sábado, julho 31, 2004

Castilla (2): Madrid

Madrid / Anos 50
Temos aqui quase a mesma vista do postal dos anos 20, mas agora mais virada para a Gran Via. Já estamos nos anos 50. Aquele Madrid pejado de tranvías (eléctricos) dá lugar a um Madrid de autocarros de 2 pisos. Dos tempos da suave ditadura (ditablanda) de Primo de Rivera passamos aos tempos do Generalíssimo. Dizia-se que o paternal diatdor frequentava os prostíbulos da má vida, enquanto que o Generalíssimo odiava esse tipo de fraquezas carnais. Pelo meio, Madrid - da efervescência cultural e social dos anos 20 e 30 para a rançosa pax franquista dos anos 40 e 50. Lá ao fundo vê-se o emblemático edifício da Telefónica, que foi nos finais dos anos 20 e durante quase toda a década seguinte o mais alto edifício da Europa (imagine-se...). Ainda hoje, apesar de tudo, domina o cenário.

Castilla (1): Madrid

Madrid / Anos 20
Gosto de Madrid. A avaliar por este velho postal dos anos 20, a confusão e animação foram sempre características suas. Numa noite quente de Verão, em 1981 ou 1982, lembro-me de ter ficado surpreendido por um engarrafamento na Gran Via... às duas e tal da madrugada. Saíam as famílias dos teatros e cinemas e e gozavam, com castelhana extroversão, as delícias de uma noite quente. Na verdade, gosto especialmente da Gran Via, de que aqui no postal, apenas se entrevê o início, do lado direito. Mais que a Puerta del Sol e até do que a Plaza Mayor é o epicentro do caldeirão madrileno. Na última vez que por lá andei fiquei surpreendido porque em dois pontos nevrálgicos (Red San Luís e Callao) um exército de putedo (boa parte dele composto por mulatonas espampanantes) havia aí consolidado posições aparentemente inexpugnáveis. Era ver o passeio do Palácio de la Prensa transformado em trottoir... Definitivamente uma certa forma deliciosa de decadentismo havia ganho "el corazón del império". Entretanto, é um facto, uma boa parte da tradicional animação desertara desses passeios.

Perros callejeros (1)

Los Chunguitos

Em 1981, em Madrid, ouvi numa emissora de rádio uma rumba-pop, Por la calle abajo. Era simples e alegre, como convém ao género. Contudo, tinha uma roupagem instrumental moderna e isso prendeu-me a atenção. Era o meu primeiro contacto com Los Chunguitos. Desde então fui seguindo esse trio gitano, reunindo uma boa parte da sua discografa. Alguns anos mais tarde, uma gravação feita ao vivo, incluía o tema que inspira o título deste blog: Perros Callejeros. Tratava-se de uma versão de um tema já lançado nos finais dos anos setenta, que, tanto quanto sei, é o que encerra o filme Perros Callejeros II (1982). A introdução orquestral desta versão ao vivo é electrizante e compassadamente embaladora. O tema é sobre um jovem marginal solitário, o perro callejero (cão vadio), correspondente ao personagem central do filme, El Torete. A marginalidade delinquente é um lugar comum deste tipo de música, mas, quer na versão original, quer nesta, apresenta uma entoação desesperada, épica... É um hino de íntima revolta dos marginais da vida, de todos os que, por alguma razão, descambaram à margem do mainstream e do politicamente correcto.
Info IMDB