domingo, outubro 28, 2007

Cuore matto (18)

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Ornella Vanoni - Ornella Vanoni (Hanno ammazzato il Mario (1961)
É o primeiro álbum de Ornella Vanoni, mas limita-se a ser uma compilação de singles previamente editados. Era o normal nessa época. O formato de longa duração ainda era encarado apenas com o verdadeiro significado do termo álbum: um repositório do que já havia sido feito. A carreira de Ornella tinha começado em meados dos anos 50 numa combinação de teatro e música, em ambiente intelectual. Com cerca de vinte anos integrava o elenco do Piccolo Teatro di Milano, sob a direcção de Giorgio Strehler. A jovem beldade ruiva, com um belo fio de voz e dotes interpretativos exercitados sobre temas de Berthold Brecht, tornou-se diva de uma espécie de sucursal transalpina da rive gauche...
Boa parte do repertório é composto por canções do espectáculo Canzoni della malavita, que glosa os meios da má vida milanesa. Veiculam uma visão romântica e social, com uma auréola de mistério propositadamente reforçada com insinuações de Giorgio Strehler sobre as supostas circunstâncias em que teriam sido encontrados os manuscritos onde constavam. Na verdade, tinham sido compostas por alguns dos mais destacados elementos do circulo desenvolvido em torno do Piccolo Teatro. Algumas têm a particularidade de ser cantadas em milanês. É o caso de
Sentii come la vosa la sirena, de Dario Fo. O idioma hoje em dia, está em forte recessão, mas nos anos 50 ainda era corrente nas ruas de Milão. É um dialecto do lombardo. Tem uma sonoridade suave, com vogais muito mais fechadas do que no italiano. De um modo simplista dir-se-ia estar situado a meio caminho do francês...
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Ornella Vanoni - Sentii come la vosa la sirena in Ornella Vanoni (Hanno ammazzato il Mario (1961)

sexta-feira, outubro 26, 2007

Mediterráneo / Mediterrània (47): Mallorca (22 remake)

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Maria del Mar Bonet - Maria del Mar Bonet (L'águila negra) (1971)
Em 1971, em plena maré ascensional da nova cançó, Maria del Mar Bonet publica o seu segundo álbum. Um ano antes havia publicado o primeiro, Maria del Mar Bonet (Fora d’es sembrat), mas já em 1967 e 1968 havia publicado um single e dois EP’s, respectivamente. Tinha pouco mais de 20 anos, possuía um timbre de voz melodioso e dedicava-se, especialmente, a recriar temas populares maiorquinos. Nesta orientação convergiam duas linhas: a canção de intervenção e o folk. O álbum confirma a orientação, embora também inclua temas de pura canção de texto, de poetas e compositores reconhecidos, assim como temas da sua autoria. Aliás, Cançó per una bona mort e Mercé (este último uma homenagem à sua mãe) são ambos de sua autoria e são os melhores. Apesar de um pouco desigual, há neste álbum uma frescura e um lirismo encantadores. De notar que a reedição em CD é feita a partir da reedição em LP feita dez anos depois da primeira edição, incorporando um tema que não constava originalmente, embora tivesse sido editado na mesma época. Esse tema é L’águila negra - versão catalã de L’aigle noire, de Barbara - e acabou por ser utilizado como título das reedições, já que o original ostentava como título, apenas, o nome da cantora.
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Maria del Mar Bonet - Mercé in Maria del Mar Bonet (L'águila negra) (1971)

Mediterráneo / Mediterrània (46): Mallorca

Um documento notável: Maria del Mar Bonet - Mercé in You Tube. É um extracto de uma gravação filmada de um espectáculo de Maria del Mar Bonet, realizado nos idos de 1970, 1971, na presença da sua mãe - a quem o tema era, aliás, dedicado. Este documento está integrado num episódio da recente série da TV3, da Catalunha, Totes aquelles cançons e é seguido por um comentário actual da cantora e pela parte final de um velho videoclip original (uma preciosidade!) da mesma canção, o qual, tanto quanto é dado ver, foi rodado na Peninsula de Formentor, no extremo norte de Mallorca.

quarta-feira, outubro 24, 2007

Viagens (56): Norte de Itália / Julho - Agosto de 2001 (8)


5º Dia (4ª Feira)(noite)

Tinha combinado encontrar-me no bar da FNAC de Milão com um participante do Forum na Internet sobre Mina. Era um dos participantes que menos se dava a conhecer, a ponto de não saber ao certo o fazia, nem a sua idade. No terceiro piso da FNAC, em pleno bar, não tive, contudo, dificuldade em o identificar num vulto de quarentão, com óculos muito graduados, que avançava na minha direcção. Para além dos naturais problemas idiomáticos, os problemas de comunicação foram acrescidos pela sua timidez. Imediatamente, de um saco a tiracolo retirou um magote de velhos singles de Mina, editados por esse mundo fora, nos idos de 60 e 70. Havia edições japonesas e até uma de Angola. Eram preciosidades para um coleccionador. Depois mostrou-me alguns CD’s promo (promoções para rádio) e entendi que os estava a oferecer-mos. Só perante o seu ar aflito me apercebi que, afinal, não era isso - estava a propor que eu os comprasse. Rejeitei atarantadamente a proposta. Senti-me sem jeito e ficou no ar uma pesada sensação de gaffe... Tanto que, quando o convidei para jantar, esperava que não aceitasse. Mas não só aceitou, como, simpaticamente, se prestou a desempenhar papel de guia. Mostrou com entusiasmo os vestígios romanos de Mediolanum ali bem perto e forneceu informações que nenhum guia de papel pode dar. Mas era, definitivamente, uma pessoa estranha, tão afastada quanto se possa imaginar do estereotipo italiano. Verifiquei que, numa cidade em que, normalmente, se é furiosamente nerazzurro (Inter) ou rossonero (AC Milan), tinha perante mim um exemplar neutro… que odiava futebol. O seu passatempo preferido era, disse enfaticamente, deambular solitário pelas montanhas... Conduziu-me a um restaurante, onde se comeu bem e a preço razoável. No final, queria pagar a sua parte da conta..! Não consegui deixar de me espantar com tal alarde de mesquinhez, que resolutamente rejeitei. Fosse como fosse, apesar das situações constrangedoras, houve uma agradável e interessante troca de impressões, que, entre outras coisas, me permitiu concluir que o salário de um professor italiano é em termos absolutos inferior ao nosso e em termos relativos ainda mais baixo. Era anti-berlusconiano e também não gostava de Umberto Bossi, líder da Lega Nord. A propósito perguntei-lhe se ainda se falava dialecto milanês, ao que me respondeu que nas cidades já não, mas que nos campos ainda era falado por idosos. Lembrava-se que na sua juventude ainda era corrente escutá-lo pelas ruas de Milão. Adorava a sua cidade, a qual, dizia, não trocava por nenhuma outra. De Portugal não sabia nada, nem os superficiais lugares-comuns. Parecia não ter interesse nenhum em conhecer Portugal ou Espanha. O único grande interesse que tinha por terras estrangeiras era por Paris. A minha afinidade com ele limitava-se a gostos musicais, desde Mina a Nino Ferrer. Despediu-se inopinadamente em pleno Duomo e, depois de tudo, acabei por não estranhar o modo desconcertante como desapareceu.
O Duomo é sensacional, pela fachada da catedral, pela amplitude da praça, pela Galleria Vittorio Emanuelle. Esta é composta por um cobertura sobre duas ruas e uma ampla abóbada no seu cruzamento. A estrutura é de vidro e ferro e os edifícios têm a traça da melhor arquitectura da segunda metade do século XIX. Aí, o comércio é do mais refinado. A livraria Feltrinelli, por exemplo, é majestosa. Aqui, como em Espanha, traduz-se tudo e a oferta abrange uma variedade por cá inimaginável. Regressei ao hotel atormentado pelo calor. Na ida e na vinda utilizei o metro, que cobre quase toda a cidade. Como o de Madrid, Barcelona ou Nova Iorque é mais feio que o de Lisboa, mas mais funcional.

domingo, outubro 21, 2007

Salsa y merengue (26) (1 remake)

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Aldo Matta -
Soy del Caribe (1993)
Aldo Matta é um cantor porto-riquenho cuja maior notoriedade coincidiu com um terceiro lugar obtido num qualquer dos desqualificados festivais da OTI. A sua carreira tem-se desenvolvido de modo discreto e oscilante, mais pelos terrenos do cançonetismo. No que diz respeito à salsa tem feito algumas incursões. Nos inícios dos anos 90 uma dessas incursões rendeu uma canção notável e um álbum magnífico. A canção é Derroche e o álbum é Soy del Caribe. Esta fase proveitosa foi dirigida pelo produtor Frank Torres. Não teve, porém, continuidade. É pena. O álbum aqui em apreço é um dos melhores da salsa romántica, género surgido em meados dos anos 80 entre Nova York e Porto Rico. Desfila um conjunto de temas que são um instintivo convite à dança, ao mesmo tempo que possuem encanto melódico - é o caso de Para tenerte siempre, Una tempestad de besos e Me encanta verte así. Quanto ao tema Derroche, incluído na edição espanhola deste álbum, tinha aparecido no álbum anterior, de 1991, com o mesmo título, mas a sua distribuição limitara-se às Américas. Se é um facto que o erotismo atravessa quase todos os temas, neste atinge-se o clímax, o que sucede através da conjugação da letra com um tórrido ambiente sonoro. Pouco tempo depois a cantora espanhola Ana Belén interpretou uma versão que teve impacto. Também Julio Iglesias acabou por vir a interpretar a sua versão com aquele inexpressivo artificialismo delicodoce que constitui marca pessoal...
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Aldo Matta - Me encanta verte así in Soy del Caribe (1993)

Salsa y merengue (25)

Derroche

El reloj de cuerda suspendido,
el teléfono desconectado,
una mesa dos copas de vino,
y a la noche se le fue la mano.
Una luz rosada imaginamos
comenzamos por probar el vino,
con mirarnos todo lo dijimos,
y a la noche se le fue la mano
Si supiera contar
todo lo que sentí
no quedó ni un lugar
que no anduviera de ti.
Besos, ternura
qué derroche de amor
cuánta locura
besos, ternura
qué derroche de amor
cuánta locura.
Que no acabe esta noche
ni esta luna de abril
para entrar en el cielo
no es preciso morir.
Besos, ternura
qué derroche de amor
cuánta locura
besos, ternura
qué derroche de amor
cuánta locura.

Derrochamos no importaba nada
las reservas de los manantiales
parecíamos dos irracionales
que se iban a morir mañana.
Si supiera contar
todo lo que sentí
no quedó ni un lugar
que no anduviera de ti.

Besos, ternura...


Manuel Giménez



Aldo Matta - Derroche in Derroche (1991)

sábado, outubro 20, 2007

Salsa y merengue (24) (6 remake)

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India - Dicen que soy (1994)
Na origem da salsa foram decisivos artistas como a cubana Célia Cruz, o porto-riquenho Tito Puente, o panamenho Rubén Blades e produtores como Ralph Mercado. Todos convergiram nos meados de 70, em Nova Iorque, tecendo inovadores cruzamentos de son, mambo, jazz e rock... A cubana estabeleceu-se como la reina de la salsa e nesse indisputado trono permaneceu até ao fim da vida. Porém, deixou uma sucessora, à qual consentiu o apodo de princesa de la salsa. Trata-se de India. Lançada por Ralph Mercado - produtor hegemónico no universo salsero - e apoiada por tão fortes credenciais, a jovem teve oportunidade de demonstrar as suas qualidades. Entre estas destacam-se a garra interpretativa e a voz poderosa. Parcialmente limadas certas arestas (a saber, alguma estridência), chega a este seu segundo álbum. Apoiada por adequados meios de produção, India vê-se consolidada como princesa de la salsa - algo que foi reforçado por uma imagem de mulher agressiva e descomplexada. Ora, importa salientar que este álbum torna-se incontornável por Ese hombre (música de Manuel Alejandro; letra de uma tal Ana Magdalena). Originalmente interpretada por Rocío Jurado, dir-se-ia (sem nenhum desprimor para a andaluza) que a canção encontra finalmente a voz e o estilo a que estava destinada... É um explosivo concentrado de despeito feminino em forma de insulto, disparado com toda a fúria salsera. É insólito e grandioso! Por alturas de 1994-95 ouvia-se assiduamente em Espanha através das ondas da Cadena Dial...
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India - Ese hombre in Dícen que soy (1994)

Salsa y merengue (23)


India - Ese hombre (1994)

Salsa y merengue (22)

Ese hombre
Ese hombre que tú vez ahi
que parece tan galante
tan atento y arrogante
lo conozco como a mi

Ese hombre que tú vez ahi
que aparenta ser divino
tan amable y efusivo
solo sabe hacer sufrir

Es un gran necio
un estúpido engreído
egoísta y caprichoso
un payaso vanidoso
inconciente y presumido
falso malo rencoroso
que no tiene corazón

Lleno de celos
sin razones ni motivos
como el viento impetuoso
pocas vezes cariñoso
inseguro de si mismo
insoportable como amigo
insufrible como amor

Ese hombre que tú ves alli
que parece tan amable
navigoso y agradable
lo conozco como a mi

Ese hombre que tu vez alli
que parece tan seguro
de pisar bien por el mundo
solo sabe hacer sufrir

Solo sabe hacer sufrir
tú no tienes corazón
me engañaste con traición
tú no tienes corazón
ese hombre que tú vez ahi
parece tan amable
pero no es agradable
me engañaste con traición
tú no tienes corazón

Pocas vezes cariñoso
en un payaso vandioso
que me llena de dolor

Tú no tienes corazón
tú me engañaste y me traicionaste
no te quiero ya
falso malo rencorozo
ya no te quiero más

tú me enganaste
tú me enganaste
y me traicionaste
y me traicionaste
no no no no...
no quiero verte más
no no no
...
tú me engañaste
y me traicionaste
ah ah ya no te quiero más
ya no voy a sufrir mas

ese hombre ya se va!

Manuel Alejandro / Ana Magdalena

sexta-feira, outubro 19, 2007

Mariachi y tequila (43) (4 remake)

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Paquita la del Barrio - En vivo desde su lugar (1998)
Este álbum foi gravado ao vivo chez elle, ou seja, na Casa Paquita - restaurante que à noite se transforma em sala de espectáculos. A voz poderosa de Paquita não sai nada diminuída do registo ao vivo, bem pelo contrário! É uma voz autêntica, de um poder sem artifícios. Além disso, o calor humano enriquece a performance, já que o público, por vezes, sublinha ululantemente as passagens mais condimentadas. Com efeito, as tiradas contra los hombres malvados, as consequentes imprecações (me estás oyendo, inútil?) são acolhidas com estrepitoso regozijo. Musicalmente, impera uma sonoridade mariachi convencional. A função não pôde acolher todos os seus êxitos, mas estão presente alguns dos mais carismáticos e morbosos. Saliente-se que nas introduções nos apercebemos que, quando não está investida no acto de cantar, Paquita, em contraste com a sua imagem de la masacradora, fala com um sussurrante fio de voz e intui-se uma desconcertante timidez. Em várias entrevistas, este contraste já tinha sido enunciado por ela mesma, assumindo uma transfiguração em palco. Dir-se-ia que, a vários níveis, algo de freudiano enriquece o fenómeno de culto que Paquita la del Barrio constitui...
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Paquita la del Barrio - El fracaso de mi amor in En vivo, desde su lugar (1998)

Mariachi y tequila (42)

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Pico de Orizaba (Citlaltéptl) , Puebla / Veracruz - Llave

Mariachi y tequila (41) (22 remake)

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Paquita la del Barrio / Banda La Costeña -
Paquita la del Barrio con Tambora (1993)
Na carreira discográfica de Paquita la del Barrio distinguem-se três modalidades de orquestração, as quais chegam a ter gravações cujo título alude especificamente a cada uma. Assim, temos Paquita la del Barrio con mariachi, ...con sonora ou ...con tambora. Esta última modalidade tem um carácter irredutivelmente kitsh. A existência de bandas conhecidas como tamboras é um fenómeno genuinamente mexicano, especialmente popular nas zonas norteñas da costa do Pacífico. A que aqui acompanha a diva tem precisamente o nome de La Costeña e é do estado de Sinaloa.
A sonoridade das tamboras não dá para acreditar... É uma charanga tonitruante onde avultam espessos trombones e demais panóplia de metais pesados sobre um fundo compassado de bateria crua. É frequente os cantores populares mexicanos gravarem com tamboras - faz parte de um percurso mais ou menos estabelecido pela tradição. Portanto, Paquita não é inovadora ao fazê-lo. Porém, tendo em conta as suas características, pode-se dizer que a junção é explosiva. Aqui, estão presentes algumas das suas mais morbosas e carismáticas canções, de modo que este álbum se torna num invulgar monumento ao kitsh! Perfeito exemplo é o último tema, Escoria humana, onde são desferidos alguns dos mais soezes insultos com que se pode brindar, neste caso não um homem (como é o mais comum com Paquita), mas uma mulher. A mensagem é adequadamente enquadrada pelo ribombar de trombones.
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Paquita la del Barrio / Banda La Costeña - Escoria humana in Paquita la del Barrio con Tambora (1993)

segunda-feira, outubro 15, 2007

Mariachi y tequila (40)

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Paquita la del Barrio - Azul celeste (2000)
Pelas mais conhecidas canções e pela pose, Paquita la del Barrio representa algo de bizarro. Contudo, não deixa de se inserir num universo tradicional, que é o da música ranchera. O que tem feito, é acentuar de um modo teatral alguns dos traços do rancherismo. Ironicamente, isso tornou-a num produto kitsch assimilável por uma certa modernidade. Tal é particularmente válido no que diz respeito à agressiva pose anti-machista que lhe valeu o apodo de la masacradora. Só que o que sustenta esta imagem está presente no carácter radicalmente melodramático do rancherismo. O repertório tradicional ilustra-o. Se o bolero clássico é, basicamente, lamentativo e platónico, o bolero ranchero acaba muitas vezes em tragédia. Está recheado de cenas canalhas e o despeito que as inspira é verdadeiramente feroz. Foi essa a banda sonora do cinema mexicano dos anos de ouro (30, 40 e 50). Tais tragédias foram cantadas como pontualizações das tramas românticas que deliciavam as plateias populares. Os consagrados Pedro Infante, Jorge Negrete, Antonio Aguilar, Lola Beltrán foram, assim, antecessores de Paquita. Aqueles com o glamour mediático próprio de um género vigente no seu tempo. Esta apenas com o glamour decadentista próprio de um género flagrantemente fora de vigência neste nosso tempo. Azul celeste insere-se no rancherismo tradicional - o repertório incide em clássicos do género, que em tempos conheceram grande popularidade no México, em grande parte da hispanidade e não só... A nossa Amália, por exemplo, cantou Fallaste corazón. Esta recuperação de clássicos faz-se com autenticidade, mesmo se aqui e ali com ajustamentos à sua imagem de marca. Assim, por exemplo, esse mesmo consagrado tema, que originalmente era um auto-desqualificador monólogo de borracho, transforma-se, pela inevitável ausência do contexto cinematográfico original, num libelo anti-machista, a la Paquita...
Azul celeste
é mais um exemplo de absoluta coerência na carreira discográfica de Paquita - música e espírito ranchero servidos por uma intérprete excepcional do género.
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Paquita la del Barrio - Fallaste corazón in Azul celeste (2000)

Mariachi y tequila (39)


Pedro Infante - Fallaste corazón in La vida no vale nada (1955)


sábado, outubro 13, 2007

Cuore matto (17)

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Mina - Cinquemilaquarantatre (1972)
Este é um dos mais famosos álbuns de Mina. Deve tal fama ao título e capa e, sobretudo, à canção Parole parole. O título corresponde tão-só ao número de série de registo de edição discográfica (5.043). A capa, em estilo pop art, foi insolitamente, editada em três ou quatro variantes de cores. Mas o mais importante é, evidentemente, Parole parole - um original dueto entre Mina e Alberto Lupo. Este corteja-a com palavras (parole) insinuantes e a destinatária desdenha tais palavras e desacredita o esforçado galanteador. A coisa é não só original, como, musicalmente resulta em pleno. Pois fique-se sabendo que resultou de um artifício para pano de fundo do genérico final de um show televisivo da RAI... Registe-se ainda o nome dos três inspirados compositores: Leo Chiosso, Giancarlo Del Re e Gianni Ferrio. A canção, no seu tempo, teve impacto, mesmo além das fronteiras transalpinas. Mas, o maior impacto correu por conta da versão francesa interpretada pelo dueto Dalida / Alain Delon. Sem desprimor para esta última versão (também magnífica!), a original é melhor, não só porque cantada em italiano, como pela suprema capacidade interpretativa de Alberto Lupo e Mina. Parole parole é o último tema do álbum, que abre como uma bonita canção Fiume Azzurro e atravessando um conjunto de temas de valor mediano desagua assim nesta obra-prima.
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Mina - Parole, parole in Cinquemilaquarantatre (1972)

sexta-feira, outubro 12, 2007

Cuore matto (16)

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Mina - Mina (E penso a te) (1971)
Entre mais de meia centena de álbuns de originais de Mina (com as compilações ultrapassar-se-á a centena...), este álbum estará muito longe de se poder incluir entre os melhores. Contudo, contém Grande, grande, grande - a canção interpretada por Mina que sempre foi mais divulgada, pelo menos, fora de Itália. Resulta irónico que essa divulgação corresse mais a cargo da versão inglesa de Shirley Bassey, já que nada, absolutamente nada (nem a excelente voz da galesa) pode arrogar-se a condição de sucedâneo de tão acabada versão como é esta, a original! O belíssimo tema foi composto por uma das glórias do Festival de San Remo, Tony Renis e foi orquestrado por aquele que permanece até hoje como um dos maestros mais carismáticos da carreira de Mina, Pino Presti. Há uma outra canção que merece destaque: Amor Mio, de uma dupla fulcral de compositores da canção italiana: Mogol / Lucio Battisti.
Uma nota final sobre a insólita capa: Parece que a diva, num determinado dia da fase inicial da sua gravidez, desgostosa perante a aparência da sua face no espelho, decidiu num arroubo de radical ironia, que a capa do disco que estava em preparação haveria de ostentar um símio...
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Mina - Grande, grande, grande in Mina (E penso a te) (1971)

Cuore matto (15)

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Mina - Frutta e verdura (1973)
Entre fans e críticos tormou-se desde há muito consensual situar este disco como um dos melhores de Mina. De facto, o valor médio é muito elevado, embora nenhum tema tivesse ascendido à condição de emblemático ou popular, com a parcial excepção de E poi... Contudo, junto com este, deve-se destacar Devo tornare a casa (os dilemas de uma mulher em ruptura com o seu casamento), Domenica sera e Tentiamo ancora. De notar ainda que há uma versão italiana de Águas de Março, de Tom Jobim (La pioggia di marzo). Graças à voz ímpar da cantora, à natureza das letras e das músicas, assim como aos arranjos de Pino Presti, impera uma quente sensualidade que marca a identidade deste álbum.
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Mina - Tentiamo ancora in Frutta e verdura (1973)

quinta-feira, outubro 11, 2007

Cuore matto (14)

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Mina - La Mina (1975)
Mina tem percorrido, desde 1958 até aos dias de hoje, uma carreira extensa e multifacetada, marcada pela sua intrínseca italianidade... Versatilidade, ecletismo e elegância podem aqui ajudar a definir tal atributo, não esquecendo esse ponto de mistério que acompanha o seu desaparecimento como entidade pública visível desde finais dos anos 70. Precisamente, dessa década datam alguns dos seus melhores álbuns. Este é um deles. Sem um tema desinteressante e configurando de início a fim um ambiente cálido e insinuante. Temas a destacar: Signora più che mai, Immagina un concerto, Tu no e, acima de todos, L'importante è finire - uma das suas mais famosas canções e... justificadamente. Tem uma densa atmosfera sensual, que se deve aos arranjos de Pino Presti e à voz de Mina, aqui mais insinuante e expressiva do que nunca... Definitivamente, foi nos anos 70 que la tigre di Cremona atingiu o apogeu como cançonetista, sendo certo, porém, que não tinha ainda revelado outras faculdades (ver-se-ia a partir de finais de 70 que a sua versatilidade não conheceria limites...).
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Mina - L'importante è finire in La Mina (1975)

sexta-feira, outubro 05, 2007

Cuore matto (13)

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Mina - Italiana (1982)
Italiana foi originalmente editado como duplo LP, identificado cada um como Italiana Vol. 1 e Italiana Vol. 2. As sucessivas reedições em CD mantiveram o conceito. Contudo, há continuidade entre os dois volumes. Partilham a mesma sonoridade. Há variedade, mas indistintamente repartida por ambos. É um ponto de encontro de várias tendências do seu repertório, predominando uma sonoridade pop standard. A cuidada produção dá consistência ao projecto. É consensual entre os “minófilos” tratar-se de uma trabalho importante, embora sugerindo rumos duvidosos para os mais afeiçoados ao cançonetismo tradicional. Mina está aqui rodeada pela sua habitual equipa desta época, liderada por Vittorio Buffoli. A importância do seu filho Massimiliano Pani é já evidente e aparece Celso Valli como responsável de arranjos de alguns temas. Note-se que predominam originais de compositores italianos, o que não impede que existam três temas cantados em inglês.
No Vol 1, Magica follia abre da melhor forma. É um tema quente, bem à medida da cantora. Deve-se destacar ainda Per averti qui, Già visto e Sapori de civiltà. Há ainda a versão de um velho tema de Chico Buarque – Que Serà (O que será?).
O Vol 2 inicia-se com o melodioso Mi piace tanto la gente e acaba em força com Oggi è nero – peça de construção elaborada. Pelo meio, temos Sweet Transvestite - uma espécie de hino para drag queens, cuja insólita sonoridade é sublinhada por um registo andrógeno, demonstrativo da variada gama de virtuosismos da sua voz - e It’s your move, que é do mais elementar e puro disco.
Italiana
consagra uma nova fase na trajectória de Mina, iniciada em 1979 – definitivamente na vanguarda da canção italiana num ponto de cruzamento de influências diversas. Por fim, note-se que as capas são das mais conseguidas dentro da feição vanguardista característica de Mauro Baletti - aparece uma sugestiva Mina de feições clownescas, em fundo de azul veludo.
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Mina - Sapori di civiltà in Italiana Vol 1 (1982)

quinta-feira, outubro 04, 2007

Guía hispânico (26)

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Hugh Thomas - La conquista de México (1993)
Este historiador tem já uma obra que o credita como um nome importante na extensa lista de hispanistas britânicos. Há, contudo, dois factores que o distinguem nessa insigne galeria: 1) não tem incidido exclusivamente na história contemporânea; 2) tem ideias conservadoras. Com efeito, já na anterior monumental síntese, El imperio español, se tinha embrenhado na expansão castelhana, entre a viagem inicial de Colombo e a de Magalhães. Com outra síntese de fôlego, La guerra civil española, tinha feito como que o ponto da situação do estado da arte historiográfica sobre essa matéria, nos anos 90. Duas áreas muitas distintas, dir-se-ia, mas que assinalam traves mestras para a compreensão da Espanha moderna e contemporânea.
Em El imperio español, a conquista do México já merecia extenso destaque. Aqui temos um desenvolvimento minucioso da saga de Cortés. É matéria fascinante em si, como exemplo de choque de civilizações e ponto de partida de um processo de mestiçagem cultural. Mas há um fascínio adicional para os historiadores avisados: desfazer mitos que decorrem da visão anacrónica com que muitas vezes tal choque é apreciado. Foram mitos que constaram da visão tradicional do nacionalismo espanhol. São ainda outros mitos que continuam vigentes na visão hipercrítica racionalista, afim à sensibilidade das esquerdas, digamos, e que têm tido livre curso na percepção comum. São mitos opostos, mas nocivos à compreensão da história e, portanto, devem ser denunciados. Porém, não estamos perante uma obra articulada em torno da denúncia, nem de qualquer outro proselitismo. Nada disso! Temos um criterioso levantamento de factos, contrastados e acompanhados de perspectivas de enquadramento. É precisamente a sobriedade e o bom-senso que acabam por desencadear um posicionamento naturalmente alheio a tais mitos.
O México acabou por se tornar uma realidade mestiça de incomensurável riqueza e em poucos lugares do mundo encontraremos algo de tão fascinante a este nível! O fascínio desata-se imediatamente nas peripécias únicas da conquista, em que determinados detalhes podem adquirir um significado crucial. São páginas que se lêem como num romance fantástico ou como em certas parábolas bíblicas, seja pela trama de acontecimentos extraordinários, seja pelas abundantes lições de vida. Vejamos uma, bem conhecida e absolutamente sintomática: Perante os desafios de um Mundo Novo, frente a perigos desconhecidos, Cortés, contrariando as instruções que recebera, manda destruir os barcos que os conduziram até esse ponto - um ponto de não retorno. A ele e aos seus 500 homens só restariam duas opções: conquistar ou morrer!

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