Em Tiro ao alvo (10), na sequência de apreciações muito mais positivas do que negativas acerca da política da educação, rematei da seguinte forma: "Em todo o caso, o ministério navega no rumo certo. Que a nave não naufrague entre as violentas tempestades que se avizinham!". Pois devo agora dizer que o rumo não se tornou incerto, mas, entretanto, tornou-se claro que o porto de chegada não é o melhor... E, dada a obstinação do timoneiro, começo a desejar o... naufrágio.
O modelo de gestão parece positivo. É desejável que a gestão das escolas deixe de estar cativa dos interesses corporativos dos professores. Contudo, noutras áreas sensíveis e decisivas as opções têm sido más. É assim com o modelo de avaliação de desempenho e, de um modo geral, com parte da avassaladora produção legislativa (alguém aplicou-lhe a designação de diarreia legislativa) em que destaco o modo como foi criado o corpo de professores titulares e, mais recentemente, o estatuto do aluno. São regulamentações complexas, por vezes contraditórias e ambíguas, lavrando injustiças a eito e criando problemas desnecessários. Descontadas as compreensíveis necessidades de aliviar encargos salariais, se algo parece claro, é, efectivamente, a pretensão de fazer grandes mudanças em pouco tempo. É indispensável introduzir grandes mudanças no nosso sistema de ensino. Porém, não é atinado querer mudar em tantos domínios, ao mesmo tempo, de modo tão radical e, o que é pior, em certos domínios cruciais, no sentido errado. Sucede que esta equipa não quer, simplesmente, pôr as coisas melhores, como fez com medidas tomadas no início e que, por exemplo, reduziram drasticamente os furos e o absentismo. Deveria prosseguir mais moderadamente, salvaguardando o que de bom tem feito, garantindo mais segurança e eficácia no que falta fazer e corrigindo erros. Mas parece que não quer ouvir nada nem ninguém. Assim, conclui-se, insisto, que não quer, simplesmente, pôr as coisas melhores. Quer ir, muito mais longe. Quer criar um mundo novo. Diria que parece estar acometida de um espírito messiânico, de tipo jacobino ou bolchevique... É inquietante, pois os redentores são perigosos, ainda mais num território tão sensível como o da educação. Apesar dos propósitos da senhora ministra, apesar do muito de positivo que já foi feito, parece que na equipa ministerial impera um espírito de cruzada, provavelmente inspirado em alguns credos mais ortodoxos das ciências da educação. Justifica-se esta inquietação, pois muito do que se vai revelando é próprio das teorias obcecadas por objectivos e competências, que têm ajudado a levar a educação ocidental ao descrédito. Já agora, diga-se que, curiosamente, este é o mesmo continente ideológico da velha esquerda que formou o nosso sindicalismo... A base são concepções rousseaunianas, onde a escola é vista como um lugar mais de prazer do que de esforço e relativiza-se a disciplina.
No que diz respeito à avaliação de desempenho, é um modelo orientado para uma realidade de papel traduzível em estatísticas. Objectivamente, é uma forma de obter indicadores a partir de estereótipos beahaviouristas, que são extrapolados e magnificados. Contudo, num ambiente inopinadamente competitivo, será também um infernozinho burocrático, assente em facilitismo para os alunos e só gratificante para os professores mais jeitosos em compôr a sua "aldeia Potemkine". Para aprimorar a coisa, em muitas escolas, a avaliação inter pares adiciona desconfianças, promiscuidades e invejas próprias de relações pessoais que há muito descambaram do plano profissional. Ou seja, burocracia e intriga. É certo que alguma melhoria resultará na prática lectiva, mas o processo será demasiado desgastante. Ou seja, a relação custos/benefícios será má. E, afinal, a alternativa seria simples: deixar no futuro director todas as competências avaliadoras, que seriam expeditamente tramitadas ao fim de três anos. Sem burocracias e esforços inúteis! Haveria ainda outras alternativas, como preparar um corpo especializado de inspectores. Mas escolheu-se um modelo burocrático, fomentador de intriga, amigo de zelotas das grelhas, de jardineiros de portfolios e encenadores habilidosos.
Nestas circunstâncias passo para o outro lado, onde agora, ironicamente, surgem propostas alternativas válidas, geradoras de menos injustiças e onde, até, os sindicatos já fazem um implícito reconhecimento de que o que existia antes era insustentável.
O modelo de gestão parece positivo. É desejável que a gestão das escolas deixe de estar cativa dos interesses corporativos dos professores. Contudo, noutras áreas sensíveis e decisivas as opções têm sido más. É assim com o modelo de avaliação de desempenho e, de um modo geral, com parte da avassaladora produção legislativa (alguém aplicou-lhe a designação de diarreia legislativa) em que destaco o modo como foi criado o corpo de professores titulares e, mais recentemente, o estatuto do aluno. São regulamentações complexas, por vezes contraditórias e ambíguas, lavrando injustiças a eito e criando problemas desnecessários. Descontadas as compreensíveis necessidades de aliviar encargos salariais, se algo parece claro, é, efectivamente, a pretensão de fazer grandes mudanças em pouco tempo. É indispensável introduzir grandes mudanças no nosso sistema de ensino. Porém, não é atinado querer mudar em tantos domínios, ao mesmo tempo, de modo tão radical e, o que é pior, em certos domínios cruciais, no sentido errado. Sucede que esta equipa não quer, simplesmente, pôr as coisas melhores, como fez com medidas tomadas no início e que, por exemplo, reduziram drasticamente os furos e o absentismo. Deveria prosseguir mais moderadamente, salvaguardando o que de bom tem feito, garantindo mais segurança e eficácia no que falta fazer e corrigindo erros. Mas parece que não quer ouvir nada nem ninguém. Assim, conclui-se, insisto, que não quer, simplesmente, pôr as coisas melhores. Quer ir, muito mais longe. Quer criar um mundo novo. Diria que parece estar acometida de um espírito messiânico, de tipo jacobino ou bolchevique... É inquietante, pois os redentores são perigosos, ainda mais num território tão sensível como o da educação. Apesar dos propósitos da senhora ministra, apesar do muito de positivo que já foi feito, parece que na equipa ministerial impera um espírito de cruzada, provavelmente inspirado em alguns credos mais ortodoxos das ciências da educação. Justifica-se esta inquietação, pois muito do que se vai revelando é próprio das teorias obcecadas por objectivos e competências, que têm ajudado a levar a educação ocidental ao descrédito. Já agora, diga-se que, curiosamente, este é o mesmo continente ideológico da velha esquerda que formou o nosso sindicalismo... A base são concepções rousseaunianas, onde a escola é vista como um lugar mais de prazer do que de esforço e relativiza-se a disciplina.
No que diz respeito à avaliação de desempenho, é um modelo orientado para uma realidade de papel traduzível em estatísticas. Objectivamente, é uma forma de obter indicadores a partir de estereótipos beahaviouristas, que são extrapolados e magnificados. Contudo, num ambiente inopinadamente competitivo, será também um infernozinho burocrático, assente em facilitismo para os alunos e só gratificante para os professores mais jeitosos em compôr a sua "aldeia Potemkine". Para aprimorar a coisa, em muitas escolas, a avaliação inter pares adiciona desconfianças, promiscuidades e invejas próprias de relações pessoais que há muito descambaram do plano profissional. Ou seja, burocracia e intriga. É certo que alguma melhoria resultará na prática lectiva, mas o processo será demasiado desgastante. Ou seja, a relação custos/benefícios será má. E, afinal, a alternativa seria simples: deixar no futuro director todas as competências avaliadoras, que seriam expeditamente tramitadas ao fim de três anos. Sem burocracias e esforços inúteis! Haveria ainda outras alternativas, como preparar um corpo especializado de inspectores. Mas escolheu-se um modelo burocrático, fomentador de intriga, amigo de zelotas das grelhas, de jardineiros de portfolios e encenadores habilidosos.
Nestas circunstâncias passo para o outro lado, onde agora, ironicamente, surgem propostas alternativas válidas, geradoras de menos injustiças e onde, até, os sindicatos já fazem um implícito reconhecimento de que o que existia antes era insustentável.
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