segunda-feira, março 31, 2008

Flamenco (32)

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Diego Carrasco - Inquilino del mundo (2000)
Diego Carrasco é um dos mais originais artistas flamencos. Significativamente, é também, como muitos outros artistas flamencos, de Jerez de la Frontera. Definitivamente, este é o epicentro de todas as geografias do flamenco, do mais puro ao mais heterodoxo. A alusão faz aqui todo o sentido, na medida em que Diogo Carrasco representa um compromisso entre o purismo e a heterodoxia. A sua voz é agreste e sentida, como é próprio do cante jondo. Contudo, é uma música aberta em direcções variadas, que acolhe contributos de vários estilos, ainda que dirigida por um critério muito pessoal. Critério esse que passa por letras de corte introspectivo e por arranjos surpreendentes. No tema que dá nome ao álbum, por exemplo, temos algo que não anda longe do conceito rap... É uma opção artística arriscada, entre o génial e o fiasco. Ou se gosta ou não se gosta. Em todo o caso, é, francamente pouco comercial. Perante este álbum fiquei com a sensação que esta música é algo que está relativamente próximo do génio, mas na forma arriscada em que se desenvolve não evita aqui e ali algum passo em falso.
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Diego Carrasco - Poeta de Cai in Inquilino del mundo (2000)

terça-feira, março 25, 2008

Cuore matto (19)

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Mina - Si, Buana (1986)
Este duplo CD é a reedição dos LPs Si, Buana Vol 1 e Si, Buana Vol 2, originalmente editados em 1986. Foi uma das apostas mais comerciais de Mina, atacando com um punhado de temas consagrados da canção italiana ou da pop internacional. Estava então a sua carreira discográfica numa fase de indefinição, não tendo esta opção mais ligeira, que vinha dominando desde início dos anos 80, continuidade a partir daqui. Ou seja, este álbum pode ser considerado o culminar da Mina pop... O resultado foi bastante bom, quanto mais não fosse porque as potencialidades vocais da diva estariam, porventura, no seu auge - este não é, evidentemente, pormenor de somenos... O valor médio das canções é mais do que aceitável, tendo em conta uma magnífica meia-dúzia, nomeadamente a versão italiana de Zingaro (Retrato em branco e prêto) de Tom Jobim. De notar, porém, que o repertório é um pouco desconexo entre géneros tão variados e que os arranjos descambam, aqui e ali, da excelência, através, por exemplo, da intervenção de alguns coros em tonalidade desajustada. Em todo o caso, sublinhe-se, Si, Buana é um momento importante - um dos mais altos de Mina nos anos 80.
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Mina - L'altra metà di me in Si, Buana (1986)

domingo, março 23, 2008

Imprensa (5)

Os maiores jornais diários hispânicos
A partir de dados apresentados no anuário Tendencias 07 Medios de comunicación eis aqui a lista dos jornais diários de língua espanhola com difusão superior a 100.00 exemplares diários. Excluem-se os diários cujos números declarados não são confirmados por auditorias independentes, assim como os que são de distribuição gratuita. Destacam-se os jornais de informação geral de referência, de âmbito estatal com *** e de âmbito regional com *.

435.238 -
El País (Madrid, España) ***
401.287 - Clarín (Buenos Aires, Argentina) ***
320.161 - El Mundo (Madrid, España) ***
314.007 - Marca (Madrid, España)
274.404 - El Tiempo (Santa Fé de Bogotá, Colombia) ***
207.371 - La Vanguardia (Barcelona, España) *
207.157 - As (Madrid, España)
204.413 - Trome (Lima, Perú)
191.892 - El Popular (Lima, Perú)
166.296 - Últimas Noticias (Caracas, Venezuela)
162,562 - El Periódico de Catalunya (Barcelona, España) *
161.006 - La Nación (Buenos Aires, Argentina) ***
155.000 - El Nuevo Día (San Juan Puerto Rico) ***
153.872 - El Mercurio (Santiago, Chile) ***
146.723 - La Cuarta (Santiago, Chile)
145.207 - Las Últimas Noticias (Santiago, Chile)
144.413 - Meridiano (Caracas, Venezuela)
144.404 - Correo (Lima, Perú)

144.000 - La Razón (Madrid, España)
140.000 - Diario Extra (San José, Costa Rica)
131.783 - La Tercera (Santiago, Chile) ***
125.624 - La Opinión (Los Angeles, Estados Unidos) *
121.316 - El Correo Español (Bilbao, España) *
118.399 - Sport (Barcelona, España)
114.286 - El Universal (Ciudad de México, México) ***
107.621 - El Comercio (Lima, Perú) ***
105.714 - La Nación (San José, Costa Rica) ***
103.330 - La Voz de Galicia (La Coruña, España) *
101.523 - Mundo Deportivo (Barcelona, España
100.414 - El Comercio (Quito, Ecuador) ***
100.000 - El Norte (Monterrey, México)
*

Fonte: Tendencias’07 Medios de comunicación - El escenario iberoamericano (Elaboração própria)

Imprensa (4)

Tendencias 07 Medios de comunicación: El escenario iberoamericano
O professor Bernardo Diáz-Nosty é um destacado perito em estudos sobre comunicação social. Entre muitas actividades, tem dirigido a elaboração de anuários sobre a evolução da comunicação social em Espanha. Sob a designação genérica de Tendencias, estas publicações têm constituído um retrato exaustivo em todos os domínios (imprensa escrita, rádio, televisão...) através da apresentação e interpretação de estatísticas e de variadas sínteses qualitativas. Durante alguns anos estes anuários foram editados por uma fundação especialmente dedicada ao estudo da comunicação social (Fundesco). Depois houve uma interrupção na sua publicação, mas, entretanto, reapareceram editados por uma fundação da Telefónica. A grande novidade da última edição é que se abalança na análise de todo o vasto universo da comunicação social iberoamericana, incluindo Portugal e Brasil. É algo de extremamente ambicioso, mas que, para já, e tendo em conta as limitações dos estudos e dados estatísticos da maioria dos países abrangidos, se apresenta como excedendo as melhores expectativas.
Pode-se baixar esta publicação a partir da seguinte hiperligação:
Tendencias’07 Medios de comunicación - El escenario iberoamericano

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sábado, março 22, 2008

Flamenco (31) (7 remake)

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José Soto Sorderita - Mi secreto pirata (1995)
José Soto Sorderita foi a primeira voz solista de Ketama e, na verdade, mesmo depois de ter saído, não deixou de continuar ligado ao grupo, já que regressou expressamente para participar nas duas edições do extraordinário Songhaï, que é, talvez, a obra cimeira do nuevo flamenco e, mundialmente, um dos mais aclamados produtos da chamada world music. Tem um timbre de voz bem flamenco, mas na variante fina. Sem desprimor para Antonio Carmona, que herdou a condição de voz solista de Ketama, Sorderita tem uma maior delicadeza, que, em certos temas, consegue ser oportunamente expressiva. Este álbum foi editado numa época em que Ketama estava já consagrado e a projecção de Sorderita continuava subsidiária da fama do grupo. Era o momento para reafirmar um caminho autónomo, em que o fusionismo é entendido de uma forma menos heterodoxa. Não temos aqui experimentalismo radical, temos, isso sim, uma linha de fusão que nunca ultrapassa um determinado limite. Em que consiste? Por exemplo: numa seguiriya utiliza-se um piano em vez da guitarra; nuns tanguillos ou numas bulerías recorre-se a guitarras eléctricas. Mas, com estas roupagens nunca deixam de ser bem reconhecíveis os palos (estilos básicos do flamenco). A destacar: Puros sesenta e o tema que dá nome ao álbum (respectivamente tanguillos e seguiriyas) que sintetizam inspiradamente o espírito de fusão entre casticismo e modernidade.
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José Soto Sorderita - Puros sesenta (1995)

terça-feira, março 11, 2008

Tanguedia (3)

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Carlos Gardel - The king of tango - Vol 1, Vol 2 (1999)
Há muitas antologias em CD de Carlos Gardel, mas são poucas as que apresentam qualidade de edição. Aparte algumas provenientes da Argentina ou de editoras sofisticadas do Japão, EUA, Grã-Bretanha ou França, cuja pontaria a públicos minoritários contempla os cultores do tango clássico, o que se encontra é, regra geral, descuidado e, por vezes, indigente. Contudo, no mercado português pode-se encontrar uma excelente antologia. É composta por dois volumes e é da editora britânica Nimbus. Apesar de desconcertante não inclusão de alguns dos êxitos mais conhecidos (Mi Buenos Aires querido, por exemplo), é compensador encontrar um encarte com abundante informação, incluindo resumos das letras de todos os temas. Além disso, a apresentação gráfica tem bom-gosto e é cuidada.
As gravações de Carlos Gardel têm, inevitavelmente, uma rusticidade que choca com modernos padrões de pulcritude sonora e sofisticação orquestral. Mas, em certa medida, por isso mesmo, ressalta a qualidade da voz carismática, plena de expressividade, onde o característico sotaque porteño tem um papel relevante. Além disso, há as letras... que expressam emoções excessivas, num registo oscilante entre o macho castigador e o macho enganado. É, enfim, o tango mais puro consagrado assim no arquétipo gardeliano para a eternidade. Aliás... Gardel cada día canta mejor.
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Carlos Gardel - Mano a mano (1928)

domingo, março 09, 2008

Tiro ao alvo (19)

Em Tiro ao alvo (10), na sequência de apreciações muito mais positivas do que negativas acerca da política da educação, rematei da seguinte forma: "Em todo o caso, o ministério navega no rumo certo. Que a nave não naufrague entre as violentas tempestades que se avizinham!". Pois devo agora dizer que o rumo não se tornou incerto, mas, entretanto, tornou-se claro que o porto de chegada não é o melhor... E, dada a obstinação do timoneiro, começo a desejar o... naufrágio.
O modelo de gestão parece positivo. É desejável que a gestão das escolas deixe de estar cativa dos interesses corporativos dos professores. Contudo, noutras áreas sensíveis e decisivas as opções têm sido más. É assim com o modelo de avaliação de desempenho e, de um modo geral, com parte da avassaladora produção legislativa (alguém aplicou-lhe a designação de diarreia legislativa) em que destaco o modo como foi criado o corpo de professores titulares e, mais recentemente, o estatuto do aluno. São regulamentações complexas, por vezes contraditórias e ambíguas, lavrando injustiças a eito e criando problemas desnecessários. Descontadas as compreensíveis necessidades de aliviar encargos salariais, se algo parece claro, é, efectivamente, a pretensão de fazer grandes mudanças em pouco tempo. É indispensável introduzir grandes mudanças no nosso sistema de ensino. Porém, não é atinado querer mudar em tantos domínios, ao mesmo tempo, de modo tão radical e, o que é pior, em certos domínios cruciais, no sentido errado. Sucede que esta equipa não quer, simplesmente, pôr as coisas melhores, como fez com medidas tomadas no início e que, por exemplo, reduziram drasticamente os furos e o absentismo. Deveria prosseguir mais moderadamente, salvaguardando o que de bom tem feito, garantindo mais segurança e eficácia no que falta fazer e corrigindo erros. Mas parece que não quer ouvir nada nem ninguém. Assim, conclui-se, insisto, que não quer, simplesmente, pôr as coisas melhores. Quer ir, muito mais longe. Quer criar um mundo novo. Diria que parece estar acometida de um espírito messiânico, de tipo jacobino ou bolchevique... É inquietante, pois os redentores são perigosos, ainda mais num território tão sensível como o da educação. Apesar dos propósitos da senhora ministra, apesar do muito de positivo que já foi feito, parece que na equipa ministerial impera um espírito de cruzada, provavelmente inspirado em alguns credos mais ortodoxos das ciências da educação. Justifica-se esta inquietação, pois muito do que se vai revelando é próprio das teorias obcecadas por objectivos e competências, que têm ajudado a levar a educação ocidental ao descrédito. Já agora, diga-se que, curiosamente, este é o mesmo continente ideológico da velha esquerda que formou o nosso sindicalismo... A base são concepções rousseaunianas, onde a escola é vista como um lugar mais de prazer do que de esforço e relativiza-se a disciplina.
No que diz respeito à avaliação de desempenho, é um modelo orientado para uma realidade de papel traduzível em estatísticas. Objectivamente, é uma forma de obter indicadores a partir de estereótipos beahaviouristas, que são extrapolados e magnificados. Contudo, num ambiente inopinadamente competitivo, será também um infernozinho burocrático, assente em facilitismo para os alunos e só gratificante para os professores mais jeitosos em compôr a sua "aldeia Potemkine". Para aprimorar a coisa, em muitas escolas, a avaliação inter pares adiciona desconfianças, promiscuidades e invejas próprias de relações pessoais que há muito descambaram do plano profissional. Ou seja, burocracia e intriga. É certo que alguma melhoria resultará na prática lectiva, mas o processo será demasiado desgastante. Ou seja, a relação custos/benefícios será má. E, afinal, a alternativa seria simples: deixar no futuro director todas as competências avaliadoras, que seriam expeditamente tramitadas ao fim de três anos. Sem burocracias e esforços inúteis! Haveria ainda outras alternativas, como preparar um corpo especializado de inspectores. Mas escolheu-se um modelo burocrático, fomentador de intriga, amigo de zelotas das grelhas, de jardineiros de portfolios e encenadores habilidosos.
Nestas circunstâncias passo para o outro lado, onde agora, ironicamente, surgem propostas alternativas válidas, geradoras de menos injustiças e onde, até, os sindicatos já fazem um implícito reconhecimento de que o que existia antes era insustentável.