domingo, outubro 22, 2006

La movida (15)

Vigo capital Lisboa (1984)

Fai un sol de carallo (1986)

Música doméstica (1987)

Os Resentidos: Discografía básica (2003) (1984 / 1986 / 1987)
Uma das derivantes da produção musical da movida foi a representada pelo grupo galego Os Resentidos. Enquadram-se num tempo que abrange a pós-movida e num território estranho, entre o punk e o folk. Alma mater e ideólogo deste projecto foi o viguês Antón Reixa. Se algo caracteriza Os Resentidos, assim como o posterior projecto Nación Reixa, é o carácter provocador original.
Este triplo CD reúne integralmente os três primeiros álbuns de Os Resentidos. Deve-se notar que, ao contrário dos grupos mais comerciais da movida viguesa (Golpes Bajos, Siniestro Total, Semen-Up), cantavam em galego e faziam uma música sem pretensões comerciais. Em todo o caso, estão a milhas de um alinhamento com o folk. Embora utilizem múltiplas das suas referências, fazem-no em favor de uma estética punk. É uma pós-modernidade ácida, nihilista e iconoclasta. Sob este ponto de vista, a capa e o título do primeiro álbum são elucidativos. A atitude que a imagem de Portugal desperta entre os espanhóis é resultante de um misto de ignorância e desdém (felizmente, cada vez menos...). Na rivalidade entre A Coruña e Vigo, as duas maiores cidades galegas, os habitantes da primeira apodam os vigueses, depreciativamente, como... portugueses. Em parte por isso, num alarde provocatório, Reixa, que, diga-se, parece saber muito mais de nós que a generalidade dos espanhóis (galegos incluídos), confecciona uma imagem e um título impensáveis (O nosso galo de Barcelos diz tanto à opinião pública espanhola como um qualquer tótem de uma perdida ilha dos mares do sul...) Depois, é certo, o conteúdo só marginalmente corresponde ao invólucro.
A mesma receita foi aplicada no segundo álbum, onde o alvar sorriso desdentado de um velho
labrego é acompanhado pela expressão genuinamente galega, de obsceno ênfase, fai un sol de carallo, que se constitui assim... em título do álbum... Algo que a nós, portugueses (pelos menos, aos nativos do rio Vouga para baixo) soa como impensável para título do que quer que seja...
Musicalmente como são estes produtos? Por força de tanta originalidade provocatória, o resultado é desconcertante. Há coisas boas: originalidade de risco; alguma verve. Desta mistura, no conjunto dos três álbuns, temos uma meia dúzias de temas interessantes, com um ou outro, roçando a genialidade. Contudo, a maioria é, em termos estritamente musicais, um inevitável fracasso.


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Como quem não quer a coisa, a verdade é que já passaram 20 anos! Podemos constatar tal facto nesta sequência que contém de uma recente aparição de Antón Reixa num programa da TVG. O tema é Galícia Canibal, do álbum Fai un sol de carallo. O refrão inspirou o título do álbum, ou vice-versa...

1 comentário:

Anónimo disse...

Os galegos guardamos para com os portugueses o mesmo sentimento de amor-ódio que guardamos para com nós próprios. Duro bando.