Eis uma obra estranha, que, na verdade, só poderia ter sido feita por um espírito provocatório, burlón, herdeiro do ânimo pícaro da mais legítima literatura castelhana como Don Camilo José Cela. Na senda de Charles Fourier, o nobelizado Marquês de Iria Flavia dedica-se a catalogar com exaustividade todas as espécies de cornudos... Reproduzo a dedicatória com que abre o livro:
“in memoriam a Charles Fourier (1772-1835) tratadista que classificou os cornudos do seu tempo e ao meu amigo Exmo Sr Don Estanislao de
O tratado desenvolve-se em forma de dicionário. A elementar classificação discriminatória entre bravos e mansos empalidece perante tão aparatosa erudição. Não que, enfim, deixe de ser pertinente, só que se emaranha num sem-número de espécies e sub-espécies.
É uma demonstração de como Cela foi um fiel depositário de algumas das mais originais características literárias do génio castelhano. Que contraste com a enjoativa virtude zapateriana. Aliás, na linha de tanta legislação protectora de minorias, aguardam-se medidas protectoras do ultrajado colectivo dos maridos enganados…
Li a edição portuguesa. Ainda hei-de ler a edição original, quanto mais não seja para confrontar opções de tradução de expressões idiomáticas cerradas.
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2 comentários:
Diccionario Secreto.
Ser cornudo não é estatuto. Não pensem nisso. A sociedade põe rótulos em tudo. De qualquer forma parece-me demais que a maioria o seja e já agora, sejamos honestos, as mulheres também não o são e mais do que nós?
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