quarta-feira, fevereiro 28, 2007

Geografia íntima (22)

Lucília do Carmo (1920 - 1999)
Eis um dos melhores fados e uma das melhores fadistas de todos os tempos: Lucília do Carmo - Maria Madalena. A dimensão do vulto de Amália teve o inconveniente de obscurecer outros grandes nomes do fado, nomeadamente outras grandes fadistas, como Lucília do Carmo, mãe de Carlos do Carmo. Não que no seu tempo não tivesse tido projecção, só que não perdurou até ao dias de hoje como mereceria. Seja como for, a verdade, é que fadistas expressivas e carismáticas como esta, demonstram, por contraste, a anemia de algumas das jovens fadistas actuais... Cada fadista tinha, muitas vezes, um estilo próprio. O de Lucília do Carmo era inconfundível. Uma garra vibrante caracteriza esse seu estilo.
De alguma forma, a música, nos seus pormenores e detalhes é também credora de um tempo. Este fado é credor de um tempo em que as marcas de uma religiosidade popular e tradicional não se haviam diluído. Esta voz é credora de um tempo em que o enaltecimento da renúncia e do perdão constituíam ainda valores mobilizadores da alma de uma intérprete...



Lucília do Carmo - Maria Madalena

terça-feira, fevereiro 27, 2007

Mediterráneo / Mediterrània (42): Mallorca

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Maria del Mar Bonet - Maria del Mar Bonet (Fora d'es sembrat) (1970)

A carreira de Maria del Mar Bonet tem sido uma demonstração de coerência. Pela temática, pelo estilo e pela opção linguística. Este é o seu primeiro álbum e é uma oportunidade para se poder comprovar como, desde o início, se desenharam as grandes linhas da sua orientação artística. É um facto que a presença da música popular maiorquina e menorquina tendeu, com o tempo, a não ser tão dominante como aqui, mas também é um facto de que nunca deixou de ter presença significativa. Além disso, apresenta composições próprias. Ou seja, desde o início a sua opção representou um ponto de confluência entre folk e canção de texto. Ainha hoje é assim, embora o folk se tivesse alargado a uma ampla extensão de culturas mediterrâneas.
O argumento artístico que por esta altura a colocou imediatamente acima da média no que diz respeito à nova cançó era, evidentemente, a sua voz. A produção valorizou devidamente este factor e preparou para este álbum uns arranjos musicais adequados. Alías, o que confere a este álbum um nível superior ao das gravações anteriores em single e EP é, precisamente, ter uma produção de superior qualidade. Como a editora era a mesma (Concentric), a melhoria deve ser creditada a recursos técnico-materiais acrescidos e à supervisão artística que, entretanto, passou a ser de Antoni Ros-Marbà. Algumas jóias marcam aqui presença: Fora d'es sembrat, Sa novia d'Algendar, Cançó d'es segar, Cançó d'esterrossar, Dona'm sa mà... Algumas são toadas de trabalho campestre entregues a um único e solitário instrumento: a voz!
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Web: Maria del Mar Bonet in Musics per la llengua


Maria del Mar Bonet - Fora d'es sembrat in Maria del Mar Bonet (Fora d'es sembrat) (1971)

domingo, fevereiro 25, 2007

Mediterráneo / Mediterrània (41): Mallorca (21 remake)

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Maria del Mar Bonet - Saba de terrer (1979)
A produção discográfica de Maria del Mar Bonet alberga várias pérolas. Até meados dos anos 80, entre os discos dedicados à música popular maiorquina, este é, para mim, o melhor. Só por si, o tema de entrada, o romance tradicional, Sa des cavaller, é esplendoroso, sendo que o resto, porém, em nada desmerece... Nunca a sua voz soou tão etérea. A capa, reproduzindo uma velha foto de artesãs maiorquinas, sugere o ambiente tradicional de onde provem a música. Os arranjos e a concepção artistica global indicam uma cuidada prospecção pela música tradicional maiorquina. Mas, se os arranjos não estão longe do purismo tradicionalista é por uma via elaborada, pois não deixam de evidenciar formação erudita, algo que se nota particularmente no último tema - El cant de la sibil.la.
Temos também oportunidade de apreciar como o dialecto mallorquí, apresenta, comparativamente com o catalão padronizado, uma doçura fonética arcaizante que, provavelmente, o aproxima do provençal. Já agora, vem a propósito esclarecer que saba de terrer, significa sapato de terreiro, terreiro de festa, de baile. É, portanto, uma alusão às festas tradicionais.
Pena é que a 1ª edição em CD seja tão pobre em informações e grafismo, comparada com a edição original em LP.
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Maria del Mar Bonet - Sa des cavaller in Saba de terrer (1979)

sexta-feira, fevereiro 23, 2007

Mediterráneo / Mediterrània (40): Mallorca

Sa des cavaller

N'era lleuger de la cama,
tots los mals passos seguia
i el dimoni li eixia
conforme fos una dama.
- Senyora, què té, què té?
¿Què té de nou son marit,
que a altes hores de la nit,
vaia sola p'es carrer?
- Senyor meu, jo som anada
a una casa de joc,
i m'hi he estorbada
un poc i els meus criats m'han deixada.
- Senyora, vi soleu venir
a casa l'acoiré,
bon sopar que li daré
i un bon llit per dormir.
- Si vostè no em destapàs
i secreta me tengués,
que mon marit no ho sabés
poria ésser que hi anàs.
Los dos se'n varen anar
a casa del cavaller
i a lo punt ell li tyragué
coses bones per sopar.
- Cavaller, jo ja he sopat.
- Senyora, i jo també.
- Idò, que veja on té
es llit tan ben reguardat.
- Aquí dalt trobarà un llit
que hi jèia amb la meva esposa
i si em promet una cosa,
hi podrà romandre anit.
- Jo ho tendria per afronta
res haver- li de negar.
De tot quant demanarà
esta nit anirà a son compte.
Com ella se descordava,
el cavaller hi va pujar.
Tot d'una li demanà
si sabia ambe qui els hava.
Li contestà el cavaller:
- Senyoreta, no sé res,
però jo compt haver- lès
amb una dona de bé.
No vui fer cap cerimoni
a ningú d'aquest món nat:
sabrà vostè en veritat
que les ha amb el dimoni.


Josep Massot i Planes - Cançoner musical de Mallorca

terça-feira, fevereiro 20, 2007

Complexo de Aljubarrota (15)

Portugal vs Espanha: Nível de vida - Índice de paridades de poder de compra / 2004
A evolução dos dados do Índice de paridades de poder de compra recentemente divulgados pelo Eurostat confirma uma tendência que se pode exprimir deste modo sensacionalista: Espanha dispara; Portugal afunda-se. Efectivamente, a tendência de lenta mas contínua aproximação em relação ao país vizinho, que se vinha verificando até, pelo menos, meados da década passada, deu lugar a esta consolidada tendência. No conjunto da Europa, aliás, enquanto a Espanha ganha posições relativas, Portugal perde-as...

Média EU27 = 100

251,0 Luxemburgo
141,4 Irlanda
130,0 Países Baixos
128,7 Áustria
124,5 Dinamarca
124,4 Bélgica
123,0 Reino Unido
120,3 Suécia
115,8 Alemanha
115,5 Finlândia
112,3 França
107,4 Itália
100,7 Espanha
91,4 Chipre
84,8 Grécia
83,3 Eslovénia
75,2 República Checa
74,8 Portugal
74,4 Malta
64,0 Hungria
56,7 Eslováquia
55,7 Estónia
51,1 Lituânia
50,7 Polónia
45,5 Letónia
34,0 Roménia
33,2 Bulgária

Em breve procederei à comparação entre os índices das regiões portuguesas e espanholas.

Fonte: Eurostat

Noites tropicais (15)

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Emílio Santiago - Bossa nova (2000)
A Bossa nova evoca os anos dourados do Brasil: os finais dos anos 50 e inícios dos anos 60. Parecia então que ninguém parava o Brasil... Foram anos de grande crescimento económico; da presidência de Juscelino Kubitschek de Oliveira; da primeira Copa do Mundo; da construção de Brasília... Anos em que crescia uma classe média à qual parecia destinado um futuro auspicioso. Hoje sabemos que foi, em larga medida, uma ilusão. Mas foi da classe média-alta citadina que brotou a bossa-nova. Como uma espécie de metáfora de bem-estar material e espiritual. É certo que teve abundantes fontes populares de inspiração, mas sem perder, de facto, o seu carácter elitista. A imagem aplica-se perfeitamente aos "pais fundadores": João Gilberto e Tom Jobim. O imediato êxito que tal produto obteve nos Estados Unidos consolidou ainda mais esse carácter. Tornou-se, assim, uma das imagens de marca da música popular brasileira e praticamente todos os seus grandes nomes não prescidem de, no mínimo, lhe prestar intermitentes homenagens. O que Emilío Santiago faz neste álbum está longe, portanto, de ser inovador, tanto mais que ao longo da sua série de álbuns Aquarela brasileira a bossa nova está bem representada. Porém, entre muitos clássicos e outros menos clássicos do género, este álbum demonstra melhor do que qualquer outro que as potencialidades da sua voz se coadunam como poucas à cadência suave e quente da bossa. A aveludada orquestração reforça ainda mais a suavidade e o calor.
Um dos melhores resultados deste dispostivo pode ser saboreado no tema
Doce viver, de Nelson Motta. Ainda por cima trata-se de um hino nostágico às delícias da juventude, daquela juventude privilegiada que frequentava as praias de Leblon e Ipanema. Nada melhor se ajusta à noção de anos dourados. É uma evocação biográfica e, sabendo como Nelson Motta, conviveu intimamente com o núcleo fundador da bossa, pode-se dizer que é um testemunho do ambiente em que ocorreu essa bem-aventurada criação.

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Emílio Santiago - Doce viver in Bossa nova (2000)

Noites tropicais (14) (7 remake)

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Emílio Santiago - Beija-flor (1998)
A música popular brasileira teve sempre ampla difusão em Portugal. Contudo, a popularidade alcançada deste lado do Atlântico nem sempre é proprcional à da origem. Se assim fosse, Emílio Santiago seria cá mais conhecido. Sabe-se como as vozes negras têm muitas vezes um travo bem identificativo. Pois, esta voz é um bom exemplo. Encaixa-se perfeitamente no tópico de "negão" - quente e poderosa. Diga-se que tais qualidades são apropriadas para a bossa nova e para o samba-canção... Não surpreende, portanto, que no seu repertório haja frequentes incursões nestes géneros.
Este álbum é posterior à série de álbuns Aquarela Brasileira, ao longo da qual o cantor se espraiou por clássicos da bossa e, sobretudo, do samba-canção. Foi um prolongado exercício nostálgico, comercialmente compensador. Contudo, esses álbuns eram interessantes pela matéria-prima e pela voz, mas algo limitados pelo conceito e orquestrações. Com efeito, a sistemástica utilização do medley e de arranjos convencionais caracterizam a série Aquarela. As suas qualidades de intérprete acabariam por ser melhor aproveitadas nos últimos álbuns, os quais reflectem conceitos de produção mais refinados. Beija-Flor está produzido por Mazzola e é um trabalho elaborado, bem acabado e coerente. Apesar da presença de canções de compositores mais jovens (Lulu Santos, Chico César), há algumas de compositores mais antigos (Ivan Lins), alguns temas clássicos da canção brasileira e, mesmo um dos meus boleros preferidos, Esta tarde vi llover, de Armando Manzanero. Há grande variedade de interpretações deste famoso bolero, pois a que aqui se apresenta é excelente. Enfim, para este tipo de vozes o bolero vem mesmo a calhar... Contudo, o ponto mais alto deste álbum de elevado valor médio, está em temas genuinamente brasileiros, entre as quais destaco o clássico Brigas.
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Emílio Santiago - Brigas in Beija-flor (1998)

segunda-feira, fevereiro 19, 2007

Complexo de Aljubarrota (14)

D. Luis de Vasconcelos e Sousa, 3º Conde de Castelo Melhor (1636 - 1720)

O nacionalismo português desenvolveu-se de braço dado com um sentimento anti-espanhol, ou, pelo menos, anti-castelhano. Quando a história veiculava valores nacionalistas, havia uma galeria de heróis e de feitos exemplares que ilustravam tal sentimento. Imagino que a primeira lista do programa Os grandes portugueses albergaria alguns desses heróis, já que a educação nacionalista do Estado Novo (e da 1ª República...) foi assimilada em condições de conseguir não sossobrar de todo à cultura de massas vigente. Já agora, diga-se que a escola actual não inculca valores nacionalistas. Nem nacionalistas, nem outros, já que é um exagero apodar de valores a meia dúzia de insonsas banalidades cívico-democráticas ensopadas em molho de politicamente correcto com que os nossos alunos são hoje em dia servidos... Ora, vem isto a propósito para chamar a atenção que há um vulto que a educação nacionalista não contemplou. Trata-se de D. Luís de Vasconcelos e Sousa, 3º Conde de Castelo-Melhor. Provavelmente, entre portugueses, ninguém teve uma acção tão decisiva para Portugal ser independente.
A Restauração (1 de Dezembro de 1640) só se decidiu mais de vinte anos depois de ter sido proclamada. Durante todo esse tempo a situação foi de uma absoluta precaridade. Nem mesmo o declínio a pique da Monarquia Hispânica deixava na cena política europeia algum espaço de optimismo quanto às suas possibilidades de sobrevivência. Ocorrera como um efeito colateral do crescente poder da França de Richelieu, que foi usado de forma oportunista por essa e outras potências e, assim, se prolongara. O seu destino foi-se jogando num complicado xadrez que envolveu a França, Inglaterra e Províncias Unidas (Países Baixos). Ainda por cima, internamente, os actores que desencadearam o processo (nobreza provinciana e jesuítas) experimentaram ao longo desses anos vacilações e divisões que tornaram evidente a precaridade da situação.
Mas, ao fim de vinte anos parecia ter chegado o momento decisivo - a Monarquia Hispânia achava-se, finalmente, em condições de pôr fim à rebeldia. Era iminente a invasão. A única viabilidade para os Braganças parecia consistir em pôr-se nas mãos dos ingleses. O casamento de D. Catarina com Carlos II e o seu valioso dote (Tânger, Bombaim, dinheiro e facilidades comerciais) representou uma opção de realpolitk que se pode traduzir como ficar de cócoras... Foi essa a desesperada opção da regência de D. Filipa de Gusmão. Porém, tal estratégia foi corrigida pelo golpe palaciano do Conde de Castelo-Melhor. Sucede que, verificando tão comovente fraqueza, os ingleses acarinhavam a hipótese de não arriscar em demasia pelo débil aliado, assegurado que estava o valioso dote de D. Catarina. Estavam em condições de o fazer, de forma discreta e eficaz, já que eram mediadores entre Lisboa e Madrid. Em parte, pela indignação causada pelo dote, em parte pela percepção de que as diligências do embaixador inglês em Madrid apontavam em perigosa direcção, Castelo-Melhor fez girar a política de alianças na direcção do ambicioso Luís XIV.
A nova estratégia passou pelo casamento do lastimável D. Afonso VI com uma princesa francesa, Maria Francisca (após árduas negociações). Havia tudo a ganhar numa aproximação a França. Além de pôr a Monarquia Hispânica em guarda, pôs em guarda a própria Inglaterra e estabeleceu o melhor cenário para a guerra. Se a tudo isto acrescentarmos uma magnífica condução das operações militares, temos aqui o que representou a governação de Castelo Melhor. Foram poucos, mas decisivos anos. Só que sua força (e fraqueza) assentava num rei incapaz (D. Afonso VI), que manietava. Ganha a guerra, acabou por ser removido, como o próprio rei, aliás. Foi um golpe perpetrado pelo príncipe D. Pedro e, curiosamente, instigado pelos franceses. Implicou, também que a princesa Maria Francisca passasse de esposa do rei (provou-se que o casamento nunca fora consumado carnalmente e obteve-se dispensa papal) para esposa do irmão, novo homem forte e futuro rei D. Pedro II. Mas o essencial estava já alcançado. Derrotada e acossada por todos os lados, a Monarquia Hispânica ansiava pelo Tratado de Paz. Este chegaria em 1668.
A acção política de Castelo-Melhor não foi motivada por uma orientação francófila. Não por acaso o seu afastamento resultou de intriga francesa.
A sua orientação consistiu em aproveitar as rivalidades das potências europeias e tal implicou, num dado momento, a aproximação à França. Ganha a guerra, tal aliança deixou de ser crucial. Esta orientação teve continuidade na regência e reinado de D. Pedro II. O apoio francês à sua subida ao poder foi circunstancial, pois visava evitar a assinatura do Tratado de Paz com a Monarquia Hispânia. O facto de não o ter conseguido é demonstrativo dessa continuidade. Seja como for, na parte final do reinado de D. Pedro II haverá uma grande mudança: começará a inserção de Portugal na órbita do que viria a ser o Império Britânico.
Quanto a Castelo-Melhor, durante o exílio, esteve em França, Sabóia e Inglaterra, onde frequentou a corte (diz-se que providenciou o sacerdote católico que deu a extrema unção a Carlos II). No início do reinado de D. João V estará de volta, e durante a sua prolongada e respeitada velhice encontrar-se-á nos mais influentes círculos da corte.

Conde de Castelo-Melhor in Wikipedia


domingo, fevereiro 18, 2007

Memória do futebol (5)

A litania sobre o futebol português
Desde que Benfica e Sporting deixaram de dominar o futebol português, a comunicação social tem alimentado uma recorrente litania sobre o seu valor. São múltiplas as suas vertentes. A mais significativa incide na tentativa de descredibilização do mérito das vitórias do FC Porto. Em prol de uma cruzada sensacionalista são amplificadas sistematicamente todas as suspeitas que podem ir nesse sentido. Contudo, outras vertentes não deixam de ser exploradas, como, por exemplo, um suposto processo de crescente desinteresse do público português pelo futebol. Em boa verdade, em relação a estes argumentos deve-se dizer que existem dados objectivos. São números e estes, em larga medida, relativizam-nos ou, inclusivamente, desmentem-nos de modo devastador.
Todas os elementares dados demonstram, por exemplo, que a difusão de jornais desportivos aumentou dramaticamente nos últimos trinta anos (jornais que além do mais passaram a diários). O mesmo se diga das audiências televisivas do futebol (tendo como comparação apenas as que na actualidade correspondem às transmissões em sinal aberto), que, além do mais, se tornaram muito mais frequentes. O peso relativo dos espaços publicitários associados a estas transmissões, em relação ao bolo publicitário global, aumentou exponencialmente. Tudo isto significa que o futebol na televisão não só tem mais espectadores, como o impacto destas transmissões na sua vida é maior. A publicidade e o mercado publicitário conhecem bem este fenómeno de dependência futebolística, traduzindo-se este facto, por vezes, em saturação... Contudo, há uma ladainha com que constantemente nos matraqueiam: as pessoas já não vão aos estádios, dizem-nos repetidamente. Pelo menos, em comparação com o resto da Europa não se pode dizer isso. Mas, tampouco se pode dizer isso tendo em conta os valores médios dos últimos anos.
Em comparação com o resto da Europa, os índices relativos às nossas áreas metropolitanas só ficam aquém dos correspondentes às áreas metropolitanas da Escócia, Inglaterra, Alemanha e Holanda. Na globalidade, não se pode dizer que sejam inferiores aos da Itália ou Espanha. São superiores aos da França e Bélgica. São muitíssimo superiores aos da Irlanda, Suiça, Áustria, Grécia, Turquia e todos os países do leste! Sobre isto, oportunamente, avançarei com dados concretos. Entretanto, avanço com os valores médios das assistências nos últimos anos do 1º escalão do futebol português:

Médias da 1º Liga:
1999-00: 8.637;
2000-01: 7.382;
2001-02: 8.098;
2002-03: 7.012;
2003-04: 9.468;
2004–05: 10.624;
2005–06: 10.600.

Médias do Benfica:
1999-00: 27.706 (3);
2000-01: 27.206 (1);
2001-02: 29.924 (1);
2002–03: 22.541 (2);
2003-04: 28.395 (3);
2004–05: 35.053 (2) (campeão);
2005–06: 43.057 (1).

Médias do FC Porto:
1999-00: 22.029 (3) (campeão);
2000-01: 17.776 (3);
2001–02: 21.159 (3);
2002–03: 28.248 (1) (campeão);
2003-04: 34.143 (1) (campeão);
2004–05: 36.038 (1);
2005–06: 38.679 (2) (campeão);

Médias do Sporting:
1999-00: 31.640 (1) (campeão);
2000-01: 29.887 (2);
2001–02: 30.958 (2) (campeão);
2002–03: 14.789 (3);
2003-04: 25.660 (2);
2004–05: 19.000 (3);
2005–06: 28.824 (3).

Digamos que numa interpretação pessimista, o máximo que se pode dizer é que os novos estádios inverteram uma eventual tendência de quebra. E que a evolução dos grandes compensa de sobra eventuais quebras dos demais clubes.
O que se deve discutir não é um hipotético desinteresse do público pelo futebol, mas sim a sua matriz de paixão clubista e o que tal significa em Portugal, onde existe uma concentração absolutamente hipertrofiada dessa paixão nos três grandes.

Fonte: http://www.european-football-statistics.co.uk/attn.htm

sábado, fevereiro 17, 2007

Andalucía (19)

Alpujarra Oriental in Andalucía es de cine (2002)

Alpujarra (ou Alpujarras) é uma região situada entre a Sierra Nevada e as montanhas do litoral, no sudeste da província de Granada. É montanhosa e o seu povoamento (pouco denso) dispersa-se por apertados vales. Alguns desses vales têm microclimas que determinam uma flora distinta da que predomina nesta parte da Peninsula. Com efeito, podem-se encontrar aqui, quase lado a lado, áreas de densa florestação e áreas desérticas.
Tem uma história densa e convulsa. Foi um dos mais importantes redutos da população mourisca que, após a queda do Reino de Granada, decidiu permanecer. Foi aqui que, em finais do século XVI e início do século XVII, ocorreu o mais grave levantamento mourisco. Foi implacavelmente afogado em sangue e determinou a expulsão do que restava desta comunidade para o norte de África. O seu vazio foi parcialmente ocupado por algumas vagas colonizadoras vindas do norte, nomeadamente da Galiza. Por essa razão são visíveis indícios de raízes galegas que podem parecer, à primeira vista, insólitos em bandas tão meridionais. Tais indícios vão desde apelidos familiares até à toponímia. Entremeados com dominantes vestígios mouriscos, ajudam a configurar uma peculiar identidade alpujarreña.

Com tão ricos antecedentes, ainda por cima bem conservados pelo grande isolamento geográfico, a Alpujarra é um catálogo de história e geografia. Não por acaso, o hispanista inglês Gerald Brenan escolheu a região para viver.

sexta-feira, fevereiro 16, 2007

La copla (10) (5 remake)

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Carlos Cano - Cuaderno de coplas (1985)
Este álbum significou um salto qualitativo. Com melhores meios de produção e, sobretudo, com caminhos artísticos bem definidos, a partir daqui todos as suas gravações foram de nível elevado. Para mim este é o melhor de todos, apresentado uma notável homogeneidade de ambiente sonoro e de temas. Um excelente gosto nos arranjos instrumentais confere-lhe um valor geral que supera a soma das partes. O universo de Carlos Cano fica aqui definido como uma original conjugação de referências que se podem resumir em algo como andalucismo neo-tradicionalista. Este "caderno" é um compêndio ilustrado de tal universo através de coplas, romances, habaneras, murgas, pasodobles, peteneras... Neste desfile destaco Pasodoble torero para Gerald Brenan. É uma homenagem ao grande hispanista britânico (Gerald Brenan in Wikipedia) afincado na sua amada Andaluzia, numa aldeia escondida das granadinas Alpujarras. Canta Carlos Cano num refrão de inexcedível beleza: Ay Alpujarra, Alpujarra que grandes son las estrellas, más grandes los corazones. Olé y viva Gerald Brenan! Cierro los ojos y te siento, aunque de ti esté lejos. Ay Alpujarra, Alpujarra. Ay Alpujarra.
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Carlos Cano - Pasodoble torero a Gerald Brenan in Cuaderno de coplas (1985)

Espanha - 22/04/1985: #17 Top Álbuns (8 semanas em lista)

Fonte: Fernando Salaverry - Sólo éxitos: Año a año (1959 - 2004)

quarta-feira, fevereiro 14, 2007

La copla (9)

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Carlos Cano - Quédate con la copla (1987)

Graças a María la Portuguesa este álbum tornou-se o mais emblemático de Carlos Cano. Contudo, no seu conjunto, é verdadeiramente importante porque representa o culminar de um trajecto de recuperação e revalorização do tipo de canção tradicional que é usual em Espanha designar como copla. Em rigor, não se trata só da copla, mas também de outros géneros tradicionais como pasodobles, habaneras e, mesmo, marchas procesionales. É um conceito que poderíamos qualificar como neo-tradicionalismo e que assenta no orgulho da afirmação dos valores culturais autóctones contra um mundo cada vez mais estandardizado. Na sequência do álbum anterior (Cuaderno de coplas), o artista apresenta uma proposta amadurecida em todos os domínios. Em rigor, nem sequer se pode dizer que a homenagem a Amália que abre o álbum está desfasada do resto. O que leva Carlos Cano a Amália é precisamente a mesmo sentimento que o leva a espraiar-se no revivalismo coplero.
A meu ver, sendo um bom álbum, vale, sobretudo, pelo conceito amadurecido que apresenta. O anterior, a meu ver, é superior, já que em termos estritamente musicais resultou de um assomo inspirador inigualável. Ainda assim, temos aqui o artista na plenitude e, além da incontornável María la Portuguesa, encontramos magníficos temas. Aprecie-se uma conhecida marcha procesional de Semana Santa, em honra da sevilhana Virgen de la Macarena, com que o álbum encerra.

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Carlos Cano - Pasan los campanilleros in Quédate con la copla (1987)

Espanha - 10/08/1987: #18 Top Álbuns (28 semanas em lista)

Fonte: Fernando Salaverry - Sólo éxitos: Año a año (1959 - 2004)

terça-feira, fevereiro 13, 2007

Complexo de Aljubarrota (13) (La copla 1 remake)

Carlos Cano (1946 - 2000)
Este cantautor granadino esteve na primeira linha da recuperação da copla (canção tradicional espanhola). Contribuiu decisivamente para um movimento de homenagem e modernização deste género, procedendo a um cruzamento entre tradição e inovação. Espírito generoso e solidário, Carlos Cano foi coerente com os seus ideais, traduzindo-os em empenhamento político. Sentimento que foi, aliás, transposto para a música popular de outros povos deste nosso tão desconhecido mundo. A nossa Amália teve nele um fiel devoto - facto que se traduziu concretamente naquele que foi o maior êxito da sua carreira - María, la Portuguesa. Uma bonita canção com inevitáveis ecos fadistas, ou não estivessem presentes acordes de guitarra portuguesa através de António Chainho... É o tema que abre Quédate con la copla, álbum de 1987. Espanta, espanta verdadeiramente que pouquíssimos ecos desta arrebatada e inspirada declaração de amor pelas coisas portuguesas tivessem cá chegado, tanto mais que foi mesmo um êxito em Espanha! É, enfim, uma outra vertente do velho complexo...

domingo, fevereiro 11, 2007

Complexo de Aljubarrota (12)

Pasión Vega - Lejos de Lisboa (2003)
Apesar de Portugal ser em Espanha um vazio, existe uma minoria informada, que não só se interessa, como aprecia o ignorado vizinho. Para alguma elite é mesmo um distintivo de bom gosto. Na cultura portuguesa encontram figuras e ambientes que promovem nos media e alguns encontram fontes de inspiração artística. É o caso de Pasión Vega que, no seu álbum Banderas de nadie, apresenta esta tema alusivo a Lisboa, com laivos de toada fadista. Em boa hora alguém fez esta montagem, que junta imagens de Lisboa com essse tema de Pasión Vega. É um simpático exercício doméstico que denota grande apreço pelo imaginário lisboeta.

sábado, fevereiro 10, 2007

Memória do futebol (4)

SL Benfica entre os clubes mais ricos

No post "Memória do futebol (2)", a propósito da patética campanha de afirmação do SL Benfica como "maior clube do mundo", com base na certificação do seu número de sócios, desmistifiquei tal intuito e apresentei como uma alternativa mais razoável a lista anual publicada pela Deloitte com os clubes mais ricos do mundo. Conclui esse post escrevendo o seguinte:
"No que diz respeito a clubes portugueses, só esteve próximo da lista o FC Porto. Passou, episodicamente pelos 5 lugares adicionais (ou seja, entre o 21º e o 25º lugar), por força da campanha que lhe deu o título europeu e os correspondentes prémios financeiros. Tal sucedeu em 2004. Não há perspectivas razoáveis que possa voltar a suceder a curto ou médio prazo com um clube português."

Ora, sucede que a lista recentemente publicada, referente a 2006, desmentiu a minha profecia. O SL Benfica atingiu o 20º lugar. Na verdade, excluindo uma dúzia de clubes da parte superior da tabela, cada vez mais, uma boa campanha na Liga dos Campeões é um factor decisivo para entrar nos restantes lugares da tabela. Este factor e o dos direitos televisivos são decisivos. Sob o ponto de vista conjuntural houve uma boa campanha na Liga dos Campeões. Sob o ponto de vista estrutural, pois se há algum clube em Portugal com capacidade para aparecer na lista é precisamente o SL Benfica, pela dimensão da sua base de apoio. Aliás, surpreende é que, desde 2002, só no ano passado a sua assistência média voltasse a ultrapassar as do FC Porto, com o magnífico número de 43.057 espectadores, que o situa entre os grandes da Europa e confirma uma tendência de subida, ano após ano.
Independentemente da grandeza estrutural do SL Benfica, há alguns factores a ter em conta para compreender a, ainda assim, algo inesperada promoção. Um factor decisivo é a crise do futebol italiano, a qual se traduz no desaparecimento da lista do SS Lazio e do AC Parma - o primeiro, note-se, até ao ano passado era um habitual dos primeiros lugares. Depois, há ainda a anotar a não qualificação para a fase de grupos da Liga dos Campeões do CF Valencia e do Celtic, habituais da parte inferior da tabela.
Sublinhe-se, que a lista é um apuramento de receitas (receitas regulares, excluindo o valor das transferências), não de encargos. Ou seja, mais do que um retrato da saúde financeira, é um retrato (e bem fidedigno) das suas potencialidades financeiras.
Lista de 2006 (entre parêntesis a posição no ano anterior):
01 (01) Real Madrid - - - - - - - - - €292.2m
02 (06) Barcelona - - - - - - - - - - €259.1m
03 (04) Juventus - - - - - - - - - - - €251.2m
04 (02) Manchester Utd - - - - - - €242.6m
05 (03) AC Milan - - - - - - - - - - - €238.7m
06 (05) Chelsea - - - - - - - - - - - - €221.0m
07 (09) Inter - - - - - - - - - - - - - - €206.6m
08 (07) Bayern - - - - - - - - - - - - €204.7m
09 (10) Arsenal - - - - - - - - - - - - 192.4m
10 (08) Liverpool - - - - - - - - - - -€176m
11 (15) Olympique Lyon - - - - - -€127.7m
12 (11) AS Roma - - - - - - - - - - - 127m
13 (12) Newcastle Utd - - - - - - - 124.3m
14 (14) Schalke 04 - - - - - - - - - - €122.9m
15 (13) Tottenham Hotspur - - - €107.2m
16 (na) Hamburger SV - - - - - - - €101.8m
17 (17) Mancheter City - - - - - - -€89.4m
18 (na) Rangers - - - - - - - - - - - - €88.5m
19 (na) West Ham Utd - - - - - - - 60.1m
20 (na) Benfica - - - - - - - - - - - - -€58.8m

Ver relatório detalhado em: Deloitte Money League 2007

Il bel paese (11)

Amalfi
A cidade histórica de Amalfi está situada no Golfo di Salerno, na parte sul da peninsula de Amalfi / Sorrento, a cerca de 50 Km de Nápoles. A costa amalfitana é escarpada e de extraordinária beleza. Sucedem-se os lugares de referência, onde gente endinheirada e de bom-gosto tem o privilégio de possuir villas de estilo clássico ou fin de siécle.

Il bel paese (10)


Zizi Possi - Per amore (1997)
Para quem retém num lugar privilegiado do seu espírito uma ideia de Itália romântica, este videoclip poderá ser um objecto de culto. Com um pano de fundo de melodia e voz dulcíssimas, aqui se congregam todos os correspondentes sinais desse lugar-comum, diríamos que... em excesso. Há uma desmesurada teatralidade e até o cenário, se, porventura, real, parece intrinsecamente cénico. Seja cenário ou seja real, a luxuosa villa e a paisagem de Positano (ou algum outro abençoado recanto da costa amalfitana) são o vislumbre do que pode ser o paraíso. Com tal música e paisagem, a realidade é, aliás... dispensável.

quinta-feira, fevereiro 08, 2007

Mediterráneo / Mediterrània (39)

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Joan Manuel Serrat - Mediterráneo (1971)

Eis um artista e um álbum dos mais importantes da música espanhola. Foi no seu tempo um exemplo de convergência da crítica com o sucesso comercial, assim como um dos símbolos de uma nova Espanha que começava a tentar libertar-se das amarras do franquismo. O tema que dá nome ao álbum adquiriu um tal impacto que, pelo menos para o público espanhol, não ficou jamais confinado ao simpático baúl de los recuerdos. Efectivamente, tem sido desde então tocado na rádio com assiduidade e o álbum continua a vender ano após ano.
Serrat conquistou uma posição privilegiada na cena musical espanhola, como cantautor de referência. Compreende-se esse lugar privilegiado, sobretudo pela grande valia do que fez nos primeiros vinte anos da sua carreira. Quer em catalão, (sua língua paterna), quer, em castelhano (sua língua materna), construiu uma importantíssima obra, em quantidade e qualidade. Foi um dos mais inspirados impulsionadores da nova cançó. Além disso, musicou grandes poetas castelhanos (Miguel Hernández, Antonio Machado...). A partir dos anos 80 começou a perder algum fulgor criativo, mas manteve-se sempre no primeiro plano através de digressões e edições discográficas assíduas, alternando álbuns em catalão e castelhano.
Recorde-se este momento alto da carreira deste barcelonês de Poble Sec, cantando um Mediterrâneo inspirador...

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Web: Joan Manuel Serrat - Página oficial

Web: Joan Manuel Serrat - Un temps de cançons

Web: Joan Manuel Serrat in Wikipedia



Joan Manuel Serrat - Mediterráneo in Mediterráneo (1971)

Espanha - 03/01/1972: #01 Top Álbuns (52 semanas em lista)

Fonte: Fernando Salaverry - Sólo éxitos: Año a año (1959 - 2004)

segunda-feira, fevereiro 05, 2007

Outro Brasil (4)

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Zizi Possi - Per amore (2000)
Zizi Possi (Maria Izildinha Possi - São Paulo, 1956) é um dos nomes mais importantes da MPB. É paulista de ascendência italiana. Nasceu e viveu no bairro do Brás, o mais característico lugar italiano de São Paulo. Nos finais dos anos 90 começou a explorar o filão italiano. Já tinha então consolidado uma imagem refinada, através de álbuns como Estrebucha baby (1989) e, especialmente, Sobre todas as coisas (1991) e Valsa brasileira (1993). Nesses álbuns era patente a sua formação musical numa marca de qualidade muito própria, identificada por um ambiente onde sobressaíam voz e piano - voz que, sendo delicada, foi adquirindo mais expressividade.
Note-se que a sua carreira nunca se limitou à edição discográfica. Foi incorporando espectáculos, aliás, muito bem acolhidos pela crítica. Eram louvados especialmente pela qualidade da
encenação, de seu irmão, José Possi Neto, a qual reforçava as qualidades interpretativas da artista, para além das estritamente musicais.
Per amore foi, assim, não só um álbum, mas também uma série de espectáculos. Este projecto, provavelmente dirigido à comunidade italo-descendente, constituiu o maior êxito comercial da sua carreira. O DVD aqui em apreço regista um dos espectáculos (em São Paulo) e acrescenta dois videoclips. Baseia-se num repertório tradicional napolitano, entremeado com alguns standards da música ligeira italiana dos anos 60 e 70, como Ho capito che ti amo, de Luigi Tenco. A interpretação e arranjos são do mais cool que se possa conceber para o género, com as vantagens e desvantagens inerentes (mais aquelas do que estas)...
Tenho para mim que, sendo um projecto de qualidade, como necessariamente decorre de uma artista deste nível, não alcança o nível mais alto da sua carreira genuinamente inserida na
MPB. Com efeito, não deixa de ser um pastiche, ainda que... de bom-gosto!

Web: Página oficial
Zizi Possi in Wikipedia

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Zizi Possi - Ho capito che ti amo in Per amore (1997)

domingo, fevereiro 04, 2007

Baúl de los recuerdos (15) (6 remake)

Nino Bravo - Te quiero, te quiero (1970)

Este foi um dos meus primeiros discos. Comprei-o em 1971. Por essa altura era fácil conhecer as novidades da música espanhola, quanto mais não fosse porque as nossas estações de rádio passavam-nas com uma frequência que hoje parece inverosímil. Não era raro que êxitos da música espanhola fossem também êxitos em Portugal. Esta canção foi um exemplo. Viviam-se ainda tempos de pré-massificação anglo-americana...
Nino Bravo foi uma das melhores vozes de sempre da música ligeira. Entrou na cena musical, quando já despontava o pop/rock, mas, impondo-se de imediato, graças ao poder da sua voz. É evidente que o seu género apontava noutro sentido, mais convencional - o da canção ligeira, embora num registo modernizado. Não é tanto o caso deste Te quiero, te quiero, o seu primeiro êxito, composto por Augusto Algueró e Rafael de León (um dos nomes consagrados da velha copla, componente da tríade León, Quintero y Quiroga...). É uma canção de corte tradicional, com refrão apropriado para exibição do seu virtuosismo vocal. Os êxitos sucederam-se em catadupa num curto espaço de tempo. Ninguém duvidava que lhe estava destinada uma carreira grandiosa, talvez de dimensão internacional (Algo que era, então, menos óbvio entrever em relação a Julio Iglesias...) Viviam-se, enfim, tempos de ninobravomania... Mas, em 16 de Abril de 1973 eis que surgiu uma trágica notícia: Nino Bravo falecia num desastre de automóvel. Entre a espantosa quantidade de desastres de automóvel que vitimaram artistas espanhóis, este foi o de maior impacto. Permaneceu um sentimento de perda e hoje, já completamente desfeitos na memória os inconsistentes candidatos a sucessores, percebe-se que o seu lugar ficou, definitivamente, vazio.
Nino Bravo era o pseudónimo artístico de Luis Manuel Ferri Llopis. Como os apelidos atestam, era valenciano. Vem a propósito referir que a região valenciana é uma terra musical que se caracteriza por ter em cada localidade, pelo menos, uma banda de música. Desta profícua cantera têm surgido muitos cantores, mas nenhum teve o impacto de Nino Bravo.

Página web Inolvidable Nino Bravo



Nino Bravo - Te quiero, te quiero (1970)

Espanha - 04/01/1971: #01 Top Singles (16 semanas em lista)

Fonte: Fernando Salaverry - Sólo éxitos: Año a año (1959 - 2004)

sábado, fevereiro 03, 2007

Mediterráneo / Mediterrània (38): Valencia

Valencia (actual)

Mediterráneo / Mediterrània (37): Valencia

Valencia (anos 50)

Mediterráneo / Mediterrània (36): Valencia (33 remake)

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Al Tall - Al Tall canta "Quan el mal ve d'Almansa" (1979)
O grupo Al Tall tem neste álbum um dos pontos mais altos de uma carreira dedicada à musica popular valenciana. Sucede que este trabalho desenvolve-se sob um conceito que se relaciona com as ocorrências da Guerra de Sucessão de Espanha, designadamente a batalha de Almansa (1707) (Um aparte para mencionar que Portugal teve uma destacada participação nesta guerra, ao lado, da Inglaterra, apoiando o Arquiduque Carlos de Áustria). Almansa, pela sua posição geográfica, era a tradicional porta de entrada na região valenciana para quem vinha da meseta castelhana. Aí se deu esta batalha que ganhou carga simbólica: a perda das liberdades forais do Reino de Valencia. Movimentos radicais pan-catalanistas têm-se esforçado por conferir um significado ainda mais profundo: o da perda de uma certa unidade e auto-governo de uma realidade que designam como Países Catalães. Al Tall está próximo desta perspectiva, mas deve-se sublinhar que é, hoje em dia, uma perspectiva minoritária na sociedade valenciana, onde o nacionalismo é inexpressivo e onde impera o regionalismo, que tem assumido uma feição anticatalanista. Nesta linha, os estereótipos da identidade valenciana têm acarinhado até à exaustão os elementos folclóricos, sublinhando neles aquilo que, segundo a sua interpretação voluntarista, os diferenciam do que é catalão. Em todo o caso, desta linha ideológica não veio jamais um trabalho sério dentro da música popular como o que Al Tall tem desenvolvido e, muito menos, alguma abordagem conceptual do calibre daquela que o álbum aqui em apreço demonstra. Deste e de outros álbuns do grupo ficamos com uma ideia de que a música popular valenciana está num lugar de intercepção entre a alegria da jota aragonesa, o virtuosismo instrumental catalão e o vigor telúrico de percussões berberes.
Um nota final para o que o cavalo da capa e contra-capa sugere: a estátua equestre do caudillo no centro da cidade de Valencia - a mais imponente de todas as que existiram em várias cidades espanholas. Em devido tempo foi retirada - precisamente por altura da edição do álbum. Há aqui uma analogia entre o primeiro rei da dinastia Bourbon, Filipe V, vencedor de Almansa, com o descavalgado caudillo - uma espécie de vingança da história...
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Al Tall - Albaes in Quan el mal ve d'Almansa... (1979)

Al Tall - Bolero in Quan el mal ve d'Almansa... (1979)