Peter Greenaway - O Contrato (The draughtman's contract) (1982)
O cinema de Peter Greenaway ocupa um lugar bem distante em relação ao mainstream formatado pelos padrões de Hollywood, os quais estão cada vez mais pobres e incapazes de surpreender. Consabidas fórmulas de sucesso são exploradas reiteradamente até à exaustão e a imaginação parece tolhida. Esta evolução é mal disfarçada pelo arsenal técnico e pelo impacto mediático do star system. Se a história do cinema deve estar para sempre credora de Hollywood é, acima de tudo, pelo cinema clássico. Infelizmente, por outro lado, o cinema europeu cada vez tem menos capacidade para se constituir como alternativa - muito limitado de recursos e, em larga medida, incapaz de se libertar de um pedantismo discursivo. Neste contexto o cinema de Peter Greenaway, por sinal, assumidamente pedante e intelectual, consegue uma originalidade, mediante um olhar estético e um particular génio de loucura. Em filmes posteriores chegará mesmo ao grotesco e sórdido, características que, para mim, aliás, sempre foram atractivas.
O argumento é curioso. Estamos numa zona rural do sul de Inglaterra (Wiltshire) em 1694. Um artista é contratado por uma dama da nobreza local (gentry) para fazer 12 desenhos que retratem a sua propriedade. O resultado dessa encomenda seria uma surpresa para o marido (ausente em viagem), que não deixaria de a apreciar, tendo em conta o particular orgulho que tinha nos magnificentes jardins. Para vencer a renitência do artista, a dama aceita as mais desproporcionadas exigências dele, incluindo... 12 favores sexuais. correspondentes a cada um dos desenhos. Para culminar tamanha arrogância, o artista exige ainda que tudo fique, preto no branco, contratualmente registado. A execução da encomenda é pontuada pelo rigoroso cumprimento das condições contratuais e ainda por extras - a filha da dama, desatendida pelo seu marido (um holandês petulante e pouco diligente no cumprimento dos deveres conjugais), é também disfrutada pelo afortunado artista. Dizer que artista é afortunado acaba por ser um equívoco em que o espectador cai inevitavelmente. O desenlace reserva-nos uma surpresa e o artista de arrogante afortunado acaba em vítima ingénua...
O argumento é curioso. Estamos numa zona rural do sul de Inglaterra (Wiltshire) em 1694. Um artista é contratado por uma dama da nobreza local (gentry) para fazer 12 desenhos que retratem a sua propriedade. O resultado dessa encomenda seria uma surpresa para o marido (ausente em viagem), que não deixaria de a apreciar, tendo em conta o particular orgulho que tinha nos magnificentes jardins. Para vencer a renitência do artista, a dama aceita as mais desproporcionadas exigências dele, incluindo... 12 favores sexuais. correspondentes a cada um dos desenhos. Para culminar tamanha arrogância, o artista exige ainda que tudo fique, preto no branco, contratualmente registado. A execução da encomenda é pontuada pelo rigoroso cumprimento das condições contratuais e ainda por extras - a filha da dama, desatendida pelo seu marido (um holandês petulante e pouco diligente no cumprimento dos deveres conjugais), é também disfrutada pelo afortunado artista. Dizer que artista é afortunado acaba por ser um equívoco em que o espectador cai inevitavelmente. O desenlace reserva-nos uma surpresa e o artista de arrogante afortunado acaba em vítima ingénua...
Greenaway é um arquitecto que derivou para o cinema. A sua obra tem um recohecível toque britânico de non-sense e também um hiper-barroquismo próprio de um espírito extravagante. Neste filme, além do mais, o barroquismo é literal, pelo facto da acção decorrer em cenários barrocos. Os diálogos e situações ressaltam ainda uma ironia própria de espíritos finos. Os cenários, só por si, são um espectáculo, desde as perucas aos jardins. A música de Michael Nyman é também espectacular - com uma feição exótica que resulta de um curioso casamento entre contemporaneidade e barroco.
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