Italia Irredenta
A Itália é um estado recente. Foi formada no terceiro quartel do século XIX a partir do Piemonte (Monarquia da Casa de Sabóia). Esse estado englobava também o Vale d’Aosta, a Ligúria e a Sardenha. Todo o resto da Península Itálica estava retalhado por várias soberanias (Império Austríaco, no Norte e Nordeste; vários pequenos estados independentes, no Centro-Norte; Estados Pontifícios, no Centro (incluindo Roma); Reino de Nápoles, no Sul e Sicília.O processo de unificação designa-se Rissorgimento. O seu objectivo era estabelecer uma unidade estatal em toda a Península Itálica e ilhas adjacentes. O novo estado corresponderia a uma unidade geográfica natural e, neste contexto, Roma estaria naturalmente destinada a ser a capital, sendo que, ainda por cima, estava investida de poderoso significado histórico. Por outro lado, em todos esses territórios falavam-se línguas latinas e havia uma óbvia unidade religiosa – ao longo de séculos o catolicismo reforçara uma unidade cultural básica.
A consciência patriótica italiana desenvolveu-se a partir do início do século XIX, sobretudo entre a burguesia. Estabeleceu-se, sem grande discussão, o superior prestígio do toscano (idioma de Dante, Petrarca e Bocaccio) sobre todos os demais, assim como a vantagem de ser inteligível pelas populações meridionais e setentrionais. O toscano já era, aliás, a língua literária da inteligência de toda a Península, ainda que, no Norte, em situação de partilha com o francês ou alemão.
Alcançar a unificação política implicou guerras com o Império Austríaco e com a Santa Sé, que tiveram desenlaces vitoriosos, não só graças à mobilização do entusiasmo patriótico, mas também, ao apoio da França.
Contudo, quando o Rissorgimento alcançou os seus objectivos básicos, permaneciam fora da Itália territórios que reuniam requisitos geográficos e culturais de italianidade. Eram: Córcega e Nice (França); Ticino (Suiça); Trentino, Trieste e Fiume (Império Austro-Húngaro). Os patriotas radicais ainda adicionavam, com voluntarismo: Zara e toda a Dalmácia (Império Austro-Húngaro), Albânia e Malta. Em relação aos territórios franceses havia como que um tácito acordo de renúncia como contrapartida tácita pelo apoio francês. Quanto ao Ticino havia a consciência de que a população local permanecia alheia a qualquer tendência centrífuga em relação à Suiça. Onde a questão se colocava de forma aguda era em relação aos territórios sob soberania austríaca – extensos, importantes e onde havia uma opinião pública entusiasticamente envolvida no objectivo de se unir à Itália. É a partir daqui que surge o movimento Italia Irredenta, que visa completar a unidade italiana. Ele foi decisivo na reviravolta de alianças, aquando da eclosão da Grande Guerra em 1914, e foi a base sobre a qual se alicerçaram os primeiros ímpetos imperialistas do Fascismo. No pós II Guerra Mundial o irredentismo corporizou-se no vasto movimento de reintegração de Trieste no território italiano.
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