terça-feira, outubro 31, 2006

Para siempre boleros! (19) (6 remake)

Consuelo Velázquez
Alguns dos melhores boleros foram compostos por mulheres. Duas se destacam: María Grever (1885-1951) e Consuelo Velázquez (1920). Ambas eram mexicanas. Da sua produção destacam-se dois dos mais conhecidos boleros, respectivamente: Cuando vuelva a tu lado (+/- 1925) e Bésame Mucho (1944). Estava-se em plena 2ª Guerra Mundial quando estoirou Bésame Mucho. Foram muitos os soldados e respectivas noivas ou esposas que viveram em pleno o sentido dessa música... (Bésame, bésame mucho, como si fuera esta noche la última vez...) Em 1977, João Gilberto recria este tema no álbum Amoroso, tornando-o extensivamente voluptuoso e etéreo ao extremo. Muitas, muitas outras versões existem...
Note-se, como se pode apreciar numa
entrevista, que Consuelo Velázquez nunca tinha beijado nenhum homem quando compôs, com 17 anos, esse mais do que mítico Bésame Mucho...
De seguida, reproduzo um post de Carles Gracia Escarp, com a devida autorização extraído do seu magnífico blog Desde Barcelona:

Boleros: Amar y Vivir
Ay, si es que con el tema de los boleros pasa como con las canciones de Serrat, encontraríamos uno para cada ocasión, en cada situación que vivimos, para cada sentimiento tenemos ya cantado el bolero ideal, siempre con la emoción en las palabras, en ocasiones excesivos, pero siempre hechos a la medida de la circunstancia.
Amar y vivir - su autora es la pianista y compositora Consuelo Velázquez (Ciudad Guzmán / Zapotlán el Grande, Jalisco, 1924 - México DF, 2005), quien compuso entre otros éxitos Bésame mucho, Amar y vivir, Verdad amarga, Franqueza, Chiqui, Cachito, Que seas feliz, Enamorada, Orgullosa y bonita y Yo no fui, entre otros boleros ya en el recuerdo.
Y aunque su éxito universal fue Bésame mucho, traigo aquí Amar y vivir que cantaron entre otros Antonio Machín, Chavela Vargas, Moncho, Vicente Fernández, Raphael, Gigliola Cinquetti y Los Panchos, Diego El Cigala & Bebo Valdés, Paquita la del Barrio o Lucha Villa, por citar sólo alguno de sus intérpretes de las numerosas versiones del mismo, sin duda un gran bolero.

Amar y vivir

Por qué no han de saber
que te amo, vida mía,
por qué no he de decirlo
si fundes tu alma
con el alma mía.
Que importa si después
me ven llorando un día
si acaso me preguntan
diré que te quiero
mucho todavía.
Se vive solamente una vez
hay que aprender a querer
y a vivir
hay que saber que la vida
se aleja y nos deja
llorando quimeras.
No quiero arrepentirme después
de lo que pudo haber sido y no fue,
quiero gozar esta vida
teniéndote cerca
de mí hasta que muera.
Se vive solamente una vez
hay que aprender a querer
y a vivir
hay que saber que la vida
se aleja y nos deja
llorando quimeras.

Consuelo Velázquez

domingo, outubro 29, 2006

Extravagâncias (2)

Peter Webber - Rapariga com brinco de pérola (Girl with a pearl earring) (2003)

Desde logo, este filme assenta numa boa história - uma ficção construída em torno do enigmático quadro homónimo do pintor holandês Jan Vermeer. Não há bom filme sem boa história. Neste caso, a história, da escritora Tracy Chevalier, já fora um êxito como livro. O essencial começa, portanto, aqui. Contudo, há mais a destacar. Por exemplo, a fotografia (curiosamente, de um português, Eduardo Serra) consegue uma luminosidade adequada para a acção. Mais importante ainda são as interpretações, a começar pelas dos protagonistas, Scarlett Johansson (criada / modelo) e Colin Firth (pintor). A primeira compõe a figura da beleza nórdica por excelência, enriquecida por um registo de contenção, magistralmente acorde com o carácter do personagem que encarna. O filme proporciona algumas imagens construídas em torno do seu rosto, que são de invulgar beleza e constituem um paradigma já um pouco perdido nestes tempos em que a representação da beleza é geralmente alvo de interferências grosseiras... Com efeito, evitam-se os recursos demagógicos e o filme desenvolve-se por parâmetros de rigorosa castidade (não encontro melhor termo) no que concerne à relação entre pintor e modelo, nomeadamente na sua representação visual. Ou seja, não há nudez. Contudo, tal não obsta (bem pelo contrário...) a que, em muitas cenas, se instale a sensualidade. O interdito interiorizado pelos personagens centrais tem, assim, a sua coerente correspondência no que é dado a ver ao espectador.
Há ainda um aspecto que me seduziu: a reconstituição do ambiente da cidade de Delft, no terceiro quartel do século XVII. Os pormenores referentes ao vestuário, situações e lugares denotam rigor. É, portanto, também excelente como divulgação histórica, nomeadamente das condições de vida daquelas que eram, há cerca de 350 anos atrás, as populações com melhor nível de vida do mundo. Delft
(genuinamente holandesa) era, sem dúvida, um exemplo de opulenta cidade europeia desses tempos. E, no entanto, como era uma realidade rude comparativamente com a nossa, actual...
Uma nota final para referir que este filme foi distribuído em DVD, gratuitamente, pelo Expresso. Foi o último de uma série de oito DVDs. Foi uma insólita prenda proporcionada pela guerra dos semanários. Não deixa de ser bizarro que para enfrentar o aparecimento do Sol, se enveredasse por um táctica comercial tão extrema... Os leitores ficaram ganhar. Lástima foi eu não ter conseguido os dois primeiros.

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sexta-feira, outubro 27, 2006

Flamenco (17)


Vicente Amigo - Tangos del Arco Bajo (2005)

Vicente Amigo - Tres notas para decir te quiero (1999)

28 de Outubro, Centro Cultural de Belém (Lisboa):
Vicente Amigo -
Un momento en el sonido (concerto).

Vicente Amigo está uma vez mais em Portugal para concertos em Faro e Lisboa. A base dos espectáculos é constituida pelo seu último álbum Un momento en el sonido, editado no ano passado. Não fora o facto de jogar a essa mesma hora o meu FC Porto contra o Benfica e não perderia o evento... O guitarrista cordobés é, para mim, o maior guitarrista flamenco da actualidade e isto sem pôr em causa a grandeza do consagradíssimo Paco de Lucía. O que contribui decisivamente para este meu conceito é o facto de denotar mais ampla margem de inovação e imaginação. Tal facto é, aliás, consensual entre a crítica.

Web oficial

Complexo de Aljubarrota (7)

Iberismo
Não cessam os ecos da tal sondagem do Sol em que mais de 1/4 dos inquiridos se manifestavam favoráveis a uma união ibérica. Parece que a revista Tiempo fez algo de similar e que a correspondente manifestação entre inquiridos espanhóis raiava os 50%. Nada de surpreendente. Não tenho notícia de anteriores dados que permitam estabelecer alguma evolução em inquéritos espanhóis, mas sei que no caso português se verifica um incremento. Seja como for, esta é uma temática muito portuguesa e pouco espanhola. Portugal está ausente das preocupações espanholas.
É saudável a evolução da opinião portuguesa. É sintoma de que um nacionalismo primário vai retrocedendo, embora tal suceda, creio, por razões interesseiras. Com efeito, existe por cá a visão exagerada de que os espanhóis vivem muito melhor. De tal monta, que poucos conseguem vislumbrar uma realidade: em Espanha há regiões cujo nível de vida é idêntico ou inferior ao de Portugal. Teoricamente, nada obstaria, em definitivo, a que numa
união ibérica, permanecessemos com um nível de vida idêntico ao que temos. Este iberismo pouco me diz, embora esteja ciente de que na sociedade espanhola existem desbloqueamentos do desenvolvimento que continuam a não existir entre nós. Tampouco me sinto inclinado a lucubrações teóricas de engenharia política que fazem tábua rasa da história. Na verdade, construções utópicas de um futuro confederal (ou algo parecido) parecem-me risíveis. Além de que, resta a questão essencial: substantivamente, que se ganharia? Tornarem-se os vizinhos mais iguais num mundo cada vez mais igual? O que me importa é contribuir para um maior conhecimento entre todos os povos da península, a partir, precisamente, das suas diferenças, construídas pela história e geografia, num quadro civilizacional comum. Este é o meu iberismo. É uma lástima que nós não nos apercebamos da benesse que é estar ao lado de um país tão interessante e estimulante como a Espanha e que, portanto, não saibamos tirar partido desse privilégio. Do mesmo modo, é uma lástima que os nossos vizinhos não se apercebam do mesmo em relação a nós. Sucede que existe uma certa complementaridade entre Portugal e Espanha, que pode ser mutuamente muito gratificante. Só uma escassa elite conhece tal segredo...

terça-feira, outubro 24, 2006

La movida (16)

Alaska y los Pegamoides: Mundo indómito (1998) (Origem: 1980+1981+1982)
Esta colectânea recolhe de forma exaustiva a produção do mítico grupo Alaska y los Pegamoides. Mítico em relação aos tempos áureos de la movida... Na verdade poucos grupos podem ser tão intimamente associados a este movimento madrileno. E tal sucede por variadas razões, que vão muito além da música. Uma certa estética, perfeitamente identificável, por exemplo, nos primeiros filmes de Pedro Almodóvar, está aqui já consagrada. O mesmo se pode dizer dos princípios de vitalidade hedonista. Concretamente, o barroquismo rococó (o melhor seria escrever rockockó...) da figura de Alaska (Olvido Gara) torna-se um ícone de tudo isto.


Alaska y los Pegamoides: Bailando (1982)
Sucede que em qualquer lista de temas mais associáveis aos tempos de la movida, Bailando terá, forçosamente, que estar lá. É um poderoso bombazo de feições disco, o que já então, em estritos termos de moda musical, estava um pouco desfasado no tempo. Provavelmente, se tivesse surgido uma meia dúzia de anos antes, teria sido um hino disco. Nesta conjuntura, tornou-se um hino de la movida. Significativamente, foi um dos singles mais vendidos em Espanha no ano de 1982. Ao mesmo tempo, era o prenúncio da iminente promoção de Alaska a um nível pop mais comercial.

domingo, outubro 22, 2006

La movida (15)

Vigo capital Lisboa (1984)

Fai un sol de carallo (1986)

Música doméstica (1987)

Os Resentidos: Discografía básica (2003) (1984 / 1986 / 1987)
Uma das derivantes da produção musical da movida foi a representada pelo grupo galego Os Resentidos. Enquadram-se num tempo que abrange a pós-movida e num território estranho, entre o punk e o folk. Alma mater e ideólogo deste projecto foi o viguês Antón Reixa. Se algo caracteriza Os Resentidos, assim como o posterior projecto Nación Reixa, é o carácter provocador original.
Este triplo CD reúne integralmente os três primeiros álbuns de Os Resentidos. Deve-se notar que, ao contrário dos grupos mais comerciais da movida viguesa (Golpes Bajos, Siniestro Total, Semen-Up), cantavam em galego e faziam uma música sem pretensões comerciais. Em todo o caso, estão a milhas de um alinhamento com o folk. Embora utilizem múltiplas das suas referências, fazem-no em favor de uma estética punk. É uma pós-modernidade ácida, nihilista e iconoclasta. Sob este ponto de vista, a capa e o título do primeiro álbum são elucidativos. A atitude que a imagem de Portugal desperta entre os espanhóis é resultante de um misto de ignorância e desdém (felizmente, cada vez menos...). Na rivalidade entre A Coruña e Vigo, as duas maiores cidades galegas, os habitantes da primeira apodam os vigueses, depreciativamente, como... portugueses. Em parte por isso, num alarde provocatório, Reixa, que, diga-se, parece saber muito mais de nós que a generalidade dos espanhóis (galegos incluídos), confecciona uma imagem e um título impensáveis (O nosso galo de Barcelos diz tanto à opinião pública espanhola como um qualquer tótem de uma perdida ilha dos mares do sul...) Depois, é certo, o conteúdo só marginalmente corresponde ao invólucro.
A mesma receita foi aplicada no segundo álbum, onde o alvar sorriso desdentado de um velho
labrego é acompanhado pela expressão genuinamente galega, de obsceno ênfase, fai un sol de carallo, que se constitui assim... em título do álbum... Algo que a nós, portugueses (pelos menos, aos nativos do rio Vouga para baixo) soa como impensável para título do que quer que seja...
Musicalmente como são estes produtos? Por força de tanta originalidade provocatória, o resultado é desconcertante. Há coisas boas: originalidade de risco; alguma verve. Desta mistura, no conjunto dos três álbuns, temos uma meia dúzias de temas interessantes, com um ou outro, roçando a genialidade. Contudo, a maioria é, em termos estritamente musicais, um inevitável fracasso.


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Como quem não quer a coisa, a verdade é que já passaram 20 anos! Podemos constatar tal facto nesta sequência que contém de uma recente aparição de Antón Reixa num programa da TVG. O tema é Galícia Canibal, do álbum Fai un sol de carallo. O refrão inspirou o título do álbum, ou vice-versa...

sábado, outubro 21, 2006

American dream (6)

Bob Dylan: Highway 61 revisited (1965)

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Pandora sample

quinta-feira, outubro 19, 2006

Guia hispânico (23)

A vista de pájaro - genérico
Aprecie-se o genérico da inolvidável série A vista de pájaro que, em meados dos anos oitenta, foi a pioneira na arte de nos fazer viajar por terras de Espanha através do ar. Este exemplo diz respeito à província aragonesa de Huesca. Cada episódio, com a duração média de 25 minutos, abrange uma província. Ao todo são 51 episódios, já que Ceuta e Melilla foram agregadas num único episódio. Como referi em anteriores posts, já houve edição em pack VHS e, mais recentemente, em pack DVD - com tratamento digital de imagem e audio.

terça-feira, outubro 17, 2006

Mariachi y tequila (33)


Paquita la del Barrio - Tres veces te engañé
Y para que sufran los inútiles... órale: Tres veces te engañé!!!
Uma muito especial nota de agradecimento a Tiago Nunes que providenciou este video!

Trés veces te engañé
Dices que me quieres, y que me perdonas
Pero lo que tu hagas, no me importa ya
Hoy me siento viva, me siento importante

Y de lo que pase, yo me encargaré
Tres veces te engañé
Tres veces te engañé
Tres veces te engañé
La primera por coraje
La segunda por capricho
La tercera por placer
Tres veces te engañé
Tres veces te engañé
Tres veces te engañé
Y despues de esas tres veces
Y despues de esas tres veces
No quiero volverte a ver

Candelario Frías


domingo, outubro 15, 2006

American dream (5)

Martin Scorcese - Bob Dylan: No direction home (2005)
Martin Scorcese, um dos meus realizadores preferidos, dirigiu este documentário sobre Bob Dylan. Incide sobre o período que vai de 1961 a 1966 - o mais brilhante. O documentário parte desde os tempos que antecedem os primeiros passos no domínio da folk tradicional e chega até aos tempos em que está já plenamente instalado no universo rock. Perante os nossos olhos vai-se desenrolando a evolução de um jovem seduzido por um ídolo marginal (Woody Guthry), de um género tradicional (folk) até se tornar, ele mesmo, um ídolo de um género revolucionário (rock), que seduziu milhões de jovens por todo o mundo. Foi um percurso de contradições e tensões. Gerou polémica. Perdeu públicos e ganhou outros mais. O ponto de viragem foi a electrização da sua música. Relembre-se o sucesso dos seus primeiros álbuns: acústicos, profundamente marcados pela voz desgarrada e pela harmónica. Configuravam um lugar especial que estava na confluência do folk com o rythm & blues. Pois, de forma inesperada, a partir de certo momento, Dylan resolve intercalar esse registo com um outro, que à partida lhe era contíguo, só que transfigurado pela instrumentalização eléctrica. Mantendo o essencial, resolve incorporar o contributo do rock & roll. Tal, fazia sentido, em função da sua lógica de rebeldia juvenil, mas assinalava uma irreversível ruptura com o universo baladeiro, assolado pelo espírito da intelectualidade de esquerda que o benzera até então. A perplexidade de Pete Seeger perante uma das primeiras actuações eléctricas, no Festival de Newport (patenteada no documentário), ilustra tal reacção. O lastro de ressentimento que deixou em parte do seu público, particularmente aquele que o erigira num ícone político, patenteia-se de modo ainda mais eloquente nas reacções iradas que pontuaram os seus espectáculos na digressão pela Grã-Bretanha. Esses espectáculos aparecem, aliás, intercalados ao longo de todo o documentário. Situados no ponto final do período que abrange, é a partir deles que, em flashback, se vai percorrendo a sua carreira.
Dylan atinge a plenitude quando desfere a ruptura eléctrica. Os seus três melhores álbuns serão para sempre Bringing it all back home (1965), Higway 61 revisited (1965) e Blonde on blonde (1966). Neles, nunca chega a haver um abandono de temas acústicos, (muito menos do seu registo vocal e da harmónica!) mas, de forma progressivamente dominante, há a erupção rock. O mais emblemático é o segundo da tríade. Abre, com Like a rolling stone, onde está o trecho que Scorcese escolhe para título do documentário - um lema que sintetiza o espírito individualista dylaninano: No direction home. Na segunda parte do documentário há uma história sobre Like a rolling stone. Aí, o músico Alan Kooper, que tinha sido contratado pelo produtor Tom Wilson para as sessões de gravação como pianista, conta como acabou por protagonizar o mais decisivo contributo para a gravação desse tema, ao tomar conta dos teclados do órgão hammond. Tal ocorreu quando, por inesperada falta do organista, e durante uma temporária saída do produtor, resolveu inopinadamente mudar de teclas, em jeito de brincadeira. No regresso ao estúdio, o produtor interrogou-o, incrédulo, sobre o que fazia ele ali. Foi a expressiva complacência de Dylan que permitiu que a brincadeira continuasse... E pensar no que seria este tema sem aquela quente sonoridade que lhe presta o órgão hammond... Desde o primeiro acorde é esse o som mais carismático. Na música, como em muitas outras coisas da vida, os grandes achados têm muitas vezes explicações simplórias.
Por fim, quero notar que este documentário, ainda que editado há pouco tempo em DVD, passou já na televisão, concretamente, na RTP2, em duas noites consecutivas, no final do passado mês de Agosto.
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Asturias (9)

Hevia - Tierra de nadie (1998)
José Ángel Hevia é o mais famoso nome da música de raíz popular asturiana. É também o mais destacado representante de uma nova geração de gaiteiros que aposta na modernização, através de orquestrações com caixas de ritmos e electrónica e, inclusivamente, através de adaptações na própria concepção da gaita asturiana. Este experimentalismo é significativo, atendendo ao carácter deste instrumento como um dos símbolos regionais. Na verdade, mais ainda do que na Galiza, em certas zonas de Astúrias existe um culto em torno da gaita, que se traduz, por exemplo, na existência de dinastias familiares de construtores e instrumentistas e, até, na existência de um museu temático.
Este álbum ultrapassou fronteiras. Comercialmente, foi um êxito, muito para além do que jamais alguma vez fora esperado, a ponto de se ter tornado um case study na chamada world music. Tudo se deve ao poderoso tema de entrada, Busindre reel, de uma rude beleza, que diria trazer em si a genuína essência do Norte... Além disso, é um exemplo de sonoridade moderna e ao mesmo tempo céltica (desigação de discutível rigor, mas eficaz como identificação de um determinado tipo de música). Contudo, o conjunto do álbum peca por não se libertar totalmente de esquemas algo repetitivos.
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Asturias (8)





Oviedo in Asturias: La mirada del viento (2006)

quarta-feira, outubro 11, 2006

Soulsville (9)

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Isaac Hayes - The Isaac Hayes movement (1970)
Este álbum sucede ao consagrado Hot Buttered Soul (1969) e, dado o carácter quase clandestino de Precious, precious (1968), é como se tivesse sido o segundo. Para mim, apesar de implantado em pleno apogeu da sua carreira, não é dos melhores. Tem quatro temas - o primeiro é extraordinário; o segundo é satisfatório; o terceiro é muito bom; o quarto é um falhanço. É, portanto, um álbum entre a genialidade e o fracasso. Mas a genialidade explode nos sublimes onze minutos e meio da versão de I stand accused, de Jerry Butler! Não conheço tema de amor mais deseperadamente triste e bonito! A primeira parte é um rap incrível (os Ike's raps foram os primeiros passos de um género posteriormente subvertido...). Mas este intróito e todo o desenvolvimento que conduz em crescendo até a um climax épico é algo que pertence à história do soul! Tudo o resto se torna irrelevante depois deste primeiro tema. O álbum poderia ter acabado aí... Poderia ser um insólito single, em que se teria que virar o disco para ouvir o resto de uma única longuíssima canção... Mas este comentário seria injusto para o magnífico I just don't know what to do with myself, standard de Bacharach & David submetido a um radical transformismo - tão bem-sucedido quanto um exercício análogo sobre o tema seguinte, o ultrafamoso Something de George Harrisson foi mal-sucedido. Mas voltemos ao genial I stand accused. Também é um exercício de radical transformismo ikesiano. A versão original era muito bonita, sem dúvida, mas Ike dá-lhe uma outra dimensão e densidade. Converte-a num hino! Esta é uma característica ímpar dos seus tempos de apogeu - quando faz uma versão, está, na realidade, a fazer uma outra música.
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Isaac Hayes - I stand accused in The Isaac Hayes movement (1970)

terça-feira, outubro 10, 2006

Para siempre boleros! (18)


Armando Manzanero / Myriam Hernández - Huele a peligro
El maestro del bolero é figura reconhecida e ainda muito popular no México e no mundo hispânico, em geral. Tem um programa de TV no qual exerce como anfitrião de outros artistas. Muitas vezes acompanha-os ao piano - ele que começou por ser pianista e nunca deixou de o ser... Aqui o temos acompanhando a bela cantora chilena Myriam Hernández. Interpreta (e bem!) um bolero recente do maestro. Refere ele no fim deste trecho que compôs pela primeira vez aos catorze anos. Hoje em dia, continua ainda a compôr, magistralmente, com aquele sentimiento...

domingo, outubro 08, 2006

Castilla (16): Castilla - La Mancha

Cuenca in Castilla - La Mancha - Un paseo por las nubes
Eis mais uma série de panorâmicas aéreas de Espanha. Desta feita a região é Castilla - La Mancha e a série denomina-se Un paseo por las nubes (título igual ao de série análoga dedicada às Canárias). Foi recentemente exibida pela emissora regional CMT / Castilla - La Mancha Televisión. Também já há edição em DVD, pela Ediciones Nobel. O exemplo adjunto diz respeito à cidade de Cuenca. Pese embora os naturais condicionalismos que afectam a qualidade de imagem, dá para perceber que se conseguiu salientar bem os encantos locais. Cuenca é uma cidade património da humanidade, bem conhecida pelas suas casas colgadas. Este e outros atractivos estão aqui bem documentados.

sexta-feira, outubro 06, 2006

Cuore matto (7)


Mina - Grande, grande, grande (1972)
Eis um video de Mina interpretando (em directo) o mítico Grande, grande, grande num daqueles saudosos programas musicais da RAI. Perante isto, só há que exclamar: Grande! Grande! Grande!

Cuore matto (6)

Romy Padovano - I Mille Volte di una Voce (1988)
Este livro é um album da iconografia de Mina, onde os artifícios fotográficos de Mauro Belletti são protagonistas. É um produto de italian design.
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Cuore matto (5)

Mina tem um sítio oficial com excelente desenho e repleto de todo o tipo de informação. Para cada disco existe informação detalhada e também um audio sampler para cada tema. O sítio reflecte um dos aspectos interessantes do seu percurso artístico, que é a crescente importância que o grafismo foi adquirindo em torno da sua imagem, a ponto de se ter criado uma espécie de iconografia própria. Se desde o início dos anos 70 já era visível o cuidado com as capas dos discos, a partir do seu desaparecimento artístico público, com a limitação da sua actividade à edição anual de um álbum, a dimensão gráfica alcançou uma imaginação e fantasia pouco comuns. Grande responsável por esta faceta foi o fotógrafo Mauro Belletti.

quinta-feira, outubro 05, 2006

Tiro ao Alvo (12)


5 de Outubro

Para siempre boleros! (17) (7 remake)

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Armando Manzanero - Lo mejor de lo mejor (2000)
Trata-se de um duplo CD que é a mais completa colectânea de Armando Manzanero. Faz parte de uma colecção da BMG Latin / RCA magnificamente produzida, em que há um pormenor curioso: a etiqueta do CD simula a aparência dos discos em vinil. Tem 40 temas, entre os quais uns três ou quatro dos mais recentes (anos 80 e 90). Todos os seus êxitos estão aqui incluídos. Destaco: Esta tarde vi llover; Dime amor; Todavía; Si me faltas tú; Mía; Cariño mío; Como yo te amé; El ciego. O mais famoso de todos, Somos novios, acho-o bonito mas não tom bom como estes. Para mim, a voz especial de Manzanero confere a estes seus boleros um atractivo adicional. Na verdade, é uma voz frágil, com tonalidade andrógena, mas plena expressão e sentimento. Creio importante sublinhar este facto, pois os seus créditos como compositor são unanimemente reconhecidos, mas o mesmo não sucede com as suas capacidades interpretativas. Manzanero, índio de sangue maia, nascido na península do Yucatán, é o último dos grandes boleristas...


Armando Manzanero - Esta tarde vi llover (1967)

quarta-feira, outubro 04, 2006

Para siempre boleros! (16)


Luis Miguel - Contigo en la distancia

Eis Luis Miguel interpretando um dos boleros mais emblemáticos de todos os tempos, composto nos anos cinquenta pelo cubano César Portillo de la Luz.

domingo, outubro 01, 2006

Viagens (44): Valladolid, Oviedo e Zamora / 2006 (5)












Zamora

Quando decidi abreviar a minha estadia em Oviedo, irritado com a chuva, considerei duas hipóteses: regressar pela Galiza e, finalmente conhecer Lugo (a única capital provincial galega que ainda não conhecia) ou por Castela de modo a, finalmente, conhecer Zamora. À partida, atraía-me mais Lugo que Zamora, mas consciente de que a chuva também é um visitante fiel das terras galegas, afiancei-me na aridez dos planaltos castelhanos. Em boa hora o fiz.
Uma vez mais, transposta a cordilheira cantábrica, deu-se uma radical mudança climática. Não só a chuva desapareceu de todo, como o céu ficou limpo. Voltou o calor. Gosto dos amplos horizontes dos campos castelhanos. O caminho para Zamora deu-me mais uma dose deles. O que eu já conhecia da província de Zamora, era a parte mais setentrional, a montanhosa região de Sanabria, que tem características diferentes. Mas a capital está implantada num cenário muito distinto, bem castelhano, junto ao Douro. Tem cerca de 70.000 habitantes e é uma das mais pequenas capitais provinciais espanholas. Todos os guias referem ser uma cidade interessante por ter uma grande quantidade de templos românicos. Para além disso, é daquelas cidades cujo nome ecoa na história… Sabia tudo isto, mas, ainda assim, transcendeu as minhas expectativas.
Há um certo espírito das cidades com o qual pode existir uma indefinível sintonia, que nos leva a simpatizar ou antipatizar, sem que, necessariamente, se possam alinhar argumentos racionais. Ora, sucede que sintonizei com Zamora. A parte antiga (ainda parcialmente rodeada por muralhas) é extensa e tem sobrado carácter. Aí se pode ver o que é uma cidade setentrional da meseta, com casas escuras e galerias de marquises tradicionais. Há ainda marcas de rusticidade que advêm da ligação com actividades agrícolas e pecuárias, o que se nota na abundância de comércio de produtos artesanais, desde enchidos a mantas. O românico, efectivamente, está omnipresente, através de numerosos edifícios religiosos - é este o factor que mais lhe confere um carácter rústico. Contudo, e de forma surpreendente, há vários edifícios modernistas, da primeira metade do século XX. Muitos deles notáveis e quase todos excelentemente conservados. Do contraste entre rusticidade e modernismo resulta uma personalidade citadina original. Como se não bastasse, apresenta ainda as consabidas qualidades das cidades espanholas: ruas centrais exclusivamente para peões, cheias de animação; um centro cívico bem reconhecível. No primeiro caso, Santa Clara é uma rua pedonal extensa que, além do mais, tem a vantagem de nos ir introduzindo progressivamente no coração da cidade através de uma transição gradual. No segundo caso, a Plaza Mayor, ostenta um templo românico que, se, por um lado, lhe retira a amplitude característica das plazas mayores, por outro, dá-lhe uma personalidade original.
Situada perto de Valladolid e Salamanca, Zamora parece, ainda assim, ter encontrado um espaço de afirmação próprio. Não ficou parada no tempo. Com efeito, a área moderna é mais extensa do que se possa supor e tem uma inesperada monumentalidade para uma cidade com menos de 100.000 habitantes, capital de uma província com menos de 500.000. Contudo, o diário de Valladolid, El Norte de Castilla, tem uma edição específica para a província e vê-se nos quiosques e nas mãos dos transeuntes com a mesma frequência que o diário local La Opinión / El Correo de Zamora. De algum modo isto é um sintoma de inserção na área de influência directa da capital regional. Por outro lado, a leitura de um artigo de opinião no diário local, levou-me a perceber que existe, sob o ponto de vista cultural, uma dependência em relação a Salamanca.
Fiquei com vontade de voltar a Zamora e, se possível, na Semana Santa, já que, então, as múltiplas confrarias locais se esmeram em procissões, cuja grandiosidade nada fica a dever às mais afamadas da Andaluzia. E não é só uma questão grandiosidade, pois parece existir um clima emocional de autenticidade. A forma como vive essa quadra é hoje em dia o ponto mais alto da afirmação da sua cidadania.

Diputación Provincial de Zamora