terça-feira, novembro 14, 2006

Memória do futebol (2)

Grandezas: delírios e realidades
A iniciativa do Benfica em se alardear como recordista mundial em número de sócios suscita-me alguns reparos. Ao contrário do que possa parecer, a iniciativa é mais uma demonstração da sua decadência na galeria dos grandes do futebol mundial. Perdida a glória de ser o clube português com melhor palmarés internacional e confrontado a nível interno com a perda da hegemonia, investe nestas glórias... Iniciativas de divulgação da sua grandeza na história do futebol seriam mais sensatas e pertinentes. Esta, na verdade, é uma glória patética, que assenta na efémera mobilização de sócios, um tanto ad hoc... Tão patética quanto, sendo, indiscutivelmente, o clube com maior número de adeptos, não conseguiu, nas últimas temporadas (mesmo naquela em que foi campeão) ter a liderança na média de assistências por jogo... Além do mais, isto parece ser uma consolação para o desfazer da quimera delirante dos 300.000 sócios... A massa crítica benfiquista, qual aristocracia decadente, parece entregar-se à fruição de delírios megalómanos...
O conceito de sócio é obsoleto para os grandes clubes mundiais. Bem mais significativo é, por exemplo, o número de abonados de pacotes de bilhetes por temporada ou competição, de compras de assistências televisivas de jogos em pay per view, ou, evidentemente, de assistências nos estádios. O conceito de sócio era algo decisivo nas velhas entidades clubísticas, nas quais a prática desportiva fazia parte da afirmação da identidade. Hoje, a nível de grandes clubes, essa realidade só persiste na América do Sul. E mesmo aí, advinha-se, já em crise...
Verdadeiro Ranking de grandeza (algo cruel, mas cada vez mais incontornável) é o que a empresa de consultadoria Deloitte vem fazendo nos últimos anos, ordenando os 20 clubes mais ricos do mundo em função dos seus rendimentos. Veja-se o último, relativo a 2005, in Deloitte (España). No que diz respeito a clubes portugueses, só esteve próximo da lista o FC Porto. Passou, episodicamente pelos 5 lugares adicionais (ou seja, entre o 21º e o 25º lugar), por força da campanha que lhe deu o título europeu e os correspondentes prémios financeiros. Tal sucedeu em 2004. Não há perspectivas razoáveis que possa voltar a suceder a curto ou médio prazo com um clube português.

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