo lo determinante, lo crudo, se desborda a sí mismo" (Carlos Cano in El color de la vida, 1996, pág. 40)"
quarta-feira, abril 06, 2005
Viagens (18): Picos de Europa / 2001 (11)
Ourense é, pelos pergaminhos de uma vasta plêiade de intelectuais, o centro do galeguismo lusófilo. Aqui se fala o galego mais descastelhanizado e se encontram os mais numerosos e entusiastas defensores da ortografia portuguesa. Sabia que era uma cidade interessante, mas, na verdade, revelou-se mais interessante do que supunha... O centro situa-se numa encosta. A ligação entrea parte mais antiga e a mais comercial faz-se por uma animada artéria pedonal, a Rúa do Paseo. O enquadramento da cidade é magnífico, num amplo vale formado pela confluência do Barbanza com o Miño. Pena é que, como sucede nas cidades galegas, a periferia urbana seja algo desarrumada...
Tomei a autovía das Rías Baixas, que segue na direcção de Vigo. É grandiosa a forma como corre pelo vale do Miño, saltando de margem em margem. Na comarca de O Ribeiro detive-me em Ribadavia. Lembrei-me de um canto popular com que Amancio Prada abre Caravel de Caraveles: “O cantar do arrieiro é um cantar moi baixiño / cuando canta en Ribadavia, resoa n’O Carballiño”. Quase todos os amoladores são desta região; com a sua gaita, que chama a chuva da terra distante, com a sua morriña e com a sua desconfiança labrega, chegaram a Lisboa, Madrid, Barcelona, Buenos Aires. Foram trás a roda.... Ribadavia é a terra do vinho Ribeiro, de amoladores, taberneiros e carvoeiros emigrados – aquele tipo de gente que inspira aforismos como: “se encontras um galego a meio de uma escada nunca sabes se vai a descer ou a subir”.
Já o sol ia baixo quando entrei na comarca de O Condado, província de Pontevedra. Pernoitei nos arredores de Vigo, em O Porriño, num motel bem suspeito... Eram apartamentos com garagem, onde os carros ficam ocultos de olhares curiosos. Havia espelhos espampanantes no quarto e filmes porno em circuito vídeo interno. Em que divertidos equívocos pode cair um incauto, levado pelas omissões de um guia de cheques de hotel...
Galícia (3)
Vigo é a maior cidade da Galiza, mas a sua importância é relativamente recente. Na verdade, no início do século XX não ultrapassava muito, em número de habitantes, a vizinha Pontevedra, o que hoje parece inverosímil. Foi só com a incorporação de Bouzas, Lavadores e vários outros povoados limítrofes que se tornou na mais populosa cidade da Galiza. Reflectindo esta realidade, ainda hoje, a capital de província é Pontevedra, apesar de Vigo ser quatro vezes maior.
É uma cidade simpática que beneficia de um enquadramento natural magnífico. Contudo, "cheira a peixe", ou seja, é marcante a influência das actividades marítimas, nomeadamente a pesca, na sua vida quotidiana. É, destacadamente, o principal porto pesqueiro de todo a Europa. Não por acaso, tem aí a sua sede Pescanova. Contudo, muitas outras indústrias se foram instalando (por exemplo, a Citroën), fazendo desta cidade a mais industrial da Galiza.
Galícia (2)
A produção deste LP esteve isenta de requintes, constrangida por evidentes limitações, ou não se tratasse de grupo cuja expressão era ainda meramente local. Contudo, a sua qualidade advém da simplicidade de meios e está patente na forma despojada como abordaram um repertório tradicional ortodoxo. Há pouco artificialismo de folk céltico. Há, isso sim, tradição popular muito perto da efectivamente praticada enquanto tal. Há também competência no desempenho instrumental. O som proporcionado pelos dois gaiteiros é um dos mais vibrantes que já me foi dado ouvir - algo que se aprecia particularmente na arrebatadora Riveirana que encerra o álbum.
Uma nota final para o título Parolada, que nos pode soar mal. No Porto, por exemplo, a expressão parolo é depreciativa e qualifica alguém que vem da província e é ingénuo (equivalente a saloio, em Lisboa). Pois, é curioso que o termo parolo e o termo muito mais comum labrego permaneceram na Galiza com o mesmo objecto/significante, mas sem significado depreciativo.
Galícia (1)
A Galiza é a região espanhola com mais afinidades com Portugal. É um facto evidentíssimo. Até finais da Idade Média existiu uma unidade linguística e cultural com Portugal, atestada pelas cantigas de amigo. Contudo, desde então, a forma de falar a norte e a sul do rio Minho foram divergindo. O português evoluiu muito. O galego evoluiu menos e fê-lo em função da incontornável influência da língua oficial do estado, o castelhano. Até que ponto a divergência acabou por criar uma situação que torna artificial a noção de unidade linguística entre galego e português, na actualidade, é uma discussão em aberto... Sob o ponto de vista de temperamento colectivo são notórias também as afinidades entre galegos e portugueses, porém, o carácter dos galegos denota mais uma matriz rural, algo atávica e desconfiada. É uma região com vincada personalidade e com múltiplos atractivos, pelas suas belezas naturais (onde se destacam as rias) e pelas suas cidades (onde se destaca Santiago de Compostela). Também é riquíssima em tradições populares, sendo a sua música tradicional a mais rica de toda a Peninsula. Sempre se associou grande parte destas características a uma remota influência céltica. É, porventura, uma visão mitificada e romântica, mas, seja como for, existe um conjunto de afinidades com a Bretanha (França), Gales, Escócia (Grã-Bretanha) e Irlanda. Um dos elementos comuns é a gaita de foles, a qual, apesar das suas variantes, tem em todas estas regiões uma importância análoga.
terça-feira, abril 05, 2005
La Movida (7)
La movida (6)
segunda-feira, abril 04, 2005
Viagens (17): Picos de Europa / 2001 (10)
Já na estrada, ficando León para trás, contrastando com a extensa planura, viam-se ao longe cumes nevados. Paralelamente, seguia o mais importante sendeiro do Caminho de Santiago, por onde caminhavam peregrinos. Entrando na comarca de la Maragatería, contornei Astorga. Esta cidade fez-me evocar o Condado Portucalense, o senhorio de Astorga, enfim as remotas origens de Portugal. Já na autovía radial que liga Madrid à Coruña entrei na comarca de Bierzo. É uma região especial. Neste fértil vale já não estamos na austera meseta... A influência climática do Atlântico e cultural da Galiza dão a esta região mais ocidental da província de León um carácter próprio. Aliás, por aqui já se fala galego. Nos arredores da sua principal cidade, Ponferrada, nasceu o cantautor Amancio Prada, que se expressa tanto em castelhano como em galego.
Deixei a autovía e poucos quilómetros depois entrava na comarca de Valdeorras, província de Ourense, portanto, na minha querida Galiza. Parei na principal localidade da região, O Barco de Valdeorras, junto ao rio Sil.