domingo, outubro 01, 2006

Viagens (44): Valladolid, Oviedo e Zamora / 2006 (5)












Zamora

Quando decidi abreviar a minha estadia em Oviedo, irritado com a chuva, considerei duas hipóteses: regressar pela Galiza e, finalmente conhecer Lugo (a única capital provincial galega que ainda não conhecia) ou por Castela de modo a, finalmente, conhecer Zamora. À partida, atraía-me mais Lugo que Zamora, mas consciente de que a chuva também é um visitante fiel das terras galegas, afiancei-me na aridez dos planaltos castelhanos. Em boa hora o fiz.
Uma vez mais, transposta a cordilheira cantábrica, deu-se uma radical mudança climática. Não só a chuva desapareceu de todo, como o céu ficou limpo. Voltou o calor. Gosto dos amplos horizontes dos campos castelhanos. O caminho para Zamora deu-me mais uma dose deles. O que eu já conhecia da província de Zamora, era a parte mais setentrional, a montanhosa região de Sanabria, que tem características diferentes. Mas a capital está implantada num cenário muito distinto, bem castelhano, junto ao Douro. Tem cerca de 70.000 habitantes e é uma das mais pequenas capitais provinciais espanholas. Todos os guias referem ser uma cidade interessante por ter uma grande quantidade de templos românicos. Para além disso, é daquelas cidades cujo nome ecoa na história… Sabia tudo isto, mas, ainda assim, transcendeu as minhas expectativas.
Há um certo espírito das cidades com o qual pode existir uma indefinível sintonia, que nos leva a simpatizar ou antipatizar, sem que, necessariamente, se possam alinhar argumentos racionais. Ora, sucede que sintonizei com Zamora. A parte antiga (ainda parcialmente rodeada por muralhas) é extensa e tem sobrado carácter. Aí se pode ver o que é uma cidade setentrional da meseta, com casas escuras e galerias de marquises tradicionais. Há ainda marcas de rusticidade que advêm da ligação com actividades agrícolas e pecuárias, o que se nota na abundância de comércio de produtos artesanais, desde enchidos a mantas. O românico, efectivamente, está omnipresente, através de numerosos edifícios religiosos - é este o factor que mais lhe confere um carácter rústico. Contudo, e de forma surpreendente, há vários edifícios modernistas, da primeira metade do século XX. Muitos deles notáveis e quase todos excelentemente conservados. Do contraste entre rusticidade e modernismo resulta uma personalidade citadina original. Como se não bastasse, apresenta ainda as consabidas qualidades das cidades espanholas: ruas centrais exclusivamente para peões, cheias de animação; um centro cívico bem reconhecível. No primeiro caso, Santa Clara é uma rua pedonal extensa que, além do mais, tem a vantagem de nos ir introduzindo progressivamente no coração da cidade através de uma transição gradual. No segundo caso, a Plaza Mayor, ostenta um templo românico que, se, por um lado, lhe retira a amplitude característica das plazas mayores, por outro, dá-lhe uma personalidade original.
Situada perto de Valladolid e Salamanca, Zamora parece, ainda assim, ter encontrado um espaço de afirmação próprio. Não ficou parada no tempo. Com efeito, a área moderna é mais extensa do que se possa supor e tem uma inesperada monumentalidade para uma cidade com menos de 100.000 habitantes, capital de uma província com menos de 500.000. Contudo, o diário de Valladolid, El Norte de Castilla, tem uma edição específica para a província e vê-se nos quiosques e nas mãos dos transeuntes com a mesma frequência que o diário local La Opinión / El Correo de Zamora. De algum modo isto é um sintoma de inserção na área de influência directa da capital regional. Por outro lado, a leitura de um artigo de opinião no diário local, levou-me a perceber que existe, sob o ponto de vista cultural, uma dependência em relação a Salamanca.
Fiquei com vontade de voltar a Zamora e, se possível, na Semana Santa, já que, então, as múltiplas confrarias locais se esmeram em procissões, cuja grandiosidade nada fica a dever às mais afamadas da Andaluzia. E não é só uma questão grandiosidade, pois parece existir um clima emocional de autenticidade. A forma como vive essa quadra é hoje em dia o ponto mais alto da afirmação da sua cidadania.

Diputación Provincial de Zamora

6 comentários:

Anónimo disse...

Palacio de Justicia que sirvio de inspiracion a novela del Magistrado Gomez de Liaño, hombre cabal

Anónimo disse...

Seguro que cobras en el Banco de Zamora

Anónimo disse...

Mas apropiada Concha Velasco que Paz Vega para interpretar el papel de Santa Teresa......

Anónimo disse...

¿Se portó bien Garzon con el Magistrado Gomez de Liaño?

Anónimo disse...

Horror a las medias tintas (Pio X)

Anónimo disse...

Fe de erratas: Pio XII