Ildefonso Falcones - La catedral del mar (2006)
Este romance histórico tem sido um estrondoso êxito de vendas. É um facto tanto mais notável quanto se trata da estreia de um escritor, no caso um advogado barcelonês de meia idade. Porém, o êxito é compreensível dada a junção de dois ingredientes: um sedutor cenário histórico e um enredo imaginativo, recheado de peripécias e emoções. Este último factor decorre de algo indispensável para se obter um bom romance: ter uma boa história para contar. Na verdade, estamos perante uma boa história, que, aliás, daria um bom filme... Contudo, é precisamente o impacto da história que suscita algumas debilidades, as quais se manifestam em certos aspectos da sua articulação com a História.
É evidente que um romance histórico não se confunde com um compêndio de História, mas presume-se que cumpra regras básicas de verosimilhança. Ou seja, sabe-se que é ficção, mas não é ilógico admitir que pudesse ter sucedido. Portanto, a erudição historiográfica do romancista é, geralmente, muito útil. Pois, note-se que o autor, para além do visível gosto pela História, teve o cuidado de se documentar. Num esclarecimento final refere as suas fontes, nomeadamente a mais importante que foi a Crónica de Pedro III, o Cerimonioso, monarca da coroa aragonesa, cujo reinado incide no centro do convulsionado século XIV. Assim, muitos acontecimentos descritos não são ficção, estando detalhadamente descritos nessa crónica. Do mesmo modo, muitos detalhes sobre as leis, usos e costumes foram retirados de diversas fontes da épocas, nomeadamente compilações jurídicas como as Usatges catalãs. É assim um romance intrinsecamente histórico, sendo emblemático desta natureza que seja inspirado e desenvolvido em torno da igreja de Santa María del Mar - um dos mais destacados exemplos do gótico na Catalunha - implantada no coração de um dos mais antigos bairros de Barcelona, El Born. Em certo contraste com esta natureza e com tão evidentes cuidados de inserção histórica, sucede que o enredo aqui e ali implica que se incorra em algum anacronismo, mais concretamente, naquele tipo de anacronismo que diz respeito às mentalidades. Com efeito, os heróis protagonistas, Bernat Estanyol e, sobretudo, o seu filho Arnau Estanyol, por vezes, pensam e vêem o mundo não tanto como homens daquele tempo medieval, mas mais como homens deste nosso tempo. Diga-se que tal óbice é frequente nos romances históricos, mas que neste caso, dado os cuidados de rigor, não deixa de ser assinalável. Seja como for, para além de ser uma excelente história, não deixa de ser um magnífico contributo para se entrar na História de um tempo e de um lugar fascinantes: Barcelona e o mundo mediterrâneo nos finais da Idade Média.
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É evidente que um romance histórico não se confunde com um compêndio de História, mas presume-se que cumpra regras básicas de verosimilhança. Ou seja, sabe-se que é ficção, mas não é ilógico admitir que pudesse ter sucedido. Portanto, a erudição historiográfica do romancista é, geralmente, muito útil. Pois, note-se que o autor, para além do visível gosto pela História, teve o cuidado de se documentar. Num esclarecimento final refere as suas fontes, nomeadamente a mais importante que foi a Crónica de Pedro III, o Cerimonioso, monarca da coroa aragonesa, cujo reinado incide no centro do convulsionado século XIV. Assim, muitos acontecimentos descritos não são ficção, estando detalhadamente descritos nessa crónica. Do mesmo modo, muitos detalhes sobre as leis, usos e costumes foram retirados de diversas fontes da épocas, nomeadamente compilações jurídicas como as Usatges catalãs. É assim um romance intrinsecamente histórico, sendo emblemático desta natureza que seja inspirado e desenvolvido em torno da igreja de Santa María del Mar - um dos mais destacados exemplos do gótico na Catalunha - implantada no coração de um dos mais antigos bairros de Barcelona, El Born. Em certo contraste com esta natureza e com tão evidentes cuidados de inserção histórica, sucede que o enredo aqui e ali implica que se incorra em algum anacronismo, mais concretamente, naquele tipo de anacronismo que diz respeito às mentalidades. Com efeito, os heróis protagonistas, Bernat Estanyol e, sobretudo, o seu filho Arnau Estanyol, por vezes, pensam e vêem o mundo não tanto como homens daquele tempo medieval, mas mais como homens deste nosso tempo. Diga-se que tal óbice é frequente nos romances históricos, mas que neste caso, dado os cuidados de rigor, não deixa de ser assinalável. Seja como for, para além de ser uma excelente história, não deixa de ser um magnífico contributo para se entrar na História de um tempo e de um lugar fascinantes: Barcelona e o mundo mediterrâneo nos finais da Idade Média.
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1 comentário:
já li o livro tem mais de um ano e adorei.
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