sexta-feira, abril 08, 2005

Mariachi y tequila (20)

Vicente Fernández - Que de raro tiene (1992)
Eis aqui uma imersão na música ranchera pura e dura, com a vantagem de ser servida em produção de qualidade (neste género, a qualidade de produção só começa a aparecer a partir de meados de oitenta). Além de que é um Don Chente mais que maduro, cuja voz alardeia o mesmo poder de sempre, mas robustecida por uma patine que a torna mais vibrante e quente. Depois, temos uma secção de metais portentosa! A forte presença de metais no mariachi é um dos elementos que mais me atrai (ao contrário do que se possa pensar só aparece nos anos trinta).
Os treze temas são castiços e a maioria é espectacular. A saber: Que de raro tiene; La fiesta; Acá entre nos; Soñanando en Garibaldi; Maldita sea; El regalo; Soliloquio de un toro viejo. É uma paisagem povoada por mulheres traiçoeiras e paixões funestas. O tema inicial, Que de raro tiene é uma pungente rendição perante o desgraçado poder sedutor das mulheres, com um toque de fragilidade, dir-se-ia pouco acorde com a rudeza ranchera.. La fiesta é um corrido divertido que sugere o ambiente das parrandas charras (Mundo Charro); Acá entre nos leva-nos à duplicidade do discurso do macho ferido (o que é dirigido para a "galeria" e o da confidência íntima), servido por uma bela melodia, por um magistral jogo entre metais e violinos e por uma voz arrebatadamente dorida... Soñando en Garibaldi evoca inspiradamente alguma da simbologia mariachi (Plaza Garibaldi, México, DF). Maldita sea é um programa de acção frente à mulher traiçoeira (ni una sonrisa más, ni una mirada... la deuda que nos deja un mal amor hay que cobrarla...). Como sucede noutros temas, a meio solta uma imprecação (naquele empolgante sotaque genuinamente mexicano...), a qual é aqui ainda mais visceral, se possível... Regalo transporta-nos para a paixão equestre do cantor e também para um dos mitos da revolução mexicana - Emiliano Zapata. O narrador, vendo que El Jefe (pronunciado com incisivo ênfase) se sentia atraído pelo seu cavalo, oferece-o em nome da causa. Era a criatura que mais estimava na vida. Morrerá numa batalha... Por fim, Solilóquio de un toro viejo, é bem original. Não é cantado, mas sim declamado em toada melancólica, contrastante com um fundo musical distante de mariachi parrandero. Desabafa o velho touro decadente, relembrando antigas glórias. Para escapar ao triste fim dos touros velhos (ahí dijo el caporal que por tanto haber vivido no cumplían su cometido procedamos a castrarlos a la engorda incorporarlos...) resolve fugir em busca de morte digna (yo prefiero en mis mogotes ser pasto de zopilotes pero sí morir entero). Deste modo se despede o álbum numa cabal demonstração de fantasia charra... ¡Arriba Don Chente!
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

1 comentário:

Anónimo disse...

La película ¡Viva Zapatero! ¿Zapatero haciendo amigos?