domingo, fevereiro 18, 2007

Memória do futebol (5)

A litania sobre o futebol português
Desde que Benfica e Sporting deixaram de dominar o futebol português, a comunicação social tem alimentado uma recorrente litania sobre o seu valor. São múltiplas as suas vertentes. A mais significativa incide na tentativa de descredibilização do mérito das vitórias do FC Porto. Em prol de uma cruzada sensacionalista são amplificadas sistematicamente todas as suspeitas que podem ir nesse sentido. Contudo, outras vertentes não deixam de ser exploradas, como, por exemplo, um suposto processo de crescente desinteresse do público português pelo futebol. Em boa verdade, em relação a estes argumentos deve-se dizer que existem dados objectivos. São números e estes, em larga medida, relativizam-nos ou, inclusivamente, desmentem-nos de modo devastador.
Todas os elementares dados demonstram, por exemplo, que a difusão de jornais desportivos aumentou dramaticamente nos últimos trinta anos (jornais que além do mais passaram a diários). O mesmo se diga das audiências televisivas do futebol (tendo como comparação apenas as que na actualidade correspondem às transmissões em sinal aberto), que, além do mais, se tornaram muito mais frequentes. O peso relativo dos espaços publicitários associados a estas transmissões, em relação ao bolo publicitário global, aumentou exponencialmente. Tudo isto significa que o futebol na televisão não só tem mais espectadores, como o impacto destas transmissões na sua vida é maior. A publicidade e o mercado publicitário conhecem bem este fenómeno de dependência futebolística, traduzindo-se este facto, por vezes, em saturação... Contudo, há uma ladainha com que constantemente nos matraqueiam: as pessoas já não vão aos estádios, dizem-nos repetidamente. Pelo menos, em comparação com o resto da Europa não se pode dizer isso. Mas, tampouco se pode dizer isso tendo em conta os valores médios dos últimos anos.
Em comparação com o resto da Europa, os índices relativos às nossas áreas metropolitanas só ficam aquém dos correspondentes às áreas metropolitanas da Escócia, Inglaterra, Alemanha e Holanda. Na globalidade, não se pode dizer que sejam inferiores aos da Itália ou Espanha. São superiores aos da França e Bélgica. São muitíssimo superiores aos da Irlanda, Suiça, Áustria, Grécia, Turquia e todos os países do leste! Sobre isto, oportunamente, avançarei com dados concretos. Entretanto, avanço com os valores médios das assistências nos últimos anos do 1º escalão do futebol português:

Médias da 1º Liga:
1999-00: 8.637;
2000-01: 7.382;
2001-02: 8.098;
2002-03: 7.012;
2003-04: 9.468;
2004–05: 10.624;
2005–06: 10.600.

Médias do Benfica:
1999-00: 27.706 (3);
2000-01: 27.206 (1);
2001-02: 29.924 (1);
2002–03: 22.541 (2);
2003-04: 28.395 (3);
2004–05: 35.053 (2) (campeão);
2005–06: 43.057 (1).

Médias do FC Porto:
1999-00: 22.029 (3) (campeão);
2000-01: 17.776 (3);
2001–02: 21.159 (3);
2002–03: 28.248 (1) (campeão);
2003-04: 34.143 (1) (campeão);
2004–05: 36.038 (1);
2005–06: 38.679 (2) (campeão);

Médias do Sporting:
1999-00: 31.640 (1) (campeão);
2000-01: 29.887 (2);
2001–02: 30.958 (2) (campeão);
2002–03: 14.789 (3);
2003-04: 25.660 (2);
2004–05: 19.000 (3);
2005–06: 28.824 (3).

Digamos que numa interpretação pessimista, o máximo que se pode dizer é que os novos estádios inverteram uma eventual tendência de quebra. E que a evolução dos grandes compensa de sobra eventuais quebras dos demais clubes.
O que se deve discutir não é um hipotético desinteresse do público pelo futebol, mas sim a sua matriz de paixão clubista e o que tal significa em Portugal, onde existe uma concentração absolutamente hipertrofiada dessa paixão nos três grandes.

Fonte: http://www.european-football-statistics.co.uk/attn.htm

1 comentário:

Anónimo disse...

E bem desmistificado, Edmundo, mas o FCPorto???oh Edmundo o Porto continua a ser um clube de província.
Em Portugal só há dois clubes de cariz nacional-o Sporting e o Benfica-, tudo o resto é de cariz regional, incluindo o FCPorto!

Seve