quarta-feira, julho 04, 2007

Flamenco (23)

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Manzanita - Espiritu sin nombre (1980)
Para mim este será sempre um álbum especial. É o segundo de Manzanita, mas é o primeiro que dele conheci. Comprei-o nas desaparecidas Galerías Preciados, em Madrid, onde hoje é a FNAC, no Verão de 1982. Até então, o flamenco que conhecia era o apenas o mais puro, ou seja, o cante jondo. Cheguei a Manzanita, curiosamente, por uma estranha pista brasileira: um álbum de Raimundo Fagner, Traduzir-se/Traducir-se. Nesse disco, comprado em Lisboa, na Compasso (Campo de Ourique), atraíra-me a figura flamenca ostentada na capa, assim como o repertório e colaborações que confirmavam um conteúdo de acordo com a mesma. Entre os convidados estavam Camarón de la Isla e um tal Manzanita. Posteriormente, vim a saber que este empreendimento se integrava na estratégia do departamento espanhol da CBS, que, por iniciativa de um ousado produtor, José Luis de Carlos, visava alargar os horizontes do universo flamenco. Fagner, um brasileiro nordestino, de origem libanesa, também gravava para essa mesma multinacional. Nesse álbum Manzanita cantava a duo com Fagner o poema de Federíco García Lorca, Verde (Verde que te quiero verde...). Fiquei preso na voz agreste/aveludada de Manzanita e decidi que logo que pusesse os pés em Espanha demandaria algum disco dele. Foi precisamente Espíritu sin nombre. Vim a saber depois que este jovem gitano era de origem malaguenha e que tinha uma recente carreira a solo, com bom acolhimento por parte da crítica. O álbum é bom do princípio ao fim e, apesar de ter muito de heterodoxo, tem também muito de genuinamente flamenco. Em algum dos temas apercebemo-nos que Manzanita poderia ter sido um bom cantaor, se tivesse optado por tal. Note-se que, sob várias formas, o caminho aqui enunciado para a renovação do flamenco é refinado, sofisticado. Se no seu primeiro álbum tinha posto em música os tais famosos versos de Lorca (Verde que te quiero verde...), neste atreve-se com dois poemas de famosos autores novecentistas, respectivamente Gustavo Adolfo Bécquer (o tema que dá nome ao álbum) e José Zorrilla (Romance árabe). Para além destes dois, destaco ainda o empolgante Gitano e o tema que acabou por ser tornar mais emblemático, Paloma blanca. Passam os anos e o que é verdadeiramente bom nunca desvaloriza...
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Manzanita - Gitano in Espiritu sin nombre (1980)

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