quarta-feira, outubro 11, 2006

Soulsville (9)

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Isaac Hayes - The Isaac Hayes movement (1970)
Este álbum sucede ao consagrado Hot Buttered Soul (1969) e, dado o carácter quase clandestino de Precious, precious (1968), é como se tivesse sido o segundo. Para mim, apesar de implantado em pleno apogeu da sua carreira, não é dos melhores. Tem quatro temas - o primeiro é extraordinário; o segundo é satisfatório; o terceiro é muito bom; o quarto é um falhanço. É, portanto, um álbum entre a genialidade e o fracasso. Mas a genialidade explode nos sublimes onze minutos e meio da versão de I stand accused, de Jerry Butler! Não conheço tema de amor mais deseperadamente triste e bonito! A primeira parte é um rap incrível (os Ike's raps foram os primeiros passos de um género posteriormente subvertido...). Mas este intróito e todo o desenvolvimento que conduz em crescendo até a um climax épico é algo que pertence à história do soul! Tudo o resto se torna irrelevante depois deste primeiro tema. O álbum poderia ter acabado aí... Poderia ser um insólito single, em que se teria que virar o disco para ouvir o resto de uma única longuíssima canção... Mas este comentário seria injusto para o magnífico I just don't know what to do with myself, standard de Bacharach & David submetido a um radical transformismo - tão bem-sucedido quanto um exercício análogo sobre o tema seguinte, o ultrafamoso Something de George Harrisson foi mal-sucedido. Mas voltemos ao genial I stand accused. Também é um exercício de radical transformismo ikesiano. A versão original era muito bonita, sem dúvida, mas Ike dá-lhe uma outra dimensão e densidade. Converte-a num hino! Esta é uma característica ímpar dos seus tempos de apogeu - quando faz uma versão, está, na realidade, a fazer uma outra música.
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Isaac Hayes - I stand accused in The Isaac Hayes movement (1970)

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