terça-feira, fevereiro 14, 2006

Complexo de Aljubarrota (5)

Afinal é bom ou mau ter um vizinho como a Espanha? (Artigo no Público)

Um dos aspectos recorrentes do "complexo de Aljubarrota" é a fixação na invasão económica espanhola. Muito se fala e se escreve sobre Espanha em Portugal. Quase tanto quanto se ignora Portugal em Espanha... Muitos portugueses não se dão conta desta troca desigual. Na verdade, este é o desequilíbrio que mais pode humilhar as sensibilidades nacionalistas. Menos mal que a maioria nem se dá conta de tão patético desequilíbrio...
Uma boa parte do muito que é publicado na imprensa portuguesa sobre Espanha é matéria económica. Hoje, o suplemento económico do Público, Dia D, apresentou uma reportagem subordinada ao título Afinal, é bom ou mau ter um vizinho como Espanha? Para se ter em conta como esta matéria vende, basta referir que um parte central da primeira página era uma chamada para a reportagem, com uma imagem do touro Osborne, cuja sombra deixa na penumbra uma boa parte do luso terrunho. Em todo o caso, a reportagem, para além de inevitáveis lugares-comuns, apresenta algo inovador: não ignora as debilidades estruturais da economia espanhola. Efectivamente, para além do importante crescimento económico nos últimos anos, bem contrastante com o que ocorre do lado de cá, a economia espanhola também tem problemas e... estruturais. Um é detectável pelo mapa que encabeça este post (Todos os arquipélagos adjacentes foram absurdamente esquecidos...): as desigualdades de nível de vida entre as regiões - é impressionante a diferença entre a Estremadura ou Andaluzia e Madrid, País Basco, Navarra, Catalunha ou Ilhas Baleares! Outra, é o desemprego, o qual, se bem que tendo diminuido nos últimos anos, continua em níveis elevados, ainda superior ao que existe em Portugal. Sobretudo, a reportagem alerta para o facto de que o crescimento económico espanhol assenta muito na especulação imobiliária que estoirou nos últimos dez anos. Associado a este factor temos que o nível de endividamento das famílias é elevadíssimo. Assim, por detrás desta prosperidade pode, eventualmente, insinuar-se a possibilidade de um crash... É certo que os especialistas citados não concedem elevada probabilidade à hipótese, porém o seu veredicto é consensual quanto a uma certa artificialidade do boom do crescimento... Não serve esta advertência para consolar os desanimados nacionalistas portugueses, mas apenas para sublinhar uma ironia que a reportagem agita: se tal crash alguma vez viesse a existir, a economia portuguesa sofreria tanto ou mais do que a espanhola. As realidades são implacáveis. A integração económica entre os dois estados ibéricos é uma realidade que convém, definitivamente, assumir; o contrário serve apenas para agravar todo o tipo de problemas que nos afectam.

3 comentários:

Anónimo disse...

Já é hora de ultrapassar os mal-entendidos históricos entre Espanha e Portugal. Aquilo que a história separou foi unido pela Europa. A União Europeia fez-nos iguais. Fez aliados e pares a dois vizinhos que viviam virados de costas. Todos os países tiveram guerras e invasões. A última guerra entre os dois Estados Peninsulares remonta-se às invasões napoleónicas. A França a Inglaterra e Alemanha sofreram conflitos mais sanguentos em épocas ainda mais recentes e já são amigos. Um espanhol.

Anónimo disse...

E a 'guerra' silenciosa entre Salazar e Franco? A U.E fez-nos iguais? não concordo. Pelo contrÁRIO ACENTUOU AS DIFERENÇAS.

Anónimo disse...

Salazar e Franco foram amigos de conveniência. Mas se Franco tivesse entrado na Segunda Guerra Mundial ao lado da Alemanha e Portugal tivesse ficado do lado dos aliados, ter-se-ia repetido a história de Napoleão e Godoy. Franco não ouviu os cantos de sirena dos nazis que lhe incitavam a invadir Portugal em vez de reclamar territórios no norte de Africa.

No que diz respeito às diferenças, o Portugal de 2006 não tem nada a ver com o Portugal de 1974. Os 40 anos de retardo que tinha Portugal com respeito a Espanha estão a ser encurtados.