terça-feira, julho 31, 2007

Euskal Herria (21)

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Oskorri: Hau hermosurie! (1984)
Hoje em dia este grupo bilbaíno é considerado um dos maiores expoentes da chamada world music. É o mais importante grupo folk de toda a Espanha, alardeando uma riqueza musical que se tem continuamente renovado ao longo de mais de três décadas. O seu surgimento fez parte de uma segunda vaga da música popular basca, correspondente aos anos setenta. Porém, foi em meados dos anos 80 que alcançaram a maturidade artística. Precisamente, em 1984 surge este álbum, que é um dos seus melhores. Abre, aliás, uma sequência discográfica da mais alta qualidade. Predominam os temas melódicos onde brilha a voz de Natxo de Felipe. O tema Aita Gurea é, sob este ponto de vista, exemplar. Que melhor música para nos sugerir as verdes paisagens montanhosas do País Basco...
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Aita Gurea
in Hau hermosurie! (1984)

Euskal Herria (20) (14 remake)

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Oskorri: Vizcayatik... Bizkaiara (2001)
Oskorri é o mais importante grupo folk basco. Desde os anos setenta tem produzido uma extensa discografia assente na música tradicional basca, explorando-a em todos os seus âmbitos num sentido mais ou menos fusionista. Este álbum é dedicado a Vizcaya e incide em temas rítmicos, dançantes. É um trabalho magnificamente produzido. Ainda que sem alcançar o nível dos melhores (situados segunda metade dos anos 80), não deixa de ser uma boa opção para começar a conhecer o grupo.
Uma nota para a língua basca ou euskera, cuja aspereza indicia uma difícil musicalidade. Tal ideia carece de fundamento. Quer aqui, quer, sobretudo, noutros trabalhos que enveredam por caminhos mais melodiosos, Natxo de Felipe demonstra-o, com a sua voz suave e quente. Vem ainda a propósito referir que toda a metade leste da província de Vizcaya permanece euskaldun, ou seja, falante de euskera. Algo que já não sucede na parte oeste, nomeadamente, na capital, Bilbao. Em todo o caso, no leste de Vizcaya a língua basca tem grande vitalidade. As outras áreas ainda efectivamente euskaldun são toda a província de Guipúzcoa, o norte de Navarra e as zonas mais rurais de Iparralde (conjunto das províncias bascas sob soberania francesa).
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Txanton Pipirri
in Vizcayatik... Bizkaiara (2001)

quarta-feira, julho 25, 2007

Flamenco (26)



Remedios Amaya - ¿Quién maneja mi barca? (1983)
Último lugar, zero pontos. Creio que foi esta a safra da insólita representação da RTVE no Festival da Canção da Eurovisão de 1983. Numa altura em que o certame já dava mostras de alguma decadência; em que começava a imperar um molde que só deixava espaço para baladas delicodoces ou cançonetas-refrão patetas, eis, de facto, algo insólito...
O castigo teve uma certa lógica. Definitivamente aquele não era um lugar para coisas destas. Resulta que a canção tem alma flamenca, Remedios Amaya saiu com brio e garra e há uma roupagem orquestral exótica. Uma grande intérprete flamenca e uma composição da dupla Muñoz e Évora que tem dado muito do que de mais inovador tem havido no nuevo flamenco e em sevillanas e rocieras. O festival não merecia uma coisa assim...

Web: Remedios Amaya in esflamenco.com


sexta-feira, julho 13, 2007

Soulsville (10) (6 remake)

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Isaac Hayes - Black Moses (1971)
Estava Isaac Hayes no seu apogeu, logo após a edição da banda sonora de Shaft quando saíu este duplo álbum. É megalómeno! O delírio começa, desde logo, na apresentação. Com efeito, o duplo LP original ficou na história da art cover. Depois de sucessivamente desdobrado (da operação resultava uma enorme foto em formato de cruz), aparecia-nos Isaac Hayes (quase em tamanho natural) como uma réplica de Moisés, em teatrais vestes e cenário bíblicos... A megalomania é extensível à produção. Nunca uma gravação sua teve roupagens orquestrais de tão grande pompa! A Stax não se fez rogada em lhe proporcionar meios de uma super estrela e, aliás, a própria editora parece ter-se engalanado num desmedido triunfalismo ao levar a cabo, nessa mesma época, um evento como foi Wattstax (uma espécie réplica de Woodstock para a América Negra, em Los Angeles - onde, diga-se já agora, Isaac Hayes teve uma actuação destacada).
Significativamente, a unânimidade da crítica desfez-se perante Black Moses. A verdade é que o estado de graça perdeu-se... E, no entanto, é uma obra magnífica. Desigual, desproporcionada, mas, magnífica. Algumas das mais brilhantes pérolas da sua lavra estão aqui: Never can say good-bye (grande êxito, mesmo antes da ultra-famosa versão disco de Gloria Gaynor); Never gonna give you up (recriação de um tema de Jerry Butler); Help me love; Your love is so dogonne good; I'll never fall in love again (recriação do standard de David / Bacharach, popularizado por Dionne Warwick). Há também muitos raps, ao seu genuíno estilo. Aparecem numerados (Ike's rap I, Ike's rap IV...) e introduzem da melhor forma algumas das mencionadas pérolas, ajudando a criar uma atmosfera especial ...
Nota: Há uma edição digipack remasterizada deste álbum, da editora alemã Zyx, a qual apesar de conter a versão extensa de Never gonna give you up (não disponível no álbum original, nem na primeira reedição em CD), está amputada de alguns dos melhores temas.
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Isaac Hayes - Never gonna give you up in Black Moses (1971)

quarta-feira, julho 11, 2007

Memória do futebol (7)

Não conhecia nenhum estudo sobre a dimensão do universo de adeptos dos clubes de futebol de Espanha. É claro que estava ciente da liderança destacada do Real Madrid. Por outro lado, estava também ciente do poder da "classe média", com vários casos de fortíssima implantação em populosos âmbitos regionais (Valencia, Athletic, Zaragoza, Bétis, Sevilla, Zaragoza, Deportivo, Celta, Real Sociedad...). Ora, finalmente, com este estudo do CIS (Centro de Investigaciones Sociológicas), inserido no Barómetro de Mayo (Estudio nº 2.705) pode-se começar a ficar com uma ideia mais rigorosa.
Registo algumas surpresas:
- O Barça está mais alto do que supunha, o que comprova uma penetração que extravasa o âmbito catalão;
- A implantação regional de Valencia, Athletic e Zaragoza é esmagadora e, certamente, extravasa para regiões limítrofes;
- Imaginava um equilíbrio entre os dois rivais sevilhanos, com ligeira inclinação a favor do Sevilla. Pois sucede precisamente o contrário em favor do Bétis e não de um modo tão ligeiro como isso...
- Não obstante estarem na penumbra da divisão secundária, clubes regionais como Sporting, de Gijón, Málaga, Cádiz, Las Palmas, Tenerife, Valladolid e Murcia demonstram um potencial notável;
- Os valores do Atlético de Madrid são decepcionantes. Não parece dispor de uma penetração verdadeiramente nacional;
- Clubes regionais como Hércules, de Alicante, e Alavés, de Vitória, apresentam também valores decepcionantes, No primeiro caso, tratar-se-á de uma hinchada pouco resistente à prolongada estância em divisões secundaríssimas? No segundo caso será que o Athletic rouba espaço de afirmação?

Veja-se os valores em escala percentual:

¿Podría decirme cuál es el equipo por el que siente Ud, más simpatía? (Respuesta espontánea)
32,8 Real Madrid
25,7 Barcelona
05,3 Valencia
05,1 Athletic de Bilbao
04,3 Atlético de Madrid
03,3 Betis
02,7 Zaragoza
02,3 Sevilla
02,2 Deportivo de la Coruña
02,2 Celta
01,3 Osasuna
01,3 Real Sociedad
01,0 Espanyol
00,8 Sporting
00,8 Racing de Santander
00,7 Málaga
00,6 Cádiz
00,6 Las Palmas
00,6 Tenerife
00,5 Mallorca
00,4 Recreativo de Huelva
00,4 Valladolid
00,4 Murcia
00,3 Almería
00,2 Gimnàstic de Tarragona
00,2 Levante
00,2 Albacete
00,2 Elche
00,2 Alavés
00,1 Getafe
00,1 Villareal
00,1 Hércules
00,1 Numancia
00,1 Xerez

00,2 La Selección Española
01,5 Cita un equipo local
00,2 Cita un equipo extranjero
00,9 N,C

sábado, julho 07, 2007

Flamenco (25)



Radio Macandé - Mientras espero el alba


quarta-feira, julho 04, 2007

Flamenco (24) (3 remake)

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Manzanita - Talco y bronce (1981)
A CBS organizou uma digressão de Manzanita aos Estados Unidos, a fim de fazer alguns espectáculos e gravar com músicos locais. Tinha sucedido que uma emissora FM de Nova Iorque divulgara o seu segundo álbum, Espirítu sin nombre, obtendo uma inesperada adesão, sobretudo, em relação ao tema Paloma blanca. Ou seja, Manzanita tinha-se tornado quase um objecto de culto entre uma elite de iniciados, como, de resto, sucedera em mais algumas paragens (Israel, Japão...). Tal deveu-se à capacidade da multinacional CBS. Pois esta gravação é resultado imediato dessa digressão. As imagens da capa e contra-capa ilustram o facto. Mas a coisa não se limitou a ser uma operação de marketing - teve um efectivo conteúdo. Foi uma gravação parcialmente concebida e realizada em Nova Iorque. Os arranjos, a cargo de Dave Thomas, imprimem um carácter decididamente fusionista e o mínimo que há que dizer é que são espectaculares. Provavelmente nunca houve tão ousada fusão flamenca na vertente ligeira, a qual atreveu-se a utilizar instrumentos tão inusuais, como, por exemplo, o violino e a cítara. Tudo isto desembocou num ambiente sonoro refinado. A voz de Manzanita é decisiva para o resultado, estando mais domesticada, mais aveludada, sem perder a reconhecida tonalidade flamenca. É o trabalho mais criativo de toda a sua carreira. Não há um tema fraco e há um punhado de temas notáveis. Note-se que, com excepção do refrão do tema inicial de Por tu ausencia, tampouco se pode dizer que houvesse concessões comerciais. Refrão que merece, aliás, uma referência pelo facto de ser cantado em português com sotaque brasileiro – algo que voltará a suceder em temas do álbum seguinte. Temas como o instrumental Talco y bronce, Quien fuera luna (poema de Gustavo Adolfo Bécquer) Un ramito de violetas (da malograda cantautora Cecília) e El rey de tus sueños são soberbos e os melhores de uma inspiradíssima colheita que representará para sempre o apogeu da sua carreira. Resta acrescentar esta ironia: sem denotar particulares concessões comerciais, acabou por se tornar um espectacular êxito de vendas, com mais de meio milhão de cópias vendidas! Nunca Manzanita foi tão bem sucedido comercialmente, ao mesmo tempo que nunca foi tão aclamado pela crítica.
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Manzanita - Talco y bronce in Talco y bronce (1981)

Flamenco (23)

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Manzanita - Espiritu sin nombre (1980)
Para mim este será sempre um álbum especial. É o segundo de Manzanita, mas é o primeiro que dele conheci. Comprei-o nas desaparecidas Galerías Preciados, em Madrid, onde hoje é a FNAC, no Verão de 1982. Até então, o flamenco que conhecia era o apenas o mais puro, ou seja, o cante jondo. Cheguei a Manzanita, curiosamente, por uma estranha pista brasileira: um álbum de Raimundo Fagner, Traduzir-se/Traducir-se. Nesse disco, comprado em Lisboa, na Compasso (Campo de Ourique), atraíra-me a figura flamenca ostentada na capa, assim como o repertório e colaborações que confirmavam um conteúdo de acordo com a mesma. Entre os convidados estavam Camarón de la Isla e um tal Manzanita. Posteriormente, vim a saber que este empreendimento se integrava na estratégia do departamento espanhol da CBS, que, por iniciativa de um ousado produtor, José Luis de Carlos, visava alargar os horizontes do universo flamenco. Fagner, um brasileiro nordestino, de origem libanesa, também gravava para essa mesma multinacional. Nesse álbum Manzanita cantava a duo com Fagner o poema de Federíco García Lorca, Verde (Verde que te quiero verde...). Fiquei preso na voz agreste/aveludada de Manzanita e decidi que logo que pusesse os pés em Espanha demandaria algum disco dele. Foi precisamente Espíritu sin nombre. Vim a saber depois que este jovem gitano era de origem malaguenha e que tinha uma recente carreira a solo, com bom acolhimento por parte da crítica. O álbum é bom do princípio ao fim e, apesar de ter muito de heterodoxo, tem também muito de genuinamente flamenco. Em algum dos temas apercebemo-nos que Manzanita poderia ter sido um bom cantaor, se tivesse optado por tal. Note-se que, sob várias formas, o caminho aqui enunciado para a renovação do flamenco é refinado, sofisticado. Se no seu primeiro álbum tinha posto em música os tais famosos versos de Lorca (Verde que te quiero verde...), neste atreve-se com dois poemas de famosos autores novecentistas, respectivamente Gustavo Adolfo Bécquer (o tema que dá nome ao álbum) e José Zorrilla (Romance árabe). Para além destes dois, destaco ainda o empolgante Gitano e o tema que acabou por ser tornar mais emblemático, Paloma blanca. Passam os anos e o que é verdadeiramente bom nunca desvaloriza...
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Manzanita - Gitano in Espiritu sin nombre (1980)