quinta-feira, julho 20, 2006

Outro Brasil (1)

Erico Veríssimo - O Tempo e o Vento (1949)
Creio que em finais dos anos 80 vi a série da TV Globo feita sobre este romance. Gostei tanto que procurei rapidamente o romance e li-o. É a mais conhecida obra de Erico Veríssimo - uma história que se desenrola ao longo de gerações, desde finais do século XVIII a meados do século XX. A matéria é a construção da sociedade gaúcha, no interior montanhoso do estado mais meridional do Brasil, Rio Grande do Sul. Este é um Brasil menos conhecido - tem pouca relação com o Brasil do Rio de Janeiro e menos ainda com o do Nordeste. O Brasil tropical e colonial é uma realidade distante desta zona de fronteira. Não por acaso foi por aqui que se desenvolveu a mais séria tentativa separatista - a Guerra do Farroupilha, na qual participou com destaque Garibaldi, herói do Rissorgimento da Itália. É uma terra com afinidades com o Uruguai e Argentina, mas com algumas especificidades importantes. Juntamente com o vizinho estado de Santa Catarina e com o Paraná são os estados mais europeus do Brasil. A componente imigratória veio em grande número da Itália e Alemanha. Se excepturamos as zonas litorais (Canoas, por exemplo), a componenente imigratória portuguesa é relativamente menor do que no restante Brasil e maioritariamente composta por açorianos.
O romance dá-nos bem a ideia do que é a cultura gaúcha. É uma terra violenta, em que tudo se construiu com base na luta individual contra circunstâncias adversas, nomeadamente as guerras fronteiriças entre o poder colonial espanhol e o poder colonial português. O gado foi o pilar da construção dessa sociedade. Em muitos sentidos faz lembrar o Far West. À rudeza característica dessa forma de vida acresce uma bizarra mestiçagem de culturas diversas. Este romance é, assim, a melhor forma para se conhecer esse outro Brasil, que, geralmente só chega até nós por via dos popularizados restaurantes de rodízio. Já agora, chimarrão é o nome de uma bebida genuinamente gaúcha, talvez o seu ex-libris mais identificador.
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Erico Veríssimo in Releituras

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