sábado, julho 15, 2006

Guia hispânico (20)

Antony Beevor - The Battle for Spain (La Guerra Civil Española) (2005)

Está quase a cumprir-se o 70º aniversário da eclosão da Guerra Civil de Espanha. Há um surto de edições dedicada ao tema. Uma delas é precisamente esta síntese de mais um historiador britânico - Antony Beevor. Deste autor já havia lido duas obras: A Batalha de Stalinegrado e A Batalha de Berlim. Estou agora a começar esta e, para já, confirma-se a excelente escrita e o anunciado propósito de incorporar novas fontes documentais e monografias.
Uma recente historiografia, que qualificarei como "revisionista", tenta num afã de proselitismo ideológico, pôr em causa algumas ideias feitas sobre esta guerra. Em certos aspectos entende-se a pertinência, noutros evidenciam-se propósitos mistificadores. Tal "revisionismo", protagonizado por historiadores próximos do Partido Popular, acaba assim por deitar a perder muito do que de positivo pudesse ter trazido. Vejamos: É, de facto, uma falácia pretender que a República era uma democracia. Se entendermos que democracia é muito mais do que votar livremente de tantos em tantos anos, estava mesmo muito longe de o ser! Concordo, até, que vivendo-se, como se vivia, uma situação proto-insurreccional, de diluição da autoridade do estado e de
ataque mais ou menos generalizado a valores e instituições tradicionais, um golpe de estado poderia ser legítimo. Contudo, aquele golpe de estado, com a situação que imediatamente foi criada nas áreas em que se impôs, retirou-lhe qualquer vestígio de legitimidade. O radicalismo sanguinolento, em muitos e muitos casos absolutamente além do necessário (em termos de lógica de guerra) confere-lhe tal carácter. Inclusivamente, aqui e ali, a brutalidade implicou opções militarmente ineficazes. No campo nacionalista institucionalizou-se uma pulsão de violência gratuita que, na esteira da mente paranóica do caudillo, se acaba por se tornar num elemento identitário do estado. Assim, num longo pós-guerra a brutalidade não cessou, o que reforça sobremaneira o absurdo do relativismo "revisionista". Não se argumente que no campo republicano se cometeram mutíssimos actos de violência que têm sido subvalorizados pela historiografia tradicional. Tal subalorização, em termos quantitativos, tem efectivamente ocorrido e, se alguma vantagem tem tido o "revisionismo" é considerá-la, finalmente, na sua verdadeira extensão. Contudo, em termos qualitativos, o terror exercido em ambos os bandos não é equivalente! A utilização do terror foi, no bando nacionalista, uma estratégia consciente, sempre sustentada e sistematizada pelo poder. No bando republicano não se pode afirmar o mesmo - o terror teve uma outra natureza, muito mais impulsiva e carente de organização e sistematização. Esta é a minha visão, a partir de uma perspectiva moderadamente conservadora, de inspiração católica e sustentada por muitas leituras sobre este tema. Estou, portanto, a milhas de simpatizar com as esquerdas e, em concreto, com a desgraçada experiência da II República Espanhola. A título de exemplo, considero a ditadura de Primo de Rivera, nos anos 20, um regime, objectivamente, mais adequado à realidade espanhola do seu tempo do que a II República. Este livro está a reforçar ainda mais a minha visão da Guerra Civil de Espanha.

2 comentários:

Anónimo disse...

A vitória da República nas eleições não foi uma vitória da democracia, nem se traduziu em liberdade política, mas a forma de governo que daí resultou era legítima. Em matéria de responsabilidades, considero, os nacionalistas como os agressores. Em momento algum estes estiveram dispostos a aceitar o resultado das eleições. Por outro lado, especulou-se sempre muito sobre o contributo externo. Ainda hoje não acredito que a quantidade e o equipamento das tropas italianas e alemãs fosse inferior ao número de voluntários internacionais.

tc

Anónimo disse...

82 martires de Cebreros, Avila, asesinados por las hordas marxistas, rociados con gasolina. Martires de ^Poyales del Hoyo Avila