2º Dia – 5 de Abril (5ª Feira) (tarde)
Passou-se a fronteira. Depois da placa azul com as estrelinhas da UE anunciando “España”, a placa “Castílla y León” e logo outra indicando “Província de Zamora”. A estrada continuava estreita e cheia de curvas, mas o piso melhorara e surgiram guias de berma. Logo a seguir passei por Calabor. O contraste com a aldeia de França era evidente. O aspecto desértico era o mesmo, só que todas casas eram tradicionais, com telhados de ardósia e alpendres de madeira. Uma boa parte delas eram modernas. Algumas das mais antigas estavam em ruína.
Os vinte quilómetros seguintes demonstraram o isolamento dos calaboreños. Não se viu nenhum carro ou vivalma e não se avistou uma única casa. A paisagem ia ficando cada vez mais árida. Era lógico concluir que estavam mais próximos do resto da humanidade, passando a fronteira. Aliás, farão caminho mais directo para a sua capital de província através de Bragança, reentrando em Espanha por Quintanilha.
Subitamente, ao fim de um curva, deparou-se Puebla de Sanabria e o seu castelo. Casas novas e velhas tinham todas telhados de ardósia. O aspecto era agradável. No centro havia vários bancos e um comércio airoso. Daí, atingiu-se rapidamente o lago de Sanabria. Encaixado entre grandes moles rochosas, que do noroeste descem de mais de 2000 metros (Peña Trevinca), o lago, com águas escuras, tinha um aspecto selvagem que condizia com as suas origens glaciares. Comi numa cafeteria de Ribadelago e foi uma experiência má, pois a conta apresentada por uma mulher antipática era inverosímil, dada a correspondente falta de qualidade. Tendo em conta algumas lendas locais, aquela criatura foi como que um monstro saído do lago, que acabara de consumar um acto de extorsão com um gesto glaciar...
Após o almoço, tomei a Autovía das Rías Baixas até Benavente. É a ligação entre o sul da Galiza e Madrid e o seu tráfico intenso foi um contraste com as estradas ermas de onde vinha. Adentrei-me numa paisagem cada vez mais castelhana, com planuras extensas e montanhas ao fundo. Não havia tempo para ver Benavente, que, certamente, terá motivos de interesse, ou não fosse uma das muitas localidades castelhanas com História. Aí virei a norte, tomando a estrada que seguia rumo a León e que faz parte do eixo que liga as Astúrias à Andaluzia. Passei ao lado de León. No sábado e domingo haveria oportunidade de visitar a cidade, como se impunha.
Daí para cima as opções restringiam-se a estradas muito secundárias. A paisagem foi-se tornando cada vez mais verde e montanhosa. Belíssimas aldeias foram surgindo ao longo do trajecto, o qual era ladeado, quase sempre, por pequenos cursos de água revolta. Surgiam prados e mais prados, assim como montanhas cada vez mais altas de onde iam sobressaindo, por detrás, alguns cumes nevados... Era uma paisagem de bilhete postal, que só não incutia paz de espírito por alguma incerteza sobre a existência de hotel no fim da jornada, que era em Riaño. Na verdade, os sinais de povoamento iam-se tornando cada vez mais raros na penumbra do fim da tarde, não deixando dúvidas que me internava num extremo isolamento.
Finalmente apareceu Riaño, num enquadramento fantástico - implantada numa península saliente a meio da albufeira. Em seu torno, os abruptos picos nevados davam à paisagem um ar de conto de fadas. Sabia que a primitiva aldeia ficara debaixo das águas da albufeira. As duas igrejas tinham sido reimplantadas pedra a pedra – o resto era novo, mas com uma arquitectura de qualidade.. A sensação de paz e isolamento era total... mas havia, senão um hotel, pelo menos um hostal! Um hostal de aspecto montanhês. O jantar (cordero asado acompanhado por um Rioja) foi uma redenção em relação ao almoço!
1 comentário:
Benavente, buena villa y mejor gente.
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