sexta-feira, novembro 03, 2006

Noites tropicais (11) (3 remake)

João Gilberto - Amoroso (1977)
Alguém disse (foi José Nuno Martins no saudoso Os Cantores do Rádio) que este seria o melhor álbum de sempre da música brasileira. Sem abandonar o espírito da bossa-nova, João Gilberto fez aqui um exercício de sofisticação e cosmopolitismo. Sofisticação que decorre tanto da sua forma de cantar (mais sussurrante do que nunca) como dos voluptuosos arranjos de Claus Ogerman. Cosmopolitismo, porque interpreta três temas não brasileiros: 'S Wonderful, de Gershwin; Estate, de Bruno Martino; Bésame Mucho, de Consuelo Velázquez (já anteriormente o tinha gravado, mas de um modo bem mais convencional). O curioso é que a sua inépcia linguística é um must adicional - um italiano e um castelhano que soam assim divinamente adocicados! Estate alarga-se por seis minutos e meio, tornando-se aqui uma espécie de afrodisíaco para espíritos refinados. Com o famoso bolero a receita intensifica-se. A cadência lentíssima e aveludada alarga-o por quase nove minutos de puro êxtase. Mas se parece impossível superar o transe destas emoções, há que esperar até ao último tema, Retrato em Branco e Negro (Zingaro), de Tom Jobim. Está para além da perfeição!
Esta obra-prima foi gravada em finais 1976 e início de 1977, entre Nova Iorque e Los Angeles e parece ser o culminar de uma década e meia em que o gosto norte-americano se rendeu à bossa-nova.
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