Lluís Llach - Ara i aqui (1970)
Tinha dezoito anos e viviam-se os conturbados tempos do pós 25 de Abril, quando, através de uma colega de faculdade, consegui um álbum que cá em Portugal era impossível comprar. Essa mesma colega já o tinha e emprestara-mo. Gostei tanto que pedi-lhe que, assim que fosse a Espanha, mo comprasse. Há coisas, evidentemente, que só têm condições para ser apreciadas num determinado contexto. Naquela altura, Ara i Aqui, pareceu-me o máximo, em larga medida porque, desde um empenhamento esquerdista (que era desgraçadamente o meu, nessa altura) era uma lufada de lirismo cançonetista que entroncava com uma visão mais ou menos idílica da cidade de Barcelona e do catalanismo. Além disso, o então jovem cantautor Lluís Llach tinha qualidades superiores a muitos dos seus congéneres - estava longe de ser um mero baladeiro, pois tinha uma voz melodiosa, tocava piano e alternava o registo acústico com acompanhamento orquestral. O álbum era uma gravação ao vivo de um espectáculo no emblemático Palau de la Música Catalana, num ambiente de resistência antifascista, patente nos arrebatados aplausos - algo que atingiu o climax no tema L'Estaca, que, provavelmente por causa da censura, foi apresentado em versão instrumental. A verdade é que se trata de uma gravação não só interessante pelo seu carácter de testemunho de uma época, como também pelo sua vertente artística. Paradoxalmente, não conheço nenhuma tentativa tão bem conseguida de exploração de uma via melódica potencialmente comercial para a nova cançó. Carácter militante aparte, o certo é que a maioria das canções do jovem Lluís Llach no início da sua carreira inscreviam-se num modelo de cançonetismo tradicional - eram simples canções de amor e, ainda por cima, de excelente corte melódico. Algo que contrasta com o carácter pesado, monótono, irremediavelmente marcado por uma pulsão amarga de denúncia ideologicamente condicionada, que domina a sua carreira a partir de meados dos anos 80. Há muito que parece ter-se-lhe esvaído a inspiração e a frescura, de modo que ouvir Ara i Aqui, como outros brilhantes álbuns dos anos 70, é uma oportunidade para relembrar outras fases mais proveitosas.
Infelizmente, as edições em CD de Ara i Aqui têm graves defeitos em relação ao álbum original: os aplausos desapareceram de todo e o ambiente apercebe-se como de estúdio (provavelmente as gravações originais eram um falso "ao vivo"); faltam dois dos melhores temas (Respon-me e Irene), assim como falta o tema mais significativo (L'Estaca - versão instrumental).
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10Infelizmente, as edições em CD de Ara i Aqui têm graves defeitos em relação ao álbum original: os aplausos desapareceram de todo e o ambiente apercebe-se como de estúdio (provavelmente as gravações originais eram um falso "ao vivo"); faltam dois dos melhores temas (Respon-me e Irene), assim como falta o tema mais significativo (L'Estaca - versão instrumental).
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2 comentários:
Algunos se dejaban deslumbrar por el Che Guevara y Quilapayún.....
Eu também gosto imenso de Lluis Llach, da sua voz, do seu piano e do seu acompanhamento musical. Acho que a sua voz é muito poética e íntima. Não partilho as suas ideias políticas mas adoro as suas canções. É único. Tens bom gosto!
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