quarta-feira, novembro 01, 2006

Complexo de Aljubarrota (8)

Os desplantes de Mourinho
Para o bem e para o mal, este homem deve ser hoje em dia um dos portugueses mais famosos do mundo. É uma personalidade que suscita emoções fortes e contraditórias. É arrogante e, por isso, compreende-se bem a onda de antipatia que pode gerar. Mas, é um tipo inteligente, que domina como mestre os segredos do futebol - vide a comparação que o jornalista Alfredo Relaño (De fuera vendrá quien las verdades te dirá in As) estabelece com o mítico Helenio Herrera. Um tanto à conta do seu desmedido ego, desenvolve estratégias psicológicas de condicionamento dos adversários e de empolgamento dos seus jogadores. Nisto, é um mestre e vê-se que teve no presidente Jorge Nuno Pinto da Costa um dos seus inspiradores. A mim, produz-me sentimentos contraditórios, que vão da irritação à exaltação. Seja como for, as gratas memórias sobrepõem-se aos sentimentos negativos: é que não esqueço as glórias que trouxe ao meu FC Porto!
A primeira página da Marca deve deixar orgulhosos muito portugueses. Dentro de um certo complexo de pequenês, as façanhas deste homem são percebidas, por muitos, como redentoras. Se, ainda por cima, é o público espanhol o contemplado por mais algum desplante, a coisa sabe ainda melhor... Por um momento, eu próprio cedo a estas emoções primárias e vejo nesta primeira página uma espécie de arremedo de glória pátria (que exagero, enfim...).
Contudo, para além das emoções primárias da tribo lusitana, há que ter em conta que a primeira página da Marca responde a outro tipo de emoções. Na verdade, ilustra um sentimento merengón (ou seja, pró-madridista). Mourinho desenvolveu um particular contencioso com o Barça e este é mais um episódio dessa histórica picaresca. Em Madrid olha-se, no mínimo, com simpatia para quem cause mal-estar can Barça. O que se passa, é que a relação de Mourinho com o clube por onde passou discretamente como tradutor e adjunto é de amor / ódio. Talvez, no fundo, ele sonhe ser idolatrado nas ramblas, mas se tal não poder ser, encontra consolo em continuar a ser aí odiado e vir a ser um dia aclamado na madrilena Cibeles. Quem sabe se, ao fim e ao cabo, o porta-estandarte do orgulho lusitano está em Londres, a expensas de um nababo russo, numa espécie de transito que o conduzirá, mais dia, menos dia, a Madrid ou Barcelona.

1 comentário:

Anónimo disse...

Mourinho es un Tío Cojonudo